sábado, 22 de agosto de 2015

“ENTRE MUNDOS” (“ZWISCHEN WELTEN”), Alemanha, 2014, roteiro e direção da austríaca Feo Aladag. Uma unidade do exército alemão, sob o comando de Jasper (Ronald Zehrfeld), é enviada ao Afeganistão para proteger um vilarejo dos ataques dos Talibãs. O jovem Tarik (Mohsin Ahmady) é contratado como intérprete dos alemães, o que vai lhe causar enormes problemas com o pessoal da sua comunidade, que o acusará de traição. O filme prioriza o choque de culturas, os alemães tentando impor seus métodos e os afegãos fazendo questão de manter suas tradições, não aceitando qualquer outro tipo de imposição, ainda mais dos ocidentais. Esse conflito ideológico proporciona diálogos interessantes e esclarecedores sobre o pensamento e o modo de vida dos afegãos. Num desses diálogos, um afegão, a respeito das sucessivas invasões que o país sofreu nos últimos anos (séculos, na verdade), relembra um velho ditado local: “Vocês têm o relógio, nós temos o tempo”. Em determinado momento da história, Jasper é obrigado a tomar uma difícil decisão: abandonar o comando do seu grupo ou salvar a vida da irmã de Tarik. Ao contrário de outras produções que exploram o tema da guerra, nesta não há profusão de tiros ou explosões. O filme ganhou o prêmio de “Melhor Filme de Ficção” da 38ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo/2014. Realmente, um belo filme que merece ser visto por quem aprecia cinema de qualidade.   

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Quem curte cinema já deve ter ouvido falar em François Ozon ou assistido a alguns de seus filmes. Os filmes do diretor francês acabam gerando sempre alguma polêmica, caso de “Swimming Pool - À Beira da Piscina”, “O Refúgio”, “Jovem e Bela” e “Dentro da Casa”, este último uma pequena obra-prima do gênero suspense. Seu filme mais recente é “UMA NOVA AMIGA” (Une Nouvelle Amie”), que também polemiza ao tratar de um homem casado, pai de família, que adora se vestir de mulher. No caso, é o viúvo David (Romain Duris), que acaba de perder a esposa Laura (Isild Le Besco). Travestido, ele se transforma em Virginia. Não sai de casa e vive para cuidar de Lucie, o bebê que teve com Laura. Um dia, porém, ele é surpreendido pela melhor amiga de Laura, Claire (Anaïs Demonstier). Como desculpa, ele alega que a criança sente falta da mãe, o que ele procura compensar se vestindo com as roupas de Laura. Além de guardar segredo sobre a nova personalidade do viúvo da sua amiga, Claire acaba mudando seu próprio comportamento, o que implicará numa crise em seu casamento com Gilles (Raphaël Personnaz). A história, inspirada livremente num conto da escritora Ruth Rendell, é muito interessante e ganha ainda mais força e impacto nas mãos de Ozon. O filme é valorizado ainda mais pelos ótimos desempenhos de Duris e, especialmente, de Demonstier, uma jovem atriz de enorme talento.  
“O PEQUENO QUINQUIN” (“P’tit Quinquin”), 2014, foi produzido, originalmente, como uma minissérie para a TV francesa, em quatro episódios. Agora chega ao cinema, com 3h20 de duração. É um filme interessante, a começar do elenco, constituído integralmente por atores amadores, alguns deles com defeitos físicos bem evidentes, como o rosto disforme do próprio Quinquin (Alane Delhaye). A história é toda ambientada num vilarejo litorâneo, provavelmente na Normandia, e gira em torno de três macabros assassinatos. Pedaços de corpos humanos são encontrados no interior de vacas mortas, uma delas resgatada num bunker remanescente da Segunda Grande Guerra. Em paralelo às investigações realizadas pelo capitão Van der Weyden (Bernard Pruvost) e seu assistente abobado Carpentier (Philippe Jore), o jovem Quinquin e sua turma passam os dias aprontando as maiores traquinagens. Todos os atores são amadores. Bernard Pruvost, por exemplo, que interpreta o capitão Van der Weyden, é jardineiro na vida real. O diretor francês Bruno Dumont (“O Pecado de Hadewijch”, “Camille Claudel”) não economizou no politicamente incorreto. Além de Quinquin, a maioria dos atores tem um defeito físico, como o próprio capitão Van der Weyden, manco e cheio de cacoetes. O politicamente incorreto também está na atitude racista com relação a um negro filho de imigrantes africanos, xingado e humilhado em várias cenas. Não é um filme comum e, com certeza, não seria exibido em nossos canais abertos. Apesar da história trágica, tem muito humor e momentos até hilariantes, como a cena da missa em homenagem a um dos mortos. Trata-se, na verdade, de mais uma excentricidade do diretor Bruno Dumont. Talvez sirva como aval o fato do filme ter sido eleito pelos críticos da Revista Cahiers Du Cinéma como o Melhor de 2014.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Misto de drama romântico e thriller de suspense, “OCTOBER GALE” (ainda sem tradução por aqui; literalmente, “Ventania de Outubro”), Canadá, traz no elenco três bons atores - Patricia Clarkson, Scott Speedman e Tim Roth. O filme, lançado no Festival de Cinema de Toronto/2014, foi escrito e dirigido por Ruba Nadda, cujo filme mais conhecido é o mediano “Cairo Time”, também com Clarkson. Vamos à história. A médica Helen Mathews (Clarkson), ainda deprimida depois da recente morte do marido, com quem teve um casamento bastante sólido, vai para a casa de campo onde costumava ir com o falecido. A casa fica isolada numa ilha, provavelmente na região dos Grandes Lagos. Em meio às inúmeras recordações dos momentos românticos, acontece uma tempestade e um misterioso homem ferido à bala aparece na casa. Ele é Will (Scott Speedman). Helen cuida dele e depois quer saber o que aconteceu. Mas ele não quer falar sobre o assunto, o que deixa no ar a dúvida se ele é o mocinho ou o bandido. Aí aparece na ilha outro homem misterioso, Tom (Tim Roth), querendo acertas as contas com Will. Se a história já é fraca e o filme entediante, o desfecho então é lamentável. Patricia Clarkson é ótima atriz e até já foi indicada ao Oscar como melhor Atriz Coadjuvante por “Pieces of April”, mas desta vez pisou na bola. Admira que Tim Roth, outro grande ator mal aproveitado por Hollywood, também tenha entrado nessa barca furada. Se não fosse minha obrigação comentar, poderia definir o filme como “Sem Comentários”.