sábado, 28 de outubro de 2017

“MANUSCRITOS NÃO QUEIMAM” (“DAST-NEVESHTEHAA NEMISOOSAND”), 2013, Irã, 2h14m. Polêmico thriller político escrito e dirigido por Nohammad Rasoulop, que teve a coragem de desafiar, novamente, o governo iraniano. Desde 1910, quando foi preso por fazer filmes denunciando a censura e a repressão existentes no país, Rasoulop estava proibido de trabalhar. Além disso, seu passaporte foi confiscado pelas autoridades iranianas, que impediram sua viagem à Alemanha para participar do Festival Internacional de Direitos Humanos de Nuremberg. As filmagens de “Manuscritos não Queimam” foram realizadas clandestinamente e, por questão de segurança, os nomes dos atores e da equipe técnica não aparecem nos créditos. Claro que o filme foi proibido no Irã, mas foi aclamado no Festival de Cannes 2013, onde conquistou o prêmio FIPRESCI da Mostra “Um Certo Olhar”. Sua exibição terminou com o público aplaudindo de pé. Por aqui, somente foi exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro, em 2013. O filme denuncia um caso verídico ocorrido anos antes envolvendo uma tentativa do governo iraniano de assassinar 21 escritores num atentado que não deu certo. A história toda está contada nos manuscritos guardados na casa de um poeta. Os assassinos de aluguel Morteza e Khosrow ficaram encarregados de encontrá-los e assassinar o seu autor. Confesso que até bem depois da metade do filme fique especulando, sem entender, o que estava acontecendo. Mas logo depois, além de entender, deu para sentir a força impactante dessa produção clandestina iraniana. Não digo que seja um filmaço, mas muito poderoso pela denúncia. Só para espectadores que curtem filmes políticos.                 


“O EFEITO AQUÁTICO” (“L’Effet Aquatique”), 88 minutos, França/Islândia, 2015, escrito e dirigido pela diretora islandesa Sólveig Anspach. Logo após o término das filmagens, Anspach faleceu e a montagem ficou a cargo do francês Jean-Luc Gaget, seu assistente direto. Trata-se de uma comédia romântica que conta a história de Samir (Samir Guesmi), um operador de guindaste em Montreuil, arredores de Paris, que se apaixona pela instrutora de natação Agathe (Forence Loiret Caille). A paixão foi tão forte que Samir inscreve-se nas aulas de Agathe numa piscina pública de Paris. O romance começa bem, mas logo termina a partir do momento em que Agathe descobre que Samir nada muito bem. A partir daí, o filme passa para uma segunda etapa, na Islândia, para onde Agathe viaja para participar de um congresso internacional de instrutores de piscina. Samir descobre e também vai para a Islândia tentar a reconciliação. O filme foi premiado como Melhor Roteiro na mostra “Quinzena dos Realizadores” do Festival de Cannes 2016 e também no tradicional César, o Oscar francês. Por aqui, foi exibido no Festival Internacional de Cinema do Rio de Janeiro 2016, mas não ganhou projeção no circuito comercial. Achei o filme muito fraco, oferece pouco humor para uma comédia romântica e é tão sem graça quanto o ator Samir Guesmi, uma espécie de Mr. Bean francês. Se algo vale a pena são as paisagens islandesas exploradas com competência pela fotografia de Isabelle Razavet. Da mesma diretora, recomendo o drama "Lulu Nua e Crua", este sim um belo filme.              


quinta-feira, 26 de outubro de 2017

“A ÚLTIMA PRINCESA” (“DEOKHYEONGJU”), 2016, Coreia do Sul. Belíssimo trabalho de reconstituição histórica do roteirista e diretor Jin-Ho Hur, enfocando a turbulenta trajetória de vida da Princesa Deokhye (1912-1989), última remanescente da Dinastia Joseon (1392-1897). A história, baseada no livro "Princesa Deokhye", de Kwon Bi-Young, começa quando a princesa, ainda menina, vê o seu pai (Rei Gojong) morrer envenenado. Na época, a Coreia era dominada pelo Japão. Quando perceberam que a princesa poderia causar problemas, os japoneses a exilaram no Japão, onde foi obrigada a casar com o Conde So Takeyukim, membro importante da monarquia imperial japonesa. De tão infeliz, principalmente por não poder voltar ao seu país, Deokhye acaba sofrendo um colapso e é internada num hospital psiquiátrico. Muitos anos depois, graças ao empenho de um antigo amigo, Jang-Han (Park Hae II), a princesa consegue finalmente voltar à Coreia. Deokhye é interpretada na juventude por So-Hyun Kim e, na fase adulta, por Son Ye Jin. O filme é irresistível, não apenas pelo fundo histórico e político – uma aula de história coreana , mas também pela caracterização de época, cenários deslumbrantes e uma fotografia da mais alta qualidade. Recomendo também outro filme cujo pano de fundo é a resistência coreana ao domínio japonês: “A Era da Escuridão”.              


terça-feira, 24 de outubro de 2017

“O BAR” (“EL BAR”), 2016, Espanha, roteiro e direção de Álex de La Iglesia (“Balada do Amor”). Um misto de suspense, comédia de humor negro e ficção científica. Num bar no centro de Madri, as pessoas vão chegando para o café da manhã. De repente, ecoa um tiro e o pessoal que está no bar vê que um pedestre foi atingido na calçada. Um dos clientes sai para socorrer o que foi baleado e também recebe um tiro. Claro que ninguém mais quer sair do tal bar. São três mulheres e cinco homens que observam o mundo lá fora ficar muito estranho: ruas vazias, os cadáveres dos homens desaparecem, começa um grande incêndio, homens com máscaras antigás desinfetando tudo pela frente etc. De dentro do bar, a impressão que dá é que o mundo está acabando. A partir daí, toda a ação se resume ao interior do bar e depois pelo esgoto da cidade. Entre os oito “reféns” da situação estão um mendigo que não para de citar a Bíblia, uma dondoca à espera do namorado, um policial aposentado, a dona e um funcionário do bar, além de outras figuras estranhas. O desespero da situação conturba o ambiente e começam os desentendimentos. Eles só irão se entender a partir do momento em que precisam encontrar uma saída para fugir do bar. Ou seja, recuperar a sanidade e tentar sair dali vivos. Se o filme é fraco por si só, o desfecho então beira o ridículo. Aliás, ridículo mesmo é figurino que arranjaram para o galã canastrão Mario Casas, com barba e suspensório ao estilo Amish. O filme estreou no 67º Festival de Berlim, em fevereiro de 2017, e tem no elenco atores e atrizes espanhóis bastante conhecidos: além de Casas, Blanca Suárez, Carmen Machi, Jaime Ordóñez, Alejandro Awada e Terele Pávez. Descartável!         


domingo, 22 de outubro de 2017

“ASSIM QUE ABRO MEUS OLHOS” (“À PEINE J’OUVRE LES YEUX”), Tunísia/França, 2015, marca a estreia da tunisiana Leyla Bouzid na direção – ela também assina o roteiro. Mesmo que o centro da história seja ficcional, o filme resgata os acontecimentos que deram origem ao movimento que viria a se chamar “Primavera Árabe”, a partir de dezembro de 2010, responsável pela derrubada dos presidentes da Tunísia, do Egito e da Líbia, além de gerar violentos protestos em outros países do Oriente Médio e do Norte da África. O filme é todo ambientado em Túnis e centrado na jovem Farah (Baya Medhaffar), de 18 anos, vocalista de uma banda de pop-rock cujas letras protestam contra o governo tunisiano comandado pelo ditador Zine el-Abidine Ben Ali, que seria deposto meses depois. Canções de protesto, contendo letras com frases como “Ricos têm dentes de ouro, enquanto os pobres estão desdentados” ou “Assim que abro meus olhos eu vejo aqueles privados de trabalho e de comida”. A banda se apresenta em bares lotados de Túnis e os jovens aderem às músicas, gritando seus refrões. Claro que não demora  muito para as autoridades começarem a repressão, o que desencadeia todo um movimento revolucionário. Além do aspecto político, o filme destaca o relacionamento conflituoso entre Farah e a mãe, Hayet (a maravilhosa atriz Ghalia Benali). O filme representou a Tunísia na disputa do Oscar 2017 de Melhor Filme Estrangeiro, foi premiado em diversos festivais, inclusive o de Veneza, e foi considerado pelo site IndieWire “O melhor filme de ficção sobre a Primavera Árabe até agora”. Realmente, um filmaço!