quinta-feira, 10 de novembro de 2016
“NEGÓCIO DAS ARÁBIAS” (“A HOLOGRAM FOR THE KING”), 2016, coprodução
Alemanha/EUA. Jamais imaginei que Tom Hanks pudesse participar de um filme tão
ruim quanto “A Viagem”, de 2012. Os dois filmes levam a assinatura (de
roteiro e direção) do diretor alemão Tom Tykwer, que ficou famoso com o surpreendente “Corra
Lola, Corra”, de 1998, mas depois nunca mais acertou. Tykwer adaptou a história
para o cinema do livro “A Hologram for the King”, de David Eggers. No recente
abacaxi, Tom Hanks é o empresário Alan Clay, cuja empresa de TI está à beira da
falência. Ele então parte para a Arábia Saudita, onde sua empresa já conta com
três funcionários instalados, pasmem, numa tenda no deserto. A ideia é
apresentar um software de hologramas ao rei da Arábia Saudita. Enquanto não é
recebido pelo rei, que está sempre viajando, Alan preenche seu tempo indo a uma
festa na embaixada da Dinamarca regada a muita bebida e drogas, ou embarcando numa
viagem à vila de seu motorista, Yousef (Alexander Black), no meio do deserto
(lá, é tudo no meio do deserto - as locações aconteceram no Marrocos, no Egito e na Arábia Saudita). O roteiro ainda reserva como atração adicional uma absurda cirurgia
que Alan sofrerá para retirar um caroço das costas, o que o levará a conhecer a
médica Zahra (Sarita Choudhury), por quem se apaixonará. Quer mais? Assista e veja se não tenho razão. Ao participar do filme, Tom Hanks talvez tenha feito um negócio das arábias, mas para nós, espectadores, restou o deserto.
O grande Jean
Rochefort, meu ator francês preferido, volta às telas no drama “A VIAGEM
DE MEU PAI” (“Floride”), 2015, França, roteiro e direção de Philippe Le Guay
(do ótimo “As Mulheres do 6º Andar”). Ele interpreta Claude Lherminier, um
idoso que começa a sofrer de demência. Ele mora sozinho numa enorme casa
isolada e sempre está aos cuidados de uma governanta. Como Claude é um sujeito
difícil, as cuidadoras não param no emprego, para desespero da filha Carole
(Sandrine Kiberlain). Para piorar a situação, ele não para de falar da filha Alice,
que há muitos anos mora em Miami (Flórida) e que ele insiste em visitar – daí o
título do filme. Só que ele apagou da memória que Alice morreu tragicamente há
9 anos. Em seus delírios, Claude também volta à infância e revê episódios que
viveu durante a Segunda Guerra Mundial, além de recordações de sua mãe. Baseada
na peça de teatro “Le Père”, de Florian Zeller, a história explora as mazelas
da velhice e o fato de ser um fardo para os filhos. O contexto dramático,
porém, é amenizado por muitas pitadas de humor, o que torna o filme um
entretenimento bastante agradável. E tem, claro, a presença de Rochefort, a
quem passei a admirar e curtir desde “O Marido da Cabeleireira” (1990).
quarta-feira, 9 de novembro de 2016
“DEMOLIÇÃO” (“Demolition”), 2015,
EUA, direção do canadense Jean-Marc Vallée (do ótimo “Clube de Compras Dallas”,
que deu o Oscar de melhor ator a Matthew McConaughey). Depois de perder a jovem
e bela esposa Julia (Heather Lind) num trágico acidente, Davis Mitchell (Jake
Gyllenhaal), um bem sucedido executivo de um grande banco de investimentos, é
acometido de um colapso emocional e fica doidinho. Começa a escrever cartas
compulsivamente, passa a desmontar tudo o que vê pela frente – computadores,
aparelhos domésticos etc. –, e depois ingressa na fase de demolição, o que
justifica o título. A paranoia de Davis, que na fase de luto falava a quem quisesse ouvir que nunca
amou a falecida, tem início quando ele, ainda no hospital onde a esposa acabara de
morrer, não consegue tirar um M&M da máquina de doces instalada no
corredor. Ele entra em contato com o serviço de atendimento ao cliente da
empresa fabricante e acaba conhecendo a atendente Karen Moreno (Naomi Watts),
que também tem um parafuso a menos e é mãe de um adolescente problemático (Judah
Lewis). Phil (o sempre ótimo Chris Cooper), o chefe de Davis no banco e seu sogro, não sabe
mais o que fazer e se desespera ao ver o estado mental do genro. Quando estreou
no Festival de Toronto, em setembro de 2015, o filme foi recebido com frieza, tanto pelo púclico quanto pela crítica. Apesar da comprovada qualidade do diretor e do elenco, o filme realmente não funciona.
“ENFURECIDOS” (“Enragés”), 2015,
França, roteiro e direção de Éric Hannezo. Trata-se de um filme de ação e
suspense, cuja história começa quando quatro marginais assaltam um banco. A
polícia chega e tenta evitar a fuga do quarteto. Depois de um intenso tiroteio,
durante o qual morrem três policiais e um marginal, começa a perseguição aos
três bandidos restantes, que se refugiam num shopping center. Novo cerco e novo
tiroteio, com mais mortes. Os bandidos conseguem fazer uma refém e obrigam um
motorista, que estava levando o filho de 4 anos para o hospital, a ajudá-los na
fuga. Daí para frente, a fuga continua pelas estradas do interior da França e
mais mortes acabam acontecendo, num road movie bastante violento. O filme consegue
manter um bom clima de suspense, embora o ritmo da ação diminua consideravelmente
a partir da metade. No desfecho, uma surpreendente revelação causa uma reviravolta
na história. Estão no elenco Lambert Wilson, Virginie Ledoyen, Guillaume Gouix, Franck Gastambide, François Arnaud e Laurent Lucas. Difícil encontrar méritos suficientes nesta produção francesa para motivar uma recomendação entusiasmada. De qualquer forma, vale a indicação para uma sessão
da tarde.
terça-feira, 8 de novembro de 2016
“FLORENCE – QUEM É ESSA MULHER?” (“Florence Foster
Jenkins”), 2015, direção do inglês Stephen Frears (“Philomena” e “A Rainha”).
Trata-se do segundo filme a contar a história da norte-americana Florence
Foster Jenkins (1868-1944), herdeira milionária e amante do canto lírico que
ficou famosa por achar que era uma grande cantora de ópera. E, até o final de
sua vida, continuou acreditando nisso. Esta é a versão de Hollywood, lançada
nos cinemas logo depois da produção francesa “Marguerite”, também inspirada em
Florence. A comparação é inevitável. Os dois filmes são muito bons, mas a versão
de Hollywood é bem melhor, principalmente porque privilegia o humor, ao estilo das sensacionais comédias dos anos 40/50. Segundo, porque a ação toda transcorre em Nova
Iorque, cidade onde ocorreram todos os fatos narrados (na versão francesa, o cenário é Paris). Terceiro, porque, além de
Meryl Streep, conta no elenco com o inglês Hugh Grant. Ele interpreta magistralmente St. Clair
Bayfield, o marido protetor de Florence, que está sempre ao seu lado nos
momentos mais importantes, mas que à noite fica entre os lençóis com a bela
Kathleen (Rebecca Ferguson, de “Missão Impossível – Nação Secreta”). Embora
conte com a maravilhosa Meryl Streep, o dono do filme é mesmo Hugh Grant. Outro
trunfo é o ator Simon Belberg na pele do pianista Cosme McMoon, acompanhante de
Florence em seus recitais. A cena em que desce de elevador depois de ouvir
Florence pela primeira vez, é hilariante. É preciso destacar também a primorosa
recriação de época (1944), tanto nos cenários como nos figurinos. IMPERDÍVEL!
domingo, 6 de novembro de 2016
Ambientada
em apenas um dia – véspera de Ano Novo – no início dos anos 90, a comédia
argentina “LAS INSOLADAS”, 2014, apresenta
apenas seis personagens em um único cenário. São mulheres na faixa dos 30/40,
todas bonitonas – umas mais, outras menos –, que num dia de forte calor em
Buenos Aires se reúnem para tomar sol no terraço de um edifício. Amigas de um
curso de salsa, elas pretendem “ficar mulatas” para a apresentação da noite num
concurso de dança. Este será o cenário do filme inteiro, com exceção do
desfecho, onde as moças se apresentam no concurso. A cena inicial é muito
bonita, mostrando o nascer do sol e a capital argentina sendo iluminada aos
poucos, destacando a arquitetura dos prédios do centro da cidade. Tudo isso ao
som de “He Comes the Sun”, dos The Beatles. A fotografia do filme, ao estilo do diretor espanhol Pedro Almodovar, ressalta as cores fortes e amplia a sensação de um calor escaldante.
A verborragia predomina o tempo todo. As seis amigas, cada qual com uma
personalidade diferente, discutem temas como as relações amorosas,
extraterrestres, vidas passadas, tratamento com cromoterapia, a apresentação
que farão à noite e, principalmente, o planejamento de uma viagem para Cuba no
ano seguinte. Uma observação: naquela época, o bronzeado e o celular eram
símbolos de status entre os argentinos. Todas as conversas são levadas no maior
bom-humor, o que minimiza a monotonia de um cenário único e uma trama com pouca,
ou nenhuma, ação. Dessa forma, trata-se de um filme bastante agradável de
assistir. As eficientes atrizes do elenco - Carla Peterson, Luisana Lopilato, Marina Bellati, Elisa Carricajo, Maricel Alvarez e Violeta Urtizberea - são bastante conhecidas na Argentina. Umas do cinema e da TV, outras do teatro. O roteiro e a direção são assinados por Gustavo Taretto, o mesmo do
ótimo “Medianeras – Buenos Aires na Era do Amor Virtual”.
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