sábado, 25 de janeiro de 2014


Uma das tarefas mais difíceis é explicar o inexplicável. Ainda mais quando o inexplicável é um filme, o francês “Holy Motors”, de 2012, dirigido por Leos Carax. Inexplicável que alguém tenha elaborado tamanha maluquice, e, pior, encontrado alguém para bancar sua produção. Mais do que um ato heroico, assistí-lo é masoquismo puro. Chegar ao final, então, aí já é autoflagelação. Oscar (Denis Lavant) passeia por Paris dentro de uma limusine branca. Em seu interior existe um tipo de camarim onde ele se disfarça para representar um papel: uma velha mendiga, um sujeito asqueroso que anda no esgoto e outros tipos aberrantes. Ele desce da limusine, faz alguma estripulia e depois volta. São 115 minutos de puro surrealismo, sem pé nem cabeça. O elenco ainda traz Eva Mendes, Kylie Minogue, Michel Piccoli, Edith Scob e Elise Lhomeau. Alguns críticos profissionais adoraram. E, para explicar o inexplicável, escreveram verdadeiros tratados sociológicos, filosóficos e estéticos. Chegaram a dizer até que o diretor fez uma homenagem ao cinema. Se você gosta de filmes esquisitos, vai adorar. Se for o caso, assista também “Attenberg”, um filme grego pra lá de maluco.     

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

O inglês Ben Kingsley, hoje com 70 anos, sempre foi um ótimo ator. Conquistou fama e grande destaque depois que ganhou o Oscar de Melhor Ator por “Gandhi”, em 1983. Nos anos seguintes, fez inúmeros filmes bons (“Hugo Cabret”, “A Ilha do Medo”, “A Lista de Schindler” etc), mas em papéis menores do que sua competência. Alguns até como vilão, o que ele também faz muito bem. É o caso desta co-produção EUA/Sri Lanka de 2012, “Um Homem Comum” (“A Common Man”), sob a direção do cingalês Chandran Rutnam. Kingsley faz o personagem do título, um cara misterioso que instala cinco bombas em locais diferentes da cidade de Colombo, no Sri Lanka. Depois, liga para a polícia local exigindo a libertação de 4 terroristas. Pela importância da exigência, o governo de Sri Lanka é mobilizado e, a partir daí, começa a caçada ao tal homem misterioso. O filme tem pouca ação, mas consegue manter um clima de suspense até o final, quando acontece uma reviravolta interessante na história. Estão ainda no elenco Ben Cross e Patrick Rutmam.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

De vez em quando aparece um filme para reviver alguma história envolvendo o grupo terrorista IRA (Exército Republicano Irlandês). Um dos mais recentes (2012) é “Agente C – Dupla Identidade” (“Shadow Dancer”), filme irlandês dirigido por James Marsh. No início dos anos 90, Colette McVeigh  (Andrea Riseborough) foi presa pelo M15 (Serviço Secreto Inglês) por ter participado de um atentado a bomba em Londres. Para não ser presa e perder a guarda do filho, ela passa a ser informante do M15, o que vai obrigá-la a enfrentar um grande dilema, pois seus irmãos e amigos são terroristas do IRA. O clima de suspense é mais psicológico do que de ação, o que deixa o filme um pouco monótono. Mas o enredo é bem elaborado e o elenco ótimo. Além de Riseborough, trabalham Clive Owen, Gillian Anderson (Arquivo X) e Aidan Gillen.  O filme é baseado no livro escrito por Tom Bradby e foi lançado no Festival de Sundance. Depois, saiu direto em DVD.                 

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Nos anos 60 e 70, o casal Elizabeth Taylor e Richard Burton protagonizou um dos mais tumultuados casos de amor entre celebridades do cinema. O relacionamento desses dois grandes astros começou nas filmagens de Cleópatra, em 1961/62, quando ambos eram casados (Liz pela quarta ou quinta vez) com outros parceiros e durou, entre trancos e barrancos, muitos anos mais. “Liz & Dick”, de 2012, filme feito para o Canal Lifetime, mostra os bastidores da vida amorosa do casal, incluindo cenas nos sets de filmagem, crises de estrelismo, bebedeiras e brigas homéricas em hotéis e restaurantes, sem falar no quesito dinheiro, que ambos torravam em quantidades estratosféricas. Liz é interpretada pela polêmica Lindsay Lohan (Megan Fox e Olivia Wilde foram cogitadas para o papel). Dizem que Lindsay, com seu jeito maluco de ser, deu muito trabalho durante as filmagens (como Liz dava também). O ator neozelandês Grant Bowler faz Burton. Mais do que o bom desempenho dos dois, sua semelhança com os verdadeiros é um dos trunfos do filme. Triste foi ver a atriz Theresa Russel, antes um monumento de mulher, bastante envelhecida, fazendo a mãe de Liz. 

terça-feira, 21 de janeiro de 2014

A atriz Greta Gerwig está se especializando em interpretar garotas frustradas, infelizes e, acima de tudo, abobadas. Foi assim no chatérrimo “Frances Ha” e agora em “Lola contra o Mundo” (“Lola versus”), uma comédia romântica produzida em 2012 e dirigida por Daryl Wein. Assim como Frances, a Lola vive tentando arrumar namorados e acaba sempre sozinha. O filme começa com Lola sendo abandonada pelo noivo, Luke, três semanas antes do casamento. Lola desabafa seus problemas com a amiga Alice (Zoe Lister Jones), que consegue ser mais chata e irritante do que a própria Lola. Os diálogos beiram o ridículo, girando em torno de relacionamentos amorosos, transas e futilidades em geral. O filme todo atinge a profundidade de uma xícara de café (curto). Talvez a frase mais inteligente, dita por Alice, seja “Eu não troco a calcinha há três dias”. Pelo menos foi bom rever Debra Winger, como a mãe de Lola. Dizem que Greta Gerwig é uma ótima comediante. Realmente, faz-me rir.   
“Fruitvale Station – A Última Parada” (“Fruitvale Station”), de 2013, é uma produção independente norte-americana que marca a estreia na direção de Ryan Coogler. E que estreia! O filme é sensacional. Foi justo que tenha conquistado o Prêmio “Um Certo Olhar” no Festival de Cannes e também premiado em Sundance. Logo no início, você já sabe como tudo vai terminar e, mesmo assim, o clima de tensão vai prendê-lo na poltrona pelos 85 minutos de duração. A história é baseada em fatos reais, o que proporciona maior dramaticidade. O jovem Oscar (Michael B. Jordan), de 22 anos, com uma namorada e uma filha pequena, sai da cadeia e tenta tomar jeito na vida. Só que não consegue arrumar emprego. Na noite de Ano Novo (31 de dezembro de 2008), sai com a namorada e os amigos para comemorar e ver os fogos. Num vagão do metrô, eles arrumam uma briga com outros passageiros e a polícia é chamada. Os policiais, despreparados e violentos, nem perguntam o que aconteceu. Já vão batendo... E aí a coisa vira tragédia. Tudo o que aconteceu foi filmado por passageiros do metrô. O elenco é ótimo, mas quem dá show é Octavia Spencer, que faz Wanda, a mãe de Oscar. Ela já havia conquistado o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante por “Vidas Cruzadas”, em 2012. E, neste filme, comprova que é realmente uma atriz espetacular. Prepare-se para assistir a um grande filme.

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

De vez em quando, um pouco de erudição e história não faz mal a ninguém. É o que proporciona o ótimo drama alemão “Hannah Arendt”, de 2012, da diretora Margarethe Von Trotta. Em 1961, a alemã Hannah (Barbara Sukowa), já uma consagrada filósofa política e professora universitária nos EUA, se oferece à Revista The New Yorker para ir a Jerusalém cobrir o julgamento do nazista Adolf Eichmann, preso pelo Mossad na Argentina. Além da reportagem para a revista, ela queria aproveitar o trabalho para colher subsídios para seu estudo filosófico sobre “A Banalidade do Mal”. Os artigos da filósofa causaram uma grande repercussão na época. Ela escreveu, por exemplo, que Eichmann não era culpado direto pela matança dos judeus, pois obedecia ordens. Hannah não parou por aí. Escreveu também que os judeus – ela era judia - se deixaram dominar sem  resistência e ainda acusou alguns deles de colaboracionismo com os nazistas. Aí todo mundo se virou contra a filósofa, inclusive seus principais amigos. O filme conta toda essa história e ainda o envolvimento dela, na juventude, quando morava na Alemanha, com o filósofo Martin Heidegger. O pensamento e a filosofia de Hannah estão representados nos diálogos que ela tem com o marido e com os amigos e ainda durante suas aulas e palestras na universidade. Resumindo: um filme adulto e imperdível
“O Voo das Cegonhas” (Flight of the Storks”), 2013, co-produção França/Alemanha/África do Sul. Até que o filme começa com uma proposta legal. O jovem inglês Jonathan (Harry Treadaway) é assistente do ornitologista Max Böhm num projeto que visa estudar a migração das cegonhas da Suíça até a África. Quando chega à fazenda de Max, Jonathan o encontra morto, vítima de infarto, dentro de um ninho de cegonha. Jonathan resolve dar sequência ao trabalho e viaja para acompanhar a migração das cegonhas, passando pela Bulgária, Turquia, Israel e África. Em cada um desses lugares deveria haver um observador das aves. Jonathan descobre que estão todos mortos. Descobre também que o projeto de estudo das aves era apenas fachada para uma atividade ilícita. Numa guinada repentina, sem qualquer explicação, o filme passa a mostrar a busca de Jonathan pela verdade do que aconteceu quando ele era pequeno e morava com os pais no Congo. Daí pra frente, o filme vira uma salada desconexa. O filme – na verdade uma minissérie em duas partes – é baseado no livro homônimo de Jean Christophe Granjé, também autor de Rios Vermelhos e Império dos Lobos. O elenco, dirigido por Jan Kounen, tem ainda Rutger Hauer, Perdita Weeks e Clemens Schick. No total, são mais de 3 horas de duração (202 minutos), o que vai exigir do espectador uma dose cavalar de paciência. Não diga depois que não avisei.                                  

domingo, 19 de janeiro de 2014

Cate Blanchett faz a personagem Jasmine, que dá o nome à comédia dramática “Blue Jasmine” (2013), o mais recente filme escrito e dirigido por Woody Allen. Blanchett arrasa como a dama da sociedade nova-iorquina, rica e chiquérrima, que de repente fica sem dinheiro e, para não dormir na rua, vai morar com a irmã pobre em São Francisco (as duas foram adotadas). Jasmine era casada com um investidor milionário (Alec Baldwin), que é preso por causa de falcatruas no mercado financeiro e perde tudo, deixando a mulher literalmente ao relento. Mesmo sem grana nenhuma, Jasmine mantém a pose de socialite até cair na real, quando acaba como recepcionista num consultório dentário. É muito engraçada – entre as inúmeras engraçadas do filme - a cena em que sua irmã (Sally Hawkins) a apresenta ao namorado e um amigo num barzinho, originando diálogos hilariantes. Jasmine é histérica, tem surtos de depressão, costuma falar sozinha e também acaba afogando as mágoas na bebida. “Blue Jasmine” foi uma grande sacada de Allen. A ideia do filme, porém, foi de sua esposa Soon-Yi Previn, que contou a história de uma amiga que passou pela mesma situação. Mais um Woody Allen imperdível!                                 

 
“Gravidade” (“Gravity”) é um dos melhores filmes de ficção científica envolvendo o espaço sideral. O melhor, na opinião do grande diretor James Cameron. A maior façanha do diretor Alfonso Cuorón, também autor do roteiro, foi manter um clima de ação e suspense do começo ao fim com praticamente um personagem, a dra. Ryan Stone (Sandra Bullock). Ao lado do experiente astronauta Kowalski (George Clooney), ela faz parte da equipe que é enviada ao espaço para efetuar consertos no Telescópio Hubble. Quando ela e Kowalski estão fora da nave, são atingidos por uma chuva de destroços de um satélite desativado russo, perdem o contato com a base terrestre da NASA e ficam literalmente perdidos no espaço. O filme é tão bem feito que leva o espectador a se imaginar participando do martírio vivido pelos personagens. O cenário é o mesmo o filme inteiro: a imensidão escura do espaço e, ao fundo, o nosso deslumbrante planeta. Várias atrizes foram cotadas para o papel da dra. Ryan Stone, inclusive Angelina Jolie. Robert Downey foi convidado para fazer Kowalski, mas desistiu e o papel ficou para Clooney. A verdade é que, com qualquer ator ou atriz, o filme continuaria sendo espetacular.