Singelo,
comovente, sensível. Assim é o drama francês “FATIMA”, 2015, escrito e
dirigido pelo marroquino Philippe Faucon (“Samia”). A história acompanha o
cotidiano de Fatima (Soria Zeroual), imigrante argelina divorciada de 44 anos, que
há duas décadas imigrou para Paris e cria, com o trabalho de faxineira, as duas
filhas nascidas em solo francês, Nesrine (Zita Hanrot), de 18 anos, e Souad
(Kenza Noah Aïche), de 15 anos. Fatima não fala bem o francês e se comunica com
as filhas em árabe, resultando num choque cultural dentro da própria família,
pois Nesrine e Souad, plenamente integradas aos modos e costumes da França, não
aceitam seguir as tradições muçulmanas, como, por exemplo, usar o véu para sair
na rua. Nesrine é o orgulho da família, pois conseguiu ingressar na faculdade
de Medicina, fato que gera a inveja das vizinhas também imigrantes. Souad é uma adolescente rebelde e briguenta, que não se conforma que a mãe seja uma faxineira. Ao cair de
uma escada e ficar afastada do trabalho por licença médica, Fatima passa a
escrever um diário em árabe, escrevendo tudo aquilo que gostaria de dizer às
filhas em francês, além de fazer uma abordagem sobre os desafios de viver em
outro país, em meio a muito preconceito. Numa das passagens do diário, escrito
com muita poesia e sensibilidade, ela faz uma homenagem às “Fátimas” que, como
ela, fazem o serviço pesado e sustentam suas famílias a custa de muito suor. Um
texto muito bonito, que valoriza ainda mais esse belo filme, cujo roteiro foi inspirado
em dois livros escritos pela imigrante marroquina Fatima Elayubi em 2006 e
2011. “Fatima”, merecidamente, conquistou o Prêmio César (o Oscar francês) de Melhor
Filme em 2016.
sábado, 10 de junho de 2017
sexta-feira, 9 de junho de 2017
Ainda
não tem data para estrear por aqui “REGRAS NÃO SE APLICAM” (“Rules Don’t
Apply”), 2016, sexto filme escrito – em conjunto com Bo Goldman - e
dirigido pelo ator Warren Beatty. Ambientado em 1958, conta a história da jovem
Marla Mabrey (Lily Collins), que chega a Hollywood em companhia da mãe Lucy
(Annette Bening) para fazer um teste na produtora do excêntrico milionário
Howard Hughes (Warren). Frank Forbes (Alden Ehrenreich) é o motorista escalado
para servir Marla entre sua casa e o estúdio. Logo é possível perceber que os
dois se apaixonarão, mesmo que uma das regras de Hughes seja desrespeitada: nenhum
dos seus funcionários pode se envolver com as atrizes de seu estúdio – daí o
título original. O filme é uma mistura de romance, comédia e drama, além de uma
sátira ao misterioso Hughes, aqui apresentado como uma figura patética e
histriônica. O resultado final não me agradou e, se há algo a destacar de forma
positiva, é a exuberante recriação de época, especialmente os cenários e os
figurinos, além da deliciosa trilha sonora. Outro fator de destaque é a presença de atores famosos fazendo
apenas uma ponta no filme, como Matthew Broderick, Candice Bergen, Steve
Coogan, Martin Sheen, Oliver Platt, Paul Sorvino e Ed Harris. Vale para uma
sessão da tarde com pipoca. Nada muito especial.
O drama
norte-americano “CHRONIC” disputou a Palma de Ouro no Festival de Cannes
2015, onde teve sua primeira exibição – ainda não chegou por aqui, e duvido que
chegue. Foi escrito e dirigido pelo mexicano Michel Franco (“Depois de Lúcia”)
e traz no papel principal o ator britânico Tim Roth. Ele é David, um
enfermeiro/cuidador que há muitos anos trabalha com pacientes terminais. Sua
dedicação extrapola a função pela qual é contratado, pois acaba sempre ficando
amigo, confidente e conselheiro dos doentes. O filme mostra a rotina tediosa de
David, atendo-se a detalhes como a limpeza das sujeiras, o banho demorado, a
medicação e, em especial, o carinho com que trata cada um deles. É assim que
David aparece cuidando de duas mulheres com câncer, um idoso que acabara de
sofrer um violento derrame e um rapaz com problemas motores. A dedicação de
David nem sempre é compreendida pela família dos doentes. Ao ser surpreendido
abraçando um deles, David é acusado, injustamente, de assédio sexual. Ao mesmo
tempo, ele tenta se reconciliar com a filha Nadia (Bitsie Tulloch), fruto de um
casamento desfeito. Ele também vive perturbado pelas recordações envolvendo um
evento trágico ocorrido com seu filho, o que finalmente explica sua extrema
dedicação aos doentes terminais. O filme é lento, sensação reforçada por longas
cenas sem diálogos, e um tanto chocante ao mostrar o triste final de pessoas cuja
única perspectiva é morrer sem sofrimento. O desfecho, abrupto e surpreendente,
é perturbador. Não é um filme agradável de assistir, mas muito impactante. Mesmo numa atuação contida, o britânico Tim Roth mostra mais uma
vez por que é considerado um dos melhores atores da atualidade. Aos 56 anos, Roth já trabalhou
com grandes diretores, como Giuseppe Tornatore (no ótimo “A Lenda do Pianista
do Mar”, de 1998), além de alguns filmes de Quentin Tarantino, como “Os Oito
Odiados” e “Cães de Aluguel”.
quinta-feira, 8 de junho de 2017
No dia
15 de abril de 2013, feriado nacional nos EUA (“Patriots Day”), um atentado
terrorista durante a tradicional maratona de Boston matou 3 pessoas e deixou 264
feridas, muitas delas com os membros inferiores amputados. O evento trágico foi
considerado o pior em solo norte-americano desde o 11 de setembro de 2001. O
drama “O DIA DO ATENTADO” (“Patriots Day”), 2016, relembra em
detalhes todo o episódio, desde as horas que o antecederam, o atentado em si e
a posterior caçada aos terroristas. O diretor Peter Berg ( de “Horizonte Profundo:
Desastre no Golfo” e do ótimo “O Grande Herói”), seguindo o roteiro escrito por
ele mesmo em conjunto com Matt Cook e Joshua Zetumer, utilizou inúmeras cenas
reais do momento da tragédia, algumas muito chocantes. Mas o aspecto mais
destacado ficou por conta da caçada aos terroristas, identificados e presos 102
horas depois. Esse trabalho reuniu a polícia de Boston e agentes do FBI. Um
grande galpão foi adaptado para concentrar toda a investigação, o que incluiu uma
montagem de uma maquete gigante reproduzindo a rua onde as duas bombas explodiram. Tudo bem
que o filme tem o tom patriótico típico dos filmes norte-americanos, o que não
é demérito nenhum. O elenco é outro destaque: Mark Wahlberg (também um dos produtores),
Kevin Bacon, John Goodman, J. K. Simmons e Michelle Monaghan. Filmaço!
terça-feira, 6 de junho de 2017
“O IDEALISTA” (“IDEALISTEN”), 2015, Dinamarca, roteiro e direção de Christina
Rosendahl. O filme resgata um fato não muito divulgado por aqui – não me lembro
de ter lido ou ouvido falar do assunto. No dia 21 de janeiro de 1968, um
bombardeiro B-52 norte-americano carregando ogivas nucleares caiu e explodiu
próximo à base aérea dos EUA em Thule, na Groenlândia, naquela época um
território da Dinamarca. A declaração oficial das autoridades dava conta de que
realmente havia acontecido um acidente nuclear, mas a situação estava
totalmente sob controle. Vinte anos depois, portanto em 1988, o jornalista dinamarquês
Poul Brick (Peter Plaugborg) resolveu reabrir o caso. Brick vai fundo no
assunto, entrevista os dinamarqueses que trabalhavam na base, muitos deles
afetados por doenças causadas pelo acidente, e as autoridades encarregadas de
investigar as causas da queda do avião e suas consequências. Ao fim de anos de
trabalho, Brick chegará a uma conclusão que desagradará tanto o governo da
Dinamarca quanto o dos EUA. O filme destaca os esforços de Brick para chegar a
uma verdade que ele acreditava estar escondida durante décadas e que precisava
ser revelada. Como se fosse um documentário em sua grande parte, o filme também
reúne inúmeros vídeos, reportagens e entrevistas feitas após o acidente, muitos
dos quais acabaram reforçando a tese abraçada pelo jornalista dinamarquês. O
trabalho de Brick é considerado um dos mais importantes exemplos de jornalismo
investigativo, o que por si só garante um ótimo entretenimento, principalmente
para os estudantes de Comunicação. O filme foi exibido por aqui durante a 40ª
Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em 2016.
domingo, 4 de junho de 2017
Antes
de assistir ao drama “A LUZ ENTRE OCEANOS” (“THE LIGHT BETWEEN OCEANS”),
2016, EUA/Nova Zelândia, roteiro e direção do australiano Derek Cianfrance,
separe uma caixa de lenços de papel. A história é baseada no livro best-seller da escritora australiana M.
L. Stedman. Depois de lutar na I Grande Guerra, Tom Sherbourne (Michael
Fassbender) precisa encontrar um lugar para se recuperar das feridas psicológicas
do conflito. Encontrou refúgio como faroleiro na Ilha Janus Rocki, situada
entre os oceanos Pacífico e Índico – daí o título. Ele casa com a jovem Isabel
Graysmark (Alicia Vikander), que conhece logo ao ser contratado. Isabel
engravida duas vezes, mas perde os bebês. Um dia, um barco a remo, à deriva,
chega à ilha, com um homem morto e um bebê. Tom e Isabel adotam a criança e
escondem o fato de todos, inclusive das autoridades que deveriam ser avisadas
pelo faroleiro, conforme procedimento acertado em contrato. Anos mais tarde, a
situação se complica com o surgimento da mãe biológica da criança, Hannah
Hoennfeldt (Rachel Weisz), que acaba com o mistério que envolvia o barco. Ao saber da verdade, Tom é acometido por um enorme complexo de
culpa, mas, assistindo à felicidade de Isabel como mãe, decide manter a
história em segredo. Mas não por muito tempo. O filme foi elaborado de acordo
com o estilo novelístico do livro, transformando-se num dramalhão e tanto, mas
a história é bastante interessante e repleta de suspense, sem falar nos
cenários deslumbrantes (uma ilha da Tasmânia serviu de locação). Durante as
filmagens, o ator alemão Fassbender e a sueca Vikander iniciaram um romance que
dura até hoje. Para quem gosta de um bom drama, um ótimo programa.
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