sábado, 26 de dezembro de 2020

 

“MAKTUB”, 2017, Israel, 1h40m, direção de Oded Raz, seguindo roteiro de Guy Amir e Hanan Savyon. A dupla de roteiristas também atua no filme representando os personagens centrais da história. Em “Maktub” (a palavra, em árabe, quer dizer “Já estava escrito”), Steve e Chuma (Savyon e Amir) são dois pilantras que trabalham fazendo cobranças, na base da violência, para o agiota Elkaslasi (Itzik Cohen), chefão de uma organização criminosa que atua em Jerusalém. No caso dos restaurantes visitados, a dupla, além de fazer as cobranças, almoça de graça e ainda interfere na elaboração do cardápio. Quando não gostam da comida, chegam a espancar o chef responsável. Mas não se assuste. Tudo é levado no maior bom humor. Um dia, estão em um restaurante onde acontece um atentado à bomba. Eles são os únicos sobreviventes e acreditam que se salvaram por um milagre. Diante disso, resolvem deixar de trabalhar para o mafioso. Como forma de retribuição ao milagre, decidem, dali para a frente, só fazer o bem. Para começar, vão para o Muro das Lamentações e escolhem uma pessoa para ajudar. Pegam o bilhete que ela coloca no Muro fazendo um desejo e tentarão atendê-lo. Assim acontece com um marido rejeitado pela esposa, com uma mulher que quer engravidar e por aí vai. Só que o chefão mafioso exige que eles voltem a trabalhar para ele. O maior trunfo do filme é, sem dúvida, a química perfeita da dupla de comediantes Guy Amir e Hanan Savyon, que escrevem e atuam também num programa humorístico de grande audiência na TV israelense. Também estão no elenco Igal Naor, Chen Amsalem e Anastasia Fein. Talvez por causa da fama da dupla de humoristas, o filme foi campeão de bilheteria nos cinemas de Israel e depois integrado à plataforma da Netflix. “Maktub” é uma comédia bem leve e muito divertida. Entretenimento de primeira!    

 

quarta-feira, 23 de dezembro de 2020

 

“BITCH”, 2018, Estados Unidos, 1h37m, roteiro e direção de Marianna Palka, que ainda encontrou fôlego para atuar. O filme é mais um exemplo do bom cinema independente norte-americano. Para criar a história, Marianna Palka se inspirou num caso verídico relatado pelo famoso psiquiatra inglês Ronald David Laing (1927/1989). O filme mistura comédia e terror, encaixando-se perfeitamente no gênero Terrir. Jill (papel da diretora) é uma dona de casa em tempo integral, sofrendo um estresse terrível, não só pelo trabalho de cuidar de quatro filhos, mas também por aguentar as ausências constantes do marido Bill (Jason Ritter), sempre envolvido com outras mulheres. Depois de um violento surto psicótico, Jill simplesmente passa a agir como cachorro (“Bitch” é cadela em português). Sobrou para o marido, que praticamente abandona o escritório para cuidar dos filhos. A parada é dura, então ele pede socorro para sua cunhada Beth (Jaime King). Uma psiquiatra recomenda que Jill seja imediatamente internada, mas Bill não concorda. Apesar dos imensos transtornos, prefere ele mesmo assumir os cuidados com a esposa/cadela. Vamos parar por aqui para não estragar as surpresas do desfecho. Não há dúvida de que “Bitch” é um filme bastante interessante, comprovando o talento da atriz/diretora/roteirista Marianna Palka, nascida na Escócia e radicada nos Estados Unidos, onde faz carreira no cinema independente. O filme estreou no Festival de Sundance e recebeu elogios da crítica especializada e do público.   

terça-feira, 22 de dezembro de 2020

 

Já começo o comentário soltando fogos. “A VOZ SUPREMA DO BLUES” (“MA RAINEY’S BLACK BOTT”) é um dos melhores filmes do ano. E pelos inúmeros motivos que destaco ao longo do meu comentário. Trata-se de uma produção norte-americana da Netflix, lançada na plataforma no dia 18 de novembro. Quem assina a direção é George C. Wolfe, com roteiro de Ruben Santiago-Hudson. A história é inspirada na peça teatral escrita em 1984 pelo dramaturgo August Wilson. A personagem central é Ma Rainey, nome artístico de Gertrud Malissa Nix Pridgett Rainey (1886-1939), uma cantora de blues que realmente existiu e foi uma das pioneiras do gênero. O filme é ambientado em 1927 no pequeno estúdio da Paramount Records, em Chicago. Ali estão reunidos os músicos e Ma Rainey (Viola Davis) para gravar um disco. Entre os músicos está o pistonista Levee (Chadwick Boseman, em seu último papel), que gosta de improvisar e tumultuar os ensaios. Ele também entrará em choque com a cantora, que exige fidelidade aos arranjos combinados. Ou seja, sem improvisações. Além de uma saborosa trilha sonora sob a batuta do saxofonista Branford Marsalis, fundamental destacar os diálogos potentes e expressivos, nos quais estão embutidos desde a origem histórica do blues até as tristes lembranças do racismo sofrido pela cantora e pelos músicos. A força do filme está toda aqui, nesse contexto de sofrimento e discriminação dos negros nos Estados Unidos. O grande trunfo do filme, porém, está na atuação espetacular da atriz Viola Davis e no desempenho do ator Chadwick  Boseman (o Pantera Negra), em sua última e brilhante atuação antes de morrer, em agosto último. O trabalho dos dois é tão espetacular que, desde já, estão sendo citados pela crítica especializada como favoritos ao Oscar 2021. O elenco conta ainda com Taylor Paige, Colman Domingo, Glynn Turman, Jeremy Shamos e Michael Potts.  O filme é tão bom que o “Rotten Tomatoes”, o exigente site agregador de avaliações da crítica e do público, o posicionou entre os dez melhores do ano, recebendo a incrível marca de 99% de aprovação. E não é só isso. Tem mais. Ao final da projeção, o filme ainda contempla cenas dos bastidores das filmagens, além de entrevistas com o diretor e o roteirista, com a atriz Viola Davis e com o ator Denzel Washington, que não atua mas é um dos produtores. Enfim, não é exagero considerar “A Voz Suprema do Blues” uma pequena obra-prima do cinema norte-americano. Não perca de jeito nenhum!