sexta-feira, 22 de março de 2019

“VOCÊ DESAPARECEU” (“Du Forsvinder”), 2017, Dinamarca, 1h58m, direção de Peter Schønau Fog (seu segundo longa-metragem). O roteiro foi escrito por Christian Jungersen, autor do romance “I Biografen Nu", no qual o filme foi baseado, best-seller nos países da Escandinávia. Vamos à história: Frederick Halling (Nicolas Lie Kaas) desviou dinheiro da escola onde é diretor, em Oslo, e depositou em sua conta. O desfalque foi descoberto, ele acabou denunciado e vai para julgamento, podendo pegar um bom período na cadeia. O crime está devidamente comprovado, mas sempre há uma atenuante. No caso, um tumor no cérebro de Frederick, que, segundo os médicos, poderia provocar um desvio comportamental no paciente, o que explicaria sua conduta ilícita. Este talvez seja o único trunfo do advogado Bernard Berman (Michael Nyqvist), encarregado de defender Frederick. Para isso, porém, ele terá que entrevistar especialistas em neurociência, médicos neurologistas e até psiquiatras – no livro, Jungersen apresenta um verdadeiro estudo científico sobre a neurociência. Somente esse contexto já torna o filme muito interessante. Mas tem mais: a maravilhosa atuação da grande atriz dinamarquesa Trine Dyrholm (“Festa em Família”, “A Comunidade”), que interpreta Mia Halling, a esposa de Frederick. Outro destaque fica por conta da participação do ator Michael Nyqvist, que morreu meses depois do fim das filmagens. Enfim, um filme inteligente, polêmico, que dá margem a muitas discussões e reflexões acerca dos fatores que levam o ser humano a ter determinado comportamento. Imperdível!

quarta-feira, 20 de março de 2019


O que um pai é capaz de fazer para se vingar dos agressores do seu filho? É este o pano de fundo do drama “SEU FILHO” (“Su Hijo”), 2018, Espanha, Netflix (lançamento ocorreu dia 1º de março de 2019), roteiro e direção de Miguel Ángel Vivas. A vida do médico cirurgião Jaime Jiménez (José Coronado) vira um inferno após seu filho Marcos (Paul Monen) ser brutalmente espancado na porta de uma discoteca. Ele cobra da polícia uma investigação rápida para identificar os agressores. Mesmo com as cenas gravadas por um celular, a polícia não faz nada (a delegada diz que não pode assistir à gravação sem a ordem de um juiz – ou seja, má vontade), talvez por influência do poderoso dono da discoteca. Jiménez então resolve fazer justiça com as próprias mãos (clichê dos clichês) e parte para cima dos agressores. Uma peça fundamental do que ocorreu é a adolescente Andrea (Ester Expósito), ex-namorada de Marcos. Em todo o desenrolar do filme, a ação fica restrita às cenas da agressão (muito violentas, por sinal) a Marcos e da vingança do seu pai. Na maior parte, a câmera do diretor Vivas acompanha o sofrimento e a angústia de Jiménez em decidir ou não se vingar na base do “Olho por olho, dente por dente”. O filme ainda guarda, para perto do desfecho, uma surpreendente revelação. Nem a presença do veterano e excelente ator José Coronado nem uma surpreendente revelação perto do desfecho são suficientes para recomendar este drama espanhol. 

segunda-feira, 18 de março de 2019


“LEAL – SÓ HÁ UMA FORMA DE VIVER” (“LEAL – SOLO HAY UMA FORMA DE VIVIR”), 2018, Paraguai, Netflix, 1h47m, direção de Pietro Scappini e Rodrigo Salomón, com roteiro do argentino Andrés Gelós. Trata-se do primeiro filme paraguaio exibido pela Netflix – sua estreia mundial aconteceu no dia 2 de agosto de 2018. Mesmo sendo paraguaio, o filme não é falso. A história é baseada em fatos reais e envolve a atuação de um grupo paramilitar formado pela SENAD – Secretaria Nacional Antidrogas do Paraguai – com o objetivo de combater o tráfico de drogas nas fronteiras paraguaias. Para comandar o pelotão, o governo trouxe de volta à ativa o ex-coronel Ramón Fernández (Sílvio Rodas), que recrutou vários oficiais e soldados de sua confiança. O serviço de inteligência funcionou graças a uma estagiária do SENAD (Andrea Quatrocchi), que decifrou os códigos utilizados pelos traficantes para designar a chegada, por via aérea, de novos carregamentos. A parte divertida: o código dos aeroportos clandestinos era constituído por nomes de jogadores brasileiros. Estão lá Cafu, Djalma Santos, Alemão etc. Haja criatividade! No gênero ação, até que o filme funciona, tem ritmo, violência e muitos tiros, mas os atores são uma tragédia. Um pior que o outro. Ou foram mal dirigidos ou são ruins mesmo. Tem até um brasileiro no elenco, um tal de Bruno Sosa, que interpreta Dante, o braço direito do maior traficante da região. É isso aí, vale como curiosidade para conhecer um filme de ação do Paraguai. Garanto que já vi piores.   

domingo, 17 de março de 2019


“A ARTE DE AMAR – A HISTÓRIA DE MICHALINA WISLOCKA” (“SZTUKA KOCHANIA”), 2017, Polônia, 120 minutos, direção de Maria Sadowska – é o seu segundo longa-metragem -, com roteiro de Violetta Ozminkowski. Conta a história da médica ginecologista Michalina Wislocka, que em 1976 lançou o livro “A Arte de Amar” (“Sztuka Kochania”), um pioneiro e polêmico ensaio sobre a importância da prática do sexo na vida das pessoas. O livro foi um grande best-seller na época. Não foi fácil publicá-lo, já que a Polônia vivia sob o comando do rígido regime da União Soviética, além de ser um dos países mais católicos do mundo. Ou seja, Michalina teve de enfrentar a oposição da Igreja e dos governantes. O livro foi considerado o primeiro guia sexual gerado num país comunista e Michalina a primeira sexóloga da Polônia, sendo comparada ao seu colega norte-americano Alfred Charles Kinsey, que nos anos 40 fundou o Instituto de Pesquisa do Sexo na Universidade de Indiana. O filme apresenta Michalina (Magdalena Boczarska) como uma mulher liberal, desinibida e muito avançada para o seu tempo, a ponto de permitir que seu marido Stach Wislocki (Piotr Adamczyk) vivesse com outra mulher, Wanda (Justina Wasilewska) no mesmo teto que ela, consumando o famoso ménage à trois. Alguns anos mais tarde, separada de Stach, Michalina conhece Jurek (Eryk Lubos), que seria seu grande amor pelo resto da vida. Enfim, uma história e tanto a desta médica polonesa, contada de uma forma bem-humorada e fiel aos fatos, com excelente elenco, fotografia e uma esmerada reconstituição de época.    


“VIDA SELVAGEM” (“Wildlife”), 2019, EUA, 1h45m, filme independente que marca a estreia do ator Paul Dano como roteirista e diretor. Trata-se da adaptação do romance escrito por Richard Ford em 1990. A história é ambientada no final dos anos 50 do século passado e acompanha o drama da família Brinson, Jerry (Jake Gylhenhaal), Jeanette (Carey Mulligan) e Joe (Ed Oxenbould), o filho de 14 anos do casal. Eles vivem na cidade de Great Falls (Montana), onde Jerry trabalha como empregado de um clube de golfe. Ao perder o emprego, o relacionamento familiar fica insustentável. As brigas entre o casal acontecem quase sempre sob os olhares de Joe. Como não consegue outro emprego melhor, Jerry aceita fazer parte de um grupo encarregado de combater incêndios na floresta. Por vários meses, ele passa longe da família. Enquanto isso, Jeanette e o filho vão à luta. Ela consegue um emprego numa concessionária de veículos e o garoto num estúdio de fotografia. Com o casamento em ruínas e com o sumiço do marido, Jeanette acaba se envolvendo com um rico empresário e, quando Jerry volta para casa, a situação do casal se complica de vez. O filho Joe acompanha de perto toda essa situação de turbulência e é através do seu olhar que o diretor Paul Dano procura intensificar a dramaticidade. Assim como os críticos especializados presentes à exibição do filme nos festivais de Sundance e de Cannes, gostei muito do filme. Vale também pela ótima atuação da atriz inglesa Carey Mulligan.