sábado, 23 de agosto de 2014

Vem da Romênia o ótimo drama “INSTINTO MATERNO” (“Pozitia Copilului”), valorizado por uma estupenda atriz, Luminita Gheorghiu. Ela interpreta Cornelia, uma dama da alta sociedade de Bucarest. Ela tem um filho de 34 anos, Barbu (Godgan Dumitrache), um cara supermimado que mora fora para fugir das garras possessivas da mãe. Uma noite, Barbu dirigia em alta velocidade quando, ao ultrapassar outro veículo, atropela e mata um menino. Barbu é detido numa delegacia para ser interrogado. Cornelia é avisada e imediatamente vai para a delegacia. A partir daí, ela vai fazer de tudo – mentir, chantagear, oferecer propina etc. – para livrar Barbu de um processo. Ela trata Barbu como se fosse uma criança e este, por sua vez, a agride com impropérios e ofensas, de vadia pra cima. É aí então que entra em cena a grande atriz. Ela ouve o filho xingá-la com uma expressão tal de passividade que parece que não está ouvindo nem se importando com que Barbu está dizendo. Cornélia tem uma fixação obsessiva tão grande pelo filho que, quando vai até a casa dos pais do garoto falecido pedir desculpas e se derrama em lágrimas, a gente fica em dúvida se ela está sendo sincera ou fingindo. Com uma atriz como Luminita, fica difícil saber. O filme, dirigido por Calin Peter Netzer, conquistou, merecidamente, o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2013.                

sexta-feira, 22 de agosto de 2014


Todo mundo conhece os fatos que levaram Getúlio Vargas a cometer suicídio. O presidente vivia uma enorme crise política, agravada por acusações de corrupção e, principalmente, pelo atentato da Rua Tonelero, que matou um major da Aeronáutica e feriu o então deputado federal Carlos Lacerda, na época o mais ferrenho adversário do governo Vargas. O segurança pessoal do presidente, Gregório Fortunato, foi acusado de planejar o crime e Vargas acabou acusado como mandante, embora nada disso tenha sido provado. O drama histórico “GETÚLIO”, 2013, dirigido por João Jardim, conta tudo isso e - o mais interessante - é que coloca o espectador nos bastidores da crise, ou seja, diretamente nas salas do Palácio do Catete, então residência de Getúlio e sede do seu governo. A gente acompanha as conversas de bastidores, as reuniões ministeriais, os encontros de Getúlio com ministros, políticos e assessores. O filme evidencia, com competência, todo aquele clima de tensão gerado pela grave crise - toda a ação ocorre durante os 19 dias anteriores ao suicídio. O filme dá destaque maior à presença de Alzira Vargas (Drica Moraes), filha do presidente e sua principal conselheira. Tony Ramos faz um Getúlio fisicamente quase perfeito, mas sua voz poderia apresentar outro tom (é muito a voz do ator) e também acentuar mais o sotaque gaúcho do presidente. As filmagens aconteceram no próprio Palácio do Catete, hoje um museu. No elenco, estão ainda Daniel Dantas, Alexandre Borges, Clarisse Abujamra, Leonardo Medeiros, Jackson Antunes e Marcelo Médici.  

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

Não é muito comum chegar até nós, seja no cinema ou em DVD, um filme produzido na Islândia, cuja indústria cinematográfica é bem recente – anos 80. Vem de lá um filme produzido em 2006 chamado “TRILHA FRIA” (“KÖLD SLÓO”, ou no inglês "Cold Trail"). Trata-se de um suspense dirigido por Björn Br. Björnsson. A história é centrada em Baldur (Pröstur Leó Gunnarsson), um jornalista investigativo de um jornal da capital Reykjavík. Quando é noticiada a morte acidental de um homem encarregado da segurança de uma usina de energia elétrica nos confins do deserto ártico islandês, vem à tona um segredo do passado. A mãe de Baldur, por uma foto publicada no jornal, identifica a vítima como sendo o pai do jornalista. É motivo suficiente para Baldur seguir para a usina com o objetivo de investigar o que aconteceu. Segundo a polícia, havia sido um acidente. Baldur, porém, vai descobrir fatos escabrosos relacionados com o pessoal que trabalha na usina, inclusive caça ilegal e contrabando de renas. Quando você pensa que o filme vai acabar, ainda haverá uma reviravolta surpreendente no final, justamente esclarecendo o assassinato. Mas não se entusiesme muito: o filme não é nenhuma Brastemp, apesar dos cenários gelados repletos de neve. Em todo caso, vale pela curiosidade de assistir a um filme islandês.      

quarta-feira, 20 de agosto de 2014

A mente humana é capaz de criar obras artísticas espetaculares, mas também é capaz de criar muita bobagem. Nesta última categoria, incluo “SOB A PELE” (“Under the Skin”), 2013, um filme inglês de ficção científica dos mais esquisitos. Nem a nudez frente e verso de Scarlett Johansson é capaz de salvar esse abacaxi. Ela é uma alienígena que chega à Terra e ocupa o corpo de uma mulher. No volante de uma van, ela percorre ruas e estradas da Escócia, oferecendo carona para homens que depois serão atraídos por ela para uma casa abandonada. Lá dentro, ela tira a roupa e eles vão atrás, babando e também se despindo, mas aí submergem dentro de uma água escura. Numa noite, ela dá carona a um homem todo deformado, tipo “Homem-Elefante”, e sente algo por ele que é humano: pena. A partir daí, não consegue mais cumprir sua missão. Há várias situações inexplicáveis, como um motoqueiro que passa o filme inteiro indo de lá pra cá, ou o afogamento de uma mulher e o filho numa praia. Scarlett Johansson continua insossa, mas tem um corpão, isso não se pode negar. A história foi baseada no romance homônimo de Michel Faber. Se por acaso você ler uma crítica elogiando o filme, lembre de uma frase do crítico Rubens Ewald Filho: “Crítico adora o que não entende”
O drama inglês “LOCKE”, 2013, dirigido por Steven Knight, que também escreveu o roteiro, não é um filme muito fácil de assistir. A não ser que você não se incomode em passar duas horas vendo um homem falando ao telefone o tempo inteiro. E, pior, ao volante de um carro por uma estrada. Ivan Locke (Tom Hardy), engenheiro-chefe de uma grande obra na cidade inglesa de Birmingham, entra em seu carro após o final do turno de trabalho. Ele recebe um telefonema de Bethan (Olivia Colman), uma mulher com a qual, meses antes, teve um caso de uma noite. Ela diz que está grávida e, naquele exato instante, está indo para um hospital em Londres, onde mora, e pede que Locke esteja ao lado dela quando o bebê nascer. Ele concorda em ir. Durante a viagem, Locke fala sem parar ao telefone, seja com seu chefe na obra, com o seu encarregado, com sua mulher, seu filho, e ainda conversa hipoteticamente com o pai, responsabilizando-o por todos os seus traumas. É um blá-blá-blá sem fim. O filme dura o tempo real da viagem de Locke até Londres. Teve crítico que adorou, achou uma obra-prima. Arrisque se quiser, mas já está avisado(a). 

terça-feira, 19 de agosto de 2014

“DUAS VIDAS” (“Zwei Leben”), 2013, é uma co-produção Alemanha/Noruega, direção de George Maas. Trata-se de um drama com enredo bastante complicado. O ano é 1990, portanto, logo depois da queda do muro de Berlim. Katrine (Juliane Köhler) leva uma vida tranquila na Noruega ao lado da família. Um dia, porém, recebe a visita do advogado Sven Solbach (Ken Duken), que está entrando com um processo judicial contra o governo norueguês por um fato que ocorreu no final da 2ª Guerra Mundial: a liberação de bebês concebidos por norueguesas e soldados alemães para a Alemanha. Pronto, a vida de Katrine vira do avesso. O advogado tem provas de que ela é uma dessas crianças e quer o seu depoimento no tribunal. Katrine, porém, quer se manter fora do processo, pois tem medo de que segredos do seu passado sejam revelados. Em flashbacks, ela vai relembrando tudo o que aconteceu desde a sua fuga da Alemanha Oriental, incluindo fatos tenebrosos que não podem vir à tona, pois podem colocar sua vida e a da sua família em grande risco. “DUAS VIDAS” lembra muito aqueles filmes de espionagem que contam histórias do tempo da Guerra Fria envolvendo os países da Cortina de Ferro. Além da ótima Juliane Köhler, o elenco traz Liv Ullmann e Suen Mordin. O filme foi indicado para representar a Alemanha no Oscar 2014 de Melhor Filme Estrangeiro.    
O drama turco “A PARTÍCULA” (“Zerre”), 2012, dirigido por Erdem Tépegöz, é pra lá de pesado, baixo astral, muito longe, mas muito longe mesmo, de um filme que possa ser chamado de entretenimento. O pano de fundo é a crise econômica na Turquia, o desemprego, a falta de opções e muita pobreza. Zeynep (a excelente Jale Arikan) é uma mulher bem sofrida, mãe solteira, mora com a mãe e a filha deficiente num bairro pobre do subúrbio de Istambul. Trabalha numa fábrica, mas o que ganha não dá nem pra comer. Ela e a mãe ainda fazem sachês perfumados para vender, mas a renda é quase nada. Ela tem a ajuda diária do irmão, que trabalha num restaurante e faz uma marmita com as sobras dos clientes e dá a Zeynep. Como desgraça pouca é bobagem, Zeynep é demitida da fábrica. E não é o tipo de demissão “passa no RH”. Ela é literalmente empurrada aos trancos para fora da fábrica, sem receber um tostão, ou melhor, lira turca. Desesperada, ela passa a procurar emprego e acaba conseguindo um trabalho temporário numa fábrica têxtil longe de Istambul, onde deverá permanecer por alguns dias. Na fábrica, ela é assediada sexualmente pelo seu chefe e foge de volta para Istambul. O desfecho do filme deixa claro que não há perspectiva para Zeynep e a família senão o sofrimento e a penúria. A atriz Jale Arikan é a alma do filme, que foi eleito como o melhor do Festival de Cinema de Moscou em 2013.

segunda-feira, 18 de agosto de 2014

“VIVER É FÁCIL COM OS OLHOS FECHADOS” (“Vivir es Facil com los Ojos Cerrados”), Espanha, 2013, dirigido por David Trueba (irmão do também cineasta Fernando Trueba), é baseado numa história real. Aliás, uma história bastante interessante. O ano é 1966. Antonio (Javier Câmara) é um professor de inglês em Albaceta e que, apaixonado pelos Beatles, utiliza em suas aulas as letras das canções da banda inglesa. Quando soube que John Lennon viria à Espanha para a Almeria (Andaluzia) participar das gravações do filme de “Como Eu Ganhei a Guerra”, dirigido por Richard Lester, ele pegou seu carro e rumou para Almeria, onde estava instalado o set das filmagens. Ele queria, de qualquer jeito, conhecer Lennon pessoalmente. No caminho, Antonio dá carona a dois jovens, Juanjo (Fracesc Colomer) e Belén (Natalia de Molina), com os quais dará sequência à viagem e fará uma singela amizade. Depois de muito esforço, Antonio finalmente consegue conversar com Lennon, que lhe mostra uma canção que acabara de compor: “Strawberry Fields Forever”. Segundo consta, Lennon realmente compôs a música inspirado nas plantações de morango existentes ao redor de Almeria (o título do filme é um trecho da letra da música). Dizem também que foi somente depois da conversa de Lennon com o professor espanhol que os Beatles resolveram encartar as letras das músicas nos seus próximos discos. Todos esses fatos realmente aconteceram, inclusive o filme com Lennon, o que torna este filme espanhol ainda mais saboroso. Não foi à toa que conquistou todos os principais prêmios da 28ª edição do Prêmio Goya, o Oscar espanhol.    

domingo, 17 de agosto de 2014

“CHE” foi um projeto audacioso – co-produção França/Espanha/EUA - que tinha por objetivo retratar a trajetória do médico e guerrilheiro argentino Ernesto “Che” Guevara. O diretor Terrence Malick quase ficou com o filme (ainda bem que não), que enfim foi dirigido por Steven Soderbergh em 2007. Com mais de quatro horas de duração e dividido em duas partes (Parte 1: “O Argentino” e Parte 2: “A Guerrilha”), o filme estreou no Festival de Cannes em 2008 e deu o prêmio de Melhor Ator a Benício Del Toro, realmente impressionante na pele de Che. O elenco ainda conta com Demián Bichir, ótimo como Fidel Castro, Rodrigo Santoro, como Raúl Castro, e mais Franka Potente, Joaquim de Almeida, Julia Ormond, Catalina Sandino Moreno e Lou Diamond Phillips, além de Matt Damon, que faz uma ponta. A primeira parte centra a história na revolução que derrubou o ditador Fulgêncio Batista do governo de Cuba. A segunda parte é toda voltada para a presença de Che na Bolívia, onde liderou uma guerrilha armada até ser morto pelos soldados do exército boliviano, em outubro de 1967. Quem quiser conhecer a trajetória dessa figura mítica não deve perder essa grande obra histórica do cinema.   
Em 2003, o menino Colton, de 4 anos de idade, filho de um pastor de uma pequena cidade do Estado de Nebraska (EUA), é operado de emergência por causa de uma crise de apendicite. O estado dele é tão grave que poucos acreditam que fosse viver. Mas viveu. E, quando acordou, disse que esteve no Céu, viu os anjos, conversou com Jesus e com outras pessoas que já haviam morrido – que ele nem sabia que tinham existido. Uma experiência do tipo “quase morte”. O relato do garoto revela-se surpreendente pelos detalhes. Quando ouve o filho descrever o que viu no Céu e com quem conversou, o pastor coloca em cheque a sua própria fé, dividindo suas dúvidas com a comunidade, o que quase lhe custou o cargo na igreja. Essa história virou livro de grande sucesso e, agora, um filme, “O CÉU É DE VERDADE” (“Heaven is for Real”), que arrastou multidões para os cinemas nos EUA quando foi lançado, no início de 2014. O filme conseguiu reunir uma equipe de atores e atrizes de peso, como Greg Kinnear (pastor Todd Burpo), Kelly Reilly (Sonja Burpo), Margo Martindale (Nancy) e Thomas Haden Church (Jay), além do diretor Randall Wallace (“O Homem da Máscara de Ferro”). O menino Colton é vivido pelo ator mirim estreante Connor Corum. Enfim, um filme para discutir, refletir e testar a nossa fé.