sábado, 27 de fevereiro de 2016

O veterano diretor inglês Ken Loach é um dos cineastas mais politizados em atividade. À sua vasta filmografia de filmes políticos ele acrescentou, em 2014, "O SALÃO DE JIMMY" (“JIMMY’S HALL”), cuja história, baseada em fatos reais, é ambientada na Irlanda no início dos anos 30. O personagem principal é Jimmy Gralton (Barry Ward), o mais conhecido líder comunista irlandês. Nascido em Leitrim, na Irlanda, Jimmy fugiu para Nova Iorque para não ser preso por suas atividades políticas. Dez anos depois volta para a sua terra natal e é recebido como herói. Ele reinaugura um centro cultural e recreativo onde as pessoas podem ter aulas de dança, literatura, artes plásticas e discutir livremente temas políticos. Nos finais de semana, o local é utilizado pela população da cidade para dançar. Para o líder religioso da cidade, padre Sheridan (o ótimo Jim Norton), o centro de Jimmy é um local de perversão, principalmente por permitir que as pessoas dancem “um tal de jazz”,  ritmo considerado profano. Incitados pelo padre Sheridan, os conservadores partem para o enfrentamento contra a turma de Jimmy e aí começa uma perseguição implacável. O filme é ótimo, valorizando ainda mais a filmografia do cineasta inglês, da qual recomendo “Terra e Liberdade”, “Ventos da Liberdade”, “Pão e Rosas”, “Rota Irlandesa” e “A Parte dos Anjos”.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O drama cubano “NUMA ESCOLA DE HAVANA” (“Conducta”), 2014, é uma daquelas pérolas que de repente o cinema nos presenteia. Embora tenha patrocínio do Ministério da Cultura daquele país, não faz nenhuma propaganda do regime e muito menos esconde o lado pobre de Havana. A história é centrada no menino Chala (Armando Valdes Freire), de 11 anos. Filho de uma drogada, Sonia (Yuliet Cruz), Chala se vê responsável pelo dinheiro da casa. Cria pombos para vender e possui quatro cães treinados para lutar nas rinhas. No colégio, Chala é uma pedra no sapato dos professores, que a toda hora querem enviá-lo para um internato. A única que consegue dominá-lo é a veterana professora Carmela (Alina Rodriguez), por quem o garoto tem muito respeito e até uma grande dose de carinho. A amizade de Carmela e Chala rende os momentos mais sensíveis e comoventes do filme – para provocar umas lágrimas a mais, lembro que a atriz faleceu em julho de 2015, aos 63 anos. É o terceiro longa do diretor cubano Ernesto Daranos Serrano. Ganhou o Festival de Cinema de Havana e foi indicado para ser o representante oficial de Cuba na disputa do Oscar/2015 na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Produção simples, mas de muita qualidade. Não perca! 
Fazia tempo que eu não assistia a um filme com uma força dramática tão grande. Trata-se de “MOMMY”, 2014, Canadá, escrito e dirigido pelo jovem (26 anos) e cultuado diretor canadense Xavier Dolan (“Eu Matei a Minha Mãe” e “Amores Imaginários”). Também fazia tempo que não via uma atuação tão espetacular como a da atriz Anne Dorval. Ela interpreta Diane Després, uma viúva emocionalmente descontrolada e afogada em dívidas que um dia é obrigada a acolher o filho Steve (Antoine Olivier Pilon), de 15 anos, expulso de um reformatório após incendiar a cafeteria e causar ferimentos em várias pessoas. Steve, por conta de sua hiperatividade e seu déficit de atenção, é agressivo, rebelde e violento, à beira da psicopatia. Para piorar, ele se recusa a tomar os remédios receitados. De vez em quando, ele entra numa banheira cheia de gelo para tentar se acalmar. Ele trata a mãe aos gritos, além de tapas e bordoadas. A frase mais carinhosa dita por ele em relação à mãe é “Sua vadia”. Essa relação de amor e ódio chega aos extremos da gritaria e discussões histéricas. Impossível não ficar incomodado na poltrona. A situação dá uma amenizada quando a vizinha Kyla (Suzanne Clément), outra mulher problemática, passa a frequentar a casa de Diane. Mas não resolve o problema e tudo parece caminhar para um desfecho trágico. O filme é ótimo, mas o maior destaque é, sem dúvida, a atuação incrível de Anne Dorval, a mãe. Seria injusto não destacar também as ótimas atuações do jovem ator Antoine Olivier Pilon e da veterana Suzanne Clément. “Mommy” ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2014, além de ter sido indicado para disputar o Oscar/2015 de Melhor Filme Estrangeiro. Imperdível!

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

A comédia romântica “UM REENCONTRO” (“Une Rencontre”), 2014, roteiro e direção de Lisa Azuelos, reúne dois dos maiores astros do cinema francês atual: Sophie Marceau e François Cluzet (“Os Intocáveis”). O filme conta a história da paixão avalassadora entre a escritora Elsa (Sophie) e o advogado criminalista Pierre (Cluzet). Ambos são muito bem sucedidos em suas respectivas carreiras. Recentemente divorciada, Elsa tem dois filhos adolescentes e costuma sair com homens bem mais jovens. Pierre vive um casamento seguro com Anne (papel da diretora Azuelos), com quem tem um filho. Os dois se conhecem numa noite de autógrafos de Elsa, tornam-se amantes e, por um breve espaço de tempo, se afastam. Acabam se reencontrando em Paris (daí o título) e a partir de então não se desgrudam mais. O filme foge de alguns clichês típicos das comédias românticas, o que lhe confere uma qualidade melhor do que suas congêneres, principalmente aquelas que vêm de Hollywood. Aos 49 anos, Sophie Marceau, que já foi bond girl em “007 – O Mundo não é o Bastante” (1999), continua em grande forma, bonita e charmosa. Embora ótimo ator, falta a François Cluzet os predicados de um verdadeiro galã, pois é franzino e feio, mas se sustenta com seu charme de galanteador e atitudes atrevidas. Trata-se de uma comédia romântica sem grandes novidades, que vale ser conferida apenas pela dupla central de atores.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

Quem diria, Hollywood fazendo remake de filme argentino (Mordam-se de inveja, cineastas brasileiros!). É, parece que a crise de criatividade dos roteiristas da meca do cinema continua. “OLHOS DA JUSTIÇA” (“The Secret in their Eyes”), 2015, foi adaptado do maravilhoso “O Segredo dos Seus Olhos”, 2009, filme argentino ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Embora haja algumas modificações de roteiro, “Olhos da Justiça” conta a mesma história, talvez com mais ação e suspense. O diretor Billy Ray (“Quebra de Confiança” e “O Preço de uma Verdade”) até faz uma menção ao incrível e famoso plano-sequência criado por Juan José Campanella no filme argentino. Se “Olhos da Justiça” não é melhor do que o original, pelo menos ganha no que diz respeito ao elenco de astros: Chiwetel Ejiofor (“12 Anos de Escravidão”), Nicole Kidman e Julia Roberts. Fazia tempo que não via Nicole Kidman tão linda como neste filme, e também Julia Roberts tão envelhecida. No filme norte-americano, senti falta do humor que sobrava no filme argentino. Em “Olhos da Justiça” o drama é reforçado pelas ótimas atuações de Júlia Roberts e, principalmente de Chiwetel Ejiofor. Mesmo quem tenha assistido o filme argentino vai gostar deste, também um ótimo entretenimento.    

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

O drama francês “OS APACHES” (“Le Apaches”), 2013, segundo longa escrito e dirigido por Thierry de Peretti, faz um retrato bastante realista e cruel da juventude que habita uma cidade na região da Córsega, grande parte constituída de imigrantes africanos e de origem árabe. A história é centrada em cinco jovens pobres, inconsequentes e revoltados com sua condição de pobreza. Dois deles, Azis (Azis El Hadachi) e Hamza (Hamza Meziani), são filhos de imigrantes árabes. Numa noite de farra, os cinco invadem uma mansão para curtir a piscina. Consomem a bebida da casa, ficam bêbados e acabam roubando dois fuzis. A polícia começa a investigar o roubo e os jovens ficam apavorados. Uns querem devolver as armas, outros não. Até que um deles resolve vender um dos fuzis. Pressionados pela possibilidade de serem descobertos, eles começam a se desentender, culminando com um evento trágico. O filme, selecionado para a Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes/2013, é bastante impactante, forte e desagradável, principalmente por mostrar uma juventude alheia aos princípios morais e sem horizontes para traçar um objetivo de vida. É muito triste, mas esse retrato da juventude pode ser aplicado no mundo inteiro. Tristes tempos...  

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Apesar da impressionante atuação de Isabelle Huppert, não gostei de “UMA RELAÇÃO DELICADA” (“ABUS DE FAIBLESSE”), 2013, França, roteiro e direção de Catherine Breillat. Hupper interpreta a cineasta Maud Schoenberg, que sofre um AVC, fica meses internada e passa a viver com sequelas graves, uma delas a paralisação do lado esquerdo do corpo. Em meio à sua recuperação, Maud trabalha na produção de seu novo filme e procura um ator para determinado papel. Ao assistir a um programa de TV, ela vê um ex-presidiário sendo entrevistado. Maud tem certeza de que ele será o ator ideal e o convida para uma conversa. O ex-presidiário é Vilko (Kool Shen), um marginal que virou celebridade ao dar um grande golpe e ser preso. A partir daí, Vilko vai aproveitar o fato da cineasta estar vulnerável e tentar tirar o máximo de dinheiro dela. Aí que a história fica forçada demais, pois Maud tem amigos e uma família que, na vida real, jamais deixariam que ela fosse tão explorada. Também não há explicação – a não ser algum tipo de obsessão – para o comportamento irracional de Maud. Enfim, um filme mediano que não faz jus ao enorme talento da atriz francesa.
“DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA” (“Journal D’une Femme de Chambre”), 2015, co-produção França/Bélgica, direção de Benoit Jacquot (“Adeus, Minha Rainha” e “3 Corações”), que também escreveu o roteiro, inspirado no romance escrito por Octave Mirbeau. Trata-se da terceira adaptação para o cinema – a primeira, de 1946, teve a direção de Jean Renoir, e a segunda, em 1964, de Luis Buñuel. A história é ambientada no início do Século XX e acompanha a trajetória do trabalho de camareira de Célestine (Léa Sedoux). Enviada por uma agência para trabalhar na mansão da família Lanlaire, interior da França, Célestine vai conhecer o inferno das mãos de Madame Lanlaire (Clotilde Mollet), uma patroa sádica e megera. Além disso, Célestine tem que conviver com os frequentes assédios do patrão tarado – aliás, pelo que o filme dá a entender, era prática comum na época os patrões exigerem esse tipo de serviço das empregadas, com ou sem o consentimento das respectivas patroas. Na casa dos Lanlaire, Célestine conhece Joseph (Vincent Lindon), que trabalha como cocheiro da família há 15 anos. Ele é um homem bastante misterioso, envolvido em atividades políticas clandestinas, além de ferrenho antissemita. O filme teve sua exibição de estreia em fevereiro de 2015 durante o Festival de Cinema de Berlim. Léa Seydoux, mais uma vez, esbanja competência e prova porque é considerada uma das melhores atrizes francesas da atualidade. A caprichada recriação de época é outro dos destaques desse ótimo drama francês.