sábado, 17 de janeiro de 2015

“INVENCÍVEL” (“Unbroken”), 2014, é o segundo longa de Angelina Jolie como diretora (o primeiro foi “Terra de Amor e Ódio”, de 2011, sobre a Guerra na Bósnia). O filme conta a incrível história de Louis Zamperini, norte-americano filho de italianos, que nos dois últimos anos da Segunda Grande Guerra passou por uma experiência quase inacreditável. Pois tudo que está na tela aconteceu de verdade, exatamente como relata o livro “Unbroken: A World War II Story of Survival, Resiliense and Redemption”, escrito por Laura Hillenbrand (o roteiro do filme foi elaborado pelos irmãos Ethan e Joel Coen). Antes da guerra, Zamperini (Jack O’Connell) era um ótimo corredor. Chegou a competir nas Olimpíadas de Berlim, em 1936, integrando a equipe de atletismo dos EUA. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, ele se alistou na Força Aérea. Em 1943, depois de um combate, seu avião caiu no Oceano Pacífico. Em dois botes de borracha, Zamperini e dois companheiros ficaram perdidos no mar durante 47 dias, sem água ou comida. Foi um verdadeiro milagre dois deles terem sobrevivido. Mas o pior viria depois. Resgatados pela marinha japonesa, eles são enviados para um campo de prisioneiros no Japão comandado pelo sádico oficial Watanabe (o ator e astro pop japonês Takamasa Ishihara). A vítima preferida para suas torturas era justamente Zamperini, que ficaria preso mais dois anos, até o final da guerra (ele morreu em julho de 2014, aos 97 anos). O filme é muito bom, embora tenha sido indicado ao Oscar 2015 em apenas 3 categorias: “Melhor Fotografia”, “Edição de Som” e “Mixagem de Som”.                                                             

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A pacata cidadezinha de Aramoana, no litoral da Nova Zelância, foi palco, em 1990, de um terrível massacre. David Gray (Matthew Sunderland), um desempregado estranho e antissocial, resolve se vingar do mundo. Compra uma espingarda automática de caça e, no dia 13 de novembro, começa a atirar nas pessoas da vizinhança. Mata 13 e fere outras tantas, até ser morto pela polícia. Este acontecimento trágico, que ficou gravado para sempre como uma das maiores carnificinas da Nova Zelândia, é mostrado em detalhes no filme “24 HORAS DE MASSACRE” (“Out of the Blue”), 2006. Como diz o título, foram 24 horas de pura aflição e medo para os habitantes de Amanoara, tempo em que o assassino ficou solto. Os policiais da cidade não estavam preparados para enfrentar uma situação desse tipo e nem habituados a utilizar armas. Enquanto esquadrões especiais não chegavam a Amaroana, seus moradores ficaram confinados em suas casas e orientados a trancar portas e janelas. O filme neozeolandês, dirigido por Robert Sarkies, pode ter muitos defeitos, mas tem pelo menos um grande mérito: manter um clima angustiante de tensão, horror e suspense do começo ao fim. O trauma foi tão grande que a população de Amanoara não permitiu que as filmagens ocorressem na cidade. Long Beach, uma localidade bem próxima, serviu de cenário para as filmagens. Mesmo que hoje em dia a gente esteja tão acostumada a fatos desse tipo, o filme incomoda muito principalmente pela forma como a matança é mostrada.  

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O novo filme do diretor canadense David Cronenberg é “MAPAS PARA AS ESTRELAS” (“Maps to the Stars”), 2014. Na verdade, o título poderia ser “Mentes Psicóticas”, já que praticamente todos os personagens apresentam distúrbios mentais, histerismo e comportamento neurótico. Como uma crítica velada a Hollywood, toda a ação se passa em Los Angeles e seus personagens têm, de uma forma ou de outra, uma ligação com a indústria cinematográfica. Tem a atriz ninfomaníaca e desequilibrada Havana Segrand (Juliane Moore), obcecada para ganhar o papel que foi de sua mãe num filme da década de 80. Tem a família Weiss, de comportamento totalmente disfuncional. A filha Agatha (Mia Wasirowska), piromaníaca, acaba de sair de uma prisão psiquiátrica e vai trabalhar como assistente de Havana. Seu irmão é o ator mirim Benjie (Evan Bird), um adolescente mimado e maléfico de 13 anos que aos nove já frequentava clínicas de reabilitação. O dr. Stafford (John Cusack) é o pai, um psicólogo que aplica métodos inusitados de terapia, e a histérica Christina (Olivia Wiliiams) é a mãe. Tem ainda Jerome (Robert Pattinson), um motorista de limusine que quer ser ator - este talvez o único personagem perto da normalidade. O filme é muito perturbador. Há cenas quase explícitas de sexo grupal, lesbianismo, incesto e violência, além do sobrenatural, aqui representado pela aparição de fantasmas. Mas não deixa de ser um filme bastante instigante na medida em que nos faz refletir sobre a potencialidade maléfica e doentia da mente humana em qualquer contexto, o que não livra nem a meca do cinema - o título do filme reforça essa intenção. Juliane Moore, que já está na disputa do Oscar 2015 como Melhor Atriz pelo Filme “Para Sempre Alice”, dá mais um show de interpretação, provando que é uma das melhores atrizes do cinema atual (por esse papel, ganhou o Prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes 2014). Quem quiser conhecer um pouco mais sobre o trabalho do diretor David Cronenberg, recomendo três que considero seus melhores filmes: "Marcas da Violência”, “Um Método Perigoso” e “Senhores do Crime”.           

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

“A REUNIÃO” (“Återträffen”), 2013, é um drama sueco bastante original. Além de ter escrito o roteiro e dirigido o filme, Anna Odell também interpreta a personagem principal da história, a quem dá seu nome. Durante 9 anos, Anna estudou e se formou com a mesma turma. Só que, por seu comportamento meio alienado, era vítima de bullying por parte da maioria dos seus colegas. Pois essa turma toda vai se reunir 20 anos depois para um reencontro festivo. Anna não é convidada, mas mesmo assim aparece na festa, sendo friamente recebida e até ignorada por alguns. Mas ela não deixa barato. Vai fazer de tudo para estragar a reunião, acusando quem a tratava mal. Enfim, vai armar o maior barraco. Constrangimento geral. Na verdade, toda essa parte da história integra um filme realizado por Anna, agora diretora de cinema, no qual imagina o que aconteceria se ela realmente tivesse ido à tal reunião. Quando termina a produção do filme, Anna resolve convidar os verdadeiros personagens – seus antigos colegas de turma – para assistirem, causando novos constrangimentos e situações bastante embaraçosas. Não sei se a Anna real passou por esse tipo de experiência, mas a personagem que ela criou para o filme, de tão frustrada, é de uma chatice irritante. Dá vontade de entrar na telinha e acertar-lhe uns tabefes (perdão, Maria da Penha). De qualquer forma, o filme é interessante, mas só vai agradar a um público específico. “A Reunião” foi exibido pela primeira vez no Festival de Veneza 2013, com muitos elogios, e marca a estreia de Anna Odell na direção.                                                     

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

O suspense “UM BOM CASAMENTO” (“A Good Marriage”) 2013, dirigido por Peter Askin, é baseado num conto de Stephen King publicado em 2010 no livro “Full Dark, No Stars”. Autor de ótimas histórias de arrepiar (só para lembrar algumas: “O Iluminado”, “Colheita Maldita” e “Carrie, a Estranha”), muitas delas adaptados para o cinema, King também assina o roteiro deste filme. Casados há 25 anos, Bob (Anthony LaPaglia) e Darcy Anderson (Joan Allen) ainda vivem em clima de lua de mel. Até que, um dia, ao procurar pilhas na garagem, ela encontra uma caixa contendo indícios de que o marido é o tal serial killer responsável pelo assassinato de várias moças na cidade. Ela entra em desespero. O que fazer diante dessa situação? Chamar a polícia, denunciar o marido? Sem saber o que fazer, ela começa a ter pesadelos terríveis. Num deles, ela é assassinada pelo próprio marido.  Muita água vai rolar até Darcy receber a visita de um investigador de polícia aposentado (Stephen Lang), que tem aproveitado o tempo ocioso para investigar os assassinatos praticados por Bob. O filme não tem aqueles sustos habituais nem o clima de terror que caracterizam a obra de Stephen King. Na verdade, a história é fraca e o filme idem, apesar da presença da ótima atriz Joan Allen e do bom ator LaPaglia.    

domingo, 11 de janeiro de 2015

Mais do que uma comédia, “O PALÁCIO FRANCÊS” (“Quai d’Orsay”), de 2013, é uma sátira inteligente aos burocratas e políticos franceses - e à própria política exterior francesa. O filme mostra os bastidores do Ministério das Relações Exteriores como uma verdadeira fuzarca, onde ninguém se entende. A história começa quando o jovem Arthur Vlaminck (Raphaël Personnaz), recém-formado na Escola Nacional de Administração, é contratado para o Setor de Linguagem do Ministério. Ele é apresentado ao ministro Alexandre Taillard (Thierry Lhermitte), que parece um furacão. Entra nas salas dos seus assessores já gritando e dando ordens, sempre o dono da razão. Um tormento. Toda vez que abre a porta de um escritório voa um monte de papelada, maneira criativa que o diretor Bertrand Tavernier encontrou para reforçar a ideia de um tsunami. Hiperativo, autoritário, ganancioso e megalomaníaco, Taillard toma suas decisões consultando o livro de frases criadas pelo filósofo Heráclito. Em meio ao bagunçado ambiente, Arthur recebe a missão de escrever o texto de um importante discurso que Taillard fará dali a alguns dias na ONU. A participação da atriz Julie Gayet – aquela que, dizem, teve um caso com o presidente francês François Hollande – como uma fogosa assistente do ministro Taillard reforça ainda mais o tom de sátira desta ótima comédia francesa. Outro destaque é Jane Birkin, irreconhecível no papel de uma escritora ganhadora do Prêmio Nobel. Estão ainda no elenco Niels Arestrup e Anaïs Demoustier. Mas quem domina mesmo o filme, com uma atuação impagável, é o ator Therry Lhermitte como o ministro. Um show!