sexta-feira, 15 de maio de 2020


“NADA SANTO” (“LO SPIETATO”), 2019, produção italiana da Netflix, 1h51m, direção de Renato De Maria, que também assina o roteiro ao lado de Valentina Strada e Federico Gnesini. Baseado em fatos reais, descritos no livro “Manager Calibro 9”, de Pietro Colaprico e Lucia Fazzo, o filme acompanha a trajetória de Santo Russo (o excelente Riccardo Scamarcio), um jovem pobre que se muda com a família da Calábria (sul da Itália) para Milão no início dos anos 80. Logo ele se envolve em confusão e acaba preso. Algum tempo mais tarde, ao lado de seu antigo colega de cela Slim (Alessio Praticò) e o malandro Mario Barbiere (Alessandro Tedeschi), Russo começa a prestar serviços para a Máfia, roubando, matando, sequestrando, traficando. Aos poucos, ele mesmo vai subindo na hierarquia mafiosa, angariando o respeito das outras famiglias. Além de mostrar a ascensão de Russo no mundo da criminalidade, o filme também acompanha a sua vida particular, especialmente seu casamento com Mariangela (Sara Serraiocco), que entra em crise após ele se envolver com Annabelle (a francesa Marie-Ange Casta, irmã mais nova da também atriz Laetitia Casta e tão bonita quanto). O roteiro reserva para o final uma surpreendente reviravolta, que não se enquadra exatamente nos tradicionais desfechos da maioria dos filmes de Máfia. “Nada Santo” agrada não só por sua história, mas também pelo desempenho excepcional de Riccardo Scamarcio, um de meus atores preferidos do cinema italiano, e ainda pela bela fotografia noturna de Gian Filippo Corticelli. Enfim, mais uma ótima produção da Netflix.               

quinta-feira, 14 de maio de 2020


“A ÚLTIMA COISA QUE ELE QUERIA” (“The Last Thing He Wanted”), 2020, Estados Unidos, produção Netflix, 120 minutos, direção da cineasta Dee Rees, que também assina o roteiro com a colaboração de Marco Villalobos. Trata-se, na verdade, de uma adaptação do livro escrito em 1996 pela jornalista, ensaísta e romancista norte-americana Joan Didion (o título do livro é mesmo do filme em inglês). A história é centrada na jornalista investigativa Elena McMahon (Anne Hathway), do jornal Atlantic Post. Em 1982, ela é enviada como correspondente a El Salvador, ao lado da fotógrafa Alma Guerrero (Rosie Perez), para cobrir o conflito armado entre o exército do governo ditatorial de direita, apoiado pelo Tio Sam, e a Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional. Depois de quase serem mortas durante a cobertura, Elena e Alma voltam com material jornalístico que denuncia a participação dos EUA fornecimento de armas para o governo de El Salvador. Quando estava disposta a ir mais a fundo nas suas investigações, Elena recebe a ordem de esquecer El Salvador para cobrir a campanha do republicano Ronald Reagan à reeleição, em 1984. Até aí, o filme segue um roteiro crível. Mas eis que de repente, não mais do que repente, surge na trama o pai de Elena, o trambiqueiro Richard McMahon (Willem Dafoe), que há muito tempo havia abandonado a esposa e a filha. Ele chega contando uma história mirabolante, dizendo que está em meio a um negócio de milhões de dólares e pede à filha para ajudá-lo. Sem saber exatamente do que se tratava, Elena embarca numa aventura maluca que a leva até a Costa Rica, onde descobrirá que o pai estava contrabandeando armas e recebendo como pagamento carregamentos de drogas. Olha só que confusão! Tudo isso para dar a entender que o pai de Elena fornecia armas também para El Salvador (Que coincidência, hein?). Para tornar o roteiro ainda mais confuso, aparecem mais dois personagens misteriosos, Treat Morrison (o canastrão  e péssimo ator Ben Afflek), um agente do governo norte-americano ligado à CIA, e o mais que esquisito Paul Schuster (Toby Jones), que surge na história como um homossexual afetado que mora num casarão à beira do mar do caribenho. Enfim, um filme que se perde a partir da segunda metade, confundindo a cabeça do espectador mais atento com um roteiro dos mais mirabolantes e fantasiosos. De qualquer forma, em meio a um resultado final para lá de decepcionante, dá para destacar a boa atuação de Anne Hathaway, uma boa atriz que ultimamente não tem tido muita sorte na escolha de seus roteiros. Acompanho a trajetória de Hathaway desde o seu filme de estreia, “O Diário da Princesa”, em 2001, passando, entre outros, por “O Segredo de Brokeback Mountain” (2005), “O Diabo Veste Prada” (2006) até “Os Miseráveis”, que lhe valeu o Oscar 2013 de Melhor Atriz Coadjuvante. Depois atuou em bobagens como “As Trapaceiras” e o horrível “Calmaria”, sem dúvida um dos piores deste século, onde contracenou com Matthew McConaughey. Após sua exibição de estreia no Festival de Cinema de Sundance (EUA), “A Última Coisa que Ele Queria” foi recebido com risadas, apesar do desfecho dramático. O filme ainda recebeu severas e contundentes críticas por parte dos comentaristas especializados. Tudo isso para confirmar minha opinião negativa sobre o filme. Eu até trocaria o título em português para “A Última Coisa que Você Merecia Ver”.              

quarta-feira, 13 de maio de 2020


“RAINHA DE COPAS” (“DRONNINGEN”), 2019, coprodução Dinamarca/Suécia, 2h08m, roteiro e direção de Mayel-Toukhy, cineasta dinamarquesa de origem egípcia. A história é centrada na advogada Anne (Trine Dyrholm), especialista no direito das crianças e dos adolescentes, além de trabalhar com mulheres vítimas de estupro ou agressão física. Sua reputação profissional é das melhores em Copenhague. Ela é casada com Peter (Magnus Krepper), médico também conceituado, seu segundo marido. Os dois vivem um casamento tranquilo, dedicando-se em grande parte do tempo às duas filhas gêmeas. Tudo vai às mil maravilhas até a chegada de Gustav (Gustav Lindh), filho do primeiro casamento de Peter, um adolescente rebelde que acaba de ser expulso de um internato em Estocolmo (Suécia). Acostumada a lidar com jovens problemáticos, Anne aceita receber Gustav em casa, mesmo com uma certa relutância por causa das gêmeas. Mas Gustav interagiu bem com a madastra, com o pai e as novas irmãs. Até o dia em que mostrou seu lado de menino malvado, roubando vários pertences da casa. Anne descobriu, mas não denunciou o enteado, fortalecendo a amizade entre ambos. Aos poucos, porém, desiludida com o casamento um tanto morno, Anne faz a besteira de se entregar de corpo e alma – principalmente de corpo – para o jovem. Aí a coisa desanda, pois a relação é descoberta e, a partir daí, o filme se transforma num suspense envolvente, de grande tensão psicológica, até o triste mas não surpreendente desfecho. O principal trunfo de “Rainha de Copas” é realmente o desempenho magistral da fabulosa atriz dinamarquesa Trine Dyrholm, cuja trajetória acompanho desde que atuou no polêmico “Festa de Família” (1998), de Thomas Vinterberg, passando por “Em Um Mundo Melhor”, “O Amante da Rainha” e “A Comunidade”, entre tantos outros. “Rainha de Copas” foi o grande vencedor do Prêmio do Público no Festival de Sundance (EUA). Resumo da ópera:  cinema da melhor qualidade. IMPERDÍVEL!

segunda-feira, 11 de maio de 2020


“ROSIE – UMA FAMÍLIA SEM TETO” (“ROSIE”), 2018, Irlanda, 1h26m, direção de Paddy Breathnach (de “Viva”, filme rodado em Cuba), com roteiro de Moe Dunford (ator no filme) e Roddy Doyle. Ao estrear na Seção Contemporary World Cinema do Toronto International Film Festival, em 2018, esta produção irlandesa foi alvo de rasgados elogios da crítica especializada e do público. Trata-se de um drama muito triste, que acompanha, durante dois dias e duas noites, uma família em Dublin sem um teto para dormir, em pleno inverno irlandês. Rosie Davis (Sarah Greene), mãe solteira de quatro crianças, mais o namorado John Paul (Moe Dunford, o roteirista), são despejados da casa onde moravam e ficam sem ter para onde ir. Passam o tempo todo dentro do carro para se proteger do frio, Rosie a trocar as fraldas do mais novo, fazer a lição com outra e ainda levar a mais velha ao colégio. Ao mesmo tempo, Rosie fica no celular tentando encontrar um quarto de hotel, o que é impossível, pois todos de Dublin já estão ocupados por causa de um show de Lady Gaga. Enquanto isso, John Paul trabalha como ajudante de cozinha num restaurante, e o que ganha mal dá para comprar comida para a família. Mesmo com a situação de mal a pior, o casal mantém a esperança de dias melhores, incentivando as crianças a acreditarem nisso, embora a realidade mostre um quadro bem desolador. O filme foi realizado tendo como pano de fundo a crise habitacional da Irlanda, país com a maior taxa de famílias sem-abrigo da Europa por causa da especulação imobiliária. Não é nada fácil assistir ao sofrimento do casal e das crianças confinadas num carro, mal tendo o que comer ou vestir. Muito triste. De qualquer forma, o filme é muito bem feito, uma fotografia primorosa e uma atriz sensacional, Sarah Greene, que carrega o filme – e os filhos e o namorado – literalmente nas costas. Recomendo separar, no mínimo, uma caixa de lenços de papel. Chororô garantido!      

“MENTIRAS PERIGOSAS” (“DANGEROUS LIES”), 2020, Estados Unidos, produção Netflix (estreou dia 30 de abril de 2020), 1h36m, direção de Michael Scott, com roteiro de David Golden. Trata-se de um suspense policial daqueles em que todos os personagens são suspeitos e só no final é revelado o verdadeiro assassino. “Mentiras Perigosas” começa com um casal em dificuldades financeiras. Katie (Camila Mendes) trabalha como atendente em um bar e seu marido Adam (Jessie T. Usher) estuda para ingressar na faculdade de medicina. Ou seja, só o trabalho de Katie não sustenta os gastos do casal. Para reforçar o orçamento, Katie arruma um emprego como cuidadora de Leonard (Elliot Gould), um velho solitário e cheio da grana. Adam também vai trabalhar na casa como jardineiro. A morte misteriosa do velho muda totalmente o destino do jovem casal, pois Leonard deixou um testamento doando toda a sua fortuna para Katie. Aí tem coisa, logo pensou a detetive Chesler (Sasha Alexander), encarregada de investigar o caso. Além do jovem casal, o roteiro coloca como suspeitos um corretor imobiliário (Cam Gigandet), um dono de agência de empregos (Michael P. Northey) e a própria advogada de Leonard (Jamie Chung). Enquanto o suspense segue em frente fornecendo pistas contra todos os personagens, a policial não larga do pé do jovem casal, que já está morando na bela casa do falecido e usufruindo a grana herdada. Recheado de clichês típicos do gênero, “Mentiras Perigosas” chega ao desfecho sem uma conclusão satisfatória, o que acabou prejudicando o resultado final, além de um elenco não muito convincente. De bom mesmo, destaco a presença do veterano Elliot Gould, que eu não via na telinha faz algum tempo, e da atriz Camila Mendes, a “Veronica Lodge” da série Riverdale, que, embora nascida nos EUA, é filha de brasileiros.    

domingo, 10 de maio de 2020


“ENQUANTO A GUERRA DURAR” (“MIENTRAS DURE LA GUERRA”), 2019, Espanha, 1h47m, roteiro e direção do premiado cineasta chileno Alejandro Amenábar, radicado na Espanha desde 1973. Trata-se de um drama histórico baseado em fatos reais, ambientado em 1936 na cidade de Salamanca. Aqui, vivia o famoso escritor e filósofo humanista Miguel de Unamuno (Karra Elejalde), intelectual respeitado por várias correntes de pensamento em toda a Espanha e Europa. Por seu apoio ao governo republicano, Unamuno havia sido nomeado para o importante cargo de reitor da Universidade de Salamanca. A trama do filme gira em torno desse riquíssimo personagem e como ele vê toda a questão histórica que se desenrola na Espanha. Em 1936, descontente com os rumos tomados pelo governo republicano, Unamuno vê com bons olhos o golpe militar iniciado pelos militares comandados pelos generais Emilio Mola (Luis Callejo) e Francisco Franco (Santi Prego) e passa a apoiá-los, o que lhe custa o cargo de reitor da universidade. Porém, quando os militares começam com suas atrocidades, prendendo, torturando e matando intelectuais, professores e artistas, muitos deles seus amigos de longa data, Unamono passa a criticar Franco e os militares, culminando com um violento discurso durante a solenidade na aula magna da Universidade de Salamanca, da qual só saiu vivo por interferência de Carmen Polo (Mireia Rey), justamente a esposa do generalíssimo Franco e sua grande admiradora. O filme é pródigo em diálogos bastante elucidativos sobre a situação política na Espanha naquela época, além de revelar os bastidores de alguns dos momentos mais importantes da Guerra Civil, como, por exemplo, a reunião da junta militar que elegeu Franco como o comandante supremo do golpe. “Enquanto a Guerra Durar” é mais um excelente filme de Amenábar, que já havia nos presenteado com pequenas obras-primas como “De Olhos Abertos”, “Os Outros” e “Mar Adentro”, este último premiado com o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2005.