sábado, 1 de maio de 2021

“INCERTA GLÓRIA” (“INCERTA GLÒRIA”), 2017, Espanha, 1h56m, disponível na Netflix, roteiro e direção de Agustí Villaronga. A história desse drama espanhol é ambientada em 1937 e tem como pano de fundo a Guerra Civil Espanhola (1936/1939). Em um pequeno vilarejo situado na Catalunha, o jovem tenente Lluis (Marcel Borrás) assume o comando de um batalhão dos republicanos, apoiados por regimes de esquerda, que lutam contra os nacionalistas de Franco. Lluis saiu de Madrid, onde deixou a esposa Trini (Bruna Cusi) e o filho pequeno. No vilarejo, enclausurada num casarão, vive Carlana (Nuria Prims), viúva do sujeito mais rico da região, assassinado pelos rebeldes republicanos. Todo mundo sabia que Carlana era empregada e teve dois filhos bastardos com o patrão. Agora, com a morte dele, assumiu as rédeas da casa, tornando-se a mulher mais rica do pedaço. Lluis se apaixona pela viúva e o caso vira fofoca entre os habitantes do vilarejo, em sua maioria conservadores católicos. Quando Trini (Bruna Cusi), esposa de Lluis, chega para se encontrar com o marido, fica sabendo do caso dele com a viúva e vira uma fera. No meio desse conflito conjugal, o filho dos dois fica gravemente doente. Para tumultuar ainda mais o ambiente, Soleràs (Oriel Pla), melhor amigo de Lluis e soldado dos franquistas, se declara apaixonado por Trini e será capaz de qualquer sacrifício para ajudar a moça. Enfim, um drama meio novelesco, mas tem seus méritos, principalmente no que diz respeito à atuação do seu elenco, a fotografia e à recriação de época. Falado em castelhano e em catalão, “Incerta Glória” tem tudo para agradar quem curte um drama com pano de fundo histórico.                       

sexta-feira, 30 de abril de 2021

 

“O DÉCIMO HOMEM” (“EL REY DEL ONCE”). Quando foi lançado por aqui no circuito comercial, em 2016, não lembro a razão de não ter assistido a esta comédia dramática argentina, escrita e dirigida pelo cineasta Daniel Burman, que já havia nos presenteado com os excelentes “O Abraço Partido” e “Dois Irmãos”. Enfim, ele é um dos diretores argentinos mais conceituados atualmente. “O Décimo Homem”, com 1h22m, é centrado no personagem Ariel (Alan Sabbagh), um economista bem-sucedido em Nova Iorque que volta a Buenos Aires para visitar a família. Seu pai, Usher (Usher Barilka), é o líder da comunidade judaica do bairro Once – o título original é referência a ele. Aqui, a família de Usher administra uma loja e uma instituição de caridade. Ariel não visitava Buenos Aires há alguns anos e logo quando chega ao aeroporto recebe uma ligação do pai mandando ele comprar um sapato com velcro para um jovem que está internado em um hospital. Ariel percorre várias ruas comerciais para tentar comprar o tal sapato. Nessa peregrinação, ele reencontra alguns locais que frequentava na infância e juventude. Ariel chega finalmente à instituição de caridade e se vê diante de muito trabalho, passando a ajudar na sua rotina. Ele logo se encanta com uma judia ortodoxa que trabalha como voluntária, Eva (Julieta Zylberberg), que resolveu adotar o silêncio em obediência a um ritual religioso. No tempo em que ficará na capital argentina, Ariel, mesmo a contragosto, será obrigado a rever e participar dos rituais judaicos - as partes mais engraçadas da história. Em um deles, ele completa o grupo de dez pessoas que carregará o caixão de um comerciante judeu – daí o título nacional “O Décimo Homem”. Ainda durante sua estada em Buenos Aires, Ariel terá a oportunidade de relembrar um de seus sabores prediletos da infância: bolachas feitas por sua tia recheadas com doce de leite. Gordinho, simpático e bonachão, o personagem de Ariel é o grande trunfo desse ótimo filme argentino, um agradável entretenimento.                     

quarta-feira, 28 de abril de 2021

 

“À ESPREITA DO MAL” (“I SEE YOU”), 2018, Estados Unidos, 1h38m, direção de Adam Randall, com roteiro de Devon Graye. Recentemente integrado à plataforma Netflix, este é um suspense que vale a pena assistir por causa do roteiro interessante e muito criativo, repleto de reviravoltas e subtramas. A história começa com um menino de 12 anos sendo sequestrado, em uma cena que parece obra do sobrenatural. A polícia, sob o comando do detetive Grego Harper (Jon Tenney), começa a investigar o fato. Enquanto isso, na casa do próprio policial, sua esposa Jackie (Helen Hunt) e o filho adolescente Connor (Judah Lewis) passam por maus bocados. Coisas estranhas começam a acontecer, e mais uma vez você acha que tem alguma entidade maligna atuando para apavorar a família. Na metade do filme, porém, o roteiro dá uma guinada muito interessante, começando a explicar o que de fato está acontecendo. Uma jogada de mestre do jovem Devon Graye em sua estreia como roteirista – ele é mais conhecido como ator. Além de dar um novo rumo à história, Graye acrescenta mais algumas reviravoltas, que valorizam ainda mais esse bom suspense. Um fato que também me chamou a atenção foi a atual forma física de Helen Hunt, uma atriz muito competente – tem um Oscar por “Melhor Impossível”, de 1998 – e que até há pouco tempo era bonita e charmosa. De repente, envelheceu muito mais do que os seus atuais 57 anos de idade. Não sei se foi alguma plástica malfeita ou ela está sofrendo de anorexia ou então virou uma vegana radical. Sua boca murchou, parecendo a de uma mulher banguela. Voltando ao filme, “À Espreita do Mal” pode não ser “uma Brastemp”, mas sem dúvida é um bom suspense. Recomendo!                  

        

terça-feira, 27 de abril de 2021

 

“CODA” (“A ÚLTIMA NOTA” no Brasil), 2020, Canadá, 1h37m, disponível na plataforma Netflix, estreia na direção de Claude Lalonde, seguindo roteiro de Lovis Goldout. O drama é centrado no consagrado pianista clássico Henry Cole (Patrick Stewart). Depois que sua esposa faleceu, ele entrou numa fase depressiva, recusando-se a participar de concertos, gravações, entrevistas e outras aparições públicas, para desespero de seu empresário e amigo de longa data Paul (Giancarlo Esposito). Quando finalmente retorna para uma apresentação, teve ataque de ansiedade e pânico no palco, esquecendo as notas finais do concerto – a tal “Coda” do título original. Enquanto descansa no camarim, lamentando o insucesso da sua apresentação, Henry recebe a visita da jornalista Helen Morrison (Katie Holmes). Fã do pianista e da música erudita, ela inicialmente pede uma entrevista, recusada na hora por Henry. Tempos depois eles se reencontram e daí para a frente surge uma forte amizade. Além de amiga e admiradora, Helen torna-se uma espécie de psicóloga do pianista, incentivando-o a seguir adiante com a carreira. O filme é muito sensível, repleto de diálogos inteligentes e de muita erudição, principalmente quando as conversas giram em torno dos grandes compositores de música clássica. Tudo isso ocorre naturalmente, sem afetação, tornando-se um deleite para os apreciadores do gênero. Nesse contexto, deve-se destacar a primorosa trilha sonora: Schumann, Schubert, Beethoven, Rachmaninoff e Alexandre Scriaban. Mais um grande trunfo é a química perfeita entre os protagonistas principais, Patrick Stewart e Katie Holmes. Outro destaque é o maravilhoso cenário dos Alpes Suíços, onde o grande pianista se isola após um triste acontecimento. “A Última Nota” é um belíssimo drama, sensível, intimista e reflexivo, realizado com muita qualidade e inspiração. Imperdível!                    

domingo, 25 de abril de 2021

 

“HANDIA”, 2017, Espanha, 1h56m, disponível na Netflix, roteiro e direção da dupla de cineastas Jon Garaño e Aitor Arregie. A história é baseada num personagem que realmente existiu na Espanha do século XIX. Trata-se de Miguel Joaquín Eleizegui Arteaga, que ficou conhecido como o “Gigante de Altzo” – só para esclarecer, um dos significados da palavra “handia” na língua basca é “gigante”. O filme é falado em basco, já que a família do “gigante” morava no município de Altzo, localizada na província de Guipúscua, comunidade autônoma do país basco. Nascido numa família de pequenos agricultores, Miguel Joaquín (Eneko Sagardoy) era um jovem normal até os 20 anos de idade, quando passou a sofrer de gigantismo, que o levou, rapidamente, a crescer muito acima dos 2 metros de altura. Três anos antes, Martin (Joseba Usabiaga), seu irmão mais velho, foi recrutado para servir o exército carlista durante a guerra civil contra os liberais espanhóis. Ao final do conflito, Martin volta com o braço direito inutilizado por causa de um ferimento, sem poder, portanto, ajudar na rotina de trabalho na fazenda da família, que vive graves problemas financeiros. Quando vê o irmão como um verdadeiro gigante, Martin resolve ganhar dinheiro exibindo-o como atração em circos e teatros. O sucesso foi tão grande que resolveram promover um show itinerante pelas principais cidades da Espanha, além de apresentações em Paris, Lisboa e Londres, onde Joaquín chegou a ser visto na corte da Rainha Vitoria. O filme retrata toda essa verdadeira epopeia, focando, principalmente, na relação entre os irmãos. Impossível não se emocionar com o sofrimento físico e mental de Miguel Joaquín. O ator que o interpreta tem na vida real "apenas" 1m87 de altura, aumentados com um efeito especial imperceptível e por enquadramentos que o transformaram em gigante nas filmagens. Méritos para a dupla de cineastas, que ainda contaram com a primorosa fotografia de Javi Agirre. Enfim, uma história tocante e muito comovente. “Handia” foi o grande destaque na premiação do Goya (o Oscar espanhol), recebendo nada menos do que 13 indicações, sendo premiado em dez delas, um recorde. Merecido, aliás, pois o filme é muito bom.