“O
TIGRE BRANCO” (“THE WHITE TIGER”), 2020, coprodução Estados Unidos/Índia, 2h8m,
disponível na plataforma Netflix, roteiro e direção do cineasta norte-americano
Ramin Bahrani. A história é baseada no livro homônimo escrito em 2008 pelo romancista
e jornalista indiano Aravind Adiga, um grande best-seller não só na Índia como
em toda a Europa. “O Tigre Branco” talvez seja o filme de maior impacto realizado
em 2020. O drama trata de vários temas, como ascensão social, luta de classes,
desigualdade, pobreza extrema, corrupção governamental, discriminação de castas
e muitos outros aspectos importantes que fazem da Índia um país de enormes contrastes
e injustiças. A história toda é centrada
em Balram Halwai (Adarsh Gourav), um jovem camponês que vive com sua numerosa
família em condições miseráveis. Um dia tudo isso vai mudar, eu serei alguém
importante, pensava ele. Numa narrativa em off que acompanha o filme do começo
ao seu final, o personagem de Balram descreve sua história de vida e ainda faz reflexões
sobre as questões econômicas e sociais que afligem o seu país. Numa delas, ele
diz: “Os pobres só têm duas formas de chegar ao topo: política ou crime. Não é
a mesma coisa no seu país?”, pergunta que faz diretamente ao espectador. Ele
descreve sua ascensão começando por conseguir um emprego de motorista para o
filho de um sujeito rico que ganha dinheiro explorando as populações mais
pobres. Ele logo ganha a confiança do filho do seu patrão, Ashok (Raukummar
Rao), e da esposa Pinky (Pryanka Chopra), não se importando de receber uns tapas na cara de vez em quando. Sua submissão é total. Ao assumir uma culpa que não é sua, e
sim de Pinky, que dirigia bêbada, Balram recebe um dinheiro extra e resolve criar
uma empresa de motoristas e, bem sucedido, logo se torna um empresário
respeitado. De simples serviçal a patrão. Esse fato explica o título do filme.
O tigre branco é muito raro, assim como é uma raridade um camponês indiano miserável
ser bem sucedido na vida. O filme é muito reflexivo. Durante sua ascensão, por
exemplo, Balram ensaia escrever um e-mail para o premiê da China. No primeiro
parágrafo ele afirma: “Ofereço, sem custos, a verdade sobre a Índia, contando a
história da minha vida”. Ainda no e-mail, Balram sugere uma parceria comercial,
justificando-a pelo fato dos Estados Unidos estar em decadência, e afirmando
que os países do futuro serão a China e a Índia. Enfim, um filme muito
interessante que não deixa a gente piscar os olhos para não perder uma frase ou
uma cena sequer. Por sua temática, “O Tigre Branco” já está sendo comparado com
o sul-coreano “Parasita”, Oscar de Melhor Filme em 2020, cujo pano de fundo é a
luta de classes. Por falar em Oscar, as indicações à versão 2021 deverão
ocorrer no dia 15 de março. Duvido que “O Tigre Branco” não apareça na lista.
Imperdível!