sábado, 19 de março de 2016

“O MAJOR” (“MAЙOP”), 2013, Rússia, escrito e dirigido por Yuri Bykov, é um thriller policial forte e tenso, cuja história revela a podridão moral e ética de policiais que querem ver longe a justiça quando a mesma pode atingir um de seus colegas. O chamado corporativismo que a gente conhece muito bem. O major Sergey Sobolev (Denis Shevod) sai em alta velocidade pela estrada depois que o avisam que a esposa entrara em trabalho de parto e estava num hospital. No meio do caminho, ele atropela e mata um garoto, sendo que a única testemunha é a mãe da vítima, Irina Gutorova (Irina Nizina). O atropelador liga para um colega, o policial Pasha (papel do diretor Bykov), e pede ajuda, pois teme ser acusado e preso. A partir daí, os policiais criam estratégias para livrar Sobolev de um processo, o que inclui apagar qualquer vestígio de culpa. O pai e a mãe do garoto querem que a justiça seja feita e, por isso, sofrerão as consequências. O filme é ambientado em qualquer cidade do interior da Rússia, num cenário desolador e gélido de inverno, o que amplifica ainda mais o clima pesado que predomina do começo ao fim. O filme é interessante por ser russo, mas a história não difere de tantas outras que já vimos em outras línguas.            

sexta-feira, 18 de março de 2016

“PAIS E FILHAS” (“Fathers & Daughters”), EUA, 2015, direção do italiano Gabrielle Muccino (“À Procura da Felicidade” e “Sete Vidas”). O elenco é ótimo: Russell Crowe, Amanda Seyfried, Diane Kruger, Aaron Paul, Jane Fonda, Octavia Spencer e Bruce Greenwood. Mas o filme... Trata-se de um drama, praticamente dividido em duas partes. Na primeira, o escritor e vencedor do Prêmio Pulitzer Jake Davis (Crowe) vive um momento difícil após a morte da esposa num acidente. Jake tenta criar a filha Katie (Killie Rogers) de 5 anos, da melhor maneira possível, ao mesmo tempo em que precisa de tempo para escrever mais um livro, pois o dinheiro anda curto. Para piorar, ele começa a sofrer de um tipo de doença neurológica que o faz ter ataques parecidos com quem sofre de epilepsia. A cunhada Elizabeth (Diane Kruger), irmã da falecida, e o cunhado William (Bruce Greenwood), um casal de ricaços, quer a guarda da menina. Essa é uma parte da história. O filme salta vinte anos e aí começa a segunda parte, que acompanha a trajetória de Katie adulta (Amanda Seyfried), seu trabalho como psicóloga de crianças problemáticas, seu vício em sexo e as lembranças do pai, naquela altura do campeonato debaixo de sete palmos. O grandalhão Russel Crowe não combina com o personagem do escritor. Diane Kruger está irreconhecível e as cenas que mostram o romance conturbado de Katie com Cameron (Aaron Paul) são constrangedoras, com diálogos que fariam vergonha a qualquer novelão mexicano... Muccino tentou fazer um filme para arrancar lágrimas, mas nem isso conseguiu.         

segunda-feira, 14 de março de 2016

“TUDO VAI FICAR BEM” (“Every Thing Will be Fine”), 2014, co-produção Alemanha-Canadá e direção do alemão Wim Wenders (“Asas do Desejo”, “Paris, Texas”), é um drama pesado e depressivo. Tudo começa quando o escritor Tomas Eldan (James Franco), em crise existencial e conjugal, se isola nos cafundós gelados do Canadá para tentar recuperar a criatividade perdida. No meio desse processo, ele acidentalmente atropela e mata um garoto que brincava de trenó com o irmão. A tragédia abala não só a mãe do garoto, Kate (Charlotte Gainsbourg), assim como também o escritor, traumatizado e se sentindo culpado pelo atropelamento. A história se desenrola por mais 11 anos, período em que Eldan se separa da primeira esposa, Sara (Rachel McAdams), e já está com a segunda, Ann (Maria-Josée Croze). Acontece que depois do acidente fatal, Eldan volta a ser criativo e consegue emplacar vários livros de sucesso, recebendo prêmios e elogios dos críticos literários. Ficou rico. Quando tudo parece ir às mil maravilhas, surge no cenário um rapaz de 16 anos chamado Christopher, que nada mais é do que o irmão do menino atropelado por Eldan há 11 anos. O garoto é fã incondicional de Eldan, do qual já leu todos os livros. O escritor terá de se confrontar com Christopher e com o trauma que parecia ter esquecido. Um certo suspense predomina na parte final do filme, cujo desfecho só pode ser explicado por algum psicólogo. O filme teve a sua exibição de estreia, fora de competição, no Festival de Berlim/2015. Confesso que nunca fui muito fã de Wenders, e se depender deste último filme, continuarei não sendo.   
O gênero policial nunca teve grande destaque na vasta filmografia do veterano diretor francês Claude Lelouch (“Um Homem, Uma Mulher”, “Retratos da Vida”, “Os Miseráveis”). Em 2007, porém, Lelouch escreveu e dirigiu um ótimo filme policial: “CRIMES DE AUTOR” (“Roman de Gare”). A trama é inteligente, bem elaborada, com doses de suspense e humor na medida certa, com direito a uma reviravolta bastante surpreendente no final. O enredo reúne uma escritora de sucesso, Judith Ralitzer (Fanny Ardant), um repórter “ghost-writer”, Pierre Laclos (Dominique Pinon), e uma cabeleireira estressada e neurótica, Huguette (Audrey Dana), abandonada pelo noivo num posto de estrada. Lelouche teve o mérito de desenvolver a história até o seu desfecho com poucos personagens e criando situações que se desenrolam num clima que garante o suspense até o final. Outro mérito de Lelouch diz respeito ao elenco, encabeçado pela diva Fanny Ardant, ainda no auge da beleza. O desempenho hilariante da atriz Audrey Dana (hoje também diretora) é outro destaque, assim como a atuação de Dominique Pinon, ator-fetiche daqueles filmes esquisitos do diretor Jean-Pierre Jeunet. Quando estreou no Festival de Cannes, o filme não foi muito bem recebido pela Crítica. Mas eu recomendo, pois é criativo e muito interessante, além de ter a assinatura de um grande diretor.