sábado, 8 de setembro de 2018


“TÁXI SÓFIA” (“POSOKI”), 2017, Bulgária, roteiro e direção de Stephen Komandarev, que também assina o roteiro ao lado de Simeon Ventsislavov. Ao abordar a rotina diária de trabalho de seis taxistas na capital Sófia, Komandarev cria um interessante mosaico da atual situação sócio-econômica e cultural da Bulgária, um dos países mais pobres da Europa. As conversas dos motoristas com seus passageiros e as situações, algumas insólitas, revelam um quadro de inconformismo e desesperança do povo búlgaro, mas Komandarev ameniza o contexto que poderia ser dramático com um sutil e irônico bom humor, tom que predomina durante todo o filme. As situações, por exemplo: o motorista de táxi leva a filha adolescente para o colégio e aceita pegar outra estudante para uma corrida, no meio da qual ela se revela uma prostituta de luxo. Em outra sequência, um motorista quer conversar com os passageiros sobre o filho morto recentemente. Ninguém lhe dá ouvidos. Aí ele para o carro e vai desabafar com um cachorro. Tem até um padre que trabalha como motorista de táxi, outro que salva um homem que queria se atirar de uma ponte e ainda uma motorista que trava um interessante diálogo com um cirurgião cardíaco, entre outras situações inusitadas. Enfim, um filme que foge da mesmice geral, realizado com inteligência e muita criatividade. A primeira exibição de “Táxi Sófia” aconteceu durante o Festival de Cannes 2017, quando participou da Mostra “Um Certain Regard”. Injusto que não tenha sido selecionado pela Bulgária para disputar o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, pois, na minha opinião, é um dos melhores filmes que assisti nos últimos anos. Imperdível!                                             

quinta-feira, 6 de setembro de 2018


“KINGS”, 2017, coprodução EUA/França, roteiro e direção de Deniz Gamze Ergüven. A história é toda ambientada na Los Angeles de 1992, quando a população de South Central - periferia de LA - se rebela depois do resultado de dois julgamentos, o primeiro de uma comerciante chinesa que acabara de assassinar uma garota negra dentro de seu estabelecimento comercial. O segundo, de maior notoriedade, envolveu o espancamento do taxista negro Rodney King por policiais brancos. Tanto a chinesa quanto os policiais foram absolvidos, gerando uma onda de protestos violentos, com saques a supermercados, incêndios e agressões contra brancos e policiais que ousassem passar pelo bairro. Em meio a toda essa confusão está Millie (Halle Berry), uma mãe solteira que cuida com muito sacrifício de oito filhos, alguns deles adotados. Sua principal preocupação é não deixar que seus filhos entrem para a marginalidade, como a maioria dos seus colegas. Seu vizinho, Ollie (Daniel Craig, péssimo), talvez o único branco do pedaço, tenta dar uma força para a família de Millie, principalmente depois que os protestos entram na fase mais violenta. A diretora turca Deniz Gamze Ergüven tinha o roteiro pronto desde 2011, mas não conseguiu financiamento para tocar o projeto adiante. Só conseguiu depois de escrever e dirigir o ótimo “Mustang” (aqui traduzido por “Cinco Graças”), que representou a França na disputa do Oscar 2016 de Melhor Filme Estrangeiro. A estreia mundial de “KINGS” aconteceu no Toronto International Film Festival, em setembro de 2017, e logo depois foi exibido nos festivais de Torino e Estocolmo. Até a primeira metade do filme eu estava gostando, envolvido pelo forte clima de tensão. Depois, achei que a diretora descambou para um sentimentalismo exacerbado, amenizando o impacto das cenas mais fortes. Cheguei a achar que tinha jeito de Oscar 2019, mas fiquei decepcionado com o resultado final. Mais interessante do que bom.                                                

quarta-feira, 5 de setembro de 2018


 O drama inglês “A ÚLTIMA TESTEMUNHA” (“THE LAST WIGNESS”), 2018, direção de Piotr Szkopiak e roteiro de Paul Szambowski, relembra um fato histórico da maior importância: o esclarecimento de que foram os soviéticos, e não os nazistas, os responsáveis pelo que ficou conhecido como “O Massacre da Floresta de Katyn”, que aconteceu entre abril e maio de 1940 e que resultou no assassinato de 22 mil poloneses prisioneiros de guerra, entre soldados, policiais e civis. Quem desvendou o mistério, como mostra o filme – baseado em fatos reais -, foi o jornalista inglês Stephen Underwood (Alex Pettyfer), em 1948, graças à tal “última testemunha” a que se refere o título, um cidadão russo refugiado num campo de oficiais poloneses em Bristol, na Inglaterra. A verdade, como apurou Underwood, era conhecida pelos governos da Inglaterra e dos Estados Unidos, que não quiseram revelá-la para não tumultuar ainda mais as delicadas relações diplomáticas com o governo soviético de Stalin. Como cinema, “A Última Testemunha” é um filme sem brilho, sem ação nem suspense, que só se sustenta por causa do importante lado histórico, o que por si só justifica uma visita. Ainda estão no elenco Talulah Riley, Gwilym Lee, Michael Gambon e Robert Wieckiwicz.                                            

terça-feira, 4 de setembro de 2018


O drama norte-americano “CHAPPAQUIDDICK”, 2017, direção de John Curran e roteiro de Andrew Logan, revela os bastidores do rumoroso caso envolvendo o então senador Ted Kennedy no final dos anos 60. No dia 18 de julho de 1969, Ted estava reunido com a equipe de assessores em sua casa na Ilha de Chappaquiddick. O objetivo era combinar estratégias e iniciar o planejamento para sua candidatura à presidência dos EUA em 1972. Enquanto seu pessoal comemorava o início da campanha, Ted aproveitou um dos intervalos para dar um “passeio” de carro com a assessora Mary Jo Kopecane  - aparentemente sua amante, o que o filme não entrega. No caminho, Ted perde a direção e o carro despenca no rio, matando a moça. Segundo foi apurado posteriormente pela polícia, Ted demorou horas para comunicar o acidente, colocando em dúvida sua afirmação de que tentara salvar Mary Jo. É claro que o caso virou manchete no mundo inteiro, aniquilando sua carreira política e as pretensões de concorrer às eleições presidenciais de 1972. O filme destaca os esforços dos assessores em lidar com a tragédia, tentando aliviar a barra do irmão mais novo de John Kennedy. Aliás, naquele ano, o único vivo dos quatro irmãos. Outro destaque é dado ao relacionamento de Ted com o patriarca Joseph Kennedy, já muito velho e doente. Fica claro que Ted nunca foi o mais querido dos irmãos. Pelo contrário, era tratado pelo pai como o ovelha negra da família. O elenco é muito bom: Jason Clarke (Ted), Kate Mara (Mary Jo), Ed Helms (Joe Gargan, principal assessor), Bruce Dern (Joseph Kennedy) e Clancy Brown (Robert McNamara). O filme estreou nos Estados Unidos no dia 6 de abril de 2018 e ainda não tem data para ser exibido por aqui.                                           

domingo, 2 de setembro de 2018



“TEMPESTADE DE AREIA” (“SUFAT CHOL”), 2016, Israel, é um drama ambientado num vilarejo de beduínos muçulmanos ao sul de Israel. Ali vive uma comunidade árabe das mais retrógradas e machistas. A história é centrada em Jalila (Ruba Blal), uma mulher forte, batalhadora e autoritária, mãe de quatro meninas, a mais velha Layla (Lamis Ammar). O filme começa e lá está Jalila organizando a festa de casamento do seu marido Suliman (Hitham Omari) com uma segunda esposa, muito mais jovem. Não bastasse esse tipo de humilhação, Jalila descobre que Layla gosta de um jovem palestino e fará de tudo para impedir esse namoro. Enquanto isso, Suliman arranja um marido para Layla – como em quase todos os países árabes, é tradição o pai escolher o marido para a filha e obrigá-la a casar, mesmo que ela não queira. Mais uma prova da cultura machista desses países é o banimento de Jalila da casa onde mora, indo viver com os pais, num tipo de exílio. Coisas do mundo árabe. O filme foi escrito e dirigido pela diretora israelense Elite Zexer, mais conhecida como autora de curtas e documentários. Este foi o seu primeiro longa-metragem, todo falado em árabe, e se saiu muito bem, pois o filme é ótimo, tanto que recebeu o Grande Prêmio do Júri na categoria “World Cinema Dramatic” do Festival de Sundance (EUA), além de ter sido selecionado para representar Israel na disputa do Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro. Por aqui, foi visto durante a programação da 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2016. Recomendo principalmente por revelar muitos dos costumes e tradições dos povos beduínos. Um filme muito interessante.                                          
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