sábado, 21 de outubro de 2017

O cinema atual da Romênia já nos presenteou com grandes filmes, como “Instinto Materno”, de 2013, e “Casamento Silencioso”, de 2008, que considero uma pequena obra-prima cinematográfica, entre tantos outros. “GRADUAÇÃO” (“BACALAUREAT”), 2016, chega para consagrar em definitivo o diretor Cristian Mungiu, também autor do roteiro. Mungiu caiu nas graças dos críticos profissionais depois de “4 Meses, 3 Semanas e 2 Dias”, de 2007, que conquistou a Palma de Ouro no Festival de Cannes. Em 2012, Mungiu assinou o roteiro e a direção de outro grande filme, “Além das Montanhas”. Em “Graduação”, Mungiu trata de moral e ética ao contar a história de Romeo Aldea (Adrian Titieni), um médico bastante respeitado na pequena cidade de Cluj, na Transilvânia, que fará tudo para conseguir que a filha Eliza (Maria Victoria Dragus) obtenha uma nota alta nos exames finais que lhe darão uma bolsa para estudar Psicologia na Inglaterra. Só que, um dia antes, Eliza é atacada por um tarado e fica abalada psicologicamente, o que a impedirá de realizar uma boa prova. O pano de fundo político entra na história ao lembrar que tanto Romeo quanto sua esposa Magda (Lia Bugnar), na juventude, tiveram a liberdade cerceada pela ditadura de Ceauseascu. Além de uma manobra bastante antiética para favorecer a filha, Romeo ainda enfrenta o colapso do seu casamento e a pressão da amante Sandra (Malina Manovici), diretora da escola de Eliza. O filme garantiu a Mungiu o Prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes 2016. Adrian Titieni ganhou o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Chicago. Imperdível!      

quarta-feira, 18 de outubro de 2017

“A PROMESSA” (“The Promise”), 2016, EUA, 2h15m, roteiro e direção do irlandês Terry George (“Hotel Ruanda” e “O Negociador”). Pela primeira vez, Hollywood trata da questão do genocídio praticado pelos turcos contra os armênios entre 1914 e 1917 – os turcos negam até hoje. Pelo menos um milhão e meio de armênios foram perseguidos e assassinados pelo exército do então Império Otomano (atual Turquia). Infelizmente, o diretor Terry George preferiu dar mais ênfase ao triângulo amoroso envolvendo a bela Ana (a atriz canadense Charlotte Le Bon), Michael (o ator guatemalteco Oscar Isaac) e Michael (Christian Bale). As informações históricas sobre o genocídio ficaram de lado, fazendo com que o assunto fosse colocado apenas como pano de fundo para uma trama de amor à beira do novelesco. Resumo da história: o armênio Michael sonha em ser médico, mas a família não pode pagar a faculdade. Dessa forma, ele aceita casar com a jovem Maral (Angela Sarafyan) em troca de um dote substancioso. Longe de Maral, Michael conhece a também armênia Ana, namorada do fotógrafo norte-americano Chris. Até o final do filme, os dois disputarão o amor da moça. Claro que no meio do romance tem muita cena de ação e violência, uma das poucas referências ao genocídio. O filme somente foi realizado graças ao milionário Kirk Kerkorian, filho de imigrantes armênios que se tornou um grande empresário em Hollywood e dono de cassinos. Antes de morrer, aos 98 anos, em 2015, ele investiu do próprio bolso US$ 100 milhões na produção do filme, que talvez não tenha conseguido ver depois de pronto. “A Promessa” estreou no Festival de Toronto/2016 sem conseguir arrancar aplausos da plateia e nem críticas elogiosas, mas é um bom programa.      

segunda-feira, 16 de outubro de 2017

“MEL” (“MIELE”), 2013, Itália. Em seu primeiro filme como diretora e roteirista, a atriz Valeria Golino dá mostras de que entende do riscado. O pano de fundo é a eutanásia. A história toda é centrada em Irene (Jasmine Trinca), também chamada de “Honey”, o que justifica o título. Com a orientação de um amigo médico, de quem é sócia na empreitada, Irene ajuda pacientes em estado terminal a morrer de maneira digna e sem dor. Para isso, utiliza um remédio utilizado para sacrificar animais doentes e que, pelo que entendi, não deixa vestígios nos seres humanos. Para obter a substância, Irene faz constantes viagens ao México, onde a venda do remédio é  liberada. Irene começa a repensar sua atividade quando recebe a incumbência de ajudar o engenheiro Carlo Grimaldi (o ótimo Carlo Cecchi) a passar para o outro mundo. No meio do processo, ela descobre que Carlo não tem nenhuma doença grave, o que não justificaria o procedimento. A italiana Jasmine Trinca brilha como a personagem principal, o que não é surpresa, pois vem demonstrando muita competência desde que estreou no cinema, em 2001, no filme “O Quarto do Filho”, de Nanni Moretti. Depois participou de filmes como “Maravilhoso Boccacio” e “O Franco Atirador”, contracenando com o astro Sean Penn. Jasmine Trinca consolida-se cada vez mais como uma das atrizes italianas mais bonitas e competentes da atualidade. “Mel” foi selecionado para a mostra “Um Certain Regard” do Festival de Cannes 2013, recebendo uma menção especial do Júri Ecuménico.    

domingo, 15 de outubro de 2017

“SOPHIE E O SOL NASCENTE” (“Sophie and the Rising Sun”, título original e também do livro de  Augusta Trobaugh), EUA, 2016, escrito e dirigido por Maggie Greenwald. Ambientada em 1941 no pequeno vilarejo de Salty Creek, Carolina do Sul, a história é centrada no romance de Sophie Willis (Julianne Nicholson) e Grover Ohta (Takashi Yamaguchi), um asiático que, meses antes, havia sido encontrado desacordado e bastante ferido numa rua do vilarejo. Ele é levado para a casa de Anne Morrison (Margot Martindale), que cuida de seus ferimentos e lhe dá guarida. Apelidado pela vizinhança de “chinês” – na verdade, ele é descendente de japoneses –, Ohta acaba conhecendo a solitária Sophie, que vive da pesca e venda de caranguejos. Os dois começam a se encontrar escondidos, já que os moradores do vilarejo são bastante conservadores e, muitos deles, racistas. Até que os japoneses atacam a base norte-americana de Pearl Harbor. Como os milhares de japoneses residentes nos EUA, Ohta passa a ser perseguido, sofre agressões e é obrigado a se esconder. Mas nem mesmo essa situação impede o romance com Sophie. No elenco, destaque para os desempenhos de Diane Ladd como a vilã ultraconservadora e fofoqueira e de Lorraine Toussaint como a governanta de Anne. O filme fez parte da seleção oficial do Sundance Film Festival e foi exibido pela primeira vez no Brasil durante a 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2016.    
Selecionado para representar Israel na disputa do Oscar/2016 de Melhor Filme Estrangeiro, “BABA JOON” tem como seu principal trunfo a simplicidade. A história, as locações, o elenco, tudo muito simples e realizado com bastante sensibilidade pelo diretor Yuval Delshad, também autor do roteiro, marcando sua estreia em longas. A história é centrada na relação do autoritário Yitzhak (Navid Negahban) e seu filho Moti (Asher Avrahami), de 12 anos. Com muito trabalho e sacrifício físico, Yitzahak administra uma fazenda de criação de perus no interior de Israel, empreendimento criado pelo pai “Baba” Joon (Rafael Eliasi), que muitos anos antes saiu do Irã e se estabeleceu em Israel, convertendo-se ao judaísmo. Yitzhak insiste, muitas vezes utilizando a violência, em convencer Moti a aprender a cuidar da granja, mas o garoto só quer saber de mecânica, montar, desmontar e consertar motores. Ou seja, essa história de um negócio de pai para filho não faz parte das intenções de Moti. Para piorar a situação, chega para uma visita Dariush (David Diaan), irmão de Yitzhak, que também se livrou da fazenda para viver e trabalhar nos EUA. Dariush dá a maior força a Moti, o que contraria Yitzhak, gerando um grave conflito familiar. O filme é falado em persa, língua oficial do Irã, assim como do Afeganistão e Tajiquistão. “Baba Joon” foi premiado em vários festivais de cinema pelo mundo afora e por aqui foi exibido durante o Festival do Cinema Judaico de São Paulo, em 2016. Também foi eleito o Melhor Filme de 2015 pela Israeli Film Academy.