sábado, 16 de junho de 2018


Produção original da Netflix, “DÍVIDA PERIGOSA” (“The Outsider”) estreou no dia 9 de março de 2018. Como as demais produções assinadas pela Netflix, dificilmente chegará a ser exibida no circuito comercial. É um filme de gângsters, no caso pertencentes à temida máfia japonesa Yakuza da cidade de Osaka. A história é ambientada no início da década de 50, ou seja, logo após a 2ª Guerra Mundial. O personagem central é Nick Lowell (Jared Leto), um oficial do exército norte-americano que está preso numa penitenciária japonesa desde o final da guerra. Na prisão, Nick faz amizade com Kyoshi (Tadanobu Asano), membro da Yakuza, a quem ajuda num plano de fuga. Ao ser libertado, Nick é convidado por Kyoshi a ingressar na organização criminosa e logo cai nas graças do chefão Akihiro (Min Tanaka), causando inveja a outros integrantes da “família”, que o chamam de “gaijin” (estrangeiro). Para ser aceito na organização, Nick é obrigado a passar por alguns testes bastante dolorosos, além de mostrar coragem em várias situações de perigo, uma delas ao namorar a bela Miyu (Shioli Kutsuna), justamente a irmã mais nova de Kyoshi. E, pior, ex-namorada de um membro nada simpático da Yakuza. No meio de toda essa confusão, uma guerra pelo comando de Osaka é declarada entre a “família” de Nick e outra igualmente poderosa. A partir daí, muita violência explícita, tiros e gargantas cortadas. Para quem gosta do gênero, o filme pode agradar em cheio. O ator norte-americano Jared Leto, mais conhecido a partir do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante em 2014 pelo personagem de um travesti em “Clube de Compras Dallas”, passa o filme falando pouco, trabalhando apenas com olhares e tentando dar uma de macho o tempo inteiro, o que não combina muito com sua carinha de bom menino. A despeito das críticas pouco elogiosas, confesso que gostei do filme, achei muito bem feito e com bastante ação. Méritos para o roteirista e diretor dinamarquês Martin Peter Sandvliet, o mesmo do espetacular “Terra de Minas”. Aproveitando a ocasião, termino meu comentário com uma informação bastante interessante. O nome Yakuza foi criado a partir da sequência numérica 8-9-3 (Ya-Ku-Za), considerada a pior do baralho típico japonês, similar ao Blackjack.
                   

quinta-feira, 14 de junho de 2018


Baseado em fatos reais, o drama francês “CARBONE”, 2017, relembra um dos maiores golpes financeiros aplicados na Europa a partir da França, que ficaria famoso como “A Fraude do Século”. Aconteceu entre os anos de 2008 e 2009, quando o empresário francês Antoine Roca (Benoît Magimel), afundado em dívidas e prestes a decretar a falência de sua empresa, teve a ideia de um esquema que lesou a França e a União Europeia em milhões de euros. Antoine, assessorado tecnicamente por seu contador, estabelecia empresas de fachada e, por intermédio delas, comprava créditos de carbono (CO2) de empresas no Exterior com isenção de impostos. Depois, vendiam esses créditos pelo mesmo preço, mas cobrando impostos. Com o lucro garantido, eles providenciavam o imediato fechamento das tais empresas. Tudo isso é muito complicado de entender no filme, mas foi mais ou menos isso que eu consegui captar. Para conseguir dinheiro para colocar em prática seu plano diabólico, Antoine contraiu um grande empréstimo de um poderoso e violento mafioso árabe, Kamel Dafri (Moussa Maaskri). Este seria seu maior erro, além da sociedade que fez com dois irmãos de uma família judia, um deles completamente irresponsável e sempre drogado. Antoine poderia ter obtido um financiamento com seu sogro, o milionário Aron Goldstein (Gérard Depardieu), mas este exigiu em troca ficar com a guarda definitiva do neto, condição negada por Antoine. Em meio a toda essa situação, o filme envereda pelo caminho do suspense policial violento, gênero que o roteirista e diretor Olivier Marchal domina com muita competência, basta lembrar dos ótimos “Não Conte a Ninguém” e “Pacto de Sangue”. Resumo da ópera: “Carbone” é um bom entretenimento, embora exija um grande esforço por parte dos neurônios. E mais: Benoît Magimel é um senhor ator.                      

terça-feira, 12 de junho de 2018


Eu já era fã de carteirinha da atriz Annette Bening. Sempre a achei uma das melhores.  Minha admiração cresceu ainda mais depois de assistir ao drama inglês “ESTRELAS DE CINEMA NUNCA MORREM” (“Film Stars don’t Die in Liverpool”), 2017. Annette vive a atriz norte-americana Gloria Grahame (1923-1981) em seus últimos anos de vida, quando namorou o jovem ator inglês Peter Turner (Jamie Bell), muitos anos mais moço. Pois foi justamente Turner quem escreveu o livro de memórias que serviu de base para o roteiro do filme, escrito por Matt Greenhalgh. Ou seja, a história é totalmente baseada em fatos reais, destacando a paixão que uniu uma veterana atriz esquecida e um jovem ator promissor. Dirigido com sensibilidade pelo diretor escocês Paul McGuigan (“Victor Frankenstein”), o filme traz Annette mais uma vez em estado de graça numa atuação deslumbrante. O ator inglês Jamie Bell, que ficou conhecido por seu trabalho no ótimo “Billy Elliot”, de 2000, dá conta do recado como o namorado apaixonado da atriz decadente.  Só para lembrar, Gloria Grahame foi uma atriz de grande sucesso em Hollywood nas décadas de 40 e 50, quando atuou em filmes como “A Felicidade não se Compra”, “No Silêncio da Noite” e “Assim Estava Escrito”, pelo qual ganhou, em 1953, o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante.                      

domingo, 10 de junho de 2018


“LOU” (“Lou Andreas-Salomé”), Alemanha/Áustria, 2016, marca a estreia no roteiro e direção de Corula Kablitz-Post, mais conhecida como diretora de documentários para a TV alemã. O filme, baseado em fatos reais, conta a história da psicanalista, filósofa e romancista Lou Andreas-Salomé, russa nascida em São Petersburgo numa família abastada e que desde jovem era fanática pelos filósofos gregos, os quais estudou a fundo. Lou era uma mulher fascinante, muito à frente do seu tempo. Despertou paixões e foi amante de homens como os filósofos Friedrich Nietzsche e Paul Rée, assim como do poeta Rainer Maria Rilke. Como psicanalista, influenciou ninguém menos do que Sigmund Freud, de que foi aluna, amiga e colaboradora. O roteiro é baseado nas memórias de Lou, que resolveu, aos 72 anos, já bastante doente, contar todos os detalhes ao jovem filólogo Ernest Pfeiffer. O elenco é ótimo: Katharina Lorenz (Lou adulta), Nicole Heesters (Lou idosa), Liv Lise Fries (Lou jovem), Phlipp Haub (Pau Rée), Julius Feldmeier (Rilke), Alexander Scheer (Nietzsche), Merab Ninidze (Friedrich Carl Andreas), Mattias Lear (Ernest Pfeiffer) e Harald Schrott (Freud). O filme é excelente, e nem mesmo os inúmeros diálogos de muita erudição e citações filosóficas conseguem prejudicar o ritmo, sem em nenhum momento cair na monotonia. A recriação de época, incluindo os figurinos, é primorosa. Para quem gosta de exercitar os neurônios e ampliar o seu nível de cultura, “Lou” é um filme simplesmente imperdível.