sábado, 18 de outubro de 2014

“RIO SEX COMEDY”, 2010, é uma co-produção França/Brasil idealizada pelo diretor Jonathan Nossiter com o objetivo de retratar a cidade do Rio de Janeiro por três ângulos diferentes: a obsessão dos cariocas pelo corpo (cirurgias plásticas), a vida nas favelas (criminalidade) e a relação entre domésticas e patrões (desigualdade social). A ideia poderia originar um filme interessante, mas resultou num retrato politicamente incorreto da Cidade Maravilhosa, que virou uma casa da Maria Joana, com muita nudez e baixaria generalizada, incluindo índios, traficantes e prostitutas como se fizessem parte obrigatória do cotidiano da cidade. Não deixa de ser também um chamariz para o turismo sexual. O filme, na verdade, parece uma pornochanchada multinacional do mais baixo nível. Custa acreditar que atores do nível de Bill Pullman, Charlotte Rampling e Irène Jacob, entre outros, tenham participado dessa verdadeira bomba a nível atômico. Provavelmente tenham ficado bastante constrangidos com o resultado final. O diretor norte-americano Jonathan Nossiter é casado com uma brasileira e mora no Rio de Janeiro há vários anos. Merecia ser extraditado...       
“THE SILENT MOUNTAIN” (ainda sem tradução por aqui), é uma co-produção EUA/Áustria/Itália de 2013, direção de Ernst Gossner. Trata-se de um drama romântico que tem como pano de fundo a 1ª Guerra Mundial e, em particular, o conflito entre Itália e Áustria. O ano é 1915. Andreas (William Mosely) e Francesca (Eugenia Constantini) se conhecem e se apaixonam durante a festa de casamento dos respectivos irmãos. Do lado da noiva e de Andreas, a família Gruber, austríaca. Do lado do noivo, a família italiana Calzolari. O cenário da festa é um hotel de luxo pertencente à família Gruber, localizado nas proximidades da fronteira com a Itália. Durante as comemorações, alguém interrompe a música e anuncia que a Itália declarou guerra à Áustria. Pronto, acabou a festa. Os italianos (chamados de woich pelos austríacos) são praticamente expulsos do casamento, incluindo o noivo, e fogem apressadamente de volta à Itália. Francesca decide ficar, pois em seu país seria enviada para um severo colégio de freiras. Andreas a esconde num quarto isolado do hotel com a promessa de ficarem juntos para sempre. Só que Andreas é convocado para a guerra e o casal se separa. A partir daí, o filme se concentra nos combates ocorridos nas Montanhas Dolomitas (Alpes), na região fronteiriça com a Itália, onde está o batalhão de Andreas. Enquanto espera pela volta de Andreas, Francesca é descoberta e sofrerá nas mãos dos austríacos. Sua salvação depende do retorno de Andreas. O filme inteiro é levado em clima de novelão e nem mesmo as cenas de guerra conseguem deixá-lo interessante. Como curiosidade, vale citar a (pequena) participação da musa Cláudia Cardinale (quem diria!) no papel de avó.            

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

O drama espanhol “ESCORPIÃO APAIXONADO” (“Alacrán Enamorado”), 2013, direção de Santiago A. Zannou, conta a história do jovem Julián López (Álex Gonzalez), um lutador de boxe amador que integra, nas horas vagas, um grupo de neonazistas. Ele sai à noite com seus companheiros  espancando imigrantes e destruindo suas lojas. O grupo tem como mentor um grande e poderoso empresário chamado Solís (Javier Bardem). Ao saber das atividades criminosas de Julián, seu treinador, Carlo Monte (Carlos Bardem, irmão de Javier), o expulsa da academia.  Mas Julián tem o sonho de ser um boxeador profissional e, para isso, deixa de lado o grupo de neonazistas, ganhando a confiança de Carlo Monte. Em sua volta aos treinos, Julián se apaixona por Alyssa (Judith Diakhate), imigrante latina que trabalha como recepcionista na academia, o que vai deixar seus amigos racistas ainda mais raivosos, pois ela é negra. O filme é bastante violento e não economiza porrada, dentro e fora do ringue. As agressões aos imigrantes são um tanto realistas demais e podem chocar quem tem o estómago fraco. Apesar disso, o filme conta uma boa história com ação e romance, conta com um bom elenco e ainda com o aval da presença de Javier Bardem, ator que não faria qualquer porcaria. Funciona muito bem como entretenimento e também como filme-denúncia de como certos países europeus tratam os imigrantes. Enfim, uma boa surpresa espanhola.          

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Há que curta filmes de curta-metragem. Para esse público, recomendo “TOQUE DE RECOLHER” (“Curfew), 2012, EUA, 19 minutos, vencedor do Oscar 2013 de Melhor Curta-Metragem. Shawn Christensen, ex-vocalista da banda de rock “Stellastarr”, assina o roteiro, a direção e ainda faz o papel principal dessa história bastante interessante, engraçada e criativa. Ele é Richie, um drogado fracassado que aparece, logo no início do filme, tentando se matar. Quando se preparava para cortar o pulso direito, toca o telefone e é sua irmã Maggie (Kim Allen), pedindo que ele cuide de sua sobrinha Sophia (Fatima Ptacek), de 9 anos, por algumas horas. Richie atende o pedido da irmã e vai passear com Sophia, uma menina muita esperta e simpática. Os diálogos entre o tio e sobrinha garantem momentos sensíveis e de muito humor. Uma ótima opção de entretenimento rápido para quem não tem paciência de ficar duas horas em frente à telinha. 
“A ETERNIDADE E UM DIA” (“Mia Aioniotita Ke Mia Mera”), 1997, co-produção França/Itália/Grécia, é um daqueles filmes com o carimbo “Cinema de Arte”. É lento e contemplativo demais, triste e melancólico, as cenas se arrastam, parecendo tornar ainda mais longos os seus 137 minutos de duração. A história é centrada no escritor Alexander (o ator Bruno Ganz, que atuou falando alemão e foi dublado em grego), que está gravemente enfermo e tem pouco tempo de vida. Ao separar seus objetos pessoais, ele encontra uma carta escrita por sua falecida esposa Anna (Isabella Renauld) há 30 anos. O texto da carta faz com que Alexander reative suas lembranças, voltando no tempo, revendo situações como as reuniões em família e sua relação apaixonada com Anna. Em meio a essas recordações (mostradas em flashbacks), Alexander conhece um menino albanês que se perdeu da família e quer voltar para a Albânia. Esta e outras situações permeiam pelo filme, como a destacada menção a Dionysios Solomos, o maior poeta romântico grego. O filme, dirigido por Theo Angelopoulos (“Um Olhar a Cada Dia”, “Paisagem na Neblina”), foi o vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes 1998.  O filme é visualmente muito bonito e tem uma ótima trilha sonora (composta por Eleni Karaindrou).   

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

“A QUALQUER PREÇO” (“A Civil Action”), lançado nos EUA em 1998, foi um dos vários filmes daquela década que exploraram ações jurídicas indenizatórias contra crimes ambientais. A história dessa produção dirigida por Steven Zaillian é inspirada em fatos reais que aconteceram nos anos 80. Oito mortes de crianças com leucemia aconteceram na cidade de Woburn (Massachusetts), ocasionadas - desconfiava-se – pela contaminação da água. Jan Schlichtmann (John Travolta), um arrogante advogado de Boston, assume o caso e ingressa com ação indenizatória contra duas grandes corporações. O filme mostra toda essa disputa judicial, incluindo as reuniões dos advogados das partes e seções no tribunal. No desfecho, a mensagem é bastante clara: a ética é tão importante quanto a observância das leis. O elenco é muito bom. Além de Travolta, estão Robert Duvall (indicado ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante por esse filme), John Lithgow, William H. Macy, Bruce Norris, Kathleen Quinlan e James Gandolfini ("Família Soprano"), além de uma ponta do diretor Sydney Pollack.                                                      

terça-feira, 14 de outubro de 2014

Podem falar que Steven Seagal é um péssimo ator e que seus filmes são medíocres. Pura verdade. Mas uma coisa não se pode negar: pancadaria e ossos quebrados jamais faltarão. Filme com Seagal é sinônimo de muito bandido espancado, o que dá um certo prazer de ver. Neste “CONFRONTO FINAL” (“A Good Man”), 2012, recentemente lançado em DVD, Seagal está mais canastrão do que nunca. Ainda mais que resolveu adotar um cabelo pintado de preto grudado e bem rente ao couro cabeludo, lembrando um boneco de ventríloquo. Fora a voz de paciente entubado. Começa o filme e lá está ele no papel de Alexander, um agente especial das forças especiais dos EUA, numa missão para prender um traficante de armas chinês. A missão fracassa e Alexander resolve abandonar a carreira de agente especial. A história dá um salto de dois anos e ele aparece trabalhando como um faz-tudo (zelador) – não é demais? - num prédio de alguma cidade da Europa Oriental, talvez Bucareste (Romênia). Uma das moradoras do prédio, vizinha de Alexander, é Lena (Iulia Verdes), com a qual nosso herói fará amizade. Só que Lena tem um irmão, Sasha (Victor Webster), envolvido com um mafioso russo por causa de uma dívida herdada do pai.  Quando o perigo chega perto de Lena, Alexander resolve agir para proteger a moça. E desta vez ele utiliza até uma espada de samurai. Sangue e porrada por todo lado. Grande Seagal!                                                      
Hollywood que me desculpe, mas a França está produzindo filmes policiais bem melhores. Isso há anos. Verdade que não há tantos tiros, pancadarias e perseguições, mas as histórias, os personagens e até mesmo os atores são mais convincentes. Mesmo que apele para um roteiro fantasioso e surreal como em “A OUTRA VIDA DE RICHARD KEMP” (“L’Outre Vie de Richard Kemp”), 2013, o resultado fica bem acima da média no gênero. A história é ambientada em 2009 e centrada no capitão de polícia Richard Kemp (Jean-Hugues Anglade), encarregado de investigar a morte de uma jovem. Na noite em que retorna ao local do crime, Kemp é empurrado de uma ponte e cai na água. Quando sai da água e retorna a terra firme, Kemp nota que houve uma mudança incrível. O tempo voltou 20 anos e ele se vê como o policial novato que investiga crimes cometidos por um serial killer apelidado de “Fura-tímpanos”. Nesse retorno de duas décadas, Kemp volta a encontrar a psicóloga forense Hélène Batistelli (Mélanie Thierry), com quem começou um romance na atualidade, ou seja, vinte anos depois. Complicado? Nem tanto, pois o diretor Germinal Alvarez faz uma convincente transposição de épocas, incluindo a aparência dos atores principais. Você acaba nem ligando para o absurdo da situação. E tem Anglade, um dos melhores atores franceses da atualidade. Ótimo entretenimento!

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

No começo do filme, um bicho de caracol é mostrado deslizando lentamente. Parece anunciar o ritmo em que vai se arrastar por quase duas horas o drama inglês “VENTRE” (“Womb”), 2010. Não é só pelo seu nome ou por sua lentidão que o filme incomoda.  Mas também por abordar temas desconfortáveis como clonagem humana e incesto. Ambientado em alguma parte do litoral da Inglaterra (não há menção do local), o filme é centrado na amizade de duas crianças, Rebecca e Thomas. Um dia, porém, a mãe de Rebecca consegue um emprego no Japão. Dessa forma, Rebecca se separa de Thomas. Doze anos se passam e Rebecca (Eva Green) volta do Japão e procura por Thomas (Matt Smith), agora homem feito. Percebe-se que a conduta de Rebecca não é muito normal. Fica claro que ela está obcecada por Thomas. Alguns dias depois do reencontro, ele e Rebecca estão viajando quando acontece um acidente fatal. Thomas morre atropelado. Através do DNA do falecido, Rebecca consegue fazer uma inseminação artificial e dá à luz a um clone de Thomas. A partir daí, durante as várias fases de crescimento do garoto, o diretor dinamarquês Benedek Fliegauf reforça a insinuação de incesto em inúmeras cenas, principalmente por parte de Rebecca, já que Thomas não sabe que é um clone. Claro que a situação vai piorar quando Thomas torna-se adulto. O ator Matt Smith, com cara de psicopata abobado, também é outro fator de desconforto para o espectador. Ainda bem que pelo menos dá para curtir a beleza da atriz francesa Eva Green. Nem mesmo fazendo papel de uma mulher desequilibrada ela consegue ser feia. Talvez o único ponto positivo desse drama pra lá de pesado.   

domingo, 12 de outubro de 2014

Antes de ficar mundialmente famoso ao conquistar o Oscar de Melhor Ator por “O Artista”, em 2012, Jean Dujardin já era bastante conhecido no cinema francês. Em 2007, por exemplo, ele foi o protagonista principal de “CONTRA-INVESTIGAÇÃO” (“Contre-Enquete”), dirigido por Frankc Mancuso. Ele faz o capitão de polícia Richard Malinowski, cuja filha Emilie (Alexandra Gonçalves), de 9 anos, é estuprada e assassinada por um maníaco sexual. A polícia dá prioridade ao caso e pouco depois é preso Daniel Eckmann (Laurent Lucas), que confessa o crime, é julgado e condenado a 30 anos. Da prisão, Eckmann escreve várias cartas a Malinowski dizendo que é inocente. Malinowski começa a desconfiar que Eckmann pode ser inocente, ainda mais que outro psicopata é preso e confessa o assassinato de quatro crianças da mesma forma como Emilie foi morta. Diante desse fato, o advogado de Eckmann consegue promover um novo julgamento. A dúvida persiste para Malinowski, que continua a investigação por conta própria. A história é baseada num conto do escritor norte-americano Lawrence Block, que Mancuso, um ex-policial, adaptou para o cinema. Mancuso, aliás, deixou a carreira policial para ser roteirista e este é o seu primeiro filme como diretor. Funciona como suspense psicológico, ainda mais pelo desfecho surpreendente e inesperado.
“MESMO SE NADA DER CERTO” (“Begin Again”), 2014, é um filme musical, não daqueles tradicionais, onde os protagonistas começam a cantar no meio de um diálogo ou de repente todo mundo sai dançando. Este é musical porque tem muita música, a história gira em torno da música e até há uma homenagem a algumas músicas antigas. Ou seja, quem não gosta de um filme com muita cantoria vai detestar. O mais certo é dizer que é uma comédia romântica musical. Gretta (Keira Knightley) leva um fora do namorado, Dave (Adam Levine), um roqueiro de sucesso. Gretta é compositora e, nas horas vagas, cantora. Levada por um amigo para cantar num barzinho, Gretta é ouvida por um produtor musical desempregado e alcoólatra, Dan (Mark Ruffalo). Ele se convence do talento da moça e propõe a ela a gravação de um CD ao ar livre, ou seja, nas ruas, praças e parques de Nova Iorque. Para isso, utiliza alguns músicos amadores, incluindo sua filha guitarrista Violet (Hailee Steinfeld). O filme tem algumas cenas muito interessantes, como aquela em que Dan imagina um arranjo especial para a música que Gretta está cantando num bar. Os instrumentos ganham animação, causando um efeito visual bastante criativo. O filme acerta também ao apostar no carisma e na simpatia da dupla Keira Knightley e Mark Ruffalo, embora como cantora ela seja uma ótima atriz. O diretor John Carney é o mesmo de “Apenas uma Vez”(2006), outro filme romântico tendo a música como tema central. Também estão no elenco Catherine Keener, Ceelo Green e James Corden, entre outros.     
Apesar da idade (62), o ator irlandês Liam Neeson ainda tem encontrado bons papeis em filmes de ação, como os recentes “Sem Escalas”, “A Perseguição” e “Busca Implacável 1 e 2. Ele também não nega fogo em “CAÇADA MORTAL” (“A Walk Among the Tombstones”), 2014, um suspense policial baseado num livro de Lawrence Block (um dos melhores autores policiais da atualidade). Nisson é o investigador particular Matt Scudder, que trabalha sem licença e, portanto, à margem da lei. Ele é contratado por Kenny Kristo (Boyd Holbrook), um traficante de heroína, para descobrir quem matou e esquartejou sua mulher, mesmo depois do resgate ter sido pago. Em meio às investigações, Scudder participa de sessões de terapia para se livrar do vício do álcool e faz amizade, um tanto forçada, com um garoto morador de rua, TJ (Brian Bradley), prestes a cair na delinquência. De repente, surge mais um caso semelhante de sequestro envolvendo, desta vez, a filha de outro traficante, e com mais um pedido de resgate. Scudder assume também esse caso. Os atos dos criminosos são mostrados em flashbacks e as suspeitas recaem sobre dois ex-integrantes do DEA (departamento anti-drogas dos EUA). O diretor Scott Frank tem uma trajetória de mais qualidade como roteirista (“Wolverine – Imortal”, “Minority Report” e “Marley & Eu”, entre outros). O filme não tem muita ação e o suspense é fraco, Neeson está apático e a história se arrasta um pouco demais. Se puder, prefira o livro.