“NA VERTICAL” (“RESTER
VERTICAL”), França, 2016,
escrito e dirigido por Alain Guiraudie (“Um Estranho no Lago”). Difícil
interpretar e até comentar um filme tão esquisito, pesado e perturbador. Um
roteirista de cinema, Léo (Damien Ronnard), vaga sem rumo pelo interior da França
em busca de uma ideia para seu próximo filme, algo relacionado com os lobos. Em
sua trajetória, Léo acaba conhecendo Marie (India Hair), filha de um pastor de
ovelhas e mãe solteira de dois meninos, e um idoso que vive em conflito com seu
neto. Seu envolvimento com Marie resulta no nascimento de um filho, que ela rejeita
em consequência de uma depressão pós-parto. Todo esse contexto desagradável
resulta em cenas repulsivas de sexo – beirando o explícito –, parto normal e sodomia, o que
consagra esta produção francesa como uma das mais indigestas e repugnantes já
realizadas nos últimos anos. Além disso, as situações envolvendo o personagem
principal são bastante inverossímeis, como a consulta a uma mulher misteriosa
no meio de um pântano, beirando o surreal. Todos os personagens revelam um
acentuado desequilíbrio mental, o que deve ser uma característica da personalidade do próprio
diretor, capaz de criar um filme tão repulsivo e mórbido. Como em “Estranho no
Lago”, Guiraudie quis novamente chocar a plateia – o que conseguiu durante o
69º Festival de Cannes (2016) –, mas certamente será reconhecido como um diretor apelativo e
com alguma disfunção de personalidade. Se você procura um filme que proporcione
um entretenimento leve, passe longe.
sábado, 7 de outubro de 2017
quinta-feira, 5 de outubro de 2017
Produzido
pela Walt Disney Pictures em parceria com a ESPN Films, “RAINHA DE KATWE”
(“Queen of Katwe”), 2016, EUA, conta a incrível e comovente história de Phiona
Mutesi (Madina Nalwanga), uma menina pobre residente na favela de Katwe, na
periferia de Kampala, capital da Uganda, que se tornou campeã nacional de Xadrez
e jogadora de destaque internacional. O filme acompanha a trajetória da garota
desde 2007 até 2012, mostrando a extrema pobreza em que vivia com a família,
muitas vezes sem ter o que comer. Phiona e seu irmão Brian se inscrevem num pequeno
projeto de esportes na periferia de Katwe que promovia a inclusão de crianças
pobres na prática do Xadrez. Eles iam, na verdade, para comer o mingau que era
distribuído gratuitamente aos participantes. Só que Phiona demonstrou um grande
talento para o Xadrez e foi incentivada pelo treinador Robert Katende (David
Oyelowo) a levar os treinamentos a sério, mesmo contra a vontade da mãe da menina,
Harriet (Lupita Nyong’o), que preferia ver a filha vendendo milho nas ruas para ganhar
algum dinheiro. O filme é sensível e bastante realista, principalmente ao
abordar e mostrar a extrema pobreza em que vivia Phiona e sua família – as filmagens
aconteceram na própria Katwe e em Joanesburgo (África do Sul). A direção do
filme ficou a cargo da indiana radicada nos EUA Mira Nair e o roteiro foi escrito
por William Wheeler, baseado no livro “The Queen of Katwe: A Story of Life,
Chess and One Extraordinary Girl’s Dream of Becoming a Grande Master”, de Tim
Crothers. Há que se destacar, além da incrível história, a ótima atuação da
atriz Lupita Nyong’o como a mãe de Phiona. Vencedora do Oscar de Atriz
Coadjuvante em 2014 pelo filme “12 Anos de Escravidão”, Lupita nasceu no México
– mãe mexicana e pai queniano. O ator inglês David Oylenwo também está
excelente no papel de treinador de Phiona. Para fechar com chave de ouro este
belo filme, nos créditos finais são mostrados, lado a lado, os atores e os
personagens reais que interpretaram, os quais acompanharam, pessoalmente, cada
detalhe das filmagens, prestando assessoria à diretora Mira Nair. Imperdível!
segunda-feira, 2 de outubro de 2017
O
material de divulgação e a sinopse informam que o filme é baseado em fatos
reais, só que omitem quando e onde tudo aconteceu. Deve ter sido nos EUA, onde
tudo acontece. De qualquer forma, trata-se de uma história incrível,
adaptada para o cinema como “12 PÉS DE PROFUNDIDADE” (“12 Feet Deep” –
a tradução para o português é minha, já que o filme ainda não chegou por aqui),
escrito e dirigido por Matt Eskandari (“Jogo de Assassinos”). Duas irmãs, Jonna
(Alexandra Park) e Bree (Nora-Jane Noone), estão se divertindo numa piscina
pública olímpica quando uma delas deixa cair o anel de noivado. As duas
mergulham e acham o anel, só que preso num dos ralos. O treinador McGradey
(Tobin Bell) acha que todo mundo já foi embora e fecha a cobertura móvel da
piscina, feita de fibra de vidro, passa a tranca no ginásio e vai embora. As moças ficam então presas entre a água e a
cobertura, um espaço de mais ou menos meio metro. A sensação é claustrofóbica e
angustiante. Aflição pura. Se você pensa que a situação das irmãs pode piorar
ainda mais, acertou. Lá pelas tantas aparece a faxineira da noite, uma
ex-presidiária, que resolve chantagear as moças para levantar uma grana. Além disso, uma das irmãs é diabética e precisa urgentemente de uma injeção de insulina. Haja sofrimento! Até
que o filme funciona como suspense e você ficará na expectativa de saber como
tudo irá terminar. Claro que tem bastante enrolação e papo furado para passar o
tempo até o desfecho. Vale para uma sessão da tarde com pipoca.
domingo, 1 de outubro de 2017
“UM LAÇO DE AMOR” (“GIFTED”), 2016, EUA, roteiro de Tom Flynn e direção de Mark Webb (“O Espetacular Homem-Aranha”, “A Marca de Electra”). Desde a morte trágica e precoce de sua irmã, Frank Adler (Chris Evans, o “Capitão América”) cria sua sobrinha Mary (McKenna Grace), uma menina superdotada, um gênio na matemática. E, como todo gênio, também geniosa. Ao perceber que a inteligência de Mary é muito acima do normal, a diretora do colégio chama Frank e diz que ela precisava ir para um colégio para crianças superdotadas. Frank não permite, pois quer que Mary cresça e seja educada como uma criança normal. Nesse meio tempo aparece a avó Evelyn (Lindsay Duncan), que entra com um processo para obter a guarda da menina. Aí o filme vira um drama de tribunal, com as partes brigando pela menina. Não é apenas no filme que McKenna Grace é um prodígio. Como atriz, hoje com apenas 11 anos, ela atua desde 2013, em séries especiais de TV e cinema (“Como se tornar um Conquistador” e “Amityville: O Despertar”, entre outros). Ela é o grande destaque desse filme, que tem ainda no elenco a ótima Octavia Spencer e Jenny Slate. Enfim, um filme bastante agradável, sensível e comovente, próprio para assistir com toda família
O thriller “CORRA!” (“Get
Out”), EUA, primeiro filme escrito e dirigido pelo
ator Jordan Peele, foi a grande sensação do Sundance Film Festival (janeiro de
2017), o mais conceituado festival de filmes independentes. Orçado em apenas
US$ 4,5 milhões, faturou em alguns meses nada menos do que US$ 252
milhões, tornando-se um dos filmes mais lucrativos de 2017. Trata-se de um
suspense psicológico, com altas doses de humor negro (Peele é mais conhecido
como comediante) e que tem como pano de fundo o racismo, ou, mais especificamente,
as relações inter-raciais. A história: Rose (Allison Williams) leva o namorado
afro-descendente Chris Washington (Daniel Kaluuya) para passar o final de
semana na casa de seus pais, o neurocirurgião Dean e a psiquiatra Missy
Armitage (Bradley Whitford e Catherine Keener). Rose não avisa que Chris é
negro. Em todo caso, ele é bem recebido pelos Armitage, família que inclui
ainda o irmão de Rose, Jeremy (Caleb Landry Jones). Para deixar de lado
qualquer dúvida, o pai de Rose afirma que já votou no presidente Obama duas
vezes e que votaria novamente. Só que essa aparente boa recepção acaba se
transformando num terrível pesadelo para Chris. O filme garante bastante
tensão, alguns bons sustos e momentos bem-humorados. Quando o filme começou, lembrei
de “Adivinhe Quem Vem Para Jantar”, o clássico dirigido em 1967 por Stanley
Kramer. Uma jovem (Katherine Houghton) leva o namorado negro (Sidney Poitier)
para jantar na casa dos pais brancos (Spencer Tracy e Katherine Hepburn). Neste,
tudo termina bem, ao contrário de “CORRA!”.
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