“NADA SANTO” (“LO SPIETATO”), 2019,
produção italiana da Netflix, 1h51m, direção de Renato De Maria, que também
assina o roteiro ao lado de Valentina Strada e Federico Gnesini. Baseado em
fatos reais, descritos no livro “Manager Calibro 9”, de Pietro Colaprico e
Lucia Fazzo, o filme acompanha a trajetória de Santo Russo (o excelente Riccardo
Scamarcio), um jovem pobre que se muda com a família da Calábria (sul da Itália)
para Milão no início dos anos 80. Logo ele se envolve em confusão e acaba
preso. Algum tempo mais tarde, ao lado de seu antigo colega de cela Slim
(Alessio Praticò) e o malandro Mario Barbiere (Alessandro Tedeschi), Russo
começa a prestar serviços para a Máfia, roubando, matando, sequestrando,
traficando. Aos poucos, ele mesmo vai subindo na hierarquia mafiosa, angariando
o respeito das outras famiglias. Além de mostrar a ascensão de Russo no
mundo da criminalidade, o filme também acompanha a sua vida particular,
especialmente seu casamento com Mariangela (Sara Serraiocco), que entra em
crise após ele se envolver com Annabelle (a francesa Marie-Ange Casta, irmã
mais nova da também atriz Laetitia Casta e tão bonita quanto). O roteiro
reserva para o final uma surpreendente reviravolta, que não se enquadra
exatamente nos tradicionais desfechos da maioria dos filmes de Máfia. “Nada Santo” agrada
não só por sua história, mas também pelo desempenho excepcional de Riccardo
Scamarcio, um de meus atores preferidos do cinema italiano, e ainda pela bela
fotografia noturna de Gian Filippo Corticelli. Enfim, mais uma ótima produção
da Netflix.
sexta-feira, 15 de maio de 2020
quinta-feira, 14 de maio de 2020
“A ÚLTIMA COISA QUE ELE QUERIA”
(“The Last Thing He Wanted”), 2020, Estados Unidos,
produção Netflix, 120 minutos, direção da cineasta Dee Rees, que também assina
o roteiro com a colaboração de Marco Villalobos. Trata-se, na verdade, de uma
adaptação do livro escrito em 1996 pela jornalista, ensaísta e romancista norte-americana
Joan Didion (o título do livro é mesmo do filme em inglês). A história é
centrada na jornalista investigativa Elena McMahon (Anne Hathway), do jornal
Atlantic Post. Em 1982, ela é enviada como correspondente a El Salvador, ao
lado da fotógrafa Alma Guerrero (Rosie Perez), para cobrir o conflito armado entre
o exército do governo ditatorial de direita, apoiado pelo Tio Sam, e a Frente Farabundo Marti de
Libertação Nacional. Depois de quase serem mortas durante a cobertura, Elena e
Alma voltam com material jornalístico que denuncia a participação dos EUA fornecimento de armas para o governo de El Salvador. Quando estava disposta a ir
mais a fundo nas suas investigações, Elena recebe a ordem de esquecer El
Salvador para cobrir a campanha do republicano Ronald Reagan à reeleição, em
1984. Até aí, o filme segue um roteiro crível. Mas eis que de repente, não mais
do que repente, surge na trama o pai de Elena, o trambiqueiro Richard McMahon
(Willem Dafoe), que há muito tempo havia abandonado a esposa e a filha. Ele
chega contando uma história mirabolante, dizendo que está em meio a um negócio
de milhões de dólares e pede à filha para ajudá-lo. Sem saber exatamente do que
se tratava, Elena embarca numa aventura maluca que a leva até a Costa Rica,
onde descobrirá que o pai estava contrabandeando armas e recebendo como
pagamento carregamentos de drogas. Olha só que confusão! Tudo isso para dar a
entender que o pai de Elena fornecia armas também para El Salvador (Que
coincidência, hein?). Para tornar o roteiro ainda mais confuso, aparecem mais
dois personagens misteriosos, Treat Morrison (o canastrão e péssimo ator Ben Afflek), um
agente do governo norte-americano ligado à CIA, e o mais que esquisito Paul
Schuster (Toby Jones), que surge na história como um homossexual afetado que
mora num casarão à beira do mar do caribenho. Enfim, um filme que se perde a
partir da segunda metade, confundindo a cabeça do espectador mais atento com um
roteiro dos mais mirabolantes e fantasiosos. De qualquer forma, em meio a um
resultado final para lá de decepcionante, dá para destacar a boa atuação de
Anne Hathaway, uma boa atriz que ultimamente não tem tido muita sorte na
escolha de seus roteiros. Acompanho a trajetória de Hathaway desde o seu filme
de estreia, “O Diário da Princesa”, em 2001, passando, entre outros, por “O
Segredo de Brokeback Mountain” (2005), “O Diabo Veste Prada” (2006) até “Os
Miseráveis”, que lhe valeu o Oscar 2013 de Melhor Atriz Coadjuvante. Depois atuou
em bobagens como “As Trapaceiras” e o horrível “Calmaria”, sem dúvida um dos
piores deste século, onde contracenou com Matthew McConaughey. Após sua exibição
de estreia no Festival de Cinema de Sundance (EUA), “A Última Coisa que Ele
Queria” foi recebido com risadas, apesar do desfecho dramático. O filme ainda
recebeu severas e contundentes críticas por parte dos comentaristas
especializados. Tudo isso para confirmar minha opinião negativa sobre o filme.
Eu até trocaria o título em português para “A Última Coisa que Você Merecia Ver”.
quarta-feira, 13 de maio de 2020
“RAINHA DE COPAS” (“DRONNINGEN”), 2019,
coprodução Dinamarca/Suécia, 2h08m, roteiro e direção de Mayel-Toukhy, cineasta
dinamarquesa de origem egípcia. A história é centrada na advogada Anne (Trine
Dyrholm), especialista no direito das crianças e dos adolescentes, além de
trabalhar com mulheres vítimas de estupro ou agressão física. Sua reputação
profissional é das melhores em Copenhague. Ela é casada com Peter (Magnus Krepper),
médico também conceituado, seu segundo marido. Os dois vivem um casamento tranquilo,
dedicando-se em grande parte do tempo às duas filhas gêmeas. Tudo vai às mil
maravilhas até a chegada de Gustav (Gustav Lindh), filho do primeiro casamento
de Peter, um adolescente rebelde que acaba de ser expulso de um internato em
Estocolmo (Suécia). Acostumada a lidar com jovens problemáticos, Anne aceita
receber Gustav em casa, mesmo com uma certa relutância por causa das gêmeas. Mas
Gustav interagiu bem com a madastra, com o pai e as novas irmãs. Até o dia em
que mostrou seu lado de menino malvado, roubando vários pertences da casa. Anne
descobriu, mas não denunciou o enteado, fortalecendo a amizade entre ambos. Aos
poucos, porém, desiludida com o casamento um tanto morno, Anne faz a besteira
de se entregar de corpo e alma – principalmente de corpo – para o jovem. Aí a
coisa desanda, pois a relação é descoberta e, a partir daí, o filme se
transforma num suspense envolvente, de grande tensão psicológica, até o triste mas não surpreendente desfecho. O principal trunfo de “Rainha de Copas” é realmente o desempenho
magistral da fabulosa atriz dinamarquesa Trine Dyrholm, cuja trajetória
acompanho desde que atuou no polêmico “Festa de Família” (1998), de Thomas
Vinterberg, passando por “Em Um Mundo Melhor”, “O Amante da Rainha” e “A
Comunidade”, entre tantos outros. “Rainha de Copas” foi o grande vencedor do
Prêmio do Público no Festival de Sundance (EUA). Resumo da ópera: cinema da melhor qualidade. IMPERDÍVEL!
segunda-feira, 11 de maio de 2020
“ROSIE – UMA FAMÍLIA SEM TETO”
(“ROSIE”), 2018, Irlanda, 1h26m, direção de Paddy Breathnach (de “Viva”, filme
rodado em Cuba), com roteiro de Moe Dunford (ator no filme) e Roddy Doyle. Ao
estrear na Seção Contemporary World Cinema do Toronto International Film
Festival, em 2018, esta produção irlandesa foi alvo de rasgados elogios da
crítica especializada e do público. Trata-se de um drama muito triste, que
acompanha, durante dois dias e duas noites, uma família em Dublin sem um teto para dormir, em pleno inverno
irlandês. Rosie Davis (Sarah Greene), mãe solteira de quatro crianças, mais o
namorado John Paul (Moe Dunford, o roteirista), são despejados da casa onde
moravam e ficam sem ter para onde ir. Passam o tempo todo dentro do carro para
se proteger do frio, Rosie a trocar as fraldas do mais novo, fazer a lição com
outra e ainda levar a mais velha ao colégio. Ao mesmo tempo, Rosie fica no
celular tentando encontrar um quarto de hotel, o que é impossível, pois todos
de Dublin já estão ocupados por causa de um show de Lady Gaga. Enquanto isso,
John Paul trabalha como ajudante de cozinha num restaurante, e o que ganha mal
dá para comprar comida para a família. Mesmo com a situação de mal a pior, o
casal mantém a esperança de dias melhores, incentivando as crianças a acreditarem
nisso, embora a realidade mostre um quadro bem desolador. O filme foi realizado
tendo como pano de fundo a crise habitacional da Irlanda, país com a maior taxa
de famílias sem-abrigo da Europa por causa da especulação imobiliária. Não é
nada fácil assistir ao sofrimento do casal e das crianças confinadas num carro,
mal tendo o que comer ou vestir. Muito triste. De qualquer forma, o filme é
muito bem feito, uma fotografia primorosa e uma atriz sensacional, Sarah
Greene, que carrega o filme – e os filhos e o namorado – literalmente nas costas.
Recomendo separar, no mínimo, uma caixa de lenços de papel. Chororô garantido!
“MENTIRAS PERIGOSAS”
(“DANGEROUS LIES”), 2020, Estados
Unidos, produção Netflix (estreou dia 30 de abril de 2020), 1h36m, direção de Michael Scott, com roteiro de David
Golden. Trata-se de um suspense policial daqueles em que todos os personagens
são suspeitos e só no final é revelado o verdadeiro assassino. “Mentiras Perigosas”
começa com um casal em dificuldades financeiras. Katie (Camila Mendes) trabalha
como atendente em um bar e seu marido Adam (Jessie T. Usher) estuda para
ingressar na faculdade de medicina. Ou seja, só o trabalho de Katie não
sustenta os gastos do casal. Para reforçar o orçamento, Katie arruma um emprego
como cuidadora de Leonard (Elliot Gould), um velho solitário e cheio da grana. Adam
também vai trabalhar na casa como jardineiro. A morte misteriosa do velho muda
totalmente o destino do jovem casal, pois Leonard deixou um testamento doando
toda a sua fortuna para Katie. Aí tem coisa, logo pensou a detetive Chesler
(Sasha Alexander), encarregada de investigar o caso. Além do jovem casal, o roteiro
coloca como suspeitos um corretor imobiliário (Cam Gigandet), um dono de
agência de empregos (Michael P. Northey) e a própria advogada de Leonard (Jamie
Chung). Enquanto o suspense segue em frente fornecendo pistas contra todos os
personagens, a policial não larga do pé do jovem casal, que já está morando na bela
casa do falecido e usufruindo a grana herdada. Recheado de clichês típicos do
gênero, “Mentiras Perigosas” chega ao desfecho sem uma conclusão satisfatória,
o que acabou prejudicando o resultado final, além de um elenco não muito convincente. De bom mesmo, destaco a presença
do veterano Elliot Gould, que eu não via na telinha faz algum tempo, e da atriz
Camila Mendes, a “Veronica Lodge” da série Riverdale, que, embora nascida nos
EUA, é filha de brasileiros.
domingo, 10 de maio de 2020
“ENQUANTO
A GUERRA DURAR” (“MIENTRAS DURE LA GUERRA”), 2019, Espanha, 1h47m,
roteiro e direção do premiado cineasta chileno Alejandro Amenábar, radicado na Espanha
desde 1973. Trata-se de um drama histórico baseado em fatos reais, ambientado em
1936 na cidade de Salamanca. Aqui, vivia o famoso escritor e filósofo humanista
Miguel de Unamuno (Karra Elejalde), intelectual respeitado por várias correntes
de pensamento em toda a Espanha e Europa. Por seu apoio ao governo republicano,
Unamuno havia sido nomeado para o importante cargo de reitor da Universidade de
Salamanca. A trama do filme gira em torno desse riquíssimo personagem e como ele
vê toda a questão histórica que se desenrola na Espanha. Em 1936, descontente
com os rumos tomados pelo governo republicano, Unamuno vê com bons olhos o
golpe militar iniciado pelos militares comandados pelos generais Emilio Mola
(Luis Callejo) e Francisco Franco (Santi Prego) e passa a apoiá-los, o que lhe
custa o cargo de reitor da universidade. Porém, quando os militares começam com
suas atrocidades, prendendo, torturando e matando intelectuais, professores e
artistas, muitos deles seus amigos de longa data, Unamono passa a criticar
Franco e os militares, culminando com um violento discurso durante a solenidade
na aula magna da Universidade de Salamanca, da qual só saiu vivo por
interferência de Carmen Polo (Mireia Rey), justamente a esposa do generalíssimo
Franco e sua grande admiradora. O filme é pródigo em diálogos bastante
elucidativos sobre a situação política na Espanha naquela época, além de
revelar os bastidores de alguns dos momentos mais importantes da Guerra Civil,
como, por exemplo, a reunião da junta militar que elegeu Franco como o
comandante supremo do golpe. “Enquanto a Guerra Durar” é mais um excelente
filme de Amenábar, que já havia nos presenteado com pequenas obras-primas como “De
Olhos Abertos”, “Os Outros” e “Mar Adentro”, este último premiado com o Oscar
de Melhor Filme Estrangeiro em 2005.
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