sexta-feira, 11 de março de 2022

 

“O BOMBARDEIO” (“SKYGGEN I MIT ØJE”), 2021, Dinamarca, disponível na plataforma Netflix, 1h47m, roteiro e direção de Ole Bornedal. O filme conta a história de mais um episódio pouco conhecido por aqui ocorrido durante a Segunda Guerra Mundial. No início de 1945, o governo inglês propôs a criação da “Operação Cartago”, cujo objetivo era bombardear o edifício utilizado como QG pela Gestapo em Copenhague, capital da Dinamarca. O ataque ficou marcado para o dia 21 de março de 1945. Deu tudo errado, culminando com uma grande tragédia. Depois que uma das aeronaves inglesas caiu nas proximidades da escola católica Institut Jeanne D’Arc, no centro da cidade, os pilotos dos demais aviões, vendo toda aquela fumaça, pensaram que o alvo do ataque era exatamente ali. A escola foi totalmente destruída pelo bombardeio inglês, causando a morte de 120 pessoas, entre as quais 86 crianças, além de mais de 100 feridos. Essa triste história nunca havia sido revelada e agora cai como uma bomba, denunciando um dos erros militares mais fatídicos daquele conflito. Os ingleses não devem ter gostado muito dessa revelação. Para aumentar ainda mais o contexto trágico, o filme, até chegar ao bombardeio, reúne vários subtramas na Copenhague ocupada pelos nazistas, como, por exemplo, a amizade ingênua entre três crianças, sessões de tortura nos porões do QG da Gestapo, um menino que perde a fala ao presenciar a morte de pessoas em um carro bombardeado e uma freira que se apaixona por um colaborador nazista. Tudo isso junto e misturado com competência pelo diretor Ole Bornedal, resultou em um filme ao mesmo tempo devastador e comovente, revelando uma história que ficou escondida no tempo. Imperdível!                    

quinta-feira, 10 de março de 2022

 

“NAQUELE FIM DE SEMANA” (“THE WEEKEND AWAY”), 2021, Estados Unidos, 1h29m, produção original Netflix (estreou na plataforma dia 3 de março de 2022), direção de cineasta australiana Kim Ferrant (“Terra Estranha”), mais conhecida como diretora de documentários. Quem assina o roteiro é Sara Alderson, autora do livro homônimo que inspirou o filme. A história é centrada na norte-americana Beth (Leighton Meester, de “Gossip Girl”), que mora na Inglaterra com o marido Rob (Luke Norris) e o filho pequeno. Ela recebe o convite da sua melhor amiga, Kate (Christina Wolfe), para passar um fim de semana na Croácia, talvez a capital Zagreb (a cidade não é nomeada, uma das inúmeras falhas do roteiro – no livro, a história é ambientada em Lisboa). Kate recebe Beth em um apartamento maravilhoso alugado para o fim de semana. No primeiro dia, elas saem para se divertir em uma casa noturna, onde conhecem dois bonitões. Depois da balada, Kate convida todos para o seu apartamento e, a partir daí, a noitada irá se transformar numa verdadeira tragédia. A começar pelo fato de que os dois sujeitos drogam as moças e roubam seus pertences. E, para piorar a situação, Kate desaparece misteriosamente. Beth se desespera com sumiço da amiga, vai à polícia e é a partir daí que a situação se complica ainda mais. Até o desfecho, muitas revelações e reviravoltas surpreendentes acontecerão. Mesmo assim, o filme não empolga, principalmente porque a história é realmente mirabolante, beirando o inverossímil. Além disso, mais uma chatice: a boa e bela atriz Leighton Meester passa o filme inteiro chorando. Irritante. Completam o elenco Ziad Bakri, Amar Bukvic, Luke Norris, Parth Thakerar, Adrian Pezdirc e Iva Mihalic. Resumo da ópera: prefira o livro.                   

terça-feira, 8 de março de 2022

 

“O VIOLINO DO MEU PAI” (“BABAMIN KEMANI”), 2021, Turquia, disponível na plataforma Netflix, 1h52m, direção da cineasta Andaç Haznedaroglu (“Você Já viu Vagalumes”), seguindo roteiro assinado por Murat Taskent e Palaspandiras. Acho que alguma fábrica de lenços de papel está financiando o cinema turco. É só lembrar dos recentes “Milagre na Cela 7” e “Filhos de Istambul”. Agora acaba de chegar na Netflix “O Violino do Meu Pai”, mais um melodrama para provocar lágrimas. A história começa apresentando um grupo mambembe de músicos tocando ao ar livre em uma praça de Istambul. Quem dança e diverte o público, além de arrecadar as esmolas, é uma garota de 8 anos, Özlem (a estreante Gülizar Nisa Uray), filha do violinista do grupo, Ali Riza (Selim Erdogam). O drama começa quando Ali fica gravemente doente e acaba morrendo, deixando Özlem órfã – a mãe já tinha morrido. Encaminhada à assistência social, a menina teria apenas dois destinos: ou seria internada em um orfanato ou então entregue a alguém da família, no caso o seu tio Mehmet Mahir (Engin Altan Düzyatan), irmão de Ali e um famoso violinista internacional. Mehmet é arrogante e egocêntrico e logo de início descarta ficar com a menina. Sua esposa Suna (a bela Belçim Gilgin) tenta convencê-lo a adotar a sobrinha, uma árdua tarefa. Para não deixar escapar o que acontece depois, prefiro parar a história por aqui e deixar as surpresas escondidas. O filme tem alguns trunfos que o tornam muito agradável de assistir. Primeiro, a atriz mirim Gülizar, uma ruivinha esperta e fofa. Segundo, a ótima trilha sonora, com muita música clássica (Bach, Vivaldi, Satie, Bizet), músicas folclóricas turcas e até um tango, o maravilhoso “Por Una Cabeza”, de Gardel. Também devo destacar as belas imagens aéreas e paisagens urbanas de Istambul. A história é também muito comovente, garantindo um entretenimento para toda a família. Se você gosta de se emocionar, não deixe de ver.                   

segunda-feira, 7 de março de 2022

 

“MINHA VIDA PERFEITA” (“MOJE WSPANIALE ZYCIE”), 2021, Polônia, 1h39m, disponível na Netflix desde o dia 28 de fevereiro de 2022, roteiro e direção de Lukasz Grzegorzek. Esta é, sem dúvida, mais uma pérola do cinema polonês, um drama familiar intenso, ao mesmo tempo bem-humorado e comovente. A história é centrada em Joanna (Agata Buzek), uma mulher de meia-idade que vive numa família bem bagunçada. Tem o marido Witek (Jacek Braciak), dois filhos acomodados, sem falar que o mais velho trouxe a mulher e o filhinho para morar na casa, além da mãe com Alzheimer em estágio avançado, acostumada a palpitar coisas sem nexo e fugir de casa de vez em quando. Quando a família se reúne, seja para o café da manhã, almoço e jantar, o clima sempre fica pesado, com muito bate-boca e algumas ofensas pessoais – já deu pra notar que o título é bastante irônico. Neste cenário, Joanna é obrigada em se desdobrar como esposa, mãe, dona de casa e filha carinhosa, fora o trabalho como professora de inglês em uma escola, do qual seu marido é o diretor. Para compensar o estresse, Joanna mantém um amante, que também é professor na escola. Além disso, gosta de fumar um baseado. Tudo vai bem, mesmo aos trancos e barrancos, até que um dia alguém resolve chantagear Joanna enviando mensagens pelo celular, prometendo contar todos os seus segredos. A coisa fica feia e ela terá que ser muito forte para enfrentar tantos desafios. O filme, que já é excelente, fica melhor ainda com o desempenho primoroso de Agata Buzek, uma das atrizes mais importante do cinema polonês atual. Estranhei e até fiquei surpreso quando li comentários de críticos especializados desfavoráveis ao filme. Pelo contrário, eu achei tão bom que posso recomendá-lo como uma pequena obra-prima do cinema europeu. Imperdível!