sábado, 3 de janeiro de 2015

“ARMÊNIA” (“Le Voyage en Arménie”), 2006, França, direção de Robert Guédiguian, é uma tocante e muito interessante homenagem ao pequeno país que até pouco tempo atrás era uma república soviética. A história é centrada em Anna (a ótima Ariane Ascaride), uma médica que mora em Marselha com o marido Pierre (Jean-Pierre Darroussin) e a filha Jeanette (Madeleine Guédiguian). Ela descobre que seu pai Barsam (Marcel Bluwal) tem um grave problema de coração e precisa ser operado. Só que Barsam, depois de saber do diagnóstico, resolve viajar para sua Armênia natal - uma viagem de despedida? Anna vai atrás dele, sem saber exatamente onde ele está. Nessa busca, Anna conhecerá personagens bastante interessantes, como um herói da guerra da independência, Yervanth (Gérard Meylan), e a jovem Schaké (Chorik Griogorian), além de Manouk (Romik Avinian), um senhor que se apresenta voluntariamente para levá-la de carro – caindo aos pedaços – para vários lugares. Ao longo de sua busca pelo pai, Anna – assim como o espectador - vai conhecer um pouco da história, das tradições e dos valores culturais da Armênia, como também verificar in loco como os armênios vivem nos dias de hoje. Pouca gente sabe, mas a Armênia foi a primeira nação do mundo a adotar o cristianismo, no ano de 301 dC. Ou o fato de que o Monte Ararat é o símbolo maior do país, mas que, para tristeza dos armênios, pertence hoje à Turquia. À parte esse contexto, vamos dizer, histórico, o filme é bastante leve, agradável, bem humorado e, sem exagero, irresistível. Não perca! 

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Apesar de dramático ao extremo, “ESTRANGEIRA” (“Die Fremde”), 2010, é um ótimo filme alemão. Aliás, foi o candidado da Alemanha ao Prêmio de Melhor Filme Estrangeiro no Oscar 2011. A história mostra a jovem Umay (Sibel Kebilli), de 25 anos, vivendo em Istambul com o marido Kemal (Ufuk Bayraktar) e o filho Cem (Nizam Schiller), de 3 anos. Cansada do marido violento, Umay foge com o filho para a Alemanha, onde vive sua família – pais e três irmãos. Ela imaginava encontrar conforto e carinho na casa dos pais e junto aos irmãos. Ledo engano! Por ter abandonado o marido, Umay é tratada como se fosse uma prostituta. Se era espancada pelo marido em Istambul, agora é maltratada pelos pais e pelos irmãos, com direito a apanhar também. Ela foge pela segunda vez e vai parar numa espécie de abrigo para mães solteiras e vítimas de violência doméstica. Apesar de tudo o que aconteceu, Umay ainda vai tentar se reaproximar da família, o que será um grande erro com consequências trágicas. Dirigido pela austríaca Feo Aladag, o filme tem o mérito de denunciar o absurdo tratamento que é destinado às mulheres no mundo árabe, onde os valores culturais admitem até o marido bater na mulher. Numa das conversas que tem com o pai, Umay justifica sua fuga dizendo que não aguentava mais a violência de Kemal. O pai responde: “E daí, ele é seu marido. Ele tem esse direito. Além do mais, um tapinha de vez em quando não faz mal”. Haja Lei Maria da Penha... O desempenho espetacular da atriz alemã de origem turca Sibel Kebilli valoriza ainda mais esse ótimo drama alemão.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

“O LIBERTADOR” (“Libertador”) é uma coprodução Venezuela/Espanha de 2013, direção de Alberto Arvelo. Trata-se de uma superprodução (orçada em mais de US$ 50 milhões) que conta a história da trajetória do líder político e militar venezuelano Simón Bolívar (Edgar Ramirez), que lutou contra o imperialismo espanhol e foi responsável pela independência de Venezuela, Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Panamá. Simon era um rico latifundiário que costumava ir para Paris curtir férias e fazer negócios. É na capital francesa que ele conhece María Teresa (Maria Valverde), que seria sua primeira mulher. Só que o casamento não dura muito, pois María Teresa contrai malária e acaba morrendo. Desconsolado, ele retorna a Paris, onde reencontra um antigo professor venezuelano, que o convence a voltar para a Venezuela e começar uma revolução. A partir daí, o filme mostra os eventos que transformaram Bolívar no maior herói americano, o “Libertador da América”. As cenas das batalhas são muito bem feitas e comprovam que não houve economia com locações, figurantes ou indumentária da época. E também com o bom elenco, que ainda conta com Danny Huston, Erick Wildpret, Juana Acosta, Gary Lewis e Iwan Bheon. Trata-se de um filme bastante interessante que vai agradar, principalmente, os espectadores que curtem cinebiografias de personagens históricos.                                       
Dos filmes que abordaram ou tiveram como pano de fundo o conflito Palestina/Israel, “MIRAL”, França/Israel, 2010, talvez seja o mais esclarecedor. A história, inspirada no romance homônimo escrito pela jornalista Rula Jebreal, começa em 1947, portanto um ano antes da criaç ão do Estado de Israel. O enredo acompanha a trajetória de três gerações de mulheres, começando com Hind Husseini (Hiam Abbass), que naquele ano criou em Jerusalém o Instituto Dar Al-Tifel, destinado a acolher e educar crianças palestinas refugiadas e órfãs, e terminando com Miral (Freida Pinto). Paralelamente à história dessas mulheres, o filme destaca, de forma didática, os fatos que contribuíram para a radicalização do conflito. Embora o diretor norte-americano Julian Schnabel (“O Escafandro e a Borboleta” e “Basquiat”) tenha descendência judaica, o filme é claramente a favor da causa dos palestinos – criação de um estado independente -, e não economiza críticas aos israelenses, considerados os grandes vilões da história. Quando o filme estreou, em 2010, no Festival de Veneza, provocou enorme polêmica. Logo depois, foi exibido numa sessão especial na Assembleia Geral das Nações Unidas, sob protestos de Israel e do Comitê Judaico Americano. Polêmicas à parte, o filme é muito bom e merece ser visto por quem curte cinema de qualidade e gosta de estar bem informado sobre os fatos da história contemporânea.    

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Quando as luzes se acenderam ao final da exibição do drama alemão “NADA DE MAL PODE ACONTECER” (“Tore Tanzt”), direção de Katrin Gesse, durante a 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2014, a plateia – os que ficaram, pois muitos foram embora na metade - estava completamente em silêncio. Na verdade, chocada, pois o filme é angustiante, desagradável demais. É repleto de cenas envolvendo violência, tortura física e psicológica, sodomia e maus tratos a animais. A história é centrada no jovem Tore (Julius Feldmeier), pertencente aos Fanáticos de Jesus (The Jesus Freaks), um movimento punk cristão que existiu na cidade de Hamburgo. Tore não tem família e mora num abrigo juntamente com outros integrantes do grupo. Um dia, no estacionamento de um posto de gasolina, ele vê um motorista que não consegue fazer pegar o motor do seu carro. Tore vai até o veículo, fecha o capô e faz uma oração. O carro pega na hora. Tore, em seu fanatistmo religioso, acredita que é abençoado por Deus, quem sabe até o novo Messias. Benno (Sascha Alexander Gersak), o motorista do carro, convida Tore para morar com sua família – mulher, uma filha adolescente e um garoto de uns 5 anos. Benno, porém, é a maldade em pessoa, violento, um verdadeiro demônio. Ele assedia sexualmente a jovem enteada e encontra em Tore um bom saco de pancadas. Percebendo os instintos animalescos de Benno, Tore resolve testar sua fé colocando em prática dois dos principais ensinamentos de Cristo: oferecer a outra face e perdoar sempre. Segundo ele crê, com Jesus no coração nada de mal pode acontecer. Saber que a história é baseada em fatos reais talvez seja mais chocante do que o próprio filme.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

O fantasma do Alzheimer assombra milhões de famílias no munto inteiro. Só quem teve um parente ou alguém próximo atingido pela doença sabe de suas consequências - dor, sofrimento e desesperança. No filme “PARA SEMPRE ALICE” (“Still Alice”), EUA, 2014, direção de Richard Glatzer, o espectador terá a oportunidade de acompanhar o declínio mental da dra. Alice Howland (Juliane Moore), conceituada professora de Linguística que passa a sofrer de um tipo raro de Alzheimer. Lidar com a doença e com a doente não é tarefa das mais fáceis para o marido John (Alec Baldwin) e os três filhos Ana (Kate Bosworth), Lydia (Kristen Stewart) e Tom (Hunter Parrish). Para aumentar ainda mais o drama familiar, um teste revela que um dos filhos tem 100% de chance de também ser atingido pela doença no futuro. A história, baseada no best-seller da neurocientista Lisa Genova, é muito triste, principalmente quando acompanha os esforços de Alice para não sucumbir às armadilhas do Alzheimer. Toda hora Alice se pergunta até quando será a mesma. “Será que amanhã eu acordarei sendo a mesma Alice?”. Um dos momentos mais tocantes do filme é quando Alice ministra uma palestra sobre a doença, durante a qual revela como tenta conviver com a crescente perda da memória. Juliane mostra a competência de sempre, atuando com a carga de emoção que o papel exige. Kristen Stewart, a mocinha da Saga Crespúsculo, é outro destaque do elenco. Um filme para refletir e se emocionar.                      
Um filme com emoção, delicadeza e muita sensibilidade. Assim pode ser definido o drama inglês “NA CADÊNCIA DO AMOR” (“Lilting”), 2013, dirigido pelo cambojano Hong Khaou. O cenário é Londres. Depois da morte trágica de seu namorado Kai (Andre Leung), o jovem Richard (o ótimo Ben Whishaw) tenta uma aproximação com a “sogra” Junn (Pei-Pei Cheng), que vive num asilo e nunca soube da relação homossexual do filho. Ela é uma senhora tão teimosa a ponto de não falar inglês depois de muitos anos morando na capital inglesa. No asilo, embora não fale a mesma língua, ela vive um namorico com Alan (Peter Bowles), um senhor bem-humorado que insiste em levá-la para a cama. A história do filme é centrada nos diálogos entre Richard e Junn, por intermédio de uma intérprete, a jovem Vann (Namomi Christie). Richard tem como objetivo cumprir alguns desejos manifestados por Kai, um deles tirar a mãe do asilo. Entre as tentativas de Richard de cair nas graças de Junn e as dificuldades dela na convivência com Alan - o que resulta em bons momentos de humor -, o filme destaca algumas cenas em flashbacks mostrando como era o relacionamento entre o jovem casal gay. O filme estreou no Festival de Sundance 2014, onde conquistou o Prêmio de Melhor Fotografia. Muito pouco para um filme tão original e sensível. Pena que o título dado em nossa tradução seja por demais ridículo para um filme tão bom.           
Considerado como a grande obra-prima do diretor Aleksandr Sokúrov e do próprio cinema russo e mundial, “ARCA RUSSA” ("Russkij Kovcheg"), 2002, realmente é de encher os olhos. O filme é original, criativo e erudito. É  todo filmado numa única tomada (plano-sequência), sem cortes, em seus 97 minutos de duração. Toda a ação se desenvolvendo no interior do Museu Hermitage, em São Petersburgo, antigo palácio dos czares e dono de um acervo inestimável de obras de arte. A câmera percorre os 35 salões do museu na companhia de um aristocrata europeu que funciona como uma espécie de guia. Ele vai denominando as salas, alguns quadros e esculturas, identificando seus autores, enquanto a câmera vai captando os detalhes arquitetônicos dos amplos corredores, peças artísticas e a decoração dos ambientes. Quando a câmera ingressa em alguns salões, o cenário volta no tempo e damos de cara com algumas figuras da maior importância da história russa, como Pedro, o Grande, Catarina, a Grande, Catarina II, a família do Czar Nicolau e a Czarina Aleksandra. Quem tiver paciência e chegar até ao final terá o prazer e o privilégio de assistir à reprodução de um baile da corte do Czar Nicolau II com a participação de 3 mil figurantes, num esmero visual próprio de uma grande obra de arte. Um dos filmes mais importantes do cinema atual. Imperdível!      

domingo, 28 de dezembro de 2014

“FÉRIAS NA GRÉCIA” (“Sune I Grekland”), Suécia, 2012, é uma comédia ao estilo daquela série de filmes intitulada “Férias Frustadas”, com Chevy Chase e Beverly D’Angelo, grande sucesso na década de 80. Neste filme sueco, o chefe de família é o contador Rudolf (Morgan Alling), que todos os anos, nas férias, embarca num trailer com a mulher e os filhos para um lugar chamado Ilha Mosquito. A família não aguenta mais essa rotina. Quando tudo estava pronto para uma nova e entediante viagem, o chefe de Rudolf pede a ele que vá representar o escritório num congresso de contadores na Grécia. Com tudo pago. Rudolf chega em casa e anuncia a novidade, para a alegria da mamãe Karin (Anja Lundkivist) e dos três filhos, principalmente o adolescente Sune (William Ringström), que já imagina grandes aventuras amorosas na Grécia. Só que o chefe de Rudolf resolve ir com a esposa para o tal congresso e cancela a viagem do seu funcionário. Rudolf não quer decepcionar a família e resolve assumir as despesas da viagem, endividando-se completamente. Como em “Férias Frustadas”, a família de Rudolf, incluindo o próprio, se envolve em inúmeras confusões, o que garante situações hilariantes e boas risadas. A história é baseada no livro "Anderssons in Greece", um clássico da literatura infanto-juvenil sueca, escrito por Anders Jacobsson e Sören Olsson. Trata-se de um filme ideal para curtir numa sessão da tarde com a família, pipoca e guaraná. Um bom programa para quem não exige muito.