sábado, 24 de janeiro de 2015

Uns escolhem escalar os picos mais altos do mundo, outros pular de bungee jump ou atravessar o topo de edifícios  equilibrando-se numa corda e ainda aqueles que se arriscam nadando entre tubarões. Enfim, há louco e aventureiro para tudo. “TRILHAS” (“Tracks”), 2013, conta uma dessas histórias malucas. Em 1977, a jovem australiana Robin Davidson (Mia Wasikowska), então com 26 anos, com o apoio da Revista National Geographic, decide atravessar o impiedoso deserto da Austrália a partir da cidade de Alice Springs até o Oceano Índico, totalizando uma distância de 2.700 quilômetros. Com um detalhe: a pé. E apenas com a companhia de sua cadela de estimação e quatro camelos – a viagem durou 9 meses. De vez em quando, em seu caminho, aparecia o fotógrafo da revista Rick Smolan (Adam Driver) para tirar algumas fotos. Uma aventura e tanto, repleta de perigos e sacrifícios. Em alguns momentos, tal era o seu nível de exaustão, Robin pensou em desistir. Mas foi até o fim, o que na época tornou a moça mundialmente famosa. Aliás, depois disso, Robin continuou aventurando-se pelo mundo afora, incluindo atravessar os EUA numa moto e trabalhar como guia turístico na Índia. Para quem gosta de viagens inusitadas e de sofrer junto com o viajante, “TRILHAS” é um ótimo programa.
A bonita e competente atriz norte-americana Maria Bello já trabalhou em bons filmes como “Marcas da Violência”, “Os Suspeitos” e “O Troco”. Ultimamente, porém, suas escolhas não têm sido das melhores. A mais recente delas é o suspense “BIG DRIVER- EM BUSCA DE VINGANÇA” (“Big Driver”), produzido em 2014 para o Canal Lifetime e dirigido por Mikael Salomon (“O Enigma de Andômeda”). Trata-se de uma história baseada num conto do escritor Stephen King. Bello interpreta Tess Thorne, uma famosa escritora de romances policiais, de mistério e suspense – assim como King. Convidada para autografar seu mais recente livro, Tess vai a uma pequena cidade de New England. Uma de suas fãs sugere que ela faça a viagem de volta utilizando-se de uma estrada no meio da floresta. Aí começa o maior pesadelo para Tess, que será vítima de um psicopata sexual. Além de estuprada, ela é violentamente espancada e depois deixada para morrer dentro de um tubo de drenagem. Só que ela não morre. Quando se recupera, Tess parte para a vingança. Para curtir o filme, o espectador tem de entrar no clima das histórias de Stephen King e aceitar que a protagonista converse com fantasmas, com os mortos e até com o GPS do seu carro. Nada que mereça uma recomendação entusiasmada.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Uma sensação no mínimo desagradável é o que se tem ao assistir ao drama grego “O GAROTO QUE COME ALPISTE” (“To Agori Troei To Fagito tou Pouliou” no original, ou “Boy Eating the Bird’s Food” em inglês). O filme é bastante indigesto e deprimente. Trata-se de uma chocante alegoria à grave situação econômica da Grécia a partir de 2010. O jovem Yorgos (Yiannis Papadopoulos), de 23 anos, é um cantor lírico desempregado, não tem amigos e está distanciado da família. Vaga pelas ruas de Atenas remexendo nas latas de lixo para encontrar o que comer. Quando não encontra, divide o alpiste com seu canário e se alimenta com o próprio sêmen depois de se masturbar (desagradável ou não é?). De vez em quando, entra no apartamento do vizinho, um velho doente, para roubar comida e alguns objetos para vender no penhor. Com a mente entravada por dias sem comer, Yorgos tenta manter a pouca sanidade que lhe resta, mas ele é a verdadeira personificação do fracasso. E aí ninguém dá jeito. O filme marcou a estreia de Yiannis Papadopoulos na direção. Começou bem, pois o filme foi indicado para representar a Grécia no Oscar/2014 de Melhor Filme Estrangeiro. De qualquer forma, é bom alertar o espectador desavisado: não espere um entretenimento agradável. Pelo contrário. 
O drama polonês “EM NOME DO...” (“W Imie...”), 2012, estreou no Festival Internacional de Cinema de Berlim/2013 e causou grande polêmica. Não é para menos, pois o filme aborda o tema homossexualidade na Igreja. E mais: produzido no país mais católico da Europa. O padre Adam (Andrzej Chyra) é responsável por uma paróquia no interior da Polônia. Além das missas, confissões e de outras atribuições da sua função, Adam cuida de um centro comunitário que abriga jovens problemáticos à beira da delinquência. Ele é muito querido por todos e muito dedicado. Joga futebol com os rapazes, participa das festas da cidade e está sempre disposto a ajudar a quem precisa, seja com uma palavra de carinho ou um conselho. Só que ele vive o terrível dilema da tentação da carne. Adam é homossexual enrustido e luta consigo mesmo para não sucumbir ao desejo, principalmente com relação aos jovens do centro comunitário. Para piorar, ele é assediado por uma jovem e fogosa paroquiana, ainda por cima casada. A diretora Malgoska Szumowska (de “Elas”, com Juliette Binoche) trata o tema com sobriedade e até alguma sensibilidade, aprofundando-se no sofrimento solitário do padre Adam e seu sacrifício para resguardar sua identidade sexual. O trabalho do ator Andrzej Chyra é fenomenal, um trunfo a mais desse excelente drama polonês.    

terça-feira, 20 de janeiro de 2015

“ERROS DO CORPO HUMANO” (“Errors of the Human Body”), 2011, é uma co-produção Alemanha/EUA com direção de Eron Sheean. Trata-se de um drama de ficção com algumas pitadas de suspense. Geoff Burton (Michael Eklund), um renomado cientista canadense, é convidado para participar de uma experiência num mundialmente respeitado instituto para Biologia Celular e Molecular e Genética em Dresden (Alemanha). Aqui, sob a supervisão da dra. Rebecca Müller (Karoline Herfurth), está sendo desenvolvido um experimento que objetiva a busca do gene da regeneração humana. Geoff topa na hora, pois o estudo tem relação com a doença que acometeu seu filho ainda bebê. Como é possível prever, muitos diálogos são difíceis de entender, a não ser que você seja um cientista, um biólogo ou um geneticista. É claro que logo aparece o   famoso vilão de laboratório, o cientista com cara de maluco Jarek (Tomas Lemarquis), que será o responsável pela criação de um vírus devastador. Ao tentar desmascarar Jarek, Geoff acaba contaminado pelo vírus e, claro, correrá um grande risco de vida. Admira que um filme alemão seja tão ruim. O resultado final é constrangedor, a começar pelo ator canadense Michael Eklund, que passa o filme inteiro com olhos de peixe morto e ar de coitado, mesmo antes de ser contaminado. O personagem Jarek é tão ridículo e constrangedor que mais parece um vilão de filme infantil ou saído de um filme dos Trapalhões. Em todo esse contexto medíocre, surpreende a participação da ótima atriz alemã Karoline Herfurth, de “O Leitor”. De tão ruim, o filme, na verdade, deveria se chamar “Erros da Mente Humana”, referência óbvia ao criador desse abacaxi.     

“FILHA DISTANTE” (“Días de Pesca”), 2012, direção de Carlos Sorin, é mais um bom e sensível filme argentino. Conta a história de Marco Tucci (Alejandro Awada), que, aos 52 anos, depois de um problema sério de saúde, resolve mudar de vida. Deixa de fumar e de beber e começa a praticar exercícios físicos. Marco aproveita essa fase de mudança para também reencontrar a filha Anna (Victoria Almeida), que não vê há anos, retomar o relacionamento de outrora e aparar algumas arestas do passado. Para isso, Marco utiliza a desculpa de tirar umas férias para pescar tubarões no litoral da Patagônia, onde sua filha mora. Saindo de Buenos Aires, ele pega estrada de carro e, pelo caminho, com seu sorriso simpático e cativante, vai fazendo amizades. Ao chegar à cidade onde sua filha morava, vai descobrir que ela já havia mudado há uns três anos, sem avisar, o que já dá uma ideia da distância entre os dois – não apenas geográfica. No reencontro com a filha e o neto, que não conhecia, acontece um dos momentos mais tocantes do filme, quando, durante o jantar, Anna pede a Marco que cante “aquela canção”. Marco então canta a ária “Che Gelida Manina” a capella. Apesar de todos os esforços de Marco, a reaproximação será mais difícil do que ele imaginava. Além da história em si, o filme é bastante interessante porque toda a ação se desenrola em meio aos cenários deslumbrantes e belas paisagens, embora um tanto melancólicas, da Patagônia. Com exceção dos dois protagonistas principais, o restante do elenco é composto somente por atores amadores. Mais um gol de placa do cinema argentino.                                                                                          

domingo, 18 de janeiro de 2015

“SUSPENSÃO DA REALIDADE” (“Suspension of Disbelief”), 2012, é um drama inglês bastante criativo e instigante. Em sua trama policialesca, mescla o gênero noir com muito erotismo e um certo suspense. Na festa de aniversário de sua filha Sarah (Rebecca Nighty), o escritor e roteirista de cinema Martin (o ator alemão Sebastian Koch, de “A Vida dos Outros”), em crise criativa, conhece a exuberante Angelique (a atriz holandesa Lotte Verbeek). Conversam durante algum tempo e depois ele vai dormir. Dois dias depois, Angelique aparece morta, aparentemente, por afogamento. Em meio às investigações da polícia, aparece em cena Therese (Verbeek), a irmã gêmea de Angelique. Tal qual a irmã, Therese também é uma jovem sedutora. Por suas atitudes, difícil acreditar que ela tenha boas intenções. O aparecimento de Therese vai aumentar ainda mais o mistério com relação à morte de Angelique. Envolvido na história, Martin volta a encontrar ideias para um novo roteiro de filme. A partir daí, ficção e realidade se misturam num jogo que estimula o cérebro do espectador. A bela atriz holandesa Verbeek, como a mulher fatal em dose dupla, está ótima. É um filme bastante diferente e interessante, com a assinatura de Mike Figgs, diretor inglês que tem no currículo filmes como “Despedida em Las Vegas”, de 1996, que deu um Oscar de melhor ator para Nicolas Cage. Há 9 anos que ele não dirigia um longa. Quem curte cinema de qualidade e fora do padrão habitual vai gostar.              
A atriz Kristen Stewart, da Série Crepúsculo, faz a personagem principal do drama “CAMP X-RAY”, 2013, dirigido por Peter Sattler, que também escreveu o roteiro. Kristen é a soldado Amy Cole, uma jovem que sai de sua pequena cidade do interior dos EUA e se alista no exército. Seu objetivo é ir para o Iraque, conhecer uma nova cultura e, principalmente, conseguir a oportunidade de uma viagem para o Exterior, o que nunca conseguiu fazer. Só que ela é enviada para uma nova unidade da Prisão de Guantánamo, em Cuba, criada logo após o 11 de setembro de 2001. A missão de Amy é vigiar uma dezena de celas ocupadas por terroristas envolvidos com o atentado. A ordem é específica: não deixar que cometam suicídio. Uma das regras a serem cumpridas é jamais conversar com um detento. Só que Amy a descumpre e dá atenção especial para Ali (Payman Maadi, de “A Separação”), com o qual costuma conversar em seus turnos. Esse tipo de situação já foi mostrada em muitos outros filmes. Um clichê dos mais desgastados. No caso desse filme, chega a ser até inverossímil, já que em seu primeiro dia no corredor das celas Amy é atingida por um “coquetel” (como chamam um bolo de fezes) lançado por Ali, situação que mais provoca inimigos do que amigos. Resumo da ópera: o filme é fraco. Também não é fácil suportar quase duas horas em frente à telinha para ver a ação ser desenrolada quase que inteiramente num corredor de prisão. Stewart precisa ser mais rigorosa em suas próximas escolhas, já que provou que, além de bonita, é uma boa atriz, como já comprovaram filmes como o recente “Acima das Nuvens” e “On the Road”.