“SE
A RUA BEALE FALASSE” (“IF BEALE STREET COULD TALK”), 2018,
EUA, 120 minutos, dirigido por Barry Jenkins, que também escreveu o roteiro
baseado no romance de James Baldwin lançado em 1974. As famílias de Tish (Kiki
Laine) e de Alonzo “Fonny” Hunt (Stephan James) são vizinhas no Harlem. Tish e
Fonny cresceram juntos e ainda adolescentes engatam um namoro. A história é
ambientada no início dos anos 70, quando Tish está com 19 anos e Fonny com 22.
Continuam apaixonados e ela acaba engravidando. Só que um dia Fonny é preso,
acusado de estuprar uma jovem porto-riquenha. Ele nega o crime, mas o fato de
ser negro já supõe culpa no país racista do Tio Sam, ainda mais naquela época. Tish
acredita na inocência do namorado e segue sonhando em ter um lar no futuro com
filhos etc. Mas nem sempre os sonhos tornam-se realidade, principalmente para
uma minoria segregada. Barry Jenkins fez uma boa adaptação de um dos mais
conhecidos romances de James Baldwin, autor também negro que explora, na
maioria dos seus livros, a questão racial nos Estados Unidos. Lembro que
Jenkins também foi o diretor do poderoso “Moonlight: Sob a Luz do Luar”, Melhor
Filme do Oscar 2017. Por falar em Oscar, “Se a Rua Beale Falasse” foi indicado para
três categorias na versão 2019: Atriz Coadjuvante, Roteiro Adaptado e Trilha
Sonora. Só levou o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante, Regina King, que faz a
mãe de Tish. Achei que houve injustiça com Kiki Laine, que deveria ter sido
indicada para Melhor Atriz e não foi. Ela está ótima. Enfim, “Se a Rua Beale Falasse”
é mais um excelente filme da safra 2018, que já nos deu “Green Book”, “A Favorita”
e “Bohemian Rhapsody”, entre outros.
sexta-feira, 8 de março de 2019
quarta-feira, 6 de março de 2019
“DEDE”, 2017,
Georgia, 97 minutos, primeiro longa-metragem dirigido pela diretora Mariam
Khatchvani, com roteiro de Vova Kacharava e Irakli Solomonashvili. Esse drama
pesado, não fosse georgiano, seria um legítimo drama mexicano. Tem muita
tragédia, brigas de famílias que geralmente terminam em morte, casamentos
arranjados, mulheres e homens infelizes, pobreza... e por aí afora, sem contar
com os cenários de muita neve e um frio de congelar os ossos. A história é toda
ambientada em 1992 – logo após a guerra da independência - num vilarejo remoto
na zona rural e montanhosa do interior da Geórgia, ex-república soviética. Num
arranjo entre as respectivas famílias, a jovem Dina (Nadia Vibliani) está
prometida em casamento para um homem que ela não ama. O preferido dela é o
jovem Gegi (George Babluani), que por uma infelicidade é amigo do noivo. Dina
desmarca o casamento, gerando uma guerra entre as famílias. É nesse contexto dramático
que a trama segue até o seu desfecho. O mais interessante desse ótimo drama
georgiano é o destaque dado às tradições locais, a principal delas o papel sempre
subserviente e humilhante destinado às mulheres. Com exceção de três ou quatro
atores profissionais, o restante do elenco é todo constituído por pessoas do próprio vilarejo, o que dá ao filme uma autenticidade e um realismo especiais. Só para
lembrar, a Geórgia é um país da Europa Oriental que faz fronteira com Azerbaijão,
Armênia e Turquia. A língua oficial é a suana, falada também no filme. Resumo
da ópera: “Dede” é excelente. Assisti-lo é uma ótima oportunidade para conhecer um pouco do pouco conhecido cinema georgiano. Para concluir: o filme estreou no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, na República Tcheca, com muitos elogios da crítica e do público.
terça-feira, 5 de março de 2019
“COLETTE”, 2018,
coprodução EUA/Inglaterra, 1h52m, roteiro de Richard Glatzer e Rebecca
Lenkiewicz, com direção de Wash Westmoreland. Trata-se de um filme biográfico que acompanha a trajetória fascinante da romancista francesa Sidonie-Gabrielle Colette, mais conhecida apenas como
Colette, que no início do século XX foi um grande sucesso de vendas com suas
histórias apimentadas, recheadas de sexo com a personagem Claudine. A sociedade
conservadora ficou escandalizada com os temas abordados por Colette. Jovem
simples nascida no interior da França, ela foi pedida em casamento pelo então
famoso escritor Willy (Dominic West), cujos livros, na verdade, eram escritos
por jovens escritores em início de carreira (escritores-fantasmas). Willy só
assinava como autor. Colette começou a escrever alguns romances que também seriam
assinados por Willy. Anos mais tarde, se cansaria dessa situação, assumindo a
autoria, com seu próprio nome, de outros romances, todos sucessos de vendas na
época. Em sua vida pessoal, Colette se envolveria sexualmente também com outras
mulheres, entre as quais a aristocrata norte-americana George Raoul-Duval
(Eleonor Tomlinson) e a atriz de teatro Missy (Denise Gough), romances que seriam descritos em seus livros. Ou seja, para
usar um clichê dos mais antigos, Colette era uma mulher à frente do seu tempo.
Além de bonita, Keira Knightley é ótima atriz e vários diretores adoram colocá-la
em filmes de época, como aconteceu em “Orgulho e Preconceito” e “Desejo e
Reparação”, entre tantos outros. Exibido por aqui na programação oficial do
Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em novembro de 2018, “Colette”
é um filme de muita qualidade, com um elenco dos melhores, uma excelente
fotografia e uma primorosa reconstituição de época.
segunda-feira, 4 de março de 2019
“O QUE AS PESSOAS VÃO DIZER” (“HVA
VIL FOLK SI”, título original em norueguês, e “What Will People Say” nos países
de língua inglesa), 2018, Noruega, 1h46m, roteiro e direção da norueguesa Iram
Haq (seu segundo longa-metragem). O filme foi selecionado para representar a
Noruega na disputa do Oscar 2019 de Melhor Filme, mas não emplacou, embora seja
ótimo. Trata-se de um drama cujo pano de fundo é o radicalismo paterno, comum
entre as famílias muçulmanas. A história é centrada na jovem Nisha (Maria
Mozhdah), nascida e criada em Oslo, capital da Noruega. Aos 16 anos, ela vai a
baladas, namora, fuma um baseado de vez em quando, enfim, tudo o que uma garota
ocidental está acostumada a fazer. Nisha faz tudo isso bem escondida dos pais
imigrantes paquistaneses, Mirza (Adil Hussain) e Najma (Ekavali Khanna), radicais
à beira do fundamentalismo quanto às tradições culturais e religiosas de seu
país de origem. Quando Nisha é surpreendida com o namorado nas preliminares,
seu Mirza acaba espancando o rapaz. O caso termina na delegacia. Najma, a mãe,
se desespera: “O que os outros vão dizer?”. Essa preocupação diz respeito,
claro, à reputação não só de Nisha, mas de toda a sua família. Depois disso, o
pai, num acesso de ódio, decide levar a filha à força para Islamabad
(capital do Paquistão), para a casa de sua irmã. Nisha tenta se adaptar aos
costumes da família, mas acaba se envolvendo com um primo. Aí a coisa piora de
vez. Nisha é obrigada a voltar para Oslo, onde curtirá mais alguns momentos de
infelicidade. A gota d’água acontece quando a família arranja um marido
paquistanês residente no Canadá para casar com Nisha. O filme, falado em
norueguês e urdu, é muito bom e impactante, apresentando uma realidade presente
há séculos nas famílias muçulmanas, onde a mulher é desconsiderada como cidadã.
Filmaço!
domingo, 3 de março de 2019
“GREEN
BOOK: O GUIA” (“Green Book”), 2018, EUA, 2h10m, roteiro e
direção de Peter Farrelly. Antes de assistir a esta pérola, vi “Bohemian
Raphsody” e “A Favorita”, outros dois fortes concorrentes ao Oscar 2019 de
Melhor Filme. Achei que um desses dois ganharia o prêmio. Se tivesse visto “Green
Book” antes da noite da premiação, apostaria nele todas as minhas fichas. Sem
dúvida, um filme maravilhoso, sensível, divertido, enfim, cinema da melhor
qualidade. O trunfo maior, porém, além da interessante história baseada em
fatos reais, é a dupla de atores Viggo Mortensen e Mahershala Ali. Eles
interpretam, respectivamente, o grosseirão Frank “Toni Lip” Vallelonga e o
refinado pianista Don Shirley. O filme é ambientado em 1962 – a reconstituição
da época é sensacional. Toni Lip trabalhava como segurança na discoteca
Copacabana, em Nova Iorque. Quando o estabelecimento fechou para reformas, que
durariam mais ou menos três meses, Toni arrumou um “bico” de motorista,
assistente e segurança do pianista Don Shirley, um dos mais conceituados músicos
de jazz que fazia enorme sucesso com seu “Trio Don Shirley”. Shirley e seu
grupo foram contratados para uma turnê em várias cidades do sul, a região mais
racista do país. O gozado da situação é que Toni Lip era um racista convicto e
que seria obrigado a ter um chefe negro. É desse contexto que Farrelly conseguiu
criar as mais hilariantes situações, principalmente no que se refere aos
diálogos entre o motorista e seu chefe. Desta vez, Peter não trabalhou com seu
irmão Bob, conhecidos como os irmãos Farrelly, responsáveis por ótimas comédias
como “Debi & Lóide – Dois Idiotas em Apuros”, “Eu, Eu Mesmo & Irene” e “Quem
vai Ficar com Mary?”. Além de dirigir “Green Book”, Peter escreveu o roteiro
juntamente com Nick Vallelonga (filho de Toni na vida real) e Brian Hayes
Currie. Por seu trabalho em “Green Book”, Mahershala Ali conquistou o prêmio
de Melhor Ator Coadjuvante. Merecido. Viggo Mortensen concorreu a Melhor Ator,
perdendo para Rami Malek, o Fred Mercury de “Bohemian Raphsody”. Mortensen era
o grande favorito, pois antes do Oscar já havia sido premiado pela AACTA
Internacional Award, pelo Critic’s Choise Award, pelo Bafta, Sindicato dos
Atores e pelo Globo de Ouro. Sua atuação é mesmo fantástica. Ele chegou a engordar
20 quilos para interpretar Toni. Como informação adicional, lembro que o Green
Book era um livro/guia de hotéis e restaurantes do sul dos EUA que aceitavam
afrodescendentes. Quem ainda não assistiu está perdendo a oportunidade de
conhecer um dos melhores filmes dos últimos anos. Imperdível!
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