sábado, 27 de setembro de 2014

Embora o diretor Damian Harris tenha afirmado que sua intenção era apenas fazer uma denúncia, "JARDINS DA NOITE” (“Gardens of the Night”), EUA, 2006, foi feito para chocar. É um filme desagradável de ver, muito forte, impactante. Não é para menos. A história aborda pedofilia, prostituição infantil, crianças em cárcere privado, drogas etc. O filme conta a história de Leslie, sequestrada por dois pedófilos psicopatas quando tinha 8 anos de idade. Mediante pagamento, a dupla oferecia a menina para uma rede de pedófilos. Agora aos 18 anos, Leslie (Gillian Jacobs) relembra os fatos tenebrosos que marcaram sua infância e adolescência, transformando-a numa drogada e prostituta de rua. Ela sempre acreditou – pois os seus sequestradores a fizeram acreditar – que os pais a haviam abandonado à própria sorte. Difícil acreditar que o filme tenha sido liberado para exibição levando-se em consideração as rígidas normas de censura dos EUA. Afinal, algumas cenas mostram adultos aos palavrões diante de crianças e até algumas mostrando carícias de adultos em crianças, embora nada de forma explícita. Mesmo assim, são cenas revoltantes, muito chocantes, de embrulhar o estômago. Os atores são muito bons, principalmente Tom Arnold, que faz Alex, um dos sequestradores, e a própria Gillian Jacobs, que, além de boa atriz, é muito bonita. Uma curiosidade é a participação, numa ponta, do ator John Malkovich. Enfim, um filme que passa longe de ser um entretenimento agradável.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

“O ATENTADO” (L’Attentat”), direção do libanês Ziad Doveiri,  é uma co-produção França-Líbano de 2013, cujo tema central é o eterno conflito entre árabes e israelenses. A história é baseada em livro homônimo escrito por Yasmina Khadra e o personagem central é o dr. Amin Jaafari (Ali Suliman), médico de origem palestina que estudou e fez carreira em Tel Aviv. Ele é casado com Sihan (Raymond Amsalem), também de origem palestina. Um dia, após ser homenageado por seu trabalho num hospital de Tel Aviv, um atentado num restaurante da cidade mata 17 pessoas e deixa dezenas de feridos. Conclui-se que foi um ato terrorista praticado por uma mulher-bomba, logo identificada como a esposa de Amin.  O médico se  recusa a acreditar que Sihan tenha sido capaz de tal ato. Além de confirmar que ela é a autora do atentado, a polícia acredita que o médico seja cúmplice da esposa. Além de tentar provar sua inocência perante as autoridades israelenses, o médico vai ao território palestino descobrir de que forma, e por quem, Sihan foi cooptada para praticar o atentado. O filme é muito bom, pois retrata com bastante realismo o clima de tensão que envolve o dia-a-dia de palestinos e israelenses. Quando o médico encontra os mentores do atentado e ouve deles suas razões para a prática constante de terrorismo contra Israel, o espectador vai chegar à desanimadora conclusão de que esse conflito jamais terá fim. Uma das polêmicas que envolveram o filme foi o fato de Sihan ser interpretada por uma atriz israelense, o que quase impediu sua exibição nos países árabes. Imperdível!                  

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

“VIC + FLO VIRAM O URSO” (“Vic + Flo ont vu un Ours”), 2013, direção de Denis Côté. O título desse drama canadense já dá a pista. Vem filme esquisito por aí, previsão reforçada pelo retrospecto do diretor canadense, que gosta de realizar filmes estranhos, tais como o documentário “Bestiaire” e o longa “Curling”. Neste novo drama, a história é centrada em Victoria (Pierrette Robitaille), 61 anos, que acaba de sair da cadeia em liberdade condicional e vai morar na cabana da família numa floresta perto de Quebec. Algum tempo depois chega Florence (Romane Bohringer), sua ex-companheira e amante na prisão – ninguém explica por que elas estiveram presas. As duas resolvem reatar o caso e morar juntas. De fez em quando aparece para visitá-las o agente da condicional de Victoria, Guilheume (Marc-André Grondin), que passa a ser o único amigo das duas. Tudo vai bem até aparecer uma visita nada agradável para cobrar algo que Florence fez no passado – outro fato não explicado. Na verdade, o filme todo é inexplicável, aqui incluído o tal urso, que só aparece no título. O desfecho, então, é ver para crer. O filme ganhou o “Urso de Prata” no Festival de Berlim 2013, o que também é inexplicável.             
O drama belga “ILEGAL” (“Illégal”), 2010, aborda um dos temas mais em evidência na Europa nos últimos anos, ou seja, a questão dos imigrantes ilegais. Mais do que isso, aliás, esta produção, dirigida por Olivier Masset-Depasse, parece ter a intenção de denunciar os maus tratos a que são submetidos os ilegais na Bélgica. O filme conta a trajetória sofrida da imigrante russa Tania (a fabulosa atriz belga Anne Coesens), que há 8 anos vive na Bélgica ilegalmente com seu filho Ivan. Quando seu pedido de residência permanente é recusado, Tania se desespera. Para nunca mais ser identificada e correr o risco de ser repatriada, ela resolve destruir as próprias digitais, queimando as pontas de seus dedos num ferro de passar roupa. Quando é presa e separada do filho, ela fica calada sobre sua identidade, sendo encaminhada a um centro de detenção destinado a imigrantes ilegais. A maior parte do filme mostra Tania convivendo e se integrando com outros imigrantes, ao mesmo tempo em que se preocupa com o destino do filho, agora com 13 anos. É um filme pesado e muito triste, mas, ao mesmo tempo, muito forte e impactante pela dramaticidade da situação, principalmente ao escancarar o tratamento pouco amigável destinado aos imigrantes ilegais. O filme foi o candidato oficial da Bélgica na disputa do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro/2011.  

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

“A CONVOCAÇÃO” (“The Calling”), 2013, é uma produção canadense dirigida por Jason Stone (seu filme de estreia como diretor). A história, baseada no livro homônimo escrito por Inger Ash Wolfe, é ambientada na pacata cidade de Port Dundas, na zona rural de Ontário (Canadá), onde não ocorre um homicídio há mais de quatro anos. A chefe de polícia local é a detetive Hazel Micallef (Susan Sarandon). Ela é uma policial experiente, durona e beberrona, o tipo de personagem que a gente gosta logo de cara – ainda mais com Sarandon. De repente, começam a aparecer, um após o outro, na cidade e nas redondezas, vários corpos de vítimas de assassinato. Com um contingente mínimo para investigar as mortes, Hazel pede reforços. E o que recebe é um policial jovem e inexperiente, mas muito esperto, Ben Wingate (Thopher Grace). As investigações levam a crer que os homicídios têm relação com a Bíblia e outros aspectos religiosos. Um enredo um tanto mirabolante. O filme lembra “Fargo”, dos irmãos Coen, principalmente pela personagem de Hazel, que tem muito a ver com a policial Marge (Frances McDormand). Esta tinha dificuldade para se locomover porque estava grávida, e Hazel porque tem dor nas costas resultantes de um tiro. Enfim, “A CONVOCAÇÃO”  é um ótimo entretenimento, pois tem ação, humor e suspense. Tudo na dose certa.    

 

segunda-feira, 22 de setembro de 2014

“VIDA QUE SE DESFAZ” (“Le Démantèlement”), 2013, é um belo e muito triste drama canadense centrado no fazendeiro Gaby (Gabriel Arcand). Ele é dono da Bouchard & Filhos, uma fazenda de criação de ovelhas que vem passando de geração a geração da família. Gaby cuida de tudo praticamente sozinho. A fazenda é o trabalho de toda sua vida. Gaby é divorciado há 20 anos e tem duas filhas que moram na cidade e nunca o visitam. Como única companhia, ele tem a seu lado, além das ovelhas, o cão pastor “Gordo”. É um homem solitário, triste. Um dia, ele recebe a visita de sua filha mais velha, Marie (Lucie Laurier), que diz estar se separando do marido e precisa muito de dinheiro, pois tem dois filhos para criar e muitas dívidas. Ela precisa comprar a parte do marido na casa. Marie pede ajuda a Gaby. Este, porém, não está bem financeiramente, mas promete ajudá-la. Gaby decide fazer um grande sacrifício para ajudar a filha, o que justificará plenamente o título desta produção falada no francês de Quebec. Dirigido por Sébastien Pilote, o filme é lento tal qual transcorre a vida numa fazenda. A ótima fotografia ressalta as paisagens às quais Gaby estará renunciando, aumentando ainda mais a dramaticidade da história. Não há como não se emocionar com esse drama aclamado pela crítica e público em vários festivais de cinema, incluindo Cannes, Toronto e a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.                 

“HELLION”, 2013, filme norte-americano independente, conta o drama de Hollis Wilson (Aaron Paul, de “Need for Speed”), um jovem pai que, depois de ficar viúvo, enfrenta sérias dificuldades para cuidar dos dois filhos, Jacob (Josh Wiggins), de 13 anos, e Wes, de 10 anos. O problema maior é Jacob, um adolescente rebelde e revoltado, com grandes chances de ingressar na delinquência. Em alguns aprontos com sua turma nada comportada, ele envolve seu irmão menor. Aí não teve jeito. Alertado pela cunhada de Hollis, Pam (Juliette Lewis), o Serviço Social entra em ação. Hollis corre o risco de perder a guarda dos filhos e se desespera. A situação caminha para um final bem triste. O filme conta com as ótimas atuações de Aaron, Juliette Lewis e, principalmente, de Josh Wiggins em sua estreia como ator. Wiggins, aliás, lembra muito o jovem Leonardo DiCaprio em seus primeiros filmes. “HELLION”, dirigido por Kat Candler, estreou em janeiro de 2014 no Sundance Film Festival e recebeu ótimos críticas. Uns meses depois foi exibido no Festival de Dallas, onde conquistou o Grande Prêmio do Júri. 

domingo, 21 de setembro de 2014

O drama turco “CLIMAS” (“Iklimler”), de 2006, é daqueles filmes que podemos enquadrar no gênero cinema de arte. É contemplativo e arrastado, feito de silêncios, olhares e gestos, sem uma narrativa linear. Lembra os filmes de Antonioni nos anos 60, com protagonistas depressivos, infelizes e vazios. Numa viagem a trabalho para fotografar as ruínas de um templo, o professor universitário Isa (Nuri Bilge Ceylan, também roteirista e diretor do filme) se desentende com a sua jovem mulher Bahar (Ebru Ceylan, esposa do diretor), que já se mostrava entediada com o casamento. O casal revolve dar um tempo. Isa volta para Istambul e segue dando suas aulas de Arquitetura, enquanto Bahar viaja a trabalho (ele é produtora de TV) para Dogubeyazit, na região montanhosa e gélida da Turquia. Em sua condição de solteiro, Isa passa o tempo, além de ministrar as aulas, visitando os pais (que são seus pais também na vida real) e buscando conforto nos ombros - e no corpo inteiro - de uma antiga namorada, Serap (Nazan Kirilmis). Mas Isa ainda ama Bahar e vai fazer o possível para se reaproximar dela. Como o filme dá a entender, o título “Climas” refere-se às estações do ano em que o drama é ambientado. Começa, por exemplo, num clima de verão escaldante, e termina num rigoroso inverno. O filme foi lançado no Festival de Cannes e recebeu o Prêmio de Melhor Filme da Crítica Internacional. Nuri  Ceylan também dirigiu “Era uma vez na Anatólia” (2011) e “3 Macacos” (2008).