sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

 

O HOMEM SEM GRAVIDADE (L’UOMO SENZA GRAVITÀ), 2019, Itália, 1h47m, primeiro longa-metragem escrito e dirigido por Marco Bonfanti, mais conhecido como diretor de curtas e documentários. É uma mistura de drama e fantasia. A história começa nos anos 80 dentro de uma sala de cirurgia onde está sendo realizado um parto. O nenê sai da barriga da mãe e flutua no ar, preso apenas pelo cordão umbilical, para espanto da médica, da mãe Natalia (Michela Cescon) e da avó Alina (Elena Cotta). A mãe escolhe o nome Oscar, pois achou que o nascimento do filho lembrou aqueles filmes de Hollywood com astronautas vagando pelo espaço. Mãe e avó criam o garoto preso dentro de casa, evitando que a população do pequeno vilarejo onde moram descubra o segredo. Enquanto cresce, Oscar é obrigado a usar pesos dentro dos bolsos e uma mochila com pesos para não flutuar. Numa ida da mãe a uma loja de frutas, Oscar (Pietro Pescara) conhece uma garota chamada Agata (Jennifer Brokshi), que seria a primeira pessoa a vê-lo “voar”. O tempo foi passando e Oscar continuou dentro de casa, escondido, vendo desenhos animados e se entusiasmando pelo Batman. O filme dá um salto no tempo e Oscar já é adulto (Elio Germano). Um adulto sem qualquer noção da realidade externa, o que começa a incomodá-lo. Um dia ele se rebela e foge de casa com o objetivo de participar de um programa televisivo tipo “Você é o Astro”, quando os candidatos apresentam suas habilidades. Claro, Oscar ganhou fácil e logo depois é procurado por um empresário picareta (Vincent Scarito) que o obriga a assinar um contrato de exclusividade e a se apresentar em shows pelo país afora. Embora famoso, Oscar não estava feliz. Na verdade, queria ser um sujeito normal. Esse dilema o atormentará até o desfecho, quando se apaixona por uma prostituta (Silvia D’Amico), que logo descobrirá ser a sua antiga amiguinha Agata. Embora tenha esse lado fantasioso e surreal, “O Homem sem Gravidade” pode ser encarado como um drama psicológico. Até a metade da projeção, o filme encanta e emociona, mas depois cai num ritmo quase enfadonho, limitando a história a situações forçadas até o desfecho. O principal destaque é realmente a perfeição do efeito de flutuação, que foi muito bem feito e ficou bastante realista. O filme abriu a 14ª edição da Festa do Cinema de Roma, em 17 de outubro de 2020 e logo depois chegou à plataforma Netflix. Resumo da ópera: o filme é interessante, vale a pena conferir.                   

quinta-feira, 10 de dezembro de 2020

 

NATAL SOB FOGO CRUZADO (WIR KÖNNEN NICHT ANDERS), 2020, Alemanha, 1h45m, disponível na Netflix desde o dia 4 de dezembro de 2020, roteiro e direção de Detlev Buck, que também atua no filme. Esqueça aqueles filmes de Natal com crianças escrevendo para o Papai Noel, as famílias arrumando a decoração em seus jardins e as mulheres na cozinha providenciando a ceia. Neste filme alemão, o Natal só chega no desfecho e de forma trágica. “Natal sob Fogo Cruzado” é uma comédia de humor negro, com cenas de violência que lembram as produções de filmes trash. A história começa com um inusitado caso de amor. Num bar de Berlim, Samuel (Kostja Ullmann), professor assistente de universidade, conhece a desmiolada Edda (Alli Neumann). A paixão é imediata e os dois resolvem passar o Natal com a família dela que mora numa pequena cidade na zona rural da Alemanha Oriental. Ao chegarem ao destino, Samuel testemunha uma tentativa de assassinato e acaba jurado de morte e perseguido pelos agressores. Enquanto isso, Edda mata um policial que tentava estuprá-la. As situações de perigo se acumulam a cada momento, deixando o filme bastante movimentado, num ritmo quase alucinante. Mesmo com a violência reinante, o bom humor corre solto a cada sequência, tornando este filme alemão um entretenimento bastante interessante e divertido. Além dos atores já mencionados, ainda integram o elenco Anika Mauer, Detlev Buck, Sascha Alexander Gersak, Sophia Thomalla, Merlin Rose e Peter Kurth. Uma boa dica de filme em tempos tão tenebrosos.         

terça-feira, 8 de dezembro de 2020

 

QUANDO OS ANJOS DORMEM (CUANDO LOS ÁNGELES DUERMEN), 2018, Espanha, disponível na Netflix, 1h31m, roteiro e direção de Gonzalo Bendala – mais conhecido como diretor de curtas e documentários, este é o seu segundo longa-metragem (o primeiro foi “Asesinos Inocentes”, de 2015). O título explica bem a situação do principal personagem, Germán (Julián Villagrán). Sabe aquele dia em que os seus anjos da guarda estão dormindo e esquecem de você. Foi o que aconteceu com Germán, um importante executivo de uma companhia de seguros, justamente no dia do aniversário de sua filha. Ela participava de uma reunião em outra cidade e queria sair logo para chegar a tempo de ver a menina apagar as velinhas. Aí começaria o maior inferno de sua vida. A reunião demorou para acabar e, quando saía do estacionamento, uma perua dá ré e atinge a frente do seu carro. Na estrada, é parado pela polícia não apenas por estar dirigindo em zigue-zague por causa do sono, mas também por estar com o farol apagado pela batida. Germán não segue o conselho dos policiais e volta para a estrada. O sono continua e de repente, quando fecha os olhos por segundos, atropela uma moça. A amiga dela presencia o acidente e entra em choque, que logo depois se transformaria em um violento surto histérico. Enquanto tudo isso está acontecendo, a esposa de Germán liga de cinco em cinco minutos cobrando a presença dele no aniversário da filha. Com a moça ferida no seu carro e a amiga histérica, a situação de Germán se complica ainda mais, fugindo totalmente de controle até chegar a uma tragédia. Encerro a sinopse por aqui para não correr o risco de estragar as surpresas do suspense. Além de Julián Villagrán, integram o elenco Ester Expósito, Ásia Ortega e Marián Álvarez. O grande trunfo do filme foi criar uma grande expectativa em relação ao que vai acontecer no final. Realmente, sua atenção não vai desviar enquanto não chegar à surpreendente reviravolta no desfecho. Recomendo.       

segunda-feira, 7 de dezembro de 2020

 

MANK, 2020, Estados Unidos, produção e distribuição Netflix (estreou na plataforma no dia 4 de dezembro de 2020), 2h31m, direção de David Fincher. O roteiro foi escrito nos anos 90 por Jack Fincher, pai do diretor (o filme é dedicado a ele, morto em 2003). “Mank” é uma viagem deliciosa à Era de Ouro de Hollywood (anos 1930/1940). A história é centrada em Herman J. Mankiewicz (o “Mank” do título - 1897/1953), o famoso roteirista de “Cidadão Kane”, lançado em 1941 e que até hoje é considerado pela crítica especializada como o maior clássico de todos os tempos. O filme vai e volta no tempo, mostrando Mankiewicz (Gary Oldman) nos bastidores dos estúdios, nas festas e jantares promovidos pelos principais produtores do cinema da época. Nos anos 30, Mankiewicz já era um dos mais importantes roteiristas de Hollywood. Beberrão crônico, dava os maiores vexames, o maior deles durante um jantar promovido pelo magnata da mídia William Randolph Hearst (Charles Dance), que mais tarde seria o principal personagem de “Cidadão Kane”. Interpretado com maestria pelo ator Gary Oldman, Mank escreveu o roteiro inteiro na cama, com a perna engessada, auxiliado por sua secretária particular e datilógrafa Rita Alexander (Lily Collins). Orson Welles, o ator e diretor de “Cidadão Kane”, num gesto nada honesto, dividiu os créditos do roteiro, o que gerou uma grande polêmica, já que todo mundo sabia que havia sido escrito apenas por Mank. Indicado a 9 categorias no Oscar de 1941, “Cidadão Kane” ganhou uma única estatueta justamente com o roteiro. Além de Gary Oldman, Lily Collins e Charles Dance, estão no elenco Amanda Seyfried (Marion Davis), Arliss Howard (Louis B. Mayer, chefão da MGM), Tom Burke (Orson Welles), Tom Pelphrey (Joseph Mankiewicz, irmão de Herman), e Tuppence Middleton (Sara, esposa de Herman). Filmado em preto e branco (a fotografia é espetacular) e com uma primorosa recriação de época, “Mank” é desde já considerado como um dos grandes favoritos ao Oscar 2021. Aposto todas as minhas fichas no prêmio de Melhor Ator para Gary Oldman, magistral, e para o roteiro, que deverá render uma homenagem póstuma a Jack Fincher. Os diálogos são riquíssimos em referências cinematográficas, o que deve agradar em cheio os críticos e os cinéfilos em geral. Realmente, mais um grande tributo a Hollywood. Um verdadeiro FILMAÇO, assim mesmo, em maiúsculas      

domingo, 6 de dezembro de 2020

 

A FERA (LA BELVA), 2020, Itália, 1h39m, direção de Ludovico Di Martino, que também assina o roteiro juntamente com Claudia De Angelis e Nicola Ravera. É um filme de ação que chegou à Netflix no dia 27 de novembro de 2020, sendo o mais visto da plataforma na primeira semana. A história começa com o sequestro de uma menina de 6 anos por uma gangue envolvida com prostituição infantil. Só que os sequestradores não imaginavam que ela é filha de um ex-soldado das forças especiais do exército italiano, Leonida Riva (Fabrizio Gifuni), que enfrenta problemas psicológicos – o tal estresse pós-traumático que afeta ex-combatentes – e precisa tomar antidepressivos. Ao saber do sequestro da filha, Riva deixa os remédios de lado e entra em ação por conta própria. A polícia é tão incompetente que começa a achar que o ex-soldado está por trás do sequestro. Enquanto isso, Riva vai atrás dos responsáveis e aí começa a pancadaria. Ele bate, mas também apanha muito. Mas, como Bruce Willis, é duro de matar. “A Fera” tem todos os clichês daqueles filmes que, como “Busca Implacável”, com Liam Neeson, colocam em cena um pai em busca de uma filha ou então para vingar a morte de um membro de sua família. O mesmo de sempre. Aqui, com a diferença de que é uma produção do cinema italiano, com inúmeros defeitos, um deles as cenas de luta, muito mal coreografadas. Como entretenimento, tudo bem, mas está bem longe de ser indicado como um bom filme. Razoável, no máximo.