sexta-feira, 20 de março de 2015

A bela e competente atriz francesa Mélanie Laurent prova que é talentosa também atrás das câmeras. Em sua estreia como diretora no drama francês “RESPIRA” (“Respire”), 2014, Mélanie encontrou a receita certa para fazer um suspense psicológico de primeira. A história é baseada no livro “A Minha Melhor Amiga”, de Anne Sophie Brasme. A jovem Charlie (Joséphine Japy), de 17 anos, faz amizade com a recém-chegada colega de colégio Sarah (Lou de Laage). Charlie é retraída, solitária, introvertida e, além de tudo isso, asmática (condição que resultou no título do filme). Sarah, pelo contrário, é expansiva, ousada, faz e diz o que bem entende. Enfim, personalidades totalmente diferentes. A amizade entre as duas redundará num clima de alta tensão a partir do momento em que a relação começa a se tornar obsessiva. A trama se desenrola num suspense que leva o espectador a acreditar que algo de ruim vai acontecer. O suspense também gera a expectativa das duas acabarem entre os lençóis, como aconteceu com as principais personagens do ótimo “La Vie D’Adèle”. Mélanie encontrou as atrizes certas para protagonizar as duas amigas. Joséphine e Lou de Laage estão fenomenais. O filme estreou no Festival de Cannes 2014, com excelentes críticas. Muito merecidas, aliás. Aproveito para indicar - novamente - um filme maravilhoso estrelado por Mélanie Laurent: "Le Concert". Se puder, não perca!  
“TWO MEN IN TOWN" (no original francês, "LA VOTE DE L’ENNEMI” - ainda sem tradução por aqui), 2014, é uma co-produção França/EUA que tem como um de seus destaques o elenco de veteranos: Forest Whitaker, Brenda Blethyn, Harvey Keitel, Ellen Burstyn e Luis Guzman. A história é toda ambientada numa pequena e árida cidade no meio do deserto do Novo México. William Garnet (Whitaker) sai em condicional após cumprir 18 anos de prisão pelo assassinato do auxiliar do xerife Bill Agati (Keitel). A policial Emily Smith (Blethyn) é indicada como agente da condicional de Garnet, ou seja, vai fiscalizar suas andanças. Na prisão, Garnet se converteu ao islamismo e adotou um comportamento exemplar. Quando sai da prisão e tenta se recuperar trabalhando numa fazenda de gado, ele começa a ser pressionado de todos os lados. De um, o xerife Agati, que não se conforma de ver o assassino de seu ajudante em liberdade. De outro, a vigilância implacável da sua agente condicional. Como se não bastasse, ainda surge Terrence (Guzman), um sujeito envolvido com o tráfico de drogas que insiste para que Garnet trabalhe com ele. E ainda aparece sua mãe adotiva, Mère (Burstyn), a qual não perdoa por nunca tê-lo visitado na cadeia. Será que o ex-presidiário aguentará tanta pressão? Para aliviar, ainda bem que aparece Teresa (Dolores Heredia), com a qual Garnet pretende casar e viver feliz para sempre. Além do ótimo elenco, outro trunfo do filme é o diretor francês Rachid Bouchareb, que tem em seu currículo excelentes produções europeias como “London River”, “O Pecado de Hadewijch” e “O Atentado”. Não dá para não mencionar também o desempenho de Whitaker, surpreendentemente mais magro, e da maravilhosa atriz inglesa Brenda Blethyn, num papel que comprova toda a sua versatilidade. Entretenimento com qualidade.                                                                                                                                       

quinta-feira, 19 de março de 2015

“MARCELLO, UMA VIDA DOCE” (“Marcello, una Vita Dolce”) é um documentário sobre o grande ator italiano Marcello Mastroianni. Ele foi produzido em 2006 e exibido no mesmo ano no Festival de Cannes como uma homenagem aos 10 anos da morte de Mastroianni. O título do documentário, dirigido por Mario Canale e AnnaRosa Morri, está associado, claro, ao grande clássico “La Dolce Vita”, que Federico Fellini dirigiu em 1960 e que catapultou Mastroianni ao estrelato. O documentário tem depoimentos de Barbara e Chiara, filhas do ator, das atrizes Sofia Loren, Anouk Aimee e Claudia Cardinale, dos atores e amigos Jean Sorel e Philippe Noiret e ainda de grandes diretores como Ettore Scola, Pietro Germi e Lina Wertmüller, além de outras personalidades que conviveram e trabalharam com o ator que melhor representou o amante latino. Causa certa estranheza a ausência da atriz francesa Catherine Deneuve, mãe de Chiara. O documentário também reproduz cenas de alguns dos mais importantes filmes de que ator participou. O talento de Mastroianni era indiscutível, realçado ainda mais pela facilidade com que representava em comédias, em dramas ou qualquer outro gênero. Um ator completo, que numa carreira de quase 49 anos participou de 150 filmes, em sua grande maioria como protagonista principal. Para quem nunca ouviu falar no ator, este documentário oferece uma ótima oportunidade para conhecê-lo e, para os fãs como eu, uma chance e tanto para reverenciá-lo. Quem curte cinema não deve perder.                                                                                                                                      

terça-feira, 17 de março de 2015

O drama “AS HORAS MORTAS” (“Las Horas Muertas”), co-produção México/Espanha, 2013, é um filme bastante simples, não apenas pelo seu enredo como também pela sua produção, mas não deixa de ser interessante. A história é quase toda ambientada num motel à beira-mar, no litoral de Veracruz (México). O estabelecimento está sendo administrado, provisoriamente, pelo jovem Sebastián (Kristyan Ferrer), de 17 anos, enquanto o proprietário, seu tio, estiver de licença médica. Miranda logo percebe que a rotina do lugar é tediosa, feita de muitas "horas mortas". Ele recebe os – raros – clientes, encaminha-os para os quartos e depois fica à espera da saída deles para então providenciar a limpeza. Miranda (Adriana Paz), uma corretora de imóveis de 35 anos, é cliente habitual do motel, junto com o amante casado. Miranda muitas vezes fica esperando o amante por horas, até que ele começa a não aparecer mais. No tempo ocioso em que passam conversando, juntando suas solidões, o jovem Sebastián e Miranda acabam ficando amigos. E é justamente essa amizade que o diretor Aarón Fernandez fará com que seja o fio condutor de toda a história. O filme foi selecionado para exibição nos festivais de Locarno, Zurique, Biarritz, San Sebastian e Tóquio, além da 37º Mostra Internacional de São Paulo (2013). Não é pouco para uma produção tão simples.            

segunda-feira, 16 de março de 2015

Se você está entrosado com o mundo da arte e curte a pintura e, principalmente, quadros acadêmicos, o drama inglês “MR. TURNER” pode ser um programão. Literalmente um programão, pois o filme tem duas horas e meia de duração. Trata-se da história biográfica dos últimos 15 anos do pintor inglês impressionista J.M.W. Turner (Timothy Spall), um artista excêntrico que pintava quadros que realçavam os efeitos da luz sobre as paisagens. Em seu leito de morte, olhando para a claridade que vinha da janela, o pintor exclamou: “Deus é luz”. Foram suas últimas palavras. Suas marinhas (cenas marítimas) ficaram famosas e eram objeto de grande admiração pelos membros da Royal Academy of Arts, onde o pintor expunha os seus trabalhos.  O filme, ambientado na primeira metade do Século 19, também coloca em exposição a vida pessoal de Turner, sua forte ligação com o pai, sua estranha relação com a empregada, seu casamento e a doença que o levou à morte. O diretor Mike Leigh (de “Segredos e Mentiras” e “O Segredo de Vera Drake”) caprichou na qualidade estética do filme. Houve uma grande preocupação em destacar as cenas como se cada uma fosse um quadro. O filme é visualmente muito bonito. E até didático, quando cada tela de Turner é mostrada logo depois dele manifestar a ideia para concebê-la. O filme concorreu a quatro categorias no Oscar 2015 (Fotografia, Design, Figurino e Trilha Sonora). Não ganhou nenhuma. Timothy Spall, porém, conquistou o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes 2014. Não é filme para o grande público. É indicado especialmente para os amantes da pintura, estudantes de arte e fotografia.

domingo, 15 de março de 2015

O argentino “RELATOS SELVAGENS” (“Relatos Salvajes”) era apontado pelos críticos como o maior favorito a conquistar o Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro. O filme é ótimo, mas longe da qualidade do drama polonês “IDA”, vencedor do prêmio com toda justiça. O filme argentino é constituído por seis episódios, cada um independente do outro, mostrando situações estressantes ao limite, perto do trágico, mas com muito bom humor. Entre as histórias, tem aquela que se passa dentro de um avião, onde todo mundo conhece um personagem citado por um dos passageiros; tem o sujeito que tenta chegar em casa com um bolo para o aniversário da filha e tem o carro guinchado; a história de um jovem milionário que atropela e mata uma mulher grávida e seu filho; motoristas que entram em guerra na estrada; a noiva que descobre a infidelidade do noivo durante a festa de casamento. Enfim, pequenas histórias cujos personagens estão sempre à beira de um ataque de nervos. Um retrato cruel e realista dos nossos dias atuais. Dirigido por Damián Szifron, o filme foi exibido e aclamado em vários festivais pelo mundo afora em 2014, sendo aplaudido de pé no Festival de Cannes. No elenco, os nomes mais conhecidos são Ricardo Darín, Oscar Martinez, Érica Rivas e Leonardo Sbaraglia. Imperdível!
No final dos anos 50, até grande parte da década de 60, os quadros da pintora norte-americana Margaret Ulbrich agitaram o mercado de arte nos EUA, fazendo com que ela e o marido, Walter Keane, ficassem milionários. Só que era Walter quem assinava a autoria dos trabalhos e aparecia para o mundo das artes como um grande artista. Até que um dia Margaret resolveu dar um basta e contar toda a verdade, desmascarando o pilantra. Tudo isso está contado no drama “GRANDES OLHOS” (“Big Eyes”), 2014, dirigido por Tim Burton. Margaret retratava crianças com os olhos arregalados, que expressavam tristeza. Esses olhares incomodavam e emocionavam as pessoas que iam às exposições, ainda mais quando Keane dizia, na maior cara de pau, que eram inspiradas em crianças famintas na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O estilo e a qualidade artística dos quadros conseguiram grande divulgação na mídia e consagraram Walter Keane. Como o dinheiro entrava em cascatas, Margaret permaneceu quieta e concordou com a trapaça. Quando se separaram e Margaret foi morar com a filha no Havaí, a verdade viria à tona por intermédio de um processo judicial que acabou no Tribunal local. O elenco é ótimo: Amy Adams como a pintora está excelente, assim como o ator austríaco Christoph Waltz interpretando Walter Keane. Também estão no filme Danny Huston (filho de John Huston e, portanto, irmão de Angelica) e Terence Stamp, como sempre dando show. A cena do julgamento talvez tenha ficado cômica demais. Duvido que tenha sido assim na realidade. Em todo caso, o filme é muito bom, valorizado pelo ótimo desempenho de Amy Adams e, principalmente, Christoph Waltz.