A
bela e competente atriz francesa Mélanie Laurent prova que é talentosa também
atrás das câmeras. Em sua estreia como diretora no drama francês “RESPIRA”
(“Respire”), 2014, Mélanie encontrou a receita
certa para fazer um suspense psicológico de primeira. A história é baseada no
livro “A Minha Melhor Amiga”, de Anne Sophie Brasme. A jovem Charlie (Joséphine
Japy), de 17 anos, faz amizade com a recém-chegada colega de colégio Sarah (Lou
de Laage). Charlie é retraída, solitária, introvertida e, além de tudo isso, asmática (condição que resultou no título do filme). Sarah, pelo contrário,
é expansiva, ousada, faz e diz o que bem entende. Enfim, personalidades
totalmente diferentes. A amizade entre as duas redundará num clima de alta
tensão a partir do momento em que a relação começa a se tornar obsessiva. A
trama se desenrola num suspense que leva o espectador a acreditar que algo de
ruim vai acontecer. O suspense também gera a expectativa das duas acabarem
entre os lençóis, como aconteceu com as principais personagens do ótimo “La Vie
D’Adèle”. Mélanie encontrou as atrizes certas para protagonizar as duas amigas.
Joséphine e Lou de Laage estão fenomenais. O filme estreou no Festival de
Cannes 2014, com excelentes críticas. Muito merecidas, aliás. Aproveito para indicar - novamente - um filme maravilhoso estrelado por Mélanie Laurent: "Le Concert". Se puder, não perca!
sexta-feira, 20 de março de 2015
“TWO MEN IN TOWN" (no original francês, "LA VOTE DE L’ENNEMI” - ainda sem tradução por aqui), 2014, é uma co-produção França/EUA que tem como um de seus destaques o elenco
de veteranos: Forest Whitaker, Brenda Blethyn, Harvey Keitel, Ellen Burstyn e
Luis Guzman. A história é toda ambientada numa pequena e árida cidade no meio
do deserto do Novo México. William Garnet (Whitaker) sai em condicional após
cumprir 18 anos de prisão pelo assassinato do auxiliar do xerife Bill Agati
(Keitel). A policial Emily Smith (Blethyn) é indicada como agente da
condicional de Garnet, ou seja, vai fiscalizar suas andanças. Na prisão, Garnet
se converteu ao islamismo e adotou um comportamento exemplar. Quando sai da
prisão e tenta se recuperar trabalhando numa fazenda de gado, ele começa a ser
pressionado de todos os lados. De um, o xerife Agati, que não se conforma de
ver o assassino de seu ajudante em liberdade. De outro, a vigilância implacável
da sua agente condicional. Como se não bastasse, ainda surge Terrence (Guzman),
um sujeito envolvido com o tráfico de drogas que insiste para que Garnet trabalhe
com ele. E ainda aparece sua mãe adotiva, Mère (Burstyn), a qual não perdoa por
nunca tê-lo visitado na cadeia. Será que o ex-presidiário aguentará tanta
pressão? Para aliviar, ainda bem que aparece Teresa (Dolores Heredia), com a
qual Garnet pretende casar e viver feliz para sempre. Além do ótimo elenco, outro
trunfo do filme é o diretor francês Rachid Bouchareb, que tem em seu currículo excelentes
produções europeias como “London River”, “O Pecado de Hadewijch” e “O Atentado”.
Não dá para não mencionar também o desempenho de Whitaker, surpreendentemente
mais magro, e da maravilhosa atriz inglesa Brenda Blethyn, num papel que comprova toda a
sua versatilidade. Entretenimento com qualidade.
quinta-feira, 19 de março de 2015
“MARCELLO, UMA VIDA DOCE” (“Marcello, una Vita Dolce”) é um documentário sobre o grande ator italiano Marcello Mastroianni.
Ele foi produzido em 2006 e exibido no mesmo ano no Festival de Cannes como uma
homenagem aos 10 anos da morte de Mastroianni. O título do documentário,
dirigido por Mario Canale e AnnaRosa Morri, está associado, claro, ao grande
clássico “La Dolce Vita”, que Federico Fellini dirigiu em 1960 e que catapultou
Mastroianni ao estrelato. O documentário tem depoimentos de Barbara e Chiara,
filhas do ator, das atrizes Sofia Loren, Anouk Aimee e Claudia Cardinale, dos
atores e amigos Jean Sorel e Philippe Noiret e ainda de grandes diretores como
Ettore Scola, Pietro Germi e Lina Wertmüller, além de outras personalidades que
conviveram e trabalharam com o ator que melhor representou o amante latino. Causa
certa estranheza a ausência da atriz francesa Catherine Deneuve, mãe de Chiara.
O documentário também reproduz cenas de alguns dos mais importantes filmes de
que ator participou. O talento de Mastroianni era indiscutível, realçado ainda
mais pela facilidade com que representava em comédias, em dramas ou qualquer
outro gênero. Um ator completo, que numa carreira de quase 49 anos participou
de 150 filmes, em sua grande maioria como protagonista principal. Para quem nunca
ouviu falar no ator, este documentário oferece uma ótima oportunidade para conhecê-lo
e, para os fãs como eu, uma chance e tanto para reverenciá-lo. Quem curte
cinema não deve perder.
terça-feira, 17 de março de 2015
O
drama “AS HORAS MORTAS” (“Las Horas Muertas”), co-produção México/Espanha, 2013, é um
filme bastante simples, não apenas pelo seu enredo como também pela sua produção,
mas não deixa de ser interessante. A história é quase toda ambientada num motel
à beira-mar, no litoral de Veracruz (México). O estabelecimento está sendo
administrado, provisoriamente, pelo jovem Sebastián (Kristyan Ferrer), de 17
anos, enquanto o proprietário, seu tio, estiver de licença médica. Miranda logo
percebe que a rotina do lugar é tediosa, feita de muitas "horas mortas". Ele recebe os – raros – clientes, encaminha-os
para os quartos e depois fica à espera da saída deles para então providenciar a
limpeza. Miranda (Adriana Paz), uma corretora de imóveis de 35 anos, é cliente
habitual do motel, junto com o amante casado. Miranda muitas vezes fica
esperando o amante por horas, até que ele começa a não aparecer mais. No tempo ocioso em que passam conversando, juntando suas solidões, o jovem Sebastián e Miranda acabam ficando amigos. E
é justamente essa amizade que o diretor Aarón Fernandez fará com que seja o fio
condutor de toda a história. O filme foi selecionado para exibição nos
festivais de Locarno, Zurique, Biarritz, San Sebastian e Tóquio, além da 37º
Mostra Internacional de São Paulo (2013). Não é pouco para uma produção tão
simples.
segunda-feira, 16 de março de 2015
Se
você está entrosado com o mundo da arte e curte a pintura e, principalmente, quadros
acadêmicos, o drama inglês “MR. TURNER”
pode ser um programão. Literalmente um programão, pois o filme tem duas horas e
meia de duração. Trata-se da história biográfica dos últimos 15 anos do pintor
inglês impressionista J.M.W. Turner (Timothy Spall), um artista excêntrico que
pintava quadros que realçavam os efeitos da luz sobre as paisagens. Em seu
leito de morte, olhando para a claridade que vinha da janela, o pintor
exclamou: “Deus é luz”. Foram suas últimas palavras. Suas marinhas (cenas
marítimas) ficaram famosas e eram objeto de grande admiração pelos membros da Royal
Academy of Arts, onde o pintor expunha os seus trabalhos. O filme, ambientado na primeira metade do
Século 19, também coloca em exposição a vida pessoal de Turner, sua forte ligação com
o pai, sua estranha relação com a empregada, seu casamento e a doença que o
levou à morte. O diretor Mike Leigh (de “Segredos e Mentiras” e “O Segredo de
Vera Drake”) caprichou na qualidade estética do filme. Houve uma grande preocupação em
destacar as cenas como se cada uma fosse um quadro. O filme é visualmente muito
bonito. E até didático, quando cada tela de Turner é mostrada logo depois dele
manifestar a ideia para concebê-la. O filme concorreu a quatro categorias no Oscar
2015 (Fotografia, Design, Figurino e Trilha Sonora). Não ganhou nenhuma. Timothy
Spall, porém, conquistou o Prêmio de Melhor Ator no Festival de Cannes 2014. Não
é filme para o grande público. É indicado especialmente para os amantes da pintura,
estudantes de arte e fotografia.
domingo, 15 de março de 2015
O
argentino “RELATOS SELVAGENS” (“Relatos Salvajes”) era apontado pelos críticos como o maior
favorito a conquistar o Oscar 2015 de Melhor Filme Estrangeiro. O filme é
ótimo, mas longe da qualidade do drama polonês “IDA”, vencedor do prêmio com
toda justiça. O filme argentino é constituído por seis episódios, cada um
independente do outro, mostrando situações estressantes ao limite, perto do
trágico, mas com muito bom humor. Entre as histórias, tem aquela que se passa
dentro de um avião, onde todo mundo conhece um personagem citado por um dos
passageiros; tem o sujeito que tenta chegar em casa com um bolo para o
aniversário da filha e tem o carro guinchado; a história de um jovem milionário
que atropela e mata uma mulher grávida e seu filho; motoristas que entram em
guerra na estrada; a noiva que descobre a infidelidade do noivo durante a festa
de casamento. Enfim, pequenas histórias cujos personagens estão sempre à beira
de um ataque de nervos. Um retrato cruel e
realista dos nossos dias atuais. Dirigido por Damián Szifron, o filme foi
exibido e aclamado em vários festivais pelo mundo afora em 2014, sendo
aplaudido de pé no Festival de Cannes. No elenco, os nomes mais conhecidos são
Ricardo Darín, Oscar Martinez, Érica Rivas e Leonardo Sbaraglia. Imperdível!
No
final dos anos 50, até grande parte da década de 60, os quadros da pintora
norte-americana Margaret Ulbrich agitaram o mercado de arte nos EUA, fazendo
com que ela e o marido, Walter Keane, ficassem milionários. Só que era Walter
quem assinava a autoria dos trabalhos e aparecia para o mundo das artes como um
grande artista. Até que um dia Margaret resolveu dar um basta e contar toda a
verdade, desmascarando o pilantra. Tudo isso está contado no drama “GRANDES
OLHOS” (“Big Eyes”), 2014, dirigido por
Tim Burton. Margaret retratava crianças com os olhos arregalados, que
expressavam tristeza. Esses olhares incomodavam e emocionavam as pessoas que
iam às exposições, ainda mais quando Keane dizia, na maior cara de pau, que
eram inspiradas em crianças famintas na Europa durante a Segunda Guerra
Mundial. O estilo e a qualidade artística dos quadros conseguiram grande
divulgação na mídia e consagraram Walter Keane. Como o dinheiro entrava em
cascatas, Margaret permaneceu quieta e concordou com a trapaça. Quando se
separaram e Margaret foi morar com a filha no Havaí, a verdade viria à tona por
intermédio de um processo judicial que acabou no Tribunal local. O elenco é
ótimo: Amy Adams como a pintora está excelente, assim como o ator austríaco
Christoph Waltz interpretando Walter Keane. Também estão no filme Danny Huston
(filho de John Huston e, portanto, irmão de Angelica) e Terence Stamp, como
sempre dando show. A cena do julgamento talvez tenha ficado cômica demais. Duvido
que tenha sido assim na realidade. Em todo caso, o filme é muito bom,
valorizado pelo ótimo desempenho de Amy Adams e, principalmente, Christoph
Waltz.
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