sábado, 26 de fevereiro de 2022

 

“TEMPOS DE ESCURIDÃO” (“DE FORBANDEDE ÅR”), 2020, Dinamarca, disponível na plataforma Amazon Prime Video (dublado), 2h32m, direção de Anders Refn, que também assina o roteiro com a colaboração de Flemming Quist Møller. Não gosto de filmes dublados, sem o som original. Mesmo assim, resolvi assistir por se tratar de mais um episódio ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial - fatos históricos sempre foram do meu interesse. A dublagem, porém, é muito boa. Estamos em abril de 1940, quando os alemães iniciam a ocupação da Dinamarca. Assim como aconteceu na Noruega, dias antes, os dinamarqueses não opuseram resistência às tropas nazistas. Pelo contrário, até acharam que poderiam lucrar com a invasão. Este também era o pensamento dos empresários locais, prevendo a oportunidade de exportar seus produtos para o mercado alemão. O filme é centrado na família Skov, da capital Copenhague. Karl Skov (Jedsper Christensen), o patriarca, é um rico industrial que comanda uma fábrica de equipamentos. Além de enfrentar problemas econômicos relacionados à sua indústria, Skov, ao lado da esposa Eva (Bodial Jørgensen), era obrigado a administrar a rebeldia dos quatro filhos, nenhum deles disposto a ajudá-lo na empresa. Um era comunista, o outro nazista, um tocava pistão numa banda de jazz (rítmo considerado demoníaco na época) e finalmente Helene (Sara Viktoria Bjerregaard), que, a contragosto de todos, casou com um capitão da marinha alemã. Enquanto isso, mesmo com os protestos da esposa, Karl Skov negociava com os alemães, única forma que encontrou de salvar sua tradicional empresa. Mesmo que o pano de fundo seja a guerra, o filme não mostra batalhas, explosões, tanques etc. Isso tudo ficou em segundo plano, pois o objetivo da história é acompanhar a rotina tumultuada da família Skov. Além do ótimo elenco, o filme acerta na recriação de época, nos caprichados figurinos e nos cenários da antiga Copenhague. Vale uma conferida.         

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

 

“LAS MEJORES FAMILIAS”, 2020, coprodução Peru/Colômbia, 1h39m, disponível na plataforma Amazon Prime, terceiro longa-metragem escrito e dirigido por Javier Fuentes-León. Trata-se de uma divertida comédia que poderia ter o título de “Acontece nas Melhores Famílias”. Ou seja, roupa suja lavada, revelações surpreendentes e muita confusão. O filme começa acompanhando as irmãs Luzmila (Tatiana Astengo) e Peta (Gabriela Velásquez), que vivem em um bairro pobre na periferia de Lima, em sua rotina diária de pegar dois ônibus até chegar ao local do trabalho de ambas, ou seja, duas mansões vizinhas localizadas em San Isidro, o bairro dos ricos. Cada uma trabalha em uma mansão. Suas patroas são Carmen (Gracia Olayo) e Alícia (Grapa Paoloa), duas viúvas e amigas de longa data. A amizade entre Carmen e Alícia é tão grande que há muitos anos as casas são interligadas. Os filhos cresceram juntos, também se tornaram amigos e agora todos estão na faixa entre 40 e 50 anos. Até que um dia, como fazem há muitos anos, todos se juntam para comemorar o aniversário de Carmen, assim como festejar a visita de um de seus filhos, Andres (Cesar Ritter), que viria da Espanha acompanhado da noiva espanhola (Jely Reategui). O almoço, porém, só chegaria à etapa dos aperitivos, pois uma revelação surpreendente e bombástica é jogada no ventilador. Confusão formada, o nível do estresse aumenta tanto que outras revelações são feitas, estragando de vez o que seria um encontro familiar agradável. As situações são hilariantes, incluindo uma avó viciada em maconha, além de alguns respeitáveis cinquentões saindo literalmente do armário. Além de homofobia, o filme aborda outros temas importantes da nossa sociedade atual, como a divisão de classes, aspecto que vários críticos levaram em conta para compará-lo ao sul-coreano “Parasita”. Em uma das inúmeras entrevistas que concedeu durante o lançamento do filme, o diretor Fuentes-León afirmou: “A comédia é um gênero que também pode falar de coisas muito sérias e nos permite colocar um espelho no qual a sociedade pode se olhar.” Para explicar a ideia do filme, ele disse: “É o mundo em que cresci, um mundo talvez esticado e exagerado para a sátira, para a comédia”. O filme foi exibido em vários festivais pelo mundo afora, incluindo a 15ª Festa Del Cinema Di Roma, o 25º Busan Film Festival (Coreia do Sul) e o Monte-Carlo Internacional, além do Los Angeles Outfest, do Lima Film Festival, Miami Film Festival e o festival de Málaga, sempre com críticas favoráveis tanto da crítica como do público. Realmente, “Las Mejores Familias” é uma comédia com pano de fundo social muito interessante e divertida.     

terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

 

“SEIS MINUTOS PARA A MEIA-NOITE” (“SIX MINUTES TO MIDNIGHT”), 2020, Inglaterra, disponível na plataforma Amazon Prime, 1h39m, direção de Andy Goddard, que também assina o roteiro, com a colaboração de Celyn  Jones e Eddie Izzard. A história até que é muito interessante, baseada em fatos reais. Estamos no verão de 1939 e o mundo está mobilizado com a perspectiva do início de uma guerra, pois existe o perigo iminente da Alemanha invadir a Polônia, o que provocaria uma declaração de guerra por parte da Inglaterra. Em uma pequena cidade costeira ao sul da Inglaterra havia um internato para moças chamado Augusta-Victoria College. A escola realmente existiu, funcionando de 1932 a 1939. Era uma instituição anglo-alemã, especializada no ensino da língua inglesa e suas alunas internas eram, em sua maioria, filhas de altas autoridades do governo alemão e de oficiais nazistas. É neste cenário que surge o professor de inglês e literatura Thomas Miller (Eddie Izzard, também roteirista) em substituição ao antigo professor que desapareceu misteriosamente. Logo depois, em um dos passeios pela praia, as moças descobrem o corpo desse professor e, partir daí, tudo se transforma. Na verdade, o que acontece é uma conspiração que colocará em campos opostos espiões ingleses e alemães. O suspense rola solto até o final. O filme, porém, deixa muito a desejar. O roteiro é repleto de pontas soltas. Você espera que antes dos créditos finais sejam explicados os destinos dos personagens, principalmente no que se refere às alunas do colégio, que seriam embarcadas de volta à Alemanha antes do início da Segunda Grande Guerra. Outros personagens importantes na história também ficam à deriva. Fora que a escalação do elenco comprometeu, e muito, o resultado final, mesmo com a presença da grande Judi Dench, que atua no piloto automático como a diretora da instituição. Ainda estão no elenco a atriz suíça Carla Juri, Jim Broadbent, James D’Arcy, Celyn Jones, Nigel Lindsay, Kevin Eldon, Maria Dragus e Tijan Marei. O que me causou grande surpresa e decepção foi descobrir que o ator Eddie Izzard, que interpreta o professor, é, na verdade, uma atriz transgênero. Se o filme já é bem fraco, fica difícil de engolir esse fato estranho e inusitado. Vale uma conferida apenas pela história interessante, pois o filme é, sem dúvida, um verdadeiro abacaxi.            

 

domingo, 20 de fevereiro de 2022

 

“O CHARLATÃO” (“SARLATÁN”), 2020, disponível na plataforma Amazon Prime Video, coprodução República Tcheca/Irlanda/Polônia, 1h58m, direção da veterana cineasta polonesa Agnieszka Holland (“Filhos da Guerra”, “Na Escuridão”), seguindo roteiro escrito por Marek Epstein. Trata-se da cinebiografia do herbalista tcheco Jan Mikolásek (1889-1973), famoso por ter curado milhões de pessoas através da utilização de plantas e ervas medicinais. Além de gente pobre, ele tratou de celebridades do mundo artístico e figuras importantes do governo da então Tchecoslováquia, o que incluiu o próprio presidente Antonin Zápatocky, que esteve no comando da nação entre 1953 e 1957. A fama de Jan incomodou tanto os nazistas que ocuparam o país durante a Segunda Grande Guerra como depois os comunistas russos. Ele provou que não era charlatão e tinha orgulho de ser chamado de curandeiro. Ainda jovem, Jan aprendeu a diagnosticar os pacientes com uma velha curandeira, que o ensinou a constatar qualquer tipo de doença apenas olhando a urina coletada em frascos de vidro. Além disso, aprendeu também a receitar chás de ervas e plantas. O filme dá destaque também ao relacionamento homossexual do curandeiro com seu assistente, Frantisek Palko, que era casado. O elenco é ótimo: Ivan Trojan como Jan, Josef Trojan como o jovem Jan (Josef é filho do ator Ivan na vida real), Juaraj Loj como Palko e Jaroslavá Pokorná como Mülbacherová, a curandeira que ensinou Jan. Assim como o excelente elenco, tudo funciona muito bem no filme: roteiro, cenografia, fotografia, reconstituição de época e figurinos. “O Charlatão” estreou no Festival de Berlim 2020 e foi exibido por aqui durante a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Também foi o representante oficial da República Tcheca na disputa do Oscar 2021 de Melhor Filme Internacional. Enfim, trata-se de um belíssimo filme biográfico que merece ser visto. Não perca!