sábado, 21 de setembro de 2019


“3 PEDIDOS” (“3 TING”), 2019, Dinamarca, 1h29m, roteiro e direção de Jens Dahl. É o seu primeiro longa-metragem. Era mais conhecido como roteirista de filmes e séries de TV. “3 Ting” é um thriller bastante original, engenhoso e muito agradável de assistir, embora seja ambientado quase que inteiramente num quarto de hotel. Aqui, o assaltante Mikael (o astro dinamarquês Nikolaj Coster Waldau, o Jaime Lannister da série “Game of Thrones”) está negociando com a polícia o seu ingresso no programa de testemunhas. Ele foi preso depois de ter participado de um grande assalto a banco em Copenhagen praticado por uma gangue de bandidos sérvios. Mikael tem que entregar o chefe do grupo e os demais assaltantes, além de descrever detalhadamente como foi planejado e praticado o assalto. Nina (Laerke Winther Andersen) é a negociadora da polícia, responsável pelo interrogatório. Para concretizar a delação, Mikael exige três pedidos, um deles a presença de Camilla (Birgitte Hjort Sorensen), sua ex-namorada. Ao lado de Mikael e da negociadora Nina, além de dois policiais responsáveis pela segurança do local, Camilla participará dos eventos no quarto do hotel até o desfecho, que terá uma surpreendente reviravolta muito bem engendrada pelo roteiro de Jens Dahl. Eu já conhecia o trabalho do ator Nikolaj Coster Waldau pelo ótimo “Segunda Chance”. Enfim,  “3 Pedidos” é um filme inteligente e muito interessante que merece ser visto por quem gosta de cinema de qualidade.    

sexta-feira, 20 de setembro de 2019

“WAJIB – UM CONVITE DE CASAMENTO” (“Wajib”), 2018, justifica plenamente as premiações que recebeu em vários festivais de cinema pelo mundo afora, como o de Locarno, BFI London, Dubai e MedFilm, em Roma, além da indicação ao Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro representando a Palestina. Realmente, um belo filme, humano e sensível, grandioso em sua simplicidade. A história é toda ambientada em Nazaré, capital e maior cidade do Distrito Norte de Israel, cuja maioria da população é constituída por árabes. Os principais personagens de “Wajib” são Abu Shadi (Mohammad Bakri) e seu filho Shadi (Saleh Bakri) – os atores são pai e filho também na vida real. Shadi mora há anos na Itália, onde trabalha como arquiteto. É um sujeito de hábitos modernos, vestindo roupas espalhafatosas (calça vermelha e camisa estampada) e cabelo repuxado para cima, formando um coque. Seu pai Abu é conservador, gosta de manter as tradições do povo árabe e não é tão antissemita quanto o filho, principalmente porque seu chefe é judeu. Shadi retorna a Nazaré especialmente para ajudar nos preparativos do casamento de sua irmã mais nova Amal (Maria Zreik). Como manda a tradição, os dois ficam encarregados de entregar pessoalmente os convites de casamento. Enquanto visitam familiares e amigos para entregar os convites, Abu e o filho discutem o tempo inteiro, colocando em pauta suas opiniões sobre política, gosto musical, modo de vida, casamento etc., escancarando suas divergências e gerando diálogos bem-humorados, num “road-movie” bastante divertido. Méritos totais para a roteirista e diretora palestina Annemarie Jacir em seu terceiro longa-metragem (os dois primeiros, também muito elogiados, foram “Sal Desse Mar” e “Quando vi Você”). Por aqui, antes de entrar no circuito comercial, "Wajib" foi uma das atrações da 13ª Mostra Mundo Árabe de Cinema de São Paulo, em janeiro de 2019. Ah, a palava “wajib” quer dizer dever/obrigação. Para encerrar: o filme é ótimo, um grande filme do cinema árabe. IMPERDÍVEL!

segunda-feira, 16 de setembro de 2019


“KARDEC: A HISTÓRIA POR TRÁS DO NOME”, 2018, Brasil, 1h50m, roteiro e direção de Wagner de Assis. Trata-se da cinebiografia de Alan Kardec, realizada em comemoração aos 150 anos da morte daquele que é considerado o fundador e o principal decodificador da doutrina espírita. O roteiro é uma adaptação do livro “Kardec: A Biografia” (2013), escrito pelo jornalista Marcel Souto Maior. Ambientado em Paris, o filme começa em 1851 apresentando Hypolite Leon Denizard Rivail (Leonardo Medeiros) como um professor liberal. Quando assumiu o Imperador Napoleão III, a Igreja Católica ganhou poder para interferir no ensino, o que revoltou Hypolite, que logo pediu demissão. Naquela época, havia em Paris uma febre sobre o tal fenômeno das mesas giratórias, através das quais - acreditavam - era possível se comunicar com os espíritos. Hypolite resolveu estudar o assunto e, a princípio, não acreditava em nada daquilo. Passou então a frequentar sessões organizadas por médiuns. Numa delas, recebeu a notícia de que tinha sido um druída chamado Alan Kardec em outra encarnação. Hypolite adotou o nome, aderiu à doutrina e escreveu, em 1857, o livro “O Livro dos Espíritos”, que teve enorme repercussão por toda a Europa, transformando-se na “bíblia” da doutrina espírita. Resultado: foi banido do clube de cientistas de Paris e perseguido pela Igreja Católica. Mas hoje seu nome é reconhecido no mundo inteiro como o fundador da Doutrina Espírita. O filme foi quase todo rodado em Paris e o diretor Wagner de Assis utilizou um recurso gráfico que “apagou” dos cenários não só pessoas, como também veículos e estabelecimentos comerciais, enfim, tudo que mostrasse a capital francesa de hoje. Participaram do elenco, além de Leonardo Medeiros, Sandra Corveloni, Genézio de Barros, Dalton Vigh, Guida Viana, Letícia Braga, Julia Konrad e Charles Erick. Mais um bom trabalho de Wagner de Assis, que ficou conhecido como roteirista e diretor de novelas da Globo (“Além do Tempo”, de 2015-2016, e “Espelho da Vida”, de 2018-2019) e de filmes espíritas, como “Nosso Lar”, sucesso de bilheteria em 2010, e “A Menina Índigo”, de 2016. Quem tiver curiosidade, como eu tive, de conhecer a vida de Alan Kardec e seu trabalho, “Kardec” é um ótimo programa.      

domingo, 15 de setembro de 2019


“NUNCA DEIXE DE LEMBRAR” (“Werk Ohne Autor”), 2018, Alemanha, roteiro e direção de Florian Henckel von Donnersmarck, 3h9m. Este filme representou a Alemanha na disputa do Oscar 2019 de Melhor Filme Estrangeiro (também concorreu à Melhor Fotografia) e ficou entre os finalistas, perdendo para “Roma”. Porém, se eu fosse membro da Academia, teria votado neste ótimo drama biográfico alemão. Muitos críticos comentaram que só não ganhou o Oscar porque seu diretor já havia conquistado a estatueta de Melhor Filme Estrangeiro em 2006, com o espetacular “A Vida dos Outros”. De meados da década de 30 até o final da década de 60, “Nunca Deixe de Lembrar” acompanha a trajetória política e cultural da Alemanha, paralelamente à vida do pintor Gerhard Richter, um dos grandes nomes da arte contemporânea alemã. O filme começa apresentando Richter ainda garoto (interpretado por Cai Cohrs) em companhia da tia Elisabeth May (a bela Saskia Rosendahl) visitando a Exposição “Arte Degenerada”, promovida pelo governo nazista com o objetivo de enxovalhar as pinturas dos modernistas Chagall e Kandinski. Daí para a frente, o filme enfoca a vida de Richter (quando adulto, papel Tom Schilling), tendo como pano de fundo a história política da Alemanha, desde a ascensão do regime nazista, as atrocidades da Segunda Grande Guerra, o nascimento da República Democrata Alemã (RDA), a tirania soviética, a construção do muro de Berlim até a vida do pintor na Alemanha Ocidental – ele fugiu com a esposa Ellie (Paula Beer, de “Frantz”, ótimo filme de François Ozon) pouco antes da construção do muro. O filme acompanha também a trajetória do professor Carl Seeband (o veterano ator Sebastian Koch), que durante o regime nazista foi o médico que fazia abortos em mulheres que não eram arianas ou que tivessem alguma anomalia física ou psíquica – o caso de Elisabeth, tia de Richter. Os destinos do pintor e do médico se cruzarão alguns anos depois, quando Richter conhece Ellie. Enfim, como o próprio título faz entender, “Nunca Deixe de Lembrar” é um filme inesquecível, espetacular, que vale cada minuto de suas mais de três horas de duração. Reputo como uma obra-prima do cinema alemão. Não perca de jeito nenhum!