sábado, 28 de maio de 2016

Exemplar típico do cinema independente, “SPARROWS DANCE” (“Dança dos Pardais”, em tradução literal), EUA, 2012, é um filme enxuto, não apenas no orçamento (U$ 175 mil), como também na duração (81 minutos), como no elenco (apenas dois atores) e como no único cenário (um minúsculo apartamento). Uma atriz (Marin Ireland), cujo personagem não tem nome, está reclusa em seu apartamento há um ano, depois de ter sofrido um ataque de pânico no palco, onde atuava numa peça. Ela pede comida e faz compras por telefone, sem nunca aparecer na porta. Deixa o dinheiro no chão e só depois que o entregador vai embora ela abre e pega suas encomendas. Sua esquisitice não tem limites, reforçada por tiques nervosos. Só que um dia ocorre um vazamento no banheiro e ela é obrigada a chamar um encanador, Wes (Paul Sparks). Conversa vai, conversa vem, eles se entrosam e acabam criando um vínculo bastante forte. Wes conta que também é músico de jazz (saxofonista), o que gera um diálogo bastante interessante, com a citação, por ambos, de vários jazzistas famosos. Também conversam sobre literatura, pois a moça é uma leitora voraz. Numas dessas conversas, Wes pergunta a ela qual o seu livro preferido. Ela responde que é “O Ousado Jovem do Trapézio Voador”, da William Saroyan. Exibido em vários festivais, o filme conquistou o Prêmio do Júri no Festival de Cinema de Austin. Eu achei que o filme não é tão bom assim – apenas interessante -, mas a atriz, esta sim, é ótima.  

terça-feira, 24 de maio de 2016

A Eutanásia já foi tema de inúmeros filmes, geralmente dramas pesados. “A FESTA DE DESPEDIDA” (“Mita Tova”), Israel, 2014, foge desse estereótipo, pois trata o tema com rara sensibilidade e humor. A história é ambientada num asilo de velhos em Jerusalém. Quando Yana (Aliza Rozen) pede aos amigos que aliviem a dor do marido Max, que sofre de câncer, o engenheiro aposentado Yehezkel (Ze’ev Revaca) resolve construir uma pequena máquina de eutanásia, adaptando um dispositivo que deve ser comandado pelo próprio doente. Apesar dos prós e contras, o equipamento é utilizado por Max. A notícia se espalha pelo asilo e outros velhos com doença terminal resolvem também utilizar a máquina. Em meio a discussões sobre questões éticas e religiosas, o roteiro e a direção da dupla Tal Granit e Sharon Maymon encontraram espaço para momentos de muito humor, como aquele em que Yehezkel telefona para uma velhinha dizendo ser Deus, ou aquela cena em que os velhinhos resolvem ficar pelados e são repreendidos pela direção do asilo. Claro, não há como ficar imune à tristeza de determinadas cenas, principalmente aquelas em que os doentes se despedem dos familiares e amigos. O elenco, constituído de artistas famosos em Israel e desconhecidos por aqui, é ótimo e valoriza ainda mais esse excelente drama, desenvolvido em enxutos 95 minutos. O filme, exibido por aqui durante o 19º Festival de Cinema Judaico de São Paulo, conquistou vários prêmios em festivais pelo mundo afora, inclusive o de Público no Festival de Veneza 2014.  
“O ROSTO DE UM ANJO” (“The Face of an Angel”), 2015, Reino Unido/Itália, é um drama de suspense baseado no livro “Angel Face”, escrito pela jornalista norte-americana Barbie Latza Nadeau, que cobriu para a revista Newsweek todo o caso envolvendo o assassinato da estudante inglesa Meredith Kercher, em 2007, na cidade italiana de Perúgia, pelo qual foram presos, julgados e condenados a norte-americana Amanda Knox e o seu namorado italiano Raffaele Sallecito. O personagem principal do filme é o cineasta Thomas (o ator alemão Daniel Brühl), que vai para a Itália recolher subsídios sobre o caso e escrever o roteiro de um filme. Ele recebe a ajuda da jornalista Simone Ford (Kate Beckinsale), que cobre o caso desde o ínicio. Mesmo com a ajuda de grandes doses de cocaína, Thomas não consegue inspiração para montar um script. Então resolve dar uma de investigador para tentar descobrir a verdade, nem que para isso precise arriscar sua vida. O roteiro, escrito por Paul Viragh, é um tanto confuso, principalmente na primeira metade do filme, quando ficção e cenas reais do julgamento misturam-se num verdadeiro “samba do crioulo doido”. O diretor Michael Winterbottom tem um currículo invejável (“O Preço da Coragem”, “Bem-Vindo a Sarajevo”), mas desta vez ficou devendo.      
“TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA” (“All Roads Lead to Rome”), 2015, EUA, é uma comédia romântica que marca a estreia da diretora sueca Ella Lenhagen em Hollywood. Maggie (a feiosa Sarah Jessica Parker) parte em viagem com a filha adolescente Summer (Rosie Day) para a Toscana (Itália). Seu objetivo é, em primeiro lugar, afastar a filha do namorado envolvido com o tráfico de drogas. Em segundo, tentar melhorar o relacionamento com Summer. Chegando à Toscana, Maggie reencontra um antigo namorado italiano, Luca (Raoul Bova). Carmen (Claudia Cardinale), mãe de Luca, convence Summer a roubar o carro do filho e fugir para Roma, onde um antigo namorado a está esperando para casar. Aí começa a confusão. Summer e Carmen partem para Roma num verdadeiro passeio turístico pelo interior da Itália e o espectador embarca junto nessa viagem (os cenários são muito bonitos). Para complicar ainda mais a situação, a polícia é notificada de que houve um sequestro e começa a perseguição. Luca e Maggie também embarcam nessa aventura tentando localizar mãe e filha, respectivamente. Há bons momentos de humor, mas, no geral, o filme decepciona por insistir nos clichês do gênero, incluindo o final feliz. Triste mesmo foi ver a diva Claudia Cardinale tão envelhecida. Para compensar, tem a beleza estonteante da atriz espanhola Paz Vega, que faz apenas figuração, mas quando aparece ilumina a telinha. 

segunda-feira, 23 de maio de 2016

“REAPRENDENDO A AMAR” (“I Will See You in my Dreams”), EUA, 2015, é um drama bastante simpático, dirigido com sensibilidade pelo diretor Brett Haley. Ainda como destaque, a atriz Blythe Danner (mãe de Gwyneth Paltrow na vida real), ainda muito competente e charmosa aos 73 anos. No filme, ela interpreta Carol, uma viúva de 70 anos que vive de remoer o passado ao lado de seu fiel cão Haezel. Sua única diversão é encontrar as amigas (Mary Kay Place, Rhea Perlman e June Squibb) uma vez por semana para jogar cartas e fofocar. É nessas reuniões que acontecem os momentos de humor. Carol, porém, entra em depressão depois da morte do seu cão e só melhora quando faz amizade com Lloyd (Martin Starr), o jovem limpador de piscina. Aliás, um dos melhores momentos do filme é quando Lloyd leva Carol a um karaokê e ela canta “Cry Me a River”. De arrepiar. Logo depois, Carol conhece Bill (Sam Elliott), um “coroa” charmoso por quem se apaixona. O tema principal do filme é a velhice e o que fazer para enfrentá-la da melhor maneira possível. A maioria dos diálogos discute o assunto de forma realista e, ao mesmo tempo, com muita leveza. Faz a gente refletir. Resumindo, um filme bastante agradável.  

domingo, 22 de maio de 2016

“TRAUMAS DE INFÂNCIA” (“The Adderall Diaries”), 2015, EUA, é uma adaptação cinematográfica do livro homônimo do escritor, jornalista, roteirista e cineasta Stephen Elliott. O roteiro e a direção ficaram a cargo de Pamela Romanowsky. Robert Redford aparece nos créditos como produtor executivo desse ótimo drama estrelado por James Franco, Amber Heard, Ed Harris, Christian Slater e Cynthia Nixon. Stephen Elliott (Franco) é um jovem escritor atormentado pelo passado. Não consegue esquecer o péssimo relacionamento que teve com o pai Neil (Ed Harris), um homem violento que abandonou Stephen e a esposa por outra mulher. Durante o lançamento do livro em que escreve suas memórias, Stephen é surpreendido pela presença do pai, que não via há anos. Os dois terão de se confrontar novamente, relembrar o passado e discutir quem foi o culpado por tudo o que aconteceu. Enquanto isso, além de namorar Lana Edmond (Amber Heard), Stephen fica obcecado por um assassino confesso, Hans Reiser (Slater), que matou a esposa. Stephen quer escrever a história de Reiser, relembrando “A Sangue Frio”, de Truman Capote. Romanowsky fez um excelente trabalho de roteiro e direção, provando ser uma jovem talentosa com um futuro bastante promissor.