sexta-feira, 28 de julho de 2023

 

“QUANDO HITLER ROUBOU O COELHO COR-DE-ROSA” (“ALS HITLER DAS ROSA KANICHEN STAHL”), 2020, coprodução Alemanha/Suíça, em cartaz no Prime Vídeo, roteiro e direção da cineasta alemã Caroline Link. Não se espante com o título, na verdade o mesmo do livro de memórias escrito por Judith Keer (1923-2019), lançado em 1971 e que se transformou num clássico da literatura juvenil alemã. Em 1933, Judith tinha 10 anos quando o partido de Hitler ganhou as eleições e começou com as perseguições, incluindo a sua própria família. No filme, ela foi renomeada Anna Kemper (Riva Krymalowski), pertencente a uma família judia cujo pai Arthur (Oliver Masucci) era jornalista e crítico teatral em Berlim. Em suas críticas publicadas nos jornais, Arthur costumava alertar sobre o perigo do nazismo. Ameaçado de prisão, foi obrigado a fugir com a família, sua esposa Dorothea (Carla Juri), Max (Marinus Hohmann) e, claro, Anna. Moraram na Suíça, depois Paris e finalmente Londres. Em todos esses lugares, Arthur dificilmente arrumava trabalho e a família sempre suportou a barreira das línguas e preconceito racial, sem contar as fases em que não tinham dinheiro nem para a comida. Mesmo diante desse contexto, o filme consegue ser sensível, comovente e até bem-humorado, graças, principalmente, à personagem da menina Anna. O filme não chega a ser alegre, mas consegue entreter sem partir para o drama pesado. Recomendo.

 

“OPERAÇÃO HUNT” (“HEON-TEU”), 2022, Coreia do Sul, 2h11m, em cartaz no Prime Vídeo, direção de Lee Jung-Jae, que também assina o roteiro com a colaboração de Jo Jeung-Hee. Mais um excelente exemplar do cinema sul-coreano, que nos últimos anos tem se destacado cada vez mais no cenário mundial. Desta vez, trata-se de um filme político de espionagem baseado em fatos reais ocorridos no final dos anos 70 do século passado. O filme começa com uma tentativa de assassinato do presidente Park Chung-Hee, da Coreia do Sul, durante visita oficial aos Estados Unidos. Houve a desconfiança de que um agente da Coreia do Norte teria se infiltrado nos serviços de segurança da Coreia do Sul e estava vazando informações. Park Pyong-Ho (Lee Jung-Jae) e Kim Jeong-Do (Jung Woo-Sung), ambos funcionários do alto escalão da Agência Central de Inteligência sul-coreana (HCIA), foram encarregados de investigar, identificar e prender o espião. Também havia muita gente interessada em prejudicar a reunificação das duas Coreias, um dos objetivos diplomáticos que havia na época. Só que até chegar perto da verdade, e a quem interessa a conspiração, muita água vai rolar, incluindo assassinatos, torturas físicas, tiroteios, explosões e reviravoltas, enfim, muita ação do começo ao fim. Verdade que o telespectador, como eu tive, terá alguma dificuldade em identificar quem é quem e, principalmente, o que está acontecendo. Ou seja, o roteiro poderia ser mais fácil, mas esse aspecto não prejudica o resultado final, que é muito bom. As cenas de ação, principalmente, são excelentes. Méritos totais ao roteirista, diretor e ator Lee Jung-Jae (da série “Round 6”). Exibido fora de competição no Festival de Cannes 2022, “Operação Hunt” foi muito elogiado pela crítica especializada, comprovando que o cinema sul-coreano está cada vez melhor. Resumo da ópera: trata-se de um thriller de espionagem da melhor qualidade.

segunda-feira, 24 de julho de 2023

 

“A BALEIA” (“THE WHALE”), 2022, Estados Unidos, 1h57m, disponível para alugar no Prime Vídeo, direção de Darren Aronofsky (“Cisne Negro”), seguindo roteiro assinado por Samuel D. Hunter. O filme é uma adaptação para o cinema da peça de teatro “The Whale”, escrita pelo próprio roteirista. Trata-se de um drama psicológico cujo personagem central é o professor Charlie (Brendan Fraser), um gordo mórbido de quase 300 quilos que vive recluso e dá suas aulas de inglês on-line (por vergonha de seu corpo, ele mantém a webcam desligada). Aos poucos a gente acaba conhecendo sua história, a separação da mulher e da filha e o suicídio do amante, situações que o levaram a sofrer de transtorno de compulsão alimentar. Durante as visitas constantes da filha Ellie (Sadie Sink), da ex-mulher Mary (Samantha Morton), da vizinha e enfermeira Liz (Hong Chau) e de Thomas (Ty Simpkins), catequista de uma igreja evangélica, o roteiro constrói diálogos fortes, inteligentes e sarcásticos, durante os quais Charlie mostra arrependimento com relação às suas ações e sua vontade de reconstruir o passado. Tarefa difícil, já que os visitantes demonstram pouca paciência com o estado de saúde e a figura grotesca – para não dizer nojenta - que Charlie se transformou. Acompanhamos o cotidiano de uma pessoa cujo tempo de vida é cada vez menor. Charlie tem consciência disso, mas continua comendo suas três pizzas diárias, fora as barras de chocolate etc. e tal... A história é muito triste, pois apresenta um ser humano sem qualquer perspectiva, nenhuma alegria e completamente entregue a uma doença que logo o levará à morte. Pior: ele tem plena consciência disso. Esse aspecto me levou a recordar os vários episódios que assisti de “Quilos Mortais”, com o Dr. Younan Nowzaradam, o doutor “Now”. Indicado a três categorias do Oscar 2023, “A Baleia” venceu duas: Melhor Ator (Brendan Fraser) e Melhor Maquiagem (só para se ter uma ideia, Fraser utilizou 130 quilos de próteses durante as filmagens). Não sei se gostei ou não do filme. A única certeza é a de que o personagem principal me sensibilizou bastante.  

domingo, 23 de julho de 2023

 

“KING RICHARD: CRIANDO CAMPEÃS” (“KING RICHARD”), 2021, Estados Unidos, em cartaz na HBO Max Brasil, 2h25m, direção de Reinaldo Marcus Green, seguindo roteiro assinado por Zach Baylin. O personagem principal da história é Richard Williams (Will Smith) e como ele conseguiu transformar duas de suas cinco filhas, Serena e Venus Williams, em duas maravilhosas tenistas, várias vezes campeãs dos torneios do Grand Slam (Australian Open, Roland Garros, Wimbledom e US Open). A história é fascinante, a começar pela obsessão doentia de Richard em transformar Venus (Saniyya Sidney) e Serena (Demi Singleton) em grandes estrelas do tênis mundial. Para tanto, quando elas eram pequenas, Richard estabeleceu um plano de 78 páginas instituindo métodos próprios e nada convencionais, seguindo-o à risca até elas ficarem famosas. Um dos pontos mais controvertidos era a proibição das duas disputarem torneios juvenis, ao contrário da maioria das outras grandes tenistas. Teimoso ao extremo, Richard chegava a contrariar as orientações dos técnicos que contratava, além de não aceitar patrocínios milionários. Enfim, uma história e tanto, valorizada por um roteiro primoroso e pela atuação espetacular de Will Smith. O filme foi indicado a seis categorias do Oscar 2022 (Melhor Filme, Melhor Ator, Melhor Atriz Coadjuvante, Edição, Roteiro Original e Canção Original). Will Smith ganhou a estatueta de Melhor Ator, que quase perde depois de dar aquela famosa bofetada no humorista Chris Rock durante a solenidade de premiação. Também estão no elenco Tony Goldwyn, Jon Bernthal, Dilan McDermott, Liev Schreiber, Susie Abromeit, Judith Chapman e Aunjanue Ellis. Filme obrigatório para quem gosta de tênis e excelente para quem curte histórias de coragem e superação. Filmaço!