sábado, 16 de agosto de 2014

“ATÉ QUE PROVEM A INOCÊNCIA” (“Until proven innocent”), 2009, é um telefilme produzido na Nova Zelândia. Conta a história, verídica, de um grave erro judiciário ocorrido naquele país nos anos 90. David Dogherty, aqui interpretado por Cohen Holloway, foi acusado e condenado em 1993 pelo sequestro e estupro de uma menina de 11 anos. O caso aconteceu na cidade de Auckland. Enquanto cumpria pena, ele foi entrevistado pela jornalista Donna Chisholm (Jodie Himmer), do jornal Sunday Star-Times. Ao conhecê-lo, Donna acreditou que Dogherty estava sendo vítima de um erro judiciário e mobilizou o advogado Murray Gibson (Peter Elliott) para tentar uma apelação para um novo julgamento. O caso ainda envolveu o cientista Arie Geursen (Tim Spite), que analisou a condenação explorando a versão controversa do DNA encontrado na menina. No fim, a comprovação daquele velho ditado: “A Justiça tarda, mas não falha”. Fora o interesse por conhecer um caso que certamente não chegou ao nosso noticiário, e por retratar um grave erro judiciário, o filme deve ser indicado para estudantes de Direito. Até pelo seu tom didático ao apresentar como funciona o sistema judiciário da Nova Zelândia. 

sexta-feira, 15 de agosto de 2014

O australiano “O FOGUETE” (“The Rocket”), 2013, é mais um daqueles filmes que nos encantam e nos emocionam. É o filme de estreia do diretor Kim Mordaunt, que consegue extrair, de um cenário de extrema pobreza que é o interior do Laos e de uma história envolvendo camponeses no limite da miséria, momentos de grande sensibilidade e até de bom humor. Só pra se ter uma ideia, a trilha sonora traz o balanço de James Brown. Essa grande sacada tem tudo a ver com o hilariante personagem Purple (Thep Phongam), uma espécie de cover do cantor americano. Vestido com um terno lilás – que nunca tira do corpo - e com o penteado igual ao de Brown, ele é o responsável pelos momentos mais engraçados do filme. A história gira em torno do menino Ahlo (Sitthiphon Disamoe), cuja família – juntamente com dezenas de outras - é obrigada a sair da vila onde mora por causa da construção de uma represa. Eles são levados para outra região e lá são alojados num acampamento improvisado e em condições quase sub-humanas. É lá que Ahlo vai conhecer Kia (Loungnam Kaosainam), uma gracinha de menina com a qual fará uma grande amizade (o tio de Kia é justamente o tal cover do James Brown). No final, o filme reserva espaço para um concurso de foguetes, uma tradição local para “chamar” chuva. Ahlo vai participar, com a ajuda de Purple, e tentar ganhar o prêmio em dinheiro. Além de ter representado a Austrália no Oscar 2014 de Melhor Filme Estrangeiro, “O FOGUETE” foi premiado em Festivais como o de Berlim, Tribeca, Sidney e Melbourne. Mais do que imperdível, um filme obrigatório. 

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

“METEORA” (“Metéora”), 2012, é um drama grego de fundo religioso que explora pecado e culpa ao apresentar uma paixão proibida. Não é um filme para qualquer público. É contemplativo, arrastado e com poucos diálogos. Em meio a citações bíblicas e efeitos de animação, o filme conta a história de dois religiosos – o monge Theodoros (Theo Alexander) e a freira Urania (a atriz russa Tamila Koulieva) – que moram em monastérios da Igreja Cristã Ortodoxa na  região central da Grécia chamada Meteóra. Eles se encontram secretamente para conversar e rezar, mas a tentação da carne é mais forte, e aí ninguém segura. De início, Urania consegue rejeitar os avanços de Theodoros, mas depois se entrega de corpo e alma à paixão. Os protagonistas são também representados por figuras de animação criadas ao estilo da arte bizantina, criadas pelo diretor Spiros Stathoulopoulos para complementar a narrativa. A trilha sonora é composta por cantos gregorianos, o que reforça ainda mais o sentido religioso da história. “METEORA” foi exibido no Festival de Berlim 2012 e arrancou elogios de muitos críticos. Mas repito: não é um filme que se possa chamar de entretenimento leve.   

quarta-feira, 13 de agosto de 2014

“UMA VIDA COMUM” (“Still Life”), 2013, é um drama inglês bastante interessante. John May (Eddie Marsan) trabalha para uma repartição pública municipal de Londres e sua função é localizar familiares e amigos de pessoas que morrem sozinhas. Muitas vezes ele não encontra ninguém que tenha relação com o falecido, mas faz questão de promover um funeral digno, redigindo ele mesmo o obituário e também o discurso funerário.  Para elaborar o perfil do morto e redigir o discurso, ele estuda fotos e objetos encontrados na casa do falecido. May sempre vai à cerimônia. Enfim, um homem bom, que extrapola suas obrigações de trabalho para homenagear os mortos que nunca conheceu. Pessoalmente, porém, May é solitário e triste. Não tem família nem amigos. Ao iniciar a investigação sobre um homem chamado Billy Stoker, May é demitido, mas pede a seu chefe que este seja seu último trabalho. E a este May dedica-se de corpo e alma, localizando amigos e familiares. O final do filme reserva um acontecimento surpreendente e, no desfecho, uma cena bastante comovente. Enfim, um filme que vale a pena conferir. O diretor do filme é o italiano Uberto Pasolini, que não tem parentesco com Pier Paolo, mas é sobrinho do grande diretor Luchino Visconti. 

terça-feira, 12 de agosto de 2014

O drama “O CADERNO GRANDE” (“A NAGY FÜZET”), dirigido por János Szász, foi o candidato oficial da Hungria na disputa do Oscar 2014 de Melhor Filme Estrangeiro. A história é baseada no livro escrito por Ágota Kristof. Em 1944, em meio à invasão do país pelos alemães, mãe leva seus dois filhos gêmeos de 12 anos de idade para morar com a avó numa pequena fazenda no interior da Hungria. Os dois garotos vão sofrer o diabo nas mãos da avó, uma velha azeda e mal-humorada, cujo maior prazer na vida é embebedar-se toda a noite e xingar o marido falecido. Ela chama os netos o tempo inteiro de “bastardos” e todo dia de manhã adora dar uns safanões nos garotos, que adoram chamá-la de bruxa. Os dois gêmeos não se desgrudam por um só minuto e é essa união que fará com que eles consigam sobreviver não só aos maus-tratos da avó, como a outras situações difíceis aos quais são submetidos. Aliás, desde o começo do filme os gêmeos apanham muito, a tal ponto que resolvem bater um no outro para se acostumar com a dor. O filme é altamente depressivo e melancólico. Crianças em cenários de guerra sempre aumentam a dramaticidade da história. O tal “caderno grande” é um tipo de diário que os meninos escrevem todas as noites contando os acontecimentos do dia. Não adianta citar o elenco, composto por ilustres desconhecidos, pelo menos para nós. Mas há que se destacar o desempenho dos dois garotos e, principalmente, da atriz que faz a avó. Esta sim, vale a pena citar: Piroska Molnár.     

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

“CÍRCULOS” (“KRUGOVI”), 2012, é uma co-produção Sérvia/Croácia/Alemanha, dirigida por Srdan Glolubovic. Trata-se de um drama bastante pesado sobre culpa e perdão. O filme começa em 1993, em plena guerra étnica na Bósnia. O soldado sérvio Marko (Vuk Kostic) está de folga e volta ao seu vilarejo para visitar a família. Quando está na praça bebendo com um amigo, ele vê três soldados espancando Haris (Leon Lucev), um comerciante muçulmano que ele conhece faz tempo. Marko sai em defesa de Haris, consegue impedir que os soldados o matem. Só que Marko é brutalmente agredido pelo trio e acaba morrendo no meio da praça. Quinze anos depois, as feridas desse episódio continuam abertas para cinco personagens que, de uma forma ou de outra, tiveram relação com o crime ou eram ligadas a Marko, desencadeando as mais variadas situações. Bogdan (Nikola Rakocevic), um dos assassinos de Marko, é internado num hospital em estado grave e será atendido pelo dr. Nebojsa (Nebojsa Glogovac), que era o melhor amigo de Marko. Outra história vai envolver Nada (Hristina Popovic), viúva de Marko, que viaja até a Alemanha para pedir ajuda a Haris, o muçulmano que seu marido salvou do espancamento. A outra história vai colocar frente a frente o pai de Marko e o filho de um dos assassinos. O “Círculos” do título, portanto, faz referência às voltas que a vida dá e as coincidências e encontros que proporciona. Exibido na 37ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e premiado em vários festivais pelo mundo afora, o filme representou a Sérvia no Oscar 2014 de Melhor Filme Estrangeiro. Um filme difícil, mas de grande impacto emocional.            

domingo, 10 de agosto de 2014

O drama independente norte-americano “MARGARET”, dirigido por Kenneth Lonergan, foi produzido em 2006, mas somente lançado em 2011. Dizem que por causa de ações judiciais, cujos motivos não foram divulgados. É um filme, no mínimo, intrigante. A começar pelo título, pois não há personagens com este nome. “Margaret”, na verdade, é um nome apenas mencionado num poema durante uma aula de literatura. A história gira em torno de Lisa Cohen (Anna Paquin), uma estudante de 17 anos que um dia, ao tentar chamar a atenção de um motorista de ônibus numa avenida movimentada, acaba provocando um acidente com morte. Com medo de prejudicar o motorista do ônibus, ela mente em seu depoimento à polícia e mais tarde quer voltar atrás. Esse contexto envolvendo Lisa serve como pano de fundo para inúmeras situações paralelas, a principal delas mostrando o relacionamento difícil de Lisa com a mãe Joan (a ótima J. Smith-Cameron). No filme inteiro, as duas travam verdadeiras guerras verbais. Uma diz uma coisa, a outra entende diferente, e vice-versa. E tudo acaba numa gritaria infernal. Diálogos desse tipo, descontrolados e agressivos, permeiam o filme inteiro envolvendo diversos personagens, o que pode incomodar quem está a fim de um entretenimento leve. O pessoal não se entende, e dá-lhe discussão. É um filme longo (150 minutos). Mas não deixa de ser um filme acima da média. Além de Paquin e J. Smith-Cameron, estão no elenco Mark Ruffalo, Matt Damon, Jean Reno, Matthew Broderick e Allison Janney, entre outros.
Às vésperas das eleições presidenciais de 1950 na Colômbia, o candidato favorito Jorge Elicier Gaitán, do Partido Liberal, é assassinado a tiros quando saía de seu escritório. O caso provocou uma grande comoção no país e foi chamado de “El Bogotazo”. Este é o pano de fundo do filme colombiano “ROA”, 2012. A figura central do filme é Juan Roa Sierre, pai de família desempregado e que tem como ídolo o candidato Gaitán (Santiago Rodréguez). Ele o procura pessoalmente e diz estar passando por sérias necessidades e pede que o ajude arrumar um trabalho. O político trata Roa com arrogância, diz não poder fazer nada e lhe dá três berinjelas como compensação. Decepcionado com o tratamento, Roa passa a ter raiva de Gaitán, a ponto de planejar seu assassinato. A situação se complica ainda mais quando um grupo rival a Gaitán descobre as intenções de Roa e passa a chantageá-lo, colocando em risco a vida da sua família. Baseado no livro “O Crime do Século”, de Miguel Torres, o filme coloca em dúvida a culpa de Roa pelo assassinato. Um mistério histórico que perdura até hoje. Além da história em si, que recoloca em evidência um fato importante na história política da Colômbia, há que se destacar o capricho na reconstituição de época, muito bem feita. O filme é dirigido por Andrés Baiz, o mesmo de “O Quarto Secreto” (“La Cara Oculta”), um dos melhores suspenses dos últimos anos. O elenco conta ainda com Catalina Sandino Moreno, colombiana que concorreu ao Oscar/2005 de Melhor Atriz pelo filme "Maria Cheia de Graça". Aqui, ela faz o papel de esposa de Roa.