Premiado em vários festivais de cinema europeus, o
drama espanhol “A PRÓXIMA PELE” (“La Próxima Piel”), 2016,
produzido pela Netflix, foi escrito e dirigido pela dupla Isaki Lacuesta e Isa
Campo. A história é ambientada num vilarejo ao norte da Catalunha, próximo à
fronteira com a França. Gabriel, um garoto de oito anos de idade, desapareceu misteriosamente
quando brincava nas montanhas. Oito anos depois, sua mãe Ana (Emma Suárez, estrela
do recente “Julieta”, de Almodovar), ao folhear uma revista com fotos de um
abrigo para delinquentes, viu um garoto de 16 anos chamado Leo, que acreditou
ser o seu filho. Resolve, então, adotá-lo, mesmo que tenha sido desaconselhada
pelos seus amigos mais próximos, como o cunhado Enric (Sergí López). O
comportamento estranho do garoto leva a crer que ele não é o menino
desaparecido, mas Ana continua acreditando que sim, numa espécie de cegueira
materna, própria de uma mulher carente e desesperada. Ela até se recusa a fazer exame de DNA. O filme é repleto de suspense,
pois o espectador fica esperando que o garoto, que tem constantes ataques de
fúria e ansiedade, cometa um ato trágico. Não dá para contar mais sem correr o risco de
revelar o desfecho surpreendente. Um drama de primeira que vale a pensa ser
conferido.
quinta-feira, 27 de julho de 2017
terça-feira, 25 de julho de 2017
“SMUKKE
MENNESKER” (“Pessoas Bonitas”, na tradução literal do dinamarquês,
ou “Nothing’s All Bad”, como foi traduzido em países de língua inglesa). Nenhum
desses títulos traduz com exatidão o conteúdo desse polêmico filme dinamarquês
de 2010, escrito e dirigido por Mikkel Munch-Fals. Trata-se de um filme
completamente diferente do que estamos acostumados a assistir. Não é fácil de
digerir, pois explora taras sexuais, prostituição, mutilação, carências
afetivas e outros temas indigestos. Mas, para amenizar, apresenta algumas
pitadas de humor negro. A trama é centrada em quatro personagens, cada qual com
seus problemas psicológicos. Ingeborg (Bodil Jørgensen) é uma senhora que acaba
de ficar viúva e sofre de carência afetiva. Anna (Mille Lehfeldt), sua filha,
alimenta um forte complexo de mutilação depois de ter extirpado um dos seios.
Outro personagem problemático é o cinquentão Anders (Henrik Prip), um
exibicionista sexual cuja tara é se masturbar em público. Seu filho Jonas
(Sebastian Jessen) é um belo jovem que presta qualquer tipo de favor sexual a
quem pagar por ele. De uma forma ou de outra, esses personagens irão se cruzar durante a narrativa, talvez o único fato previsível dessa surpreendente
produção dinamarquesa. Trata-se de um filme que passa longe de qualquer apelo comercial,
tanto é que não foi exibido em nossos cinemas. Mesmo sendo um tanto esquisito,
dá para curtir numa boa.
segunda-feira, 24 de julho de 2017
“A
EXCEÇÃO” (“The Exception”), 2016, Inglaterra,
direção de David Leveaux. Mais uma boa história, desta vez fictícia, ambientada
durante a Segunda Guerra Mundial. O roteiro foi escrito por Simon Burke, inspirado
no romance “The Kaiser’s Last Kiss” (2003), de Alan Judd. Em 1940, temerosos de
que o Kaiser Wilhelm II (Christopher Plummer), na época exilado na Holanda, aceite
um possível convite de Winston Churchill para fixar residência na Inglaterra,
os nazistas enviam o capitão Stefan Brandt (Jai Courtney) para vigiá-lo e, para despistar, cuidar
de sua segurança. Ao mesmo tempo, a Gestapo descobre a existência de um espião
inglês no vilarejo próximo à mansão em que o antigo imperador da Alemanha está
morando com a esposa Hermine (Janet McTeer). Em meio ao suspense criado pela
caçada ao espião, o capitão Brandt acaba se apaixonando por uma das empregadas
do casarão, a jovem e bela judia Mieke de Jong (Lily James). Para o clima de
tensão aumentar ainda mais, Heinrich Himmler (Eddie Marsan), braço direito de
Hitler e chefão das temidas tropas SS, resolve visitar o Kaiser com o objetivo
de convidá-lo a retornar à Alemanha. Uma armadilha, claro. O suspense continua
até o desfecho, transformando esta boa produção inglesa num ótimo
entretenimento. No elenco, destaque para a atuação magistral dos veteranos
Christopher Plummer e Janet McTeer. A jovem atriz Lily James (“Cinderela”)
também está ótima. Para quem gosta de temas ligados à Segunda Grande Guerra, como eu, um
programão!
“A ODISSEIA”
(“L’Odyssée”), 2016, França, 122
minutos, roteiro e direção de Jérôme Salle (“Anthony Zimmer”, “Largo Winch”, “Zulu”).
Trata-se de um filme biográfico do pesquisador, oceanográfico, escritor e
inventor Jacques-Yves Cousteau (1910-1997), que ficou mundialmente famoso ao
percorrer os mares do mundo a bordo do “Calypso”, navio transformado em
laboratório móvel. O filme acompanha a trajetória de Cousteau durante 30 anos,
desde que passou a se dedicar às pesquisas do mundo submarino no final da
década de 40. Alguns de seus documentários, como “Mundo do Silêncio” (1956) e “O
Mundo sem Sol” (1964), foram premiados em importantes festivais de cinema. Sua fama
aumentou ainda mais com a série televisiva “O Mundo Submarino de Jacques
Cousteau”, produzida pela BBC e exibida no mundo inteiro. “A Odisseia” não é só
elogios ao grande pesquisador. Apresenta
um Cousteau (Lambert Wilson) visionário e egocêntrico, autoritário, mulherengo
e perdulário, com dificuldades de relacionamento com a esposa Simone (Audrey
Tatou) e com os filhos gêmeos Philippe (Pierre Niney) e Jean-Michel (Benjamin
Lavernhe). O filme é um dos mais caros já realizados pelo cinema europeu – seu orçamento chegou aos 35 milhões de
euros –, mas certamente foi compensado por resultar numa
produção nada menos do que espetacular. A fotografia é esplendorosa, assim como
os cenários, o roteiro e, principalmente, as filmagens submarinas, além de um
elenco de primeira. Lambert Wilson é um show como Cousteau. Um dos melhores
filmes franceses da década. Não dá para perder!
domingo, 23 de julho de 2017
“A ODISSEIA
DE ALICE” (“Fidelio, L’Odyssée D’Alice”), 2014,
marcou a estreia como roteirista e diretora da atriz francesa Lucie Borleteau.
Uma belíssima estreia, aliás. A história é centrada na engenheira naval Alice
(Ariane Labed), que em suas viagens de trabalho é sempre a única mulher da
tripulação entre dezenas de homens. Ou seja, quando está em serviço nos navios,
ela vive num mundo predominantemente masculino. Apesar disso, ela faz questão
de se igualar aos tripulantes machos, não apenas no trabalho em si, enfrentando
a dura rotina de descer à casa das máquinas e se sujar de óleo e graxa, como
também se vangloriar de ter feito sexo nos cinco continentes. Uma abordagem bastante feminista da diretora ao colocar a personagem Alice em pé de igualdade com a tripulação masculina. A história é
ambientada no cargueiro “Fidelio”, depois que o engenheiro-chefe morre num acidente. Alice assume seu lugar e, ao embarcar, reencontra o capitão
Gaël, um antigo namorado. Os dois voltam a ter um caso e, numa conversa, Alice destaca
um antigo lema dos marinheiros: “O que acontece no mar, fica no mar”. Gaël é
casado e Alice tem um namorado norueguês, Félix (Anders Danielsen Lie). Quando
fica em dúvida entre os dois, ela acaba transando com outro membro da
tripulação, sem remorso ou qualquer pudor. Mas sua consciência começa a pesar e
ela sofrerá com a possibilidade de ficar sem ninguém. Um trabalho fenomenal da competente
e bela atriz grega Ariane Labed, revelada no abominável filme grego "Attenberg", de 2010, e atualmente bastante requisitada pelo cinema
francês. "A Odisseia de Alice" é um daqueles filmes indicados para quem curte cinema de qualidade.
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