sábado, 30 de janeiro de 2021

 

“O TIGRE BRANCO” (“THE WHITE TIGER”), 2020, coprodução Estados Unidos/Índia, 2h8m, disponível na plataforma Netflix, roteiro e direção do cineasta norte-americano Ramin Bahrani. A história é baseada no livro homônimo escrito em 2008 pelo romancista e jornalista indiano Aravind Adiga, um grande best-seller não só na Índia como em toda a Europa. “O Tigre Branco” talvez seja o filme de maior impacto realizado em 2020. O drama trata de vários temas, como ascensão social, luta de classes, desigualdade, pobreza extrema, corrupção governamental, discriminação de castas e muitos outros aspectos importantes que fazem da Índia um país de enormes contrastes e injustiças.  A história toda é centrada em Balram Halwai (Adarsh Gourav), um jovem camponês que vive com sua numerosa família em condições miseráveis. Um dia tudo isso vai mudar, eu serei alguém importante, pensava ele. Numa narrativa em off que acompanha o filme do começo ao seu final, o personagem de Balram descreve sua história de vida e ainda faz reflexões sobre as questões econômicas e sociais que afligem o seu país. Numa delas, ele diz: “Os pobres só têm duas formas de chegar ao topo: política ou crime. Não é a mesma coisa no seu país?”, pergunta que faz diretamente ao espectador. Ele descreve sua ascensão começando por conseguir um emprego de motorista para o filho de um sujeito rico que ganha dinheiro explorando as populações mais pobres. Ele logo ganha a confiança do filho do seu patrão, Ashok (Raukummar Rao), e da esposa Pinky (Pryanka Chopra), não se importando de receber uns tapas na cara de vez em quando. Sua submissão é total. Ao assumir uma culpa que não é sua, e sim de Pinky, que dirigia bêbada, Balram recebe um dinheiro extra e resolve criar uma empresa de motoristas e, bem sucedido, logo se torna um empresário respeitado. De simples serviçal a patrão. Esse fato explica o título do filme. O tigre branco é muito raro, assim como é uma raridade um camponês indiano miserável ser bem sucedido na vida. O filme é muito reflexivo. Durante sua ascensão, por exemplo, Balram ensaia escrever um e-mail para o premiê da China. No primeiro parágrafo ele afirma: “Ofereço, sem custos, a verdade sobre a Índia, contando a história da minha vida”. Ainda no e-mail, Balram sugere uma parceria comercial, justificando-a pelo fato dos Estados Unidos estar em decadência, e afirmando que os países do futuro serão a China e a Índia. Enfim, um filme muito interessante que não deixa a gente piscar os olhos para não perder uma frase ou uma cena sequer. Por sua temática, “O Tigre Branco” já está sendo comparado com o sul-coreano “Parasita”, Oscar de Melhor Filme em 2020, cujo pano de fundo é a luta de classes. Por falar em Oscar, as indicações à versão 2021 deverão ocorrer no dia 15 de março. Duvido que “O Tigre Branco” não apareça na lista. Imperdível!           

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