segunda-feira, 30 de dezembro de 2019


“ATLANTIQUE”, 2019, coprodução França/Senegal/Bélgica, com distribuição da Netflix (foi lançado mundialmente em 29 de novembro de 2019), 1h47m, marca a estreia da atriz francesa Mati Diop como roteirista e diretora de longa-metragens. A história reúne ingredientes de vários gêneros: drama, romance, policial, mistério, suspense e fantasia. É ambientado em Dakar, capital do Senegal, e totalmente falado em Wolof, a língua oficial do país. A jovem Ada (a atriz estreante Mame Bineta Sane), de 17 anos, de uma família humilde da periferia de Dakar, é prometida em casamento para Omar (Babacar Sylla), herdeiro de uma família rica. Só que ela ama Suleiman (Ibrahima Traoré), um jovem operário que trabalha no canteiro de obras de um edifício futurista em Dakar. Como não recebem salário há meses, Suleiman e alguns companheiros decidem embarcar clandestinamente para a Espanha, mas o barco desaparece misteriosamente. Enquanto isso, durante os preparativos para o casamento de Ada, acontece um incêndio na casa de Omar, iniciado no leito nupcial destinado ao casal. A polícia entra em ação para investigar o fato e começa a desconfiar que o incêndio não foi simplesmente um acidente e sim uma vingança de Suleiman, que, embora desaparecido, teria sido visto andando pelas ruas de Dakar. Ao mesmo tempo, os espíritos dos homens desaparecidos no mar assumem o corpo de várias jovens, que vão até o empresário Nidaye (Diankou Sembene) cobrar os salários devidos pelo trabalho na construção. O mar – no caso, o Oceano Atlântico (daí o “Atlantique”) - aparece em várias cenas do filme, com a câmera estática, uma ideia da diretora para destacar sua importância na história. “Atlantique” foi selecionado para disputar a Palma de Ouro no Festival de Cannes 2019, conquistando o também importante “Grand Prix Spécial Du Jury”. Em Cannes, Mati Dopi também se destacou como a primeira diretora negra a competir pela Palma de Ouro. O filme é muito interessante, merece ser visto. 

sábado, 28 de dezembro de 2019


“MAMÃE SAIU DE FÉRIAS” (“MAMÁ SE FUE DE VIAJE”), 2019, México, 1h40m, roteiro e direção de Fernando Sariñana. Trata-se de um remake do filme argentino “Mamá se Fue de Viaje”, de 2017, que também teve uma versão italiana este ano, “10 Giorni Senza Mamma”. A versão mexicana, tema deste comentário, é muito divertida. Cassandra (Andrea Legarreta), a dona da casa, resolve tirar umas férias para fazer um curso de Ioga. Deixou os quatro filhos aos cuidados do pai, completamente inexperiente na função, pois dedica-se integralmente à empresa onde trabalha como gerente. Ah, ainda sobrou o cachorro da família, “Canabis”. Aquelas confusões de sempre: acordar cedo para fazer o café para a criançada, cuidar das roupas de cada um, deixar comida com o cachorro, levar e buscar no colégio etc. E ainda ter que cuidar de contratar uma faxineira, pois a antiga sofreu um acidente e está de licença. Como toda a desgraça não vem sozinha, Gabriel tem de mostrar serviço na empresa, já que haverá uma promoção para um cargo mais alto e ele é cotado como favorito. Sua maior chance de conquistar o cargo pode estar no Dia da Família, um evento anual organizado pela empresa no qual os funcionários levam suas famílias para participar de brincadeiras, jogos e muitas diversões. As cenas dessa festa são as mais engraçadas do filme. “Mamãe Saiu de Férias” é uma ótima dica para uma sessão da tarde com a família. Para rir à vontade!    

quinta-feira, 26 de dezembro de 2019


“AS GOLPISTAS” (“HUSTLERS”), 2019, Estados Unidos, 1h49m, roteiro e direção de Lorene Scafaria, que adaptou a história, baseada em fatos reais, inspirada no artigo “The Hustlers at Scores”, da jornalista investigativa Jessica Pressler, publicada com exclusividade em 2016 na Revista New York Magazine (no filme, Jessica é interpretada por Julia Stiles). Os fatos se referem a um grupo de dançarinas, ex-strippers, que aplicavam golpes contra seus clientes, a maioria dos quais empresários, altos executivos e gente com a conta bancária recheada. O golpe era simples: elas chamavam o cliente para um programa, colocavam um remédio em sua bebida – tipo “boa noite, Cinderela” - e depois surrupiavam seus cartões de crédito, esvaziavam suas contas e transferiam o dinheiro para uma conta conjunta das “meninas”. A chefona do esquema era Ramona (Jennifer Lopez), com a cumplicidade de Destiny (Constance Wu), Mercedes (Keke Palmer) e a loiraça Annabelle (Lili Reinhart). O filme conta a história das moças desde o começo, 2007, quanto atuavam como strippers num clube frequentado por altos executivos de Wall Street. Em 2008, com a crise econômica, o clube perdeu os clientes e os negócios caíram ladeira abaixo. Cada uma das moças foi se virar de alguma forma, até trabalhando como vendedoras em lojas de roupas. Alguns depois, elas se reencontraram e tiveram a ideia dos golpes. Confesso que fiquei em dúvida se assistia ou não, mas não me arrependi, pois o filme é bastante interessante, principalmente por ser baseado em fatos reais que, se eu não estiver enganado, passaram em branco por aqui. Embora seja de Constance Wu a personagem condutora da história, é a diva Jennifer Lopez que se destaca pelo visual “mulherão” e até com uma atuação bastante convincente. Dizem até que deve ser indicada ao Oscar. O filme estreou no dia 7 de setembro de 2019 no Festival Internacional de Cinema de Toronto.   

terça-feira, 24 de dezembro de 2019


“CORINGA” (“Joker”), 2019, EUA, 2h2m, direção de Todd Philips, que também assina o roteiro com a colaboração de Scott Silver. Como todo mundo sabe, “Coringa” é aquele personagem assustador dos filmes de Batman e um de seus principais inimigos. O filme volta no tempo para 1981, quando “Coringa” era apenas Arthur Fleck (Joaquin Phoenix), um palhaço que durante o dia trabalhava na porta de comércios de rua em Gotham City e à noite tentava fazer sucesso como comediante de stand-up. Ainda não havia Batman (ele não aparece e nem mesmo é mencionado). A história é toda centrada em Arthur Fleck, um sujeito com graves distúrbios mentais controlados apenas com remédios que recebe da assistência social, que também é encarregada do seu acompanhamento psicológico. Até que um dia o governo municipal, para reduzir custos, cancela os remédios e o tratamento psicológico. Sem essa assistência, Fleck passa a ter surtos psicóticos violentos. Vestido de palhaço, ele mata três executivos de uma importante empresa de Gotham City dentro de um vagão do metrô. A notícia se espalha pela cidade e o tal palhaço assassino não identificado transforma-se no herói das classes menos favorecidas, provocando um movimento popular violento contra a elite da cidade. Enquanto sua identidade não é descoberta, Fleck, por causa de um vídeo onde aparece fazendo stand-up, é convidado a participar do programa televisivo de auditório comandado por Murray Franklin (Robert De Niro) e logo vira celebridade, exigindo que seja chamado de “Coringa”. Este é apenas um resumo da história, mas tem muito mais até o desfecho. Na verdade, o roteiro apresenta como pano de fundo um estudo psicológico de uma mente doentia, que gradualmente se transforma num psicopata dos mais violentos. O filme tem todos os ingredientes para receber um grande número de indicações ao Oscar 2020, a começar pela impressionante atuação de Joaquin Phoenix. Seus olhares, seus gestos e suas risadas provocam calafrios. Para fazer o papel, o ator perdeu 24 quilos, aspecto que tem bastante efeito na premiação. Também é destaque a direção de arte, especialmente os cenários, figurinos e uma fotografia deslumbrante, além do restante do elenco, com Zazie Beetz, Frances Conroy e Brett Cullen. Outro trunfo do filme é sua trilha sonora, criada pela compositora islandesa Hildur Guonadóttir, que fortalece, valoriza e aumenta a tensão de cada uma das cenas impactantes, que são muitas. O filme estreou em agosto de 2019 durante o 76º Festival Internacional de Cinema de Veneza e ganhou o "Leão de Ouro", principal premiação do evento. “Coringa” é um filme perturbador, tenso, assustador. E genial. Um dos grandes filmes do ano. Imperdível!   



quarta-feira, 18 de dezembro de 2019


“EL REINO”, 2018, Espanha, 2h12m, roteiro e direção de Rodrigo Sorogoyen (“Que Dios nos Perdone”). Um filme poderoso e impactante, onde os bastidores sujos da política – corrupção, traições, negociatas etc. – são expostos de forma crua e impiedosa. A história é inspirada num dos mais famosos esquemas de corrupção da Espanha, o “Caso Gürtel”, descoberto em novembro de 2007 e que levou gente graúda do Partido Popular (PP) para a cadeia. No filme, o personagem principal é Manuel López-Vidal (Antonio de la Torre, ótimo), vice-secretário de um governo regional que está sendo cotado para ser candidato de seu partido a um alto cargo no governo espanhol. A turma partidária de Manuel inclui políticos importantes (é nesse grupo que se baseou o título original do filme). São os chamados “caciques” do partido. Eles se reúnem constantemente em restaurantes e hotéis luxuosos e até no iate de um deles, além de festinhas tipo Sérgio Cabral e quadrilha em Paris. O objetivo dessas reuniões é o de sempre: festejar alguma maracutaia bem-sucedida, derrubar algum inimigo (ou até um amigo) político e planejar o próximo golpe. Enfim, gente da pior qualidade e sempre com a pior das intenções (lembram políticos de algum país que você conhece?). Até que um dia Paco (Nacho Fresnada), um dos políticos da turma de Manuel, acaba denunciado e preso acusado de conceder contratos públicos a empresas em troca de dinheiro. As acusações recaem também sobre Manuel, que, ao ver sua carreira política praticamente arruinada, decide que não vai “cair” sozinho. O elenco conta ainda com Bárbara Lennie (excelente), Josep Maria Pou, Mónica López, Luis Zahera e Ana Wagener. “El Reino” foi o grande vencedor do 33º Prêmio Goya de Cinema (o Oscar espanhol), recebendo nada menos do que 13 indicações. Ganhou em sete categorias, entre as quais Melhor Diretor, Melhor Ator (Antonio de La Torre) e Melhor Roteiro Original. Também arrancou elogios entusiasmados quando foi exibido no 66º Festival de San Sebastian e ainda na Seção “Contemporany World Cinema” do Toronto International Film Festival/2018. Sem dúvida, um grande filme. Imperdível!       

terça-feira, 17 de dezembro de 2019


PÂNICO NAS ALTURAS (“OTRYV”), 2019, Rússia, 1h25m, direção de Tigran Sakakyan, que também é autor do roteiro com a colaboração de Denis Kosyakov e Alexandr Nazarov. É o primeiro longa-metragem do cineasta russo Tigran. Uma boa estreia, aliás, pois realizou um suspense de tirar o fôlego. Na noite de Ano Novo, cinco amigos resolver alugar um teleférico para subir numa montanha dos Montes Urais e de lá descer até a base de snowboarding. Programa de maluco, enfrentar um frio de muitos graus abaixo de zero (a cordilheira é uma das mais frias do mundo), tempestades etc. No meio do caminho, quando estão bem lá no alto, lá embaixo, na sala de controle, o maquinista sofre um grave acidente, provocando a parada do equipamento. Ou seja, o teleférico ficou ao sabor do vento, deixando os amigos apavorados. O filme relata o sofrimento desse pessoal até o desfecho. A gente acompanha tudo na maior aflição, num alto nível de tensão e suspense, pois a cada minuto acontece algo para piorar ainda mais a situação. A gente fica com a impressão de que apenas nós, os espectadores, sobreviveremos. No elenco – para mim, de ilustres desconhecidos - estão Irina Antonenko (uma atriz russa lindíssima), Anastasiya Grachyova, Vladimir Gusev, Denis Kostakov (também um dos roteiristas) e Andrey Nazimov. Um bom programa para quem gosta de sofrer curtindo o sofrimento dos outros.           

segunda-feira, 16 de dezembro de 2019


“O MISTÉRIO DE HENRI PICK” (“LE MISTÈRE HENRI PICK”), 2018, França, 1h40m, roteiro e direção de Rémi Bezançon, com a colaboração de Vanessa Portal. O filme foi uma das atrações da programação oficial do Festival Varilux de Cinema Francês realizado aqui no Brasil em junho de 2019. Daphne Despero (Alice Izaaz), jovem funcionária de uma famosa editora de Paris, tira uns dias de férias para visitar seu pai em Crozon, um pequeno vilarejo na Bretanha. Numa visita a uma livraria do lugar, ela acaba conhecendo uma seção inusitada, dedicada a manuscritos rejeitados, ou seja, que não foram aceitos pelas editoras e, portanto, jamais publicados. Ao verificar alguns exemplares, Daphne encontra um com o título que chamou sua atenção: “As Últimas Horas de uma História de Amor”, escrito por um tal de Henri Pick. Pesquisando quem seria o desconhecido escritor, ela descobre que era um antigo pizzaiolo de um restaurante local, falecido há dois anos. Ela encontra a viúva de Pick, Madeleine (Josiane Stoléru), e sua filha, Joséphine (Camille Cottin), que desconheciam a existência do tal manuscrito e muito menos que Pick tinha como hobby a escrita. Com a autorização de Madeleine e de Joséphine, o livro é publicado pela editora de Daphne e vira um best-seller imediato em toda a França. A história de como o livro foi descoberto vira um fenômeno de mídia e Daphne, Madeleine e Joséphine são convidadas para participar do programa televisivo de grande audiência comandado por um renomado crítico literário, Jean-Michel Rouche (Fabrice Luchini). Durante a entrevista, ao vivo, Rouche afirma que o livro é uma fraude, que um simples pizzaiolo jamais escreveria um romance tão bom. A atitude de Rouche acaba tumultuando o ambiente, e suas convidadas, sentindo-se caluniadas, saem furiosas do programa. Resultado: Rouche perde o emprego e, pior, acaba abandonado pela esposa, que adorou o livro. A partir daí, o caso vira ponto de honra para Rouche. Ele vai tentar provar de qualquer jeito que Henri Pick jamais escreveu o livro. O filme é muito simpático e divertido, principalmente depois que Rouche inicia sua investigação. Destaque para a participação especial da atriz alemã Hanna Schygulla, que um dia foi minha musa mas que agora, aos 75 anos, está irreconhecível. Fabrice Luchini é um dos mais competentes atores franceses e sua atuação valoriza ainda mais essa deliciosa produção que tem como pano de fundo a Literatura e o trabalho das editoras. Imperdível!           

domingo, 15 de dezembro de 2019


“ALÉM DA ILUSÃO” (PLANETARIUM”), 2016, França, 1h46m, roteiro e direção da cineasta francesa Rebecca Zlotowski (“Grand Central”). A história é toda centrada nas irmãs Laura (Natalie Portman) e Kate Barrow (Lily-Rose Depp), jovens norte-americanas que nos anos 30 partiram para a Europa com o objetivo de ganhar dinheiro com apresentações de mediunidade, que lotavam teatros nas principais capitais europeias. Kate era quem invocava os espíritos, enquanto Laura trabalhava como empresária da dupla e mestre de cerimônias. Em Paris, elas são contratadas para uma apresentação particular ao produtor de cinema André Korben (Emmanuel Salinger), judeu polonês, que quer se comunicar com um amigo que faleceu anos antes. Korben torna-se amigo das irmãs e resolve agenciá-las para produções cinematográficas. Mas é Laura quem faz sucesso, tornando-se uma atriz de relativo sucesso. O grande destaque do filme é a primorosa direção de arte, envolvendo a recriação de época, cenários e figurinos. Um trabalho deslumbrante. Confesso que não lembro de ter visto Natalie Portman tão bonita como neste filme. Trata-se da segunda incursão da atriz, nascida em Israel, no cinema francês. A primeira foi justamente em sua estreia, em 1994, aos 13 anos de idade, no filme “O Profissional”, contracenando com Jean Reno e Gary Oldman, dirigida por Luc Besson. Hoje, aos 38 anos, figura como uma das melhores e mais bonitas atrizes da atualidade. Possui até um Oscar de Melhor Atriz em 2010 por sua atuação em “Cisne Negro”. Natalie já tem um filme como diretora, “De Amor e Trevas”, além de um segmento de “Nova Iorque, Eu te Amo”. Destaco também no elenco a jovem atriz Lily-Rose Depp, filha do ator Johnny Depp e da atriz e cantora Vanessa Paradis, além das presenças de Amira Casar e Louis  Garrel, este último numa participação especial. Resumo da ópera: “Além da Ilusão” é cinema de muita qualidade, um excelente programa para os amantes da Sétima Arte.                

quinta-feira, 12 de dezembro de 2019


“BACURAU”, 2019, Brasil, 2h10m, roteiro e direção de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Ou seja, feito a quatro mãos. Ou, melhor, dois cérebros. O que não quer dizer nada, pois o filme é sem pé nem cabeça. A história é dividida em três atos. Primeiro, a apresentação do pessoal do povoado de Bacurau, nos cafundós do sertão, durante o velório e enterro da matriarca do lugar, dona Carmelita. Tem a antiga moradora que volta para as exéquias, a médica do lugar, o professor e outros personagens. Logo no início, o pessoal descobre que Bacurau não está no mapa. Um lugar fictício? No segundo ato, aparece um grupo de turistas norte-americanos que veio ao sertão do Brasil para participar de um tipo de gincana, durante a qual ganha ponto a cada pessoa que matam. As vítimas, claro, são moradoras de Bacurau e arredores. Para localizá-las e depois matá-las, o grupo utiliza drones disfarçados de discos voadores (Vão vendo!). No terceiro e último capítulo, os assassinos finalmente encontram a resistência do povoado, que vai se defender com a ajuda de um cangaceiro sanguinário nascido no vilarejo. A guerra está lançada! “Bacurau” é um filme meio surreal, que mistura gêneros como drama, faroeste caboclo, fantasia e ficção científica. No fundo, no fundo, é um filme trash, daqueles tipo invasão de zumbis, terror sanguinolento e outros congêneres. As filmagens aconteceram na cidade de Barra, no Rio Grande do Norte. No elenco, destaque para as presenças de Sônia Braga, do ator alemão Udo Kier, Bárbara Colen, Thomás Aquino, Silvero Pereira, Karine Teles, Lia de Itamaracá e Wilson Rabelo. Apesar dos pesares, o filme dividiu o Prêmio do Júri no 72º Festival de Cannes/2019 com "Les Misérables". Momento cultural: Bacurau é o nome de uma ave de hábitos noturnos que vive no sertão brasileiro e também apelido do último ônibus da madrugada no Recibe. Quer embarcar nessa arriscada aventura? Fique à vontade.                  

terça-feira, 10 de dezembro de 2019


“AD ASTRA – RUMO ÀS ESTRELAS” (“AD ASTRA”), 2019, Estados Unidos, 2h01m, roteiro e direção de James Gray. Trata-se de uma ficção científica bem arrojada, com uma história pra lá de mirabolante, maluca mesmo, indicada para quem curte filmes com naves espaciais e viagens interplanetárias. Estamos num futuro bastante distante, quando o mundo inteiro de repente é afetado por ondas elétricas vindas não se sabe de onde e que estão ocasionando apagões em todo nosso planeta. O major Roy McBride (Brad Pitt), engenheiro e astronauta, é enviado para espaço com o objetivo de descobrir o que está acontecendo. Ele chega primeiro à Lua e depois a Marte. Em ambos estão instaladas bases militares espaciais norte-americanas. No meio da missão, os superiores entram em contato com Roy e dizem ter evidências de que seu pai, o também astronauta Clifford McBride (Tommy Lee Jones), que se perdeu no espaço há 20 anos no caminho para Netuno, pode estar vivo. Segundo foi apurado, Clifford abandonou sua missão inicial e partiu para outras galáxias tentando provar que existe vida inteligente em outros planetas, ao contrário das versões oficiais que já comprovaram não existir vida além da Terra (a afirmação é do filme). Perturbado pela notícia sobre a possibilidade de seu pai estar vivo, Roy desobedece a seus superiores, sequestra uma nave e parte para encontrar seu pai, se é que realmente está vivo. Se há algo que deve ser elogiado no filme de Gray (“Uma Vez em Nova Iorque”, “Z: A Cidade Perdida”) é o design de produção, com cenários deslumbrantes e uma fotografia das mais competentes, além de algumas cenas de ação muito bem realizadas. O que me irritou foi a utilização demasiada da narração em off, na qual Roy exprime seus pensamentos. Uma chatice que lembra os filmes abomináveis do intragável cineasta norte-americano Terrence Malick. No mais, “Ad Astra” (momento cultural: do latim traduzido para o português, “Rumo às Estrelas”) não merece muitos elogios e poucos motivos para recomendá-lo. Mas sou suspeito em dizer isso, pois nunca fui muito fã de filmes de ficção científica, principalmente aqueles com naves, astronautas, viagens interplanetárias e alienígenas. Completam o elenco Liv Tyler, Ruth Nega e Donald Sutherland. O filme estreou durante a programação oficial do Festival de Veneza no dia 29 de agosto de 2019. Indicado para aqueles que vivem no mundo da Lua.                   

domingo, 8 de dezembro de 2019


“CONEXÃO DE ELITE” (“THE PREPPIE CONNECTION”), 2016, EUA, 95 minutos, feito originalmente para TV, roteiro e direção de Joseph Castelo (é o seu 3º longa-metragem). A história é baseada em fatos reais e inspirada na vida de Derek Oatis, um estudante de família pobre que na década de 80, por intermédio de uma bolsa, conseguiu se matricular numa renomada escola preparatória particular. Para se enturmar com um grupo de jovens estudantes ricos e bagunceiros, Derek ingressou na turma para ficar perto de uma menina que ele adorava, mas que namorava um outro cara. Na convivência com os ricaços da faculdade, Derek percebeu que podia ganhar dinheiro vendendo cocaína e, assim, ajudar os pais financeiramente. Com a colaboração de um aluno colombiano cujo pai era embaixador, Derek conseguiu viajar para a Colômbia e lá entrar em contato com um traficante, arranjar a droga e depois comercializá-la na faculdade. Fez isso várias vezes, mas abusou da sorte e acabou preso (o verdadeiro Derek aparece dando um depoimento durante os créditos finais). O caso foi um escândalo nacional, pois envolveu filhos de políticos e empresários importantes. No filme, Derek ganhou o nome de Tobias Hammel (Thomas Mann), assim como os outros personagens tiveram os nomes alterados, provavelmente por questões judiciais, como Alexis Hayes (Lucy Fry), Ellis Tynes (Logan Huffman) e Ingrid (Amy Hargreaves), entre outros. Aos 28 anos, o bom ator Thomas Mann já tem um currículo extenso no cinema, com 5 séries de TV e 26 filmes, entre os quais “João e Maria: Caçadores de Bruxas” (2013), “Escola de Espiões” (2015), “Herança de Sangue” (2016) e “Estrada Sem Lei” (2018).             

sábado, 7 de dezembro de 2019


“INVASÃO AO SERVIÇO SECRETO” (“ANGEL HAS FALLEN”), 2019, EUA, 2h1m, direção de Ric Roman Waugh, que também é autor do roteiro com a colaboração de Katrin Benedikt, Robert Mark Kamen, Matt Cook e Creighton Rothenberger. Este é o terceiro filme da série que conta como principal personagem o agente secreto Mike Benning (Gerard Butler, também protagonista dos dois primeiros, “Invasão à Casa Branca”, de 2013, e “Invasão a Londres”, de 2016). Desta vez, ou mais uma vez, Mike tenta proteger o presidente norte-americano Allan Trumbull (Morgan Freeman) de uma conspiração comandada por integrantes de uma organização ligada à indústria de armas, cujo objetivo é assassinar Trumbull e provocar uma guerra com a Rússia. Entre eles, alguns ex-agentes secretos que trabalharam com Benning. No primeiro atentado contra o presidente, durante uma pescaria num lago, os criminosos utilizam um sofisticado “exército” de drones equipados com bombas. Morre quase todo mundo, numa espetacular cena de prender o fôlego.  Ao longo das investigações realizadas pelo FBI, descobre-se que existe alguém ligado à alta cúpula do governo que está vazando informações não só para a imprensa, como também para a organização criminosa, que não sossega enquanto não matar o nº 1 dos EUA. Enquanto isso, o pessoal do FBI recebe um dossiê falso que aponta como o idealizador de toda a trama o próprio Benning, que é obrigado a fugir e depois tentar provar sua inocência. Leah Benning, esposa do agente, e o pai dele, Clay Benning (Nick Nolte), acabam também envolvidos na história, correndo risco de vida. Mas o nosso herói vai resolver tudo da melhor maneira possível, garantindo um desfecho mais do que previsível. O ator escocês Gerard Butler, que já esbanjou charme em “O Fantasma da Ópera (2004) e barriga de tanquinho em “300” (2006), mostra agora uma evidente decadência física. Está meio inchado, resultado das biritas que adora tomar. Talvez não faça a 4ª versão, se houver. De qualquer forma, “Invasão ao Serviço Secreto” tem todos os ingredientes de um bom filme de ação, geralmente um gênero que dá folga aos nossos neurônios. Saco de pipoca na mão e boa sessão da tarde!            

quinta-feira, 5 de dezembro de 2019


“PÁSSARO DO ORIENTE” (“EARTHQUAKE BIRD”), 2019, coprodução EUA/Japão em conjunto com a Netflix, 1h48m, roteiro e direção do cineasta inglês Wash Westmoreland. A história é baseada no livro “The Earthquake Bird", de 2001, escrito pela romancista inglesa Susanna Jones, um grande best seller na época. Tóquio, 1989. A cena inicial mostra Lucy Fry (Alicia Vikander) sendo interrogada numa delegacia de polícia sobre o desaparecimento de sua amiga Lily Bridges (Riley Keough). Durante os diálogos, surpreende como a sueca Vikander domina o idioma japonês. Tinha que ser assim, pois seu personagem mora já há cinco anos no Japão. Lucy trabalha como tradutora numa empresa no centro de Tóquio e, aparentemente, é uma jovem normal e trabalhadora, porém muito solitária. Em flashbacks, o filme recorda os fatos que antecederam ao sumiço de Lily. Primeiro, o envolvimento amoroso de Lucy com Teiji (Naoki Kobayashi), um japonês charmoso que trabalha como cozinheiro num restaurante, mas que nas horas vagas é fotógrafo amador. Os dois se apaixonam e o romance vai bem até a chegada de Lily dos Estados Unidos. Ao apresentar Lily a Teiji, Lucy percebe que os dois se atraem e pinta o maior ciúme. O suspense do filme gira em torno justamente do que Lucy fará a respeito. Eliminar Lily, como sugere o episódio que se desenrola na delegacia? Como sugestão para colocá-la como principal suspeita, o filme aborda um fato traumático de seu passado, justamente o que a motivou a se mudar para o Japão. Ou quem sabe Teiji, que adora retratar pessoas mortas e quer provar seu amor por Lucy? Nada mais é possível acrescentar para não estragar o final da história. O filme é bastante interessante, apresentando como um de seus maiores destaques os cenários da capital japonesa, valorizados pela fotografia deslumbrante do sul-coreano Chung Chung-hoon. Com relação à história, o diretor Westmoreland (“Para Sempre Alice” e “Colette”) consegue manter um clima de tensão que nos leva a querer chegar logo ao fim para descobrir o que realmente aconteceu. Também merecem destaque as atuações da atriz sueca Alicia Vikander, vencedora do Oscar 2015 de Melhor Atriz Coadjuvante pelo seu trabalho em “A Garota Dinamarquesa” e protagonista de “Tom Raider: A Origem” (2018) como Lara Croft. Na vida real, Alicia é casada, desde 2017, com o ator Michael Fassbender. Quanto à bela e boa atriz Riley Keough, lembro que é filha da cantora Lisa Marie Presley e, portanto, neta de Elvis. Com quase 1m90 de altura, Naoki Kobayashi foge um pouco do estereótipo de seus conterrâneos. Além de ator, o galã Naiki é cantor de um grupo pop, além de dançarino e modelo. Voltando a “Pássaro do Oriente”, cuja estreia aconteceu dia 10 de outubro de 2019 no BFI London Film Festival (na Netflix, foi exibido pela primeira vez no dia 5 de novembro de 2019), trata-se de um filme bastante criativo, bem escrito e dirigido. Recomendo.          

terça-feira, 3 de dezembro de 2019


“O IRLANDÊS” (“THE IRISHMAN”), 2019, EUA, direção de Martin Scorsese, distribuição da Netflix (no Brasil, estreou dia 27 de novembro de 2019). Posso afirmar, com toda certeza, que este é o grande favorito ao Oscar 2020 em várias categorias. Um épico com a marca registrada do grande diretor Martin Scorsese. Com roteiro de Steven Zaillian, adaptado do livro “I Heard You Paint Houses”, escrito por Charles Brandt, a história, baseada em fatos reais, acompanha, durante décadas, desde o pós-Segunda Guerra Mundial, a trajetória de Frank Sheeran (Robert De Niro), um simples motorista de caminhão que transportava carnes para um frigorífico pertencente a um chefão da Máfia. Aos poucos ele vai se aproximando do crime organizado e logo se transforma num assassino de aluguel sob o mando de Russel Bufalino (Joe Pesci), chefão mafioso da Pensilvânia. Também se transforma em homem de confiança e segurança do lendário líder sindical Jimmy Hoffa (Al Pacino), que mantinha estreitas ligações com os chefões do crime organizado. Scorsese prioriza a questão da honra entre os integrantes da máfia italiana, os acordos realizados em mesas de restaurantes, muitos resultando em mortes encomendadas – sim, há muita violência -, vinganças, traições e toda a sujeira que envolve a atividade criminosa. Completam o elenco, entre outros, Karvey Keitel, Bobby Carnevale, Anna Paquin e Stephen Graham. Mas os destaques são, sem dúvida, os desempenhos magistrais de De Niro, Pacino e, principalmente, Joe Pesci (aposto que vai ganhar o Oscar de Melhor Ator Coadjuvante). Eu acreditava que nenhum outro filme sobre a Máfia superaria “Os Bons Campanheiros”, do próprio Scorsese. E não é que ele se superou? “O Irlandês” é sensacional, uma obra-prima, 3h30m do mais puro deleite cinematográfico, um filme que você não quer que termine. Logo depois de seu lançamento, em 27 de setembro durante o 57º Festival de Cinema de Nova Iorque, “O Irlandês” já foi considerado o melhor filme de 2019 e o melhor roteiro adaptado pela National Board of Review, organização que reúne críticos de cinema e profissionais da indústria cinematográfica norte-americana. Obrigado, Scorsese!     

segunda-feira, 2 de dezembro de 2019


“A DAMA DE BACO” (“JUG-YEO-JU-NEUM YEO-JA” - nos países de língua inglesa, "The Bacchus Lady"), 2016, Coreia do Sul, 1h50m, roteiro e direção de E J. Yong. Mais uma pérola do cada vez mais surpreendente cinema sul-coreano. Trata-se de um “drama agridoce”, segundo definição do próprio diretor. Realmente, a história é dramática, muito triste e melancólica, mas tem seus momentos sensíveis e algumas pitadas de humor. A trama é toda centrada em So-Young (Yoon Yeo-Jeong), uma idosa que passou dos 70 e se prostitui para ganhar dinheiro. Um parêntese: embora seja a 12ª economia do mundo (a 11ª quando o filme foi realizado), a Coreia do Sul ainda apresenta um dos maiores índices de pobreza entre idosos do mundo, situação, inclusive, que leva vários deles ao suicídio. Voltamos ao filme: So-Young frequenta o parque Jongmyo, na capital Seul, onde circula, juntamente com outras idosas, com o pretexto de vender uma garrafinha de Bacchus, bebida energética para os idosos se sentirem com mais disposição para o sexo. Na verdade, o que lhe dá dinheiro são os programas que faz a quatro paredes num motel próximo. Numa ida ao médico para tratar de uma doença venérea, So-Young testemunha uma briga entre uma imigrante filipina e o médico, acusado por ela de ser o pai do seu filho, o agride e acaba presa. O menino, Jae-Woo (Chon Moo-Song), fica solto nas ruas e So-Young resolve adotá-lo. A idosa mora num conjunto residencial simples e tem como vizinhos um rapaz boa gente, Do-Hoon (Yoo Kye-Sang), e a simpática transsexual Tina (An A-Zu). Mesmo responsável pelo garoto, So-Young continua a fazer seus programas, às vezes levando até o menino junto. Ao mesmo tempo, So-Young conhece vários idosos desiludidos com a vida, solitários ou doentes terminais, que imploram a ela que os ajude a passar para o outro lado. Enfim, tudo no filme gira em torno da idosa So-Young, interpretada com muita sensibilidade e competência pela veterana atriz sul-coreana Yoon Yeo-Jeong, que eu passei a admirar depois que a vi atuar em filmes como “A Empregada”, de 2010, e no ótimo “Canola”, de 2016, entre tantos outros. “A Dama de Baco” foi exibido na seleção oficial dos Festivais de Berlim, Londres, Seattle, Hong Kong, Melbourne e Rio de Janeiro, além de receber os prêmios de Melhor Roteiro e Melhor Atriz no “Fantasia Film Festival” (Montreal), em julho de 2016. Também conquistou o Prêmio do Júri no Asia Pacific Screen Awards. Merecia muito mais, pois é um grande filme, sensível e impactante. Não perca!       

domingo, 1 de dezembro de 2019



“ERA UMA VEZ EM...HOLLYWOOD” (“ONCE UPON A TIME...IN HOLLYWOOD”), 2019. EUA, 2h40m, roteiro e direção de Quentin Tarantino. Este é o 9º longa-metragem do diretor norte-americano e, para mim, o melhor. Ele ambienta a história em 1969, o ano em que turma do Charles Manson matou a atriz Sharon Tate e amigos, naquela que é considerada até hoje a maior tragédia ligada à história do cinema. Além de ser casada com o cineasta polonês Roman Polanski e estar grávida quando foi assassinada, Sharon (Margot Robbie) era uma atriz em grande ascensão. Este episódio tão nefasto ocupa grande parte do final do filme de Tarantino. Na verdade, o grande cineasta norte-americano fez uma comédia satirizando Hollywood, ao mesmo tempo em que homenageia o Cinema em geral e, particularmente, o gênero western ou, como nós o chamamos, faroeste. E Tarantino conhece como ninguém a sua grande paixão, desde que trabalhava como atendente numa videolocadora. A história é centrada em Rick Dalton (Leonardo Di Caprio), um ator de grande sucesso em séries de TV que decide arriscar o estrelato em Hollywood. Quem o acompanha no seu dia a dia é o amigo Cliff Booth (Brad Pitt), seu dublê oficial há vários anos, além de motorista, segurança e companheiro nas bebedeiras. Em meio à rotina de trabalho de Rick nos sets de filmagem, Tarantino acrescenta a aparição de astros da época, como Bruce Lee (Mike Moh) e um impagável Steve McQueen (Damian Lewis). E ainda utiliza efeitos especiais para colocar Rick Dalton contracenando em filmes famosos das décadas de 50 e 60, mais uma das grandes atrações deste filme genial de Tarantino, na minha opinião, como já disse, o melhor do cineasta. O elenco também conta com astros do porte de Al Pacino, Bruce Dern, Margaret Qualley, Kurt Russell, Dakota Fanning, Luke Perry, Austin Butler, Lorenza Izzo, Julia Butters e Rafal Zawierucha. “Era uma Vez...” estreou na programação oficial do 72º Festival Internacional de Cinema de Cannes, em maio de 2019. A recepção foi a melhor possível. Realmente, um filmaço!   

sexta-feira, 29 de novembro de 2019


“STYX”, 2018, Áustria/Alemanha, 1h35m, direção de Wolfgang Fischer, que assina o roteiro juntamente com Ika Künzel. A história é centrada em Rieke (Susanne Wolff), uma médica que resolve enfrentar uma grande aventura nas suas férias: velejar sozinha, no iate “Asa Gray”, partindo de Gibraltar (sul da Espanha) até a Ilha de Ascensão, no Oceano Atlântico. Trata-se de uma ilha britânica visitada várias vezes por Charles Darwin em suas pesquisas. Logo você percebe que Rieke é uma navegadora experiente. O filme quase inteiro acompanha essa viagem, sem qualquer diálogo – a não ser dela com a rádio da Guarda Costeira -, mostrando o árduo trabalho de Rieke em içar velas, corrigir a rota, verificar os equipamentos e enfrentar uma ou outra tempestade. Mas nem por isso o filme é monótono. Pelo contrário, é bastante movimentado, principalmente porque o barco vai pra lá e pra cá, sobe e desce na agitação do alto-mar. Você tem a sensação de estar a bordo. Haja Dramin! Apesar de uma forte tempestade que quase vira o barco, o restante da viagem transcorre na maior normalidade. Até que Rieke chega perto da Ilha de Cabo Verde, perto da costa do Senegal. Ali, ela avista um barco à deriva repleto de refugiados africanos precisando de ajuda. Rieke tenta a todo custo pedir o auxílio da Guarda Costeira, que determina, de forma autoritária, que ela fique longe do barco e siga adiante com sua viagem. Como médica, porém, ela não dará atenção à ordem e tentará ajudar os refugiados, mesmo que sua viagem seja prejudicada. O filme é tão bom que conquistou mais de 30 premiações em festivais internacionais de cinema, sendo ainda finalista do Prêmio Lux de Cinema do Parlamento Europeu. Também foi exibido na Mostra Panorama do 68º Festival de Cinema de Berlim. Fiquei intrigado com o título original, “STYX”. Pesquisei bastante e encontrei o seu significado. Trata-se de uma ninfa na mitologia grega. Era filha de Tétis e ajudou Zeus na Guerra Titanomaquia contra os titãs. Tá explicado? Resumo da ópera: o filme é muito bom, valorizado pelo excelente desempenho da bela atriz alemã Susanne Wolff, que, aos 46 anos, mostra excelente forma física. Não é à toa que carrega o filme nas costas...   

quinta-feira, 28 de novembro de 2019


Como é possível realizar um filme agradável de assistir utilizando apenas três personagens, somente um cenário e acrescentar humor (negro) quando o assunto principal é a eutanásia? O diretor suíço Lionel Baier conseguiu essa façanha com “A VAIDADE” (“LA VANITÉ”), 2016, coprodução Suíça/França, 1h15m. É bom esclarecer que ele teve a ajuda do roteirista Julien Bouissoux. Poderia ter sido uma peça de teatro, mas ficou muito bem na telinha. Vamos à história: David Miller (Patrick Lapp), um arquiteto consagrado, à beira dos 80, está com câncer terminal no cérebro e, depois de três cirurgias, não conseguiu se livrar da doença. Preferiu então contratar os serviços de uma instituição especializada em realizar eutanásias assistidas – na Suíça, a eutanásia assistida é permitida desde 1942. Como local de seu último suspiro, David escolheu um motel que ele e a falecida esposa, também arquiteta, projetaram há muitos anos e que hoje está totalmente decadente. Esperanza (a atriz espanhola Carmen Maura, a musa de tantos filmes de Almodóvar) é a funcionária da organização encarregada de ministrar os remédios fatais. De acordo com o protocolo da firma e da própria lei suíça, o procedimento exige que haja uma testemunha. Davi e Esperanza precisaram improvisar, convocando o prostituto Trépleu (Luan Georgiev), um imigrante russo que naquela ocasião recebia seus clientes no quarto vizinho. A reunião entre estes três personagens é que dá impulso à história. Cada um deles fala de seu passado, problemas conjugais, suas escolhas na vida e conversam muito sobre a questão da eutanásia. Tudo realizado com um pitadas de humor inteligente, principalmente durante os diálogos, tornando esta produção suíça um ótimo entretenimento, valorizada ainda mais pelo desempenho dos veteranos David Lapp e Carmen Maura, além de Ivan Georgiev. No Swiss Film Prize, o Oscar suíço, Patrick Lapp e Ivan Georgiev foram premiados por sua atuação. Enfim, cinema da melhor qualidade.    

quarta-feira, 27 de novembro de 2019


“A ESCOLA DA VIDA” (“L’ÉCOLE BUISSONNIÈRE”), 2017, França, 116 minutos, direção de Nicolas Vanier, que escreveu o roteiro com a colaboração de Jérôme Tonnerre. A história, ambientada nos anos 30 do século passado, é centrada em Paul (Jean Scandel), um garoto que vivia desde que nasceu num orfanato. Certo dia, uma mulher, se apresenta para adotar uma criança e ela escolhe justamente Paul. Ela é Célestine (Valérie Karsenti), uma das empregadas da mansão do Conde de La Fresnaye (François Berléand). Quando chega com o menino à propriedade, na zona rural da França, ela se justifica ao marido, Borel (Éric Elmosnino, de “Gainsbourg, O Homem que Amava as Mulheres”), dizendo que Paul é filho de uma prima que mora em Paris e que passaria ali apenas as férias, a mesma versão que contou ao conde. Durante um passeio para conhecer as terras ao redor da mansão, Paul conhece Totoche (François Cluzet, de “Intocáveis”), um caçador que vive na floresta. É com Totoche que Paul aprenderá a pescar, a caçar e a viver em contato direto com a Natureza. Para quem ficava trancado no orfanato, Paul encontrou o seu Paraíso, além do afeto paterno que nunca teve. Aos poucos, o espectador vai se envolvendo com a história, torcendo por um final feliz para o garoto. Pouco antes do desfecho, uma revelação surpreendente valoriza ainda mais este simpático drama francês, realizado com humor e sensibilidade. O diretor Vanier destacou na história inúmeros momentos dedicados à Natureza selvagem do lugar. Vanie é conhecido como diretor de documentários que enfocam a Natureza selvagem, além de filmes com a mesma abordagem, como “Loup – Uma Amizade para Sempre” e “Belle e Sebastian”. “A Escola da Vida” é um ótimo entretenimento para uma sessão da tarde com a família e, claro, um balde de pipoca ao lado.  


“PRIMEIRO, MATARAM MEU PAI” (“FIRST THEY KILLED MY FATHER”), 2017, coprodução Camboja/EUA, em parceria com a Netflix (a estreia mundial ocorreu em setembro de 2017), 2h16m, direção de Angelina Jolie, que também escreveu o roteiro baseada no livro de memórias da cambojana Loug Ung (“First Day Killed my Father: A Daughter of Campodia Remembers”). Loug Ung era uma menina de 5 anos quando, em abril de 1975, o Khmer Vermelho assumiu o controle da capital do país, Phnon Penh, instaurando um dos mais violentos regimes comunistas do mundo, que duraria no Camboja até 1979. Loug (Sarfum Srey Moch, sensacional) e seus três irmãos, juntamente com o pai e a mãe, fugiram para não serem presos. Corriam um grande perigo, pois o pai (Phoeung Kompheak) era um militar do antigo regime. A fuga da família, os perigos enfrentados no caminho, fome, doenças, torturas, separações, trabalhos forçados e uma série de outros percalços foram mostrados no filme, que contou com um grande elenco formado somente por amadores, além de centenas de figurantes. Um trabalho sensacional da diva Angelina Jolie como diretora – foi o seu terceiro longa (os outros dois foram “Na Terra de Amor e Ódio”, de 2011, onde o pano de fundo é a guerra na Bósnia, e “À Beira-Mar”, de 2015, quando Jolie atuou ao lado do então marico, Brad Pitt). A ligação de Jolie com o Camboja vem desde 2001, quando ela e Brad adotaram um bebê cambojano, ao qual deram o nome de Maddox Jolie-Pitt, hoje com 18 anos e cursando uma universidade na Coreia do Sul. Essa ligação com o país levou Angelina a ler o livro escrito por Loug Ung, entusiasmando-a a realizar este filme que é bastante esclarecedor sobre as atrocidades cometidas pelo Khmer Vermelho, que, durante os quatro anos em que esteve no poder assassinou mais de 2 milhões de cambojanos. “Primeiro, Mataram Meu Pai” é obrigatório para quem gosta de História, e mais obrigatório ainda para comprovar que Angelina Jolie também é uma competente diretora. O filme foi selecionado para representar o Camboja na disputa do Oscar 2018 como Melhor Filme Estrangeiro. Imperdível!  

terça-feira, 26 de novembro de 2019


“RIR OU MORRER” (“SUOMEN HAUSKIN MIES”), 2018, coprodução Finlândia/Suécia, 1h43m, roteiro e direção de Heikki Kujanpää. Filme visto por aqui durante a programação oficial da 43ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2019. A história é baseada em incríveis fatos reais ocorridos na Finlândia em 1918. Alemães e russos brigavam para quem conseguiria dominar o país. Os alemães ganharam e aí começaram a prender os “vermelhos” que apoiavam os russos, entre os quais muitos intelectuais, artistas, escritores e atores de teatro, todos enviados para uma ilha que servia de campo de concentração. “Rir e Morrer” é todo ambientado nesta ilha, onde os presos passavam frio, fome e, de vez em quando, recebiam uma torturinha. Entre os presos, alguns eram muito conhecidos, como o comediante Joivo Parikka (Martti Susalo), considerado o homem mais engraçado da Finlândia. Helen Kalm (Leena Pöysti), esposa do violento e sádico comandante da prisão Hjalmar Kalm (Jani Volanen), era amante de teatro e fã de Parikka. Foi ela quem convenceu o marido a deixar Parikka criar uma comédia para ser apresentada aos oficiais alemães que visitariam o campo de concentração. Parikka acertou com o comandante que se os oficiais alemães dessem risada, o pessoal do grupo teatral seria salvo do fuzilamento. Caso contrário, seriam fuzilados logo após a peça. O filme apresenta, com muito humor, os bastidores de tudo o que aconteceu, desde a elaboração do roteiro da peça, que deveria obrigatoriamente exaltar os alemães, a escolha do elenco e os preparativos finais para a estreia num palco improvisado. Apesar do contexto dramático de um campo de concentração, o diretor Heikki Kujanpää fez de “Rir ou Morrer” um filme bastante divertido. Mas o que deixa essa história ainda mais saborosa é o fato de que é baseada em acontecimentos reais. Comédia dramática das melhores.

segunda-feira, 25 de novembro de 2019


“6 BALÕES” (“6 BALLOONS”), 2018, EUA, 1h15m, estreia no roteiro e direção da atriz Marja-Lewis Ryan. Trata-se de um filme independente adquirido pela Netflix, que posteriormente o distribuiu em seu sistema de streaming. Entre os coprodutores estão o ator Channing Tatum e Samantha Housman. Pois foi na experiência real vivida por Housman que Marja-Lewis teve a inspiração para escrever o roteiro. Trata-se de um impactante drama familiar ambientado em apenas um dia em Los Angeles. Enquanto começam a chegar os convidados para a festa-surpresa que preparou para o namorado, Katie (Abbi Jacobson) sente falta do seu irmão mais novo, Seth (Dave Franco, irmão mais novo do também ator James Franco), e resolve buscá-lo em casa. Quando chega, logo percebe que ele teve uma recaída na droga – é viciado em heroína. Ela o coloca no carro, juntamente com a filha dele de 4 anos no banco de trás. No meio do caminho, Seth começa a ter claros sintomas de abstinência e não consegue se controlar. Sem saber o que fazer, Katie resolve levá-lo a algum centro de recuperação, tarefa que se torna quase impossível, mesmo porque é feriado nacional (4 de julho, Dia da Independência). O filme, até o seu desfecho, acompanha a angustiante tentativa de Katie em resolver o problema e ainda retornar à festa que organizou. As excelentes atuações de Dave Franco (emagreceu bastante para fazer o papel) e Abbi Jacobson valorizam ainda mais esta produção que tem como foco uma triste realidade do mundo em que vivemos, ou seja, os jovens se entregando cada mais ao vício das drogas, destruindo vidas e famílias. Nesse contexto, “6 Balões” é um filme bastante esclarecedor e impactante.         

domingo, 24 de novembro de 2019


“CYRANO MON AMOUR” (“EDMOND”), 2019, França, 1h53m, filme de estreia como roteirista e diretor do ator e dramaturgo Alexis Michalik. Uma comédia baseada em fatos reais. Um prato (palco) cheio para quem gosta de teatro. E mesmo para quem não gosta. O filme conta toda a história de como o poeta e dramaturgo francês Edmond Rostand (1868-1918) – interpretado por Thomas Solivérès – se inspirou para criar e escrever aquela peça que seria o maior sucesso mundial do teatro clássico: “Cyrano De Bergerac”. Ao mesmo tempo, conta tudo o que aconteceu às vésperas da grande estreia da peça em Paris, em dezembro de 1897. Por exemplo, a escolha do elenco, encabeçado pela grande estrela da época, o ator Benoît-Constant Coquelin (o ótimo Olivier Gourmet), a pressão dos produtores, muita confusão durante os ensaios e o estresse de Edmond, que não tinha o texto da peça pronto pouco antes da sua estreia. O filme revela ainda que uma das principais inspirações de Edmond para escrever a peça surgiu da vida atribulada de Hector Saviniende Cyrano de Bergerac, um escritor francês sem grande sucesso que viveu no Século XVII. Outra inspiração veio da paixão ardente de Léo Volny (Tom Leeb), melhor amigo de Edmond, pela bela Jeanne D’Alcie (Lucie Boujenah). Apesar de bonito, Léo não tinha cultura suficiente para escrever versos para a amada, uma condição que, na época, era quase obrigatória para se conquistar uma mulher. Edmond escrevia cartas em nome do amigo e as enviava para Jeanne. Edmond também tinha uma amiga que sempre acreditou no seu talento e o ajudou muito: a diva do teatro Sarah Bernhardt (Clémentine Célarie). O filme é um espetáculo, um retrato divertido e delicioso dos bastidores de uma peça teatral que, a partir de sua estreia, se transformou num dos maiores sucessos da dramaturgia mundial. Sem dúvida, a inspiração para escrever o roteiro contou com a experiência de palco vivida pelo jovem ator e dramaturgo Alexis Michalike, que também assumiu a direção com muita competência, mesmo sendo seu primeiro longa-metragem. Também estão no elenco o próprio Alexis Michalike, Mathilde Seigner e Alice de Lencqvesaing. Imperdível!       

sexta-feira, 22 de novembro de 2019


“POROROCA”, 2017, Romênia, 2h32m, roteiro e direção de Constantin Popescu. Atração da programação oficial da 41ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, “Pororoca” é mais um exemplo primoroso da surpreendente escola cinematográfica da Romênia, responsável por tantos grandes filmes. Trata-se de um drama pesadíssimo, perturbador. De uma forma angustiante, e durante quase toda a projeção, o espectador acompanha a trajetória de dor, culpa e sofrimento de um pai, Tudor Ionescu (o excelente ator Bogdan Dumitrache), que num domingo leva seus filhos Marie, de 5 anos, e Ilie, de 7 anos, para passear no parque da cidade (não deu para identificar se é Bucareste ou outra cidade). Enquanto conversa no celular com o amigo, Tudor se distrai dos filhos por alguns segundos, o suficiente para Marie simplesmente sumir. Desespero total, mães e pais ajudando a procurar a menina. Sem sucesso. O sumiço já provoca sua primeira consequência: o casamento entra em crise, já que Cristina (Iulia Lumanare), a esposa, acusa Tudor de ter negligenciado a menina e, portanto, é o responsável por seu desaparecimento. Ela vai para a casa dos pais, leva o filho, e deixa Tudor alimentar sua culpa, que aos poucos se transforma numa paranoia histérica e, por fim, numa insanidade assassina. O filme acompanha todo o desespero de Tudor, para terminar num desfecho chocante, tornando este drama romeno bastante impactante. Tudo bem que o filme é muito bem escrito e dirigido por Constantin Popescu, que conseguiu criar um clima angustiante de tensão ao acompanhar o sofrimento de Tudor. Aliás, posso afirmar que o excelente ator romeno Bogdan Dumitrache carrega o filme nas costas, assim como sua culpa e dor. Sua atuação é tão marcante que conquistou o Prêmio de Melhor Ator no importante Festival de Cinema de San Sebastián (Espanha). Com relação ao título original, “Pororoca”, tentei de tudo que é jeito descobrir a relação com a história e a razão dessa escolha. Não consegui. Todo mundo sabe que é um fenômeno do encontro das águas fluviais com as do oceano. Mas o que tem a ver com o filme? Um comentarista tentou explicar: “é o desaguar de emoções”. Aí também não... Bom, vamos ao resumo da ópera: “Pororoca” é mais uma pérola do cinema romeno, uma pequena obra-prima, uma verdadeira aula de cinema. Portanto, IMPERDÍVEL!        

quinta-feira, 21 de novembro de 2019


“PARADISE BEACH”, 2019, França, 1h33m, roteiro e direção de Xavier Durringer. O filme começa em preto e branco, mostrando um assalto a banco em Paris, a chegada da polícia, um tiroteio, um policial morto e um assaltante ferido – os outros cinco fugiram com o dinheiro. Aliás, com uma quantia bem volumosa. Quinze anos depois, Mehdi (Sami Bouajila), o tal bandido ferido, sai da cadeia e ruma para a Tailândia, onde seus comparsas se estabeleceram investindo o dinheiro roubado. Todos moram na cidade de Pucket, também conhecida por Paradise Beach. Realmente, uma praia paradisíaca – os cenários do filme são deslumbrantes. Mais do que matar a saudade dos amigos – um deles seu irmão, Hicham (Tewfik Jallab) -, Mehdi quer, na verdade, a sua parte da grana roubada. Aí a coisa fica feia, pois todos alegam que gastaram todo o dinheiro. Em meio a esse conflito de interesses, uma gangue de imigrantes africanos “roubam” algumas strippers da boate de Franck (Hugo Becker). Para proteger o amigo, Mehdi inicia uma guerra sanguinolenta contra a turma de afrodescendentes. E por aí vai a história, Mehdi tentando se salvar dos inimigos e, ao mesmo tempo, recuperar sua parte no dinheiro do assalto. Ao comentar sobre “Paradise Beach”, alguns críticos de cinema o elegeram como “o pior filme já produzido pela Netflix”. Eu não chegaria a tanto, mas concordo que o filme é bem ruizinho. A começar pelo elenco. Com exceção de Sami Bouajila, ator experiente do cinema francês, o restante do elenco é muito fraco. Outro detalhe: como um filme que se diz de ação consegue ser tão monótono?    

quarta-feira, 20 de novembro de 2019


“ANNA – O PERIGO TEM NOME” (“ANNA”), 2019, França, roteiro e direção de Luc Besson, 1h59m. Entretenimento dos melhores, muita ação, tiros, perseguições, suspense e, principalmente, uma mulher linda como protagonista principal. A história é ambientada nos anos 80, quando a Guerra Fria ainda era quente. Anna (a atriz e ex-modelo russa Sasha Luss) é uma modelo internacional que transita por vários países desfilando para os principais estilistas da moda. Por onde passa, porém, deixa um rastro de mortes e destruição. Anna utiliza sua fachada como modelo para servir à KGB, que a treinou como espiã especialista em artes marciais e no manuseio das mais diferentes armas de tiro. Sua mentora e chefe é Olga (Helen Mirren), ambas subordinadas ao poderoso Vassiliev (Eric Godon), chefão da KGB. E seu parceiro em algumas missões é Alex Tchenkov (Luke Evans) – incomoda, a mim pelo menos, dois atores ingleses (Mirren e Evans) falando em inglês e tentando imitar o sotaque russo; por que não utilizaram atores russos falando russo? Numa de suas missões mais importantes, Anna é desmascarada pelo agente norte-americano Lenny Miller (Cillian Murphy), da CIA, que, em troca de mantê-la viva, obriga-a a se tornar uma espiã também da CIA. E uma de suas primeiras missões para o “outro lado” é assassinar justamente o chefão Vassiliev. Muitas reviravoltas acontecerão até o desfecho, valorizando ainda mais este ótimo filme de espionagem e ação. Dessa forma, "Anna" comprova a competência do cineasta francês Luc Besson  em escrever e dirigir filmes de ação, que já tinha em seu currículo excelentes produções do gênero, como “Nikita – Criada para Matar”, “Lucy”, “O Quinto Elemento”, “Imensidão Azul” e “O Profissional”, este último revelando a ainda adolescente Natalie Portman. E foi Besson também o responsável por revelar para o cinema a modelo e agora atriz Sasha Luss, que estreou em “Valerian e a Cidade dos Mil Planetas”, de 2017, também de Besson. “Anna” é mais um gol de placa do cineasta francês. Se você gosta de filmes de ação, não perca!   

terça-feira, 19 de novembro de 2019


“O SEGREDO DE NORA” (“ANIMALES SIN COLLAR”), 2018, suspense, produção espanhola da Netflix, 1h40m, filme de estreia no roteiro e na direção de Jota Linares, cineasta mais conhecido por documentários. O filme começa com um grupo de amigos no fim de uma balada regada a muita bebida e drogas. Um deles, porém, sofre uma overdose e é praticamente jogado na porta de um hospital. A história é retomada anos depois, quando Nora (Natalia de Molina) está casada com Abel (Daniel Grao), um político de sucesso prestes a concorrer a um cargo no alto escalão do governo espanhol. Nora e Abel estavam naquele grupo. Abel, por sinal, era irmão do rapaz que morreu de overdose. Até aí ninguém ficara sabendo o que tinha acontecido e o segredo deveria ser preservado para não prejudicar as ambições políticas de Abel. Sem o marido saber, Nora estava sendo chantageada por um outro amigo, Víctor (Ignacio Mateos), que presenciara o trágico acontecimento daquela fatídica noite. No meio da história, surge Virgínia (Natalia Mateo), outro personagem que participou da farra daquela noite. Não há para o seu misterioso retorno. Aliás, o filme deixa várias pontas soltas, sem explicação. Achei a história mal contada. Afinal, qual o segredo de Nora, a chantagem ou o que aconteceu naquela noite. Terminou o filme e fiquei sem saber. Se há um atrativo que mereça uma visita a este filme é a presença da bela e competente atriz Natalia de Molina, que ficou ainda mais bonita com os cabelos loiros. Enfim, um filme para quem gosta de decifrar mistérios e sair do cinema (ou de frente da telinha) com uma grande dúvida: valeu a pena assistir?

segunda-feira, 18 de novembro de 2019


“UMA GUERRA PESSOAL” (“A Private War”), 2018, coprodução EUA/Inglaterra, direção de Matthew Heineman – é o seu primeiro longa-metragem. O roteiro foi escrito por Arash Amel, baseado no artigo “Marie Colvin’s Private War”, da jornalista Marie Brenner e publicado na Revista Vanity Fair, meses após a morte da sua colega de profissão Marie Colvin, personagem principal dessa história. A norte-americana Colvin (1956/2012) foi uma das jornalistas mais famosas e corajosas, responsável por coberturas memoráveis em países em guerra como correspondente do jornal inglês The Sunday Times. Ela esteve na frente de batalha no Zimbábue, Somália, Tunísia, Iraque, Palestina, Chechênia, Kosovo, Líbia, Timor Leste e em outros países em conflito. Durante a cobertura da guerra civil no Sri Lanka, em 2001, ela perdeu o olho esquerdo devido a estilhaços de uma granada. A partir de então, passou a usar um tapa-olho, que foi sua marca registrada até 2012, quando morreu na Síria, vítima de um míssil enviado pelo exército do ditador Assad diretamente ao edifício onde estavam os jornalistas. “Uma Guerra Pessoal” conta toda essa história e mostra que Colvin sofria do tal estresse pós-traumático, o mesmo que acomete os soldados quando voltam para casa. Traumatizada com as lembranças das áreas de conflito, Colvin começou a beber e nos anos finais de sua vida já era alcoólatra. O filme também mostra sua amizade com o companheiro de muitas coberturas, o fotógrafo Paul Conroy (Jamie Dornan, de “50 Tons de Cinza”), que também morreu na Síria, e seu relacionamento com editor-chefe do The Sunday Times (Tom Hollander). A atriz inglesa Rosemund Pike, que interpreta a jornalista, foi indicada para o Globo de Ouro de 2019, mas não ganhou, e nem ao menos recebeu indicação ao Oscar. Seu trabalho em “Uma Guerra Pessoal” é fantástico, melhor do que as cinco atrizes indicadas juntas. Mais uma grande injustiça do Oscar, talvez a maior dos últimos anos. Além da história pessoal de Marie Colvin, “Uma Guerra Pessoal”, que tem como um dos produtores a atriz Charlize Theron, mostra com bastante realismo e muitas cenas de ação como é a cobertura dos correspondentes de guerra e a coragem e o sangue-frio que precisam ter para enfrentar os perigos nas zonas de combate. O filme é excelente e a história melhor ainda, pois apresenta uma mulher com a coragem que muitos homens não teriam. IMPERDÍVEL!

sexta-feira, 15 de novembro de 2019


“O MESMO SANGUE” (“LA MISMA SANGRE”), Argentina, 1h53m, produção da Netflix – sua estreia mundial aconteceu dia 28 de fevereiro de 2019 -, roteiro e direção de Miguel Cohan. Mais um bom suspense argentino. Depois de uma reunião familiar, a matriarca Adriana (Paulina Garcia) desce para a cozinha industrial que mantém no porão da casa para concluir uma encomenda. Algum tempo depois, ela é encontrada morta, enforcada pelo colar que prendeu numa máquina. Tudo leva a crer que foi um acidente. Só que o genro Sebastián (Diego Velásquez), ao constatar algumas evidências estranhas, começa a desconfiar de Elías (Oscar Martinez), o viúvo. É bom esclarecer que Elías está atolado em dívidas, principalmente com relação à fazenda que herdou do pai. Como um verdadeiro detetive, Sebastián começa a investigar a fundo a sua desconfiança, o que provocará uma crise em seu casamento com Carla (Dolores Fonzi), que defende a inocência do pai com unhas e dentes. Até o desfecho, o caso terá sido esclarecido, pelo menos para o espectador, que lá pela metade do filme fica sabendo o que realmente aconteceu. É o terceiro longa-metragem escrito e dirigido por Miguel Cohan – os dois primeiros foram “Sin Retorno”, de 2010, e o aclamado “Betibú”, de 2014. Em “O Mesmo Sangue”, Cohan fez mais um bom trabalho, prendendo a atenção do espectador até o desfecho. Destaco o ótimo elenco, comandado pelo excelente Oscar Martínez. Demorei para reconhecer a atriz chilena Paulina Garcia, do espetacular “Glória” (2013), no papel de Adriana. Outros destaques são as presenças de Dolores Fonzi, talvez a mais bela atriz do cinema argentino atual, e ainda o “detetive” Diego Velásquez.   


“HAPPY HOUR – VERDADES E CONSEQUÊNCIAS”, 2019, coprodução Brasil-Argentina, 1h54m, roteiro e direção de Eduardo Albergaria. Trata-se de uma comédia romântica focada no relacionamento tumultuado de Horácio (Pablo Echarri), um professor universitário argentino radicado no Rio de Janeiro, e Vera (Letícia Sabatella), uma deputada estadual que está prestes a lançar sua candidatura ao cargo de prefeita. O casamento não anda às mil maravilhas, mas os dois tentam manter as aparências. Até que um dia, num lance puramente casual, Horácio vira herói depois de ser considerado responsável pela prisão de um marginal conhecido como “ladrão aranha”, pois escala edifícios para roubar os apartamentos.  Com seu “suposto” ato de coragem, Horácio não apenas ganha espaço na mídia, como também passa a atrair ainda mais a atenção de suas alunas mais ousadas. Uma delas, Clara (Aline Jones), fará com que Horácio reveja seus conceitos de fidelidade. Num rompante de pura ingenuidade, Horácio diz a Vera o que está sentindo pela aluna e que, provavelmente, a levará para a cama, o que aumenta ainda mais o estresse entre o casal. Divórcio à vista, fato que pode atrapalhar a campanha de Vera. Aí entra em ação o marqueteiro Arlindo (Chico Diaz, ótimo), que fará de tudo para que a candidatura de Vera siga adiante independente da crise conjugal da deputada. Neste que é seu filme de estreia como diretor, Albergaria (é brasileiro, apesar do sobrenome) acerta principalmente ao privilegiar o humor e, como trunfo, tem a boa atuação dos protagonistas principais, o galã argentino Pablo Echarri e a bela e competente Letícia Sabatella. Soma-se à dupla um bom elenco de coadjuvantes, como Chico Diaz, Aline Jones, Marcos Winter e Luciano Cáceres. Só fiquei em dúvida com a escolha do título, que ainda não descobri que relação tem com a história. Resumo da ópera: tipo do filme para ser curtido como entretenimento fácil, sem exigir muito dos neurônios.       

quarta-feira, 13 de novembro de 2019


Grande vencedor da Palma de Ouro do Festival de Cannes 2019, o filme sul-coreano “PARASITA” (“GISAENGCHUNG”) recebeu voto unânime dos jurados, fato que não acontecia desde 2013, quando o premiado foi o francês “Azul é a Cor Mais Quente”. Além disso, trata-se do primeiro filme sul-coreano a conquistar o prêmio do mais charmoso festival de cinema do mundo. E por falar em premiações, “Parasita” está sendo cotado como um dos grandes favoritos ao Oscar 2020 de Melhor Filme Estrangeiro. Tudo exagero? De forma alguma, “Parasita” é simplesmente sensacional e, melhor, não é daqueles filmes pretensiosos, difíceis de assistir, metidos a cinema de arte. Pelo contrário, trata-se de um ótimo entretenimento para qualquer público. Sua trama mistura drama social, comédia (humor negro) e muito suspense, embora apresente como pano de fundo questões como a desigualdade social e a luta de classes. Mas vamos à história. A família de Ki-Taek (Kang-Ho Song) – ele, a esposa Chung-Sook (Chang Hyae Jin), o filho Ki-Woo (Woo-Sik Choi) e a filha Ki-Jung (Park So-Dam) – mora num porão na periferia de Seul. Estão todos desempregados, vivem no maior miserê. Até que um dia começa a chover na horta. O filho Ki-Woo, indicado por um amigo, começa a dar aulas de inglês para a filha de um casal rico, cuja família vive numa enorme casa de luxo criada por um famoso arquiteto sul-coreano. Ao se deparar com a ostentação e o luxo daquela família, comparado com a pobreza da sua, Ki-Woo passa a arquitetar, junto com o pai, a mãe e a irmã, um plano diabólico, ou seja, substituir todos os empregados da mansão por eles próprios. Dessa forma, utilizando estratagemas criativos e hilários, eles aos poucos vão conseguindo seu objetivo, ajudados pela ingenuidade do casal rico. O primoroso roteiro, escrito pelo diretor Joon-Ho Bong, reserva muitas reviravoltas até o desfecho, situações de suspense de tirar o fôlego, muito humor e sangue jorrando. Não deixa de ser um filme perturbador.  Enfim, são 2h12m de um ótimo entretenimento e um cinema de alta qualidade. Mais um gol de placa do excelente cinema sul-coreano. IMPERDÍVEL!      


Desde que estreou como ator no cinema em 1981 no filme “Best of Times”, ainda com o nome de Nicolas Coppola (ele é sobrinho do famoso diretor), Nicolas Cage, hoje com 55 anos de idade, já atuou em 103 filmes, sendo um dos astros mais famosos de Hollywood. Até ganhou um Oscar de Melhor Ator, em 1996, em “Despedida em Las Vegas”. Em termos de qualidade, porém, a carreira de Cage sempre teve altos e baixos. Nos últimos anos, mais baixos do que altos. Seu mais recente filme, “CORRENDO COM O DIABO” (“RUNNING WITH THE DEVIL”), 2019, ainda sem data para estrear por aqui, também está longe de merecer elogios. Pelo menos da minha parte. Nele, Cage é dos traficantes associados ao “The Boss” (Barry Paper), codinome do chefão que comanda um poderoso cartel de drogas a partir do Canadá. “The Cook” é o codinome de Cage, pois é dono e pizzaiolo de uma pizzaria (lavagem de dinheiro, claro) em Illinois. Outro membro da quadrilha é “The Man” (Lawrence Fishburne), um irresponsável que mistura sua droga para sobrar um tanto para uso próprio. Quando ocorrem várias mortes por overdose causadas justamente pelas mercadorias do cartel, “The Boss” fica desconfiado de que estão roubando sua cocaína e misturando o resto com outras drogas. “The Cook” e “The Man” são encarregados de investigar quem está estragando o negócio. Ao mesmo tempo, agentes do DEA (Departamento Antidrogas dos Estados Unidos) estão atrás desse cartel, principalmente depois que a irmã de uma de suas agentes (Leslie Bibb) morre de overdose. O mais interessante desse filme é a descrição detalhada do caminho que a cocaína percorre desde sua produção na Bolívia, passando pela Colômbia, México e vários estados norte-americanos até chegar ao Canadá. O produtor boliviano da coca recebe 1.600 dólares por quilo. Quando chega ao Canadá, o quilo da droga já está valendo nada mais nada menos do que U$ 40 mil!!! Este é o primeiro filme escrito e dirigido por Jason Cabell. Para escrever o roteiro, Cabell recorreu à sua própria experiência como combatente da força especial Navy Seals, grupo de elite da Marinha dos EUA. Resumo da ópera: ainda não foi dessa vez, Cage...      

terça-feira, 12 de novembro de 2019


“MUNDOS OPOSTOS” (“ENAS ALLOS KOSMOS”), 2015, Grécia, 1h53m, segundo longa-metragem escrito e dirigido por Christoforos Papakaliatis, que também atua no filme. Trata-se de uma ode a Eros (deus do amor na mitologia grega). São três histórias de amor, todas ambientadas em Atenas, desenvolvidas cada qual em uma conjuntura diferente. Na primeira, um imigrante ilegal sírio salva uma jovem grega de ser estuprada e acabam se apaixonando, sendo que o pai dela é um fascista e xenófobo radical, que comanda uma milícia que sai à noite espancando imigrantes. O segundo capítulo reúne um sujeito casado que conhece uma executiva de RH sueca que viaja para Atenas para promover mudanças drásticas numa empresa, incluindo o enxugamento do seu quadro de funcionários. Eles se apaixonam, mesmo que o destino lhes reserve uma surpresa bastante desagradável. Na terceira história, o amor reúne duas pessoas da terceira idade, um professor de história aposentado e uma dona de casa infeliz no casamento. Em todas as histórias, portanto, uma coincidência fica evidenciada: o amor é capaz de unir pessoas de “mundos opostos”, já que cada casal é formado por um grego – ou grega – e a outra pessoa de fora do país. No desfecho, os personagens dos três capítulos estarão interligados de alguma forma, mais um trunfo do primoroso roteiro. Como pano de fundo, o diretor Papakaliatis explora temas muito mais sérios, como a crise econômica mundial - em especial na Grécia -, a aparente falência do capitalismo, a situação política da Europa e ainda a questão do desemprego e dos refugiados. Com um certo exagero, o filme decreta que Eros (o Amor) pode ser a solução de todos esses problemas. E dá-lhe mitologia grega. Na primeira história estão Farris (Tawfeek Barhom), Daphne (Niki Vakali) e Antonis, o pai fascista (Minas Hatziavvas). Na segunda, Giorgos (o diretor Papakaliatis) e Elise (a bela atriz húngara Andrea Osvárti). E finalmente, no terceiro capítulo, estão Maria (Maria Kavoyianni, em atuação espetacular) e Sebastian (o ator norte-americano J.K. Simmons). Embora tenha sido recebido com desdém pela crítica especializada, eu achei o filme muito bom, sensível, sério e comovente. Cinema grego da melhor qualidade.