O
veterano diretor inglês Ken Loach é um dos cineastas mais politizados em
atividade. À sua vasta filmografia de filmes políticos ele acrescentou, em 2014, "O SALÃO DE JIMMY" (“JIMMY’S
HALL”), cuja história, baseada em
fatos reais, é ambientada na Irlanda no início dos anos 30. O personagem
principal é Jimmy Gralton (Barry Ward), o mais conhecido líder comunista
irlandês. Nascido em Leitrim, na Irlanda, Jimmy fugiu para Nova Iorque para não
ser preso por suas atividades políticas. Dez anos depois volta para a sua terra
natal e é recebido como herói. Ele reinaugura um centro cultural e recreativo
onde as pessoas podem ter aulas de dança, literatura, artes plásticas e discutir
livremente temas políticos. Nos finais de semana, o local é utilizado pela população da cidade para dançar. Para o líder religioso da cidade, padre
Sheridan (o ótimo Jim Norton), o centro de Jimmy é um local de perversão,
principalmente por permitir que as pessoas dancem “um tal de jazz”, ritmo considerado profano. Incitados pelo
padre Sheridan, os conservadores partem para o enfrentamento contra a turma de
Jimmy e aí começa uma perseguição implacável. O filme é ótimo, valorizando ainda mais a filmografia do cineasta
inglês, da qual recomendo “Terra e Liberdade”, “Ventos da Liberdade”, “Pão e
Rosas”, “Rota Irlandesa” e “A Parte dos Anjos”.
sábado, 27 de fevereiro de 2016
sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016
O
drama cubano “NUMA ESCOLA DE HAVANA” (“Conducta”), 2014, é uma daquelas pérolas que de
repente o cinema nos presenteia. Embora tenha patrocínio do Ministério da Cultura
daquele país, não faz nenhuma propaganda do regime e muito menos esconde o lado
pobre de Havana. A história é centrada no menino Chala (Armando Valdes Freire),
de 11 anos. Filho de uma drogada, Sonia (Yuliet Cruz), Chala se vê responsável
pelo dinheiro da casa. Cria pombos para vender e possui quatro cães treinados
para lutar nas rinhas. No colégio, Chala é uma pedra no sapato dos professores,
que a toda hora querem enviá-lo para um internato. A única que consegue dominá-lo
é a veterana professora Carmela (Alina Rodriguez), por quem o garoto tem muito
respeito e até uma grande dose de carinho. A amizade de Carmela e Chala rende
os momentos mais sensíveis e comoventes do filme – para provocar umas lágrimas a
mais, lembro que a atriz faleceu em julho de 2015, aos 63 anos. É o terceiro
longa do diretor cubano Ernesto Daranos Serrano. Ganhou o Festival de Cinema de
Havana e foi indicado para ser o representante oficial de Cuba na disputa do
Oscar/2015 na categoria Melhor Filme Estrangeiro. Produção simples, mas de muita
qualidade. Não perca!
Fazia
tempo que eu não assistia a um filme com uma força dramática tão grande.
Trata-se de “MOMMY”, 2014,
Canadá, escrito e dirigido pelo jovem (26 anos) e cultuado diretor canadense
Xavier Dolan (“Eu Matei a Minha Mãe” e “Amores Imaginários”). Também fazia
tempo que não via uma atuação tão espetacular como a da atriz Anne Dorval. Ela
interpreta Diane Després, uma viúva emocionalmente descontrolada e afogada em
dívidas que um dia é obrigada a acolher o filho Steve (Antoine Olivier Pilon), de
15 anos, expulso de um reformatório após incendiar a cafeteria e causar
ferimentos em várias pessoas. Steve, por conta de sua hiperatividade e seu
déficit de atenção, é agressivo, rebelde e violento, à beira da psicopatia. Para piorar, ele se recusa a tomar os remédios receitados. De vez em quando, ele entra numa banheira cheia de gelo para tentar se acalmar. Ele
trata a mãe aos gritos, além de tapas e bordoadas. A frase mais carinhosa dita
por ele em relação à mãe é “Sua vadia”. Essa relação de amor e ódio chega aos
extremos da gritaria e discussões histéricas. Impossível não ficar incomodado
na poltrona. A situação dá uma amenizada quando a vizinha Kyla (Suzanne
Clément), outra mulher problemática, passa a frequentar a casa de Diane. Mas
não resolve o problema e tudo parece caminhar para um desfecho trágico. O
filme é ótimo, mas o maior destaque é, sem dúvida, a atuação incrível de Anne Dorval,
a mãe. Seria injusto não destacar também as ótimas atuações do jovem ator Antoine Olivier Pilon e da veterana Suzanne Clément. “Mommy” ganhou o Prêmio do Júri no Festival de Cannes 2014, além de ter
sido indicado para disputar o Oscar/2015 de Melhor Filme Estrangeiro. Imperdível!
quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016
A
comédia romântica “UM REENCONTRO” (“Une Rencontre”), 2014, roteiro e direção de Lisa Azuelos,
reúne dois dos maiores astros do cinema francês atual: Sophie Marceau e François
Cluzet (“Os Intocáveis”). O filme conta a história da paixão avalassadora entre
a escritora Elsa (Sophie) e o advogado criminalista Pierre (Cluzet). Ambos são
muito bem sucedidos em suas respectivas carreiras. Recentemente divorciada, Elsa tem dois filhos
adolescentes e costuma sair com homens bem mais jovens. Pierre vive um
casamento seguro com Anne (papel da diretora Azuelos), com quem tem um filho.
Os dois se conhecem numa noite de autógrafos de Elsa, tornam-se amantes e, por
um breve espaço de tempo, se afastam. Acabam se reencontrando em Paris (daí o
título) e a partir de então não se desgrudam mais. O filme foge de alguns
clichês típicos das comédias românticas, o que lhe confere uma qualidade melhor do que suas congêneres, principalmente aquelas que vêm de Hollywood. Aos 49 anos, Sophie Marceau, que já foi bond girl em “007 – O Mundo não é o Bastante” (1999), continua em
grande forma, bonita e charmosa. Embora ótimo ator, falta a François Cluzet os
predicados de um verdadeiro galã, pois é franzino e feio, mas se sustenta com seu
charme de galanteador e atitudes atrevidas. Trata-se de uma comédia romântica sem
grandes novidades, que vale ser conferida apenas pela dupla central de atores.
quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016
Quem
diria, Hollywood fazendo remake de
filme argentino (Mordam-se de inveja, cineastas brasileiros!). É, parece que a
crise de criatividade dos roteiristas da meca do cinema continua. “OLHOS
DA JUSTIÇA” (“The Secret in their Eyes”),
2015, foi adaptado do maravilhoso “O Segredo dos Seus Olhos”, 2009, filme
argentino ganhador do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. Embora haja algumas
modificações de roteiro, “Olhos da Justiça” conta a mesma história, talvez com
mais ação e suspense. O diretor Billy Ray (“Quebra de Confiança” e “O Preço de
uma Verdade”) até faz uma menção ao incrível e famoso plano-sequência criado
por Juan José Campanella no filme argentino. Se “Olhos da Justiça” não é melhor
do que o original, pelo menos ganha no que diz respeito ao elenco de astros:
Chiwetel Ejiofor (“12 Anos de Escravidão”), Nicole Kidman e Julia Roberts.
Fazia tempo que não via Nicole Kidman tão linda como neste filme, e também
Julia Roberts tão envelhecida. No filme norte-americano, senti falta do humor que
sobrava no filme argentino. Em “Olhos da Justiça” o drama é reforçado pelas ótimas
atuações de Júlia Roberts e, principalmente de Chiwetel Ejiofor. Mesmo quem
tenha assistido o filme argentino vai gostar deste, também um ótimo
entretenimento.
terça-feira, 23 de fevereiro de 2016
O
drama francês “OS APACHES” (“Le Apaches”), 2013, segundo longa escrito e dirigido por Thierry de Peretti, faz um
retrato bastante realista e cruel da juventude que habita uma cidade na região
da Córsega, grande parte constituída de imigrantes africanos e de origem árabe.
A história é centrada em cinco jovens pobres, inconsequentes e revoltados com
sua condição de pobreza. Dois deles, Azis (Azis El Hadachi) e Hamza (Hamza
Meziani), são filhos de imigrantes árabes. Numa noite de farra, os cinco
invadem uma mansão para curtir a piscina. Consomem a bebida da casa, ficam
bêbados e acabam roubando dois fuzis. A polícia começa a investigar o roubo e
os jovens ficam apavorados. Uns querem devolver as armas, outros não. Até que
um deles resolve vender um dos fuzis. Pressionados pela possibilidade de serem descobertos,
eles começam a se desentender, culminando com um evento trágico. O filme,
selecionado para a Quinzena de Realizadores do Festival de Cannes/2013, é
bastante impactante, forte e desagradável, principalmente por mostrar uma
juventude alheia aos princípios morais e sem horizontes para traçar um objetivo
de vida. É muito triste, mas esse retrato da juventude pode ser aplicado no
mundo inteiro. Tristes tempos...
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016
Apesar
da impressionante atuação de Isabelle Huppert, não gostei de “UMA
RELAÇÃO DELICADA” (“ABUS DE
FAIBLESSE”), 2013, França, roteiro e
direção de Catherine Breillat. Hupper interpreta a cineasta Maud Schoenberg,
que sofre um AVC, fica meses internada e passa a viver com sequelas graves, uma
delas a paralisação do lado esquerdo do corpo. Em meio à sua recuperação, Maud
trabalha na produção de seu novo filme e procura um ator para determinado
papel. Ao assistir a um programa de TV, ela vê um ex-presidiário sendo entrevistado.
Maud tem certeza de que ele será o ator ideal e o convida para uma conversa. O
ex-presidiário é Vilko (Kool Shen), um marginal que virou celebridade ao dar um
grande golpe e ser preso. A partir daí, Vilko vai aproveitar o fato da cineasta
estar vulnerável e tentar tirar o máximo de dinheiro dela. Aí que a história
fica forçada demais, pois Maud tem amigos e uma família que, na vida real,
jamais deixariam que ela fosse tão explorada. Também não há explicação – a não
ser algum tipo de obsessão – para o comportamento irracional de Maud. Enfim, um
filme mediano que não faz jus ao enorme talento da atriz francesa.
“DIÁRIO DE UMA CAMAREIRA” (“Journal D’une Femme de
Chambre”), 2015, co-produção
França/Bélgica, direção de Benoit Jacquot (“Adeus, Minha Rainha” e “3 Corações”),
que também escreveu o roteiro, inspirado no romance escrito por Octave Mirbeau.
Trata-se da terceira adaptação para o cinema – a primeira, de 1946, teve a
direção de Jean Renoir, e a segunda, em 1964, de Luis Buñuel. A história é
ambientada no início do Século XX e acompanha a trajetória do trabalho de
camareira de Célestine (Léa Sedoux). Enviada por uma agência para trabalhar na
mansão da família Lanlaire, interior da França, Célestine vai conhecer o
inferno das mãos de Madame Lanlaire (Clotilde Mollet), uma patroa sádica e
megera. Além disso, Célestine tem que conviver com os frequentes assédios do
patrão tarado – aliás, pelo que o filme dá a entender, era prática comum na
época os patrões exigerem esse tipo de serviço das empregadas, com ou sem o consentimento das respectivas patroas. Na casa dos Lanlaire, Célestine conhece
Joseph (Vincent Lindon), que trabalha como cocheiro da família há 15 anos. Ele
é um homem bastante misterioso, envolvido em atividades políticas clandestinas,
além de ferrenho antissemita. O filme teve sua exibição de estreia em fevereiro
de 2015 durante o Festival de Cinema de Berlim. Léa Seydoux, mais uma vez,
esbanja competência e prova porque é considerada uma das melhores atrizes
francesas da atualidade. A caprichada recriação de época é outro dos destaques desse ótimo drama francês.
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