sábado, 25 de abril de 2015

Após assistir à comédia australiana “A PEQUENA MORTE” (“The Little Death”), 2014, fiquei intrigado com o título do filme. Mas depois descobri a ligação: a expressão “Pequenequena Morte” é uma metáfora para o Orgasmo. Ou seja, tem tudo a ver com o filme, cujo tema principal é o Sexo. A história envolve vários casais - na faixa dos 30/40 anos - residentes em Sydney que estão encontrando problemas em seu relacionamento sexual. Tudo por conta de uma tara ou fetiche de um dos cônjuges: uma tem o sonho de ser estuprada; outra só tem desejo sexual quando o marido chora; outro descobre que só tem vontade de fazer sexo com a esposa se ela estiver dormindo; e ainda outro que, ao realizar o sonho da esposa de transar com um ator, acaba achando que tem o dom de representar... E vai por aí afora. O filme reserva o melhor para o desfecho, quando uma intérprete da língua dos sinais intermedia uma conversa de um rapaz surdo-mudo com uma moça do disque-sexo. Hilariante. O diretor Josh Lawson, que escreveu o roteiro e protagoniza um dos personagens (o marido da mulher que sonha em ser estuprada), soube dosar as situações com muito humor, inteligência e – o mais importante - sem apelar para a baixaria, coisa rara nas comédias sobre sexo. Além de Lawson, estão no elenco Lisa McCune, Bojana Novakovic, Patrick Brammall e Kate Mulvany. Um filme bastante divertido e muito interessante.   

quarta-feira, 22 de abril de 2015

Inexplicavelmente elogiado pelos críticos profissionais – ganhou até o Grande Prêmio da Semana da Crítica no Festival de Cannes 2014 -, o drama ucraniano “A GANGUE” (“Plemya”) tenta inovar o conceito de cinema mudo colocando seus atores atuando através da linguagem dos sinais. O único som é o do ambiente. A história é centrada num jovem recém-chegado a um internato especializado em deficientes auditivos. Ele entra para uma gangue que pratica furtos e logo se destaca por sua ousadia. Mas entra em desgraça ao se envolver com a namorada do chefão. O filme é muito violento e tem algumas cenas de sexo quase explícito. Não é só por isso que o filme é bastante desagradável. Os gestos dos atores são sempre nervosos, praticamente histéricos, o que faz parecer que estão sempre querendo se livrar de um ataque de mosquitos. Como foi seu filme de estreia, o diretor Miroslav Slaboshpytskiy provavelmente queria chocar as plateias e garantir publicidade. Conseguiu pelo menos chocar, o que aconteceu durante sua exibição na última Mostra São Paulo. De qualquer forma, pode ser interessante para quem curte filmes esquisitos. Mas, repito, é muito incômodo, causa desconforto a cada cena. Sem dúvida, um filme distante "anos-luz” do que costumamos chamar de entretenimento.

segunda-feira, 20 de abril de 2015

Em “PASOLINI”, 2014, uma co-produção França/Itália/Bélgica, o polêmico diretor norte-americano Abel Ferrara conta como foram os últimos dias de vida do também polêmico diretor italiano Pier Paolo Pasolini. Homossexual assumido, Pasolini foi assassinado a pauladas por um garoto de programa. Ferrara enfoca a intimidade de Pasolini nas cenas em que está em casa com a irmã e a mãe, jantares em seu restaurante preferido, sozinho e com amigos, e suas andanças pela noite afora em busca de garotos de programa. Numa das cenas de maior impacto, garotos estão enfileirados aguardando pelo sexo oral de Pasolini. Ferrara também reproduz algumas das últimas entrevistas dadas pelo diretor italiano, nas quais ele fala sobre política, filosofia, literatura e cinema. Não podemos esquecer que Pasolini, além de diretor de cinema, era um respeitado filósofo, cronista, roteirista e dramaturgo. Enfim, um intelectual dos mais influentes naquela época. Numa das entrevistas, Pasolini pede que o entrevistador envie as perguntas por escrito, pois ele confessa ter dificuldade em se expressar verbalmente. Willem Defoe, com sua reconhecida competência, interpreta Pasolini. Também estão no elenco Ricardo Scamarcio, a portuguesa Maria de Medeiros e Ninetto Davoli. O filme, que estreou no Festival de Veneza 2014, deve ser exibido por aqui apenas nos circuitos de arte. 

domingo, 19 de abril de 2015

“LA ISLA MÍNIMA”, 2014, é um suspense policial espanhol da melhor qualidade. A história é ambientada em 1980. Os detetives Pedro (Raúl Arévalo) e Juan (Javier Gutiérrez) são deslocados de Madri para investigar o desaparecimento de duas jovens irmãs numa pequena cidade localizada numa ilha às margens do Rio Guadalquivir, sul da Espanha. Os parceiros policiais não têm nenhuma afinidade. Pensam de maneira diferente inclusive quando se trata de discutir a situação política da Espanha. O mais velho, Juan, além de esconder um passado tenebroso como integrante da polícia secreta de Franco, gosta de dar uns sopados nos interrogados. As irmãs são encontradas mortas e os laudos concluem que, antes de ser assassinadas, foram estupradas e torturadas. Com o avanço das investigações, Pedro e Juan conseguem desvendar outras mortes misteriosas ocorridas na região. O clima de tensão e suspense perdura do começo ao fim do filme, proporcionando um ótimo entretenimento para quem gosta do gênero policial. O filme é tão bom que mereceu nada menos do que 17 indicações ao Prêmio Goya/2015 (o Oscar espanhol), vencendo nas categorias de Melhor Filme, Melhor Diretor (Alberto Rodriguez), Atriz Revelação (Nerea Barros), Roteiro Original, Trilha Original, Fotografia, Direção de Arte, Figurino e Montagem. Realmente, é muito bom.