terça-feira, 20 de setembro de 2016

Um terrível e chocante fato histórico pouco conhecido é o tema central do excelente drama francês “AGNUS DEI” (“LES INOCCENTES”), 2015, roteiro de Madeleine Pauliac e direção de Anne Fontaine. Ao final da Segunda Guerra Mundial, soldados russos estupraram várias freiras de um convento no interior da Polônia. Muitas delas engravidaram e precisaram de cuidados médicos. A enfermeira francesa Mathilde Beaulieu (Lou de Laâge), que na ocasião trabalhava para a Cruz Vermelha no atendimento a cidadãos do seu país num acampamento próximo ao convento, foi procurada por uma das freiras para realizar o parto de uma delas. No convento, Mathilde viu que outras freiras precisavam de cuidados médicos, pois também estavam grávidas. Para isso, Mathilde teria de enfrentar duas grandes dificuldades. A primeira delas: as freiras não permitiam que fossem tocadas. Segunda dificuldade: Mathilde estava proibida de sair de seu posto. Ela saía escondida, na maioria das vezes de madrugada, para prestar atendimento às freiras. A jovem atriz francesa Lou de Laâge dá um show de interpretação. Também deve ser destacado o trabalho das atrizes polonesas que formam o resto do elenco, principalmente Agata Kulesza (madre superiora), Agata Buzek (irmã Maria) e Joanna Kulig (irmã Irena). Um filme forte, de grande impacto, que merece ser visto. Da mesma diretora, recomendo o ótimo “Gemma Bovery – A Vida Imita a Arte”, bem mais leve.       

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

O drama biográfico canadense “BORN TO BE BLUE” (ainda sem tradução por aqui) é baseado na vida do lendário trompetista e cantor de jazz Chet Baker (1929/1988). A história é toda ambientada nos anos 60, quando Chet (Ethan Hawke) tenta recuperar a carreira depois de ficar preso por porte de drogas. Seu vício em heroína o levaria à decadência artística e à morte. O roteirista e diretor Robert Budreau (este é o seu segundo longa) centra a história no romance de Chet com Jane (Carmen Ejogo), uma atriz em início de carreira, e nos desafios enfrentados pelo músico para voltar à cena do jazz. Além das drogas, ele tinha problema com seus dentes da frente, arrebentados por capangas de um traficante para o qual Chet devia uma grana. Ele tocava com os dentes colados e, muitas vezes, tinha de segurá-los para não caírem durante as apresentações. O filme é simplesmente espetacular, um primor para os olhos e ouvidos. O desempenho de Hawke é incrível e a trilha sonora simplesmente deliciosa. Uma das cenas mais bonitas e emocionantes acontece num estúdio onde Chet se apresentaria para importantes produtores musicais. Ele canta e toca “My Funny Valentine”. Mesmo com o pedido dos técnicos do estúdio para que a plateia não se manifeste durante e depois da apresentação, já que seria tudo gravado, o pessoal não consegue segurar os aplausos no final.  É de arrepiar, assim como sua apresentação ao vivo no Birdland, famoso clube de jazz de Nova Iorque, onde ele toca e canta "Born to be Blue", a canção que dá nome ao filme. Na plateia, entre os que aplaudem Chet com entusiasmo, estão nada menos do que Dizzy Gillespie e Miles Davis, outros monstros sagrados do jazz. O filme estreou no Toronto International Film Festival, em setembro de 2015, arrancando elogios do público e dos críticos. Realmente, um filmaço. Simplesmente imperdível!    

domingo, 18 de setembro de 2016

O drama “MEU AMIGO HINDU”, 2015, foi o último filme escrito e dirigido pelo diretor argentino – naturalizado brasileiro – Héctor Babenco, que morreu em julho de 2016. O filme é todo falado em inglês, certamente para facilitar o trabalho do ator Willem Dafoe, o principal protagonista. O restante do elenco é de primeira: Maria Fernanda Cândido, Reynaldo Gianecchini, Bárbara Paz, Selton Mello, Ary Fontoura, Dan Stulbach, Dalton Vigh, Maitê Proença e Tânia Khalill. Conforme prometeu nos créditos iniciais – “O que você vai assistir é uma história que aconteceu comigo e conto da melhor maneira que sei” –, Babenco conta sua própria história de sofrimento na luta contra um câncer linfático. O longo tratamento ao qual foi submetido, antes e depois do transplante de medula óssea, toma conta de grande parte do filme. É num hospital de Washington (EUA) que ele conhece o tal amigo hindu do título, um garoto indiano de 8 anos também internado para tratar de um câncer. Babenco – que no filme é Diego Fairman – costumava contar histórias para o menino durante as sessões de quimioterapia. Os críticos profissionais não gostaram do filme. Eu não achei assim tão ruim. Concordo, porém, que não faz jus à competência habitual de Babenco, comprovada em filmes como “Pixote, A Lei do mais Fraco”, “Lúcio Flácio, Passageiro da Agonia”, “O Beijo da Mulher Aranha”, “Carandiru” e “Ironweed”, no qual dirigiu Jack Nicholson e Meryl Streep.