sábado, 24 de abril de 2021

 

“INVASÃO” (“BREAKING IN”), 2018, Estados Unidos, disponível na Netflix, 1h28m, direção do australiano James McTeigue, seguindo roteiro assinado por Jaime Primak Sullivan. Começa o filme e você já toma um susto diante de uma cena de atropelamento muito bem realizada. Um corredor de meia idade é surpreendido por um carro ao atravessar a rua. Morreu na hora. Um corte rápido e aparece Shaun Russell (Gabrielle Union) dirigindo seu carro por uma estrada com os dois filhos pré-adolescentes como passageiros, Jasmine (Aijona Alexus) e Glover (Seth Carr). O destino de Shaun é uma casa isolada no meio do mato, toda incrementada na base da tecnologia, aquela do tipo que você usa um controle e abre janelas, portas, toca um som e acende a luz. A tal casa pertencia ao pai de Shaum, o cara que morreu atropelado. No fim da tarde, depois de conhecerem todos os cômodos, mãe e filhos são surpreendidos por quatro assaltantes. Shaun fica fora da casa, enquanto seus filhos ficam presos com os bandidos, cujo objetivo da invasão é roubar o dinheiro que está em um cofre. Daí para a frente, até o desfecho, você vai acompanhar, com um frio na barriga a cada cena, uma mãe desesperada e ao mesmo tempo raivosa tentando entrar na casa e salvar as crianças. A atriz Gabrielle Union esbanja vitalidade física para encarar os desafios das cenas de ação, que são muitas durante o filme. O roteiro soube segurar o clima de suspense do começo ao fim, mesmo que o cenário seja apenas uma casa perdida no mato e poucos protagonistas. Também estão no elenco Billy Burke, Richard Cabral, Levi Meaden e Mark Furze. “Invasão” é um bom suspense que merece ser conferido.            

quinta-feira, 22 de abril de 2021

 

“MADAM CHIEF MINISTER”, 2020, Índia, 2h4m, disponível na Netflix, roteiro e direção de Subhash Kapoor. Trata-se de um drama político aparentemente ficcional, mas que revela muito sobre o que acontece nos bastidores da política indiana. Se você acha que a política brasileira é podre, assista a esta produção de Bollywood e você acabará achando nossos políticos uns santos. A história é ambientada em 1982 e conta a trajetória de uma menina pobre da casta Dalit, cujos integrantes são considerados na sociedade indiana como párias, intocáveis e impuros. Tara Roopram (Richa Chadda) cresceu na base do sofrimento em meio à pobreza e à discriminação até chegar ao cargo de primeira-ministra de Uttar Pradesh, o estado mais populoso da Índia (200 milhões de habitantes segundo censo de 2010). Ainda jovem, Tara conheceu Indramani Tripathi (Akshay Oberoi), com quem teve um caso. De uma casta superior e pretendente a um cargo político, Tripathi terminou o romance quando ela anunciou a gravidez, humilhando-a por pertencer à casta tão inferior. Mas não ficou só nisso. Ele mandou seus capangas espancarem a moça com chutes na barriga para provocar o aborto. Tara prometeu se vingar, mas não na base da violência. Ela ingressou na política para acabar com Tripathi. Sem contar seu desejo de vingança, Tara foi acolhida por seu tio, o mestre Surajbhan Masterji (Saurabh Shukla), líder de um partido político até então de pouca expressão em Uttar Pradesh. Com o apoio e os conselhos de Masterji, Tara disputou várias eleições até chegar ao cargo máximo na hierarquia política daquele estado indiano. Em sua trajetória, porém, ela sofrerá muitos dissabores, muitos deles colocando sua vida em constante perigo. Corajosa, ela enfrentou os desafios sem jamais ceder nos seus ideais. Além de bonita e talentosa, a atriz Richa Chadda carrega o filme nas costas, com uma atuação primorosa. Vale a pena assistir “Madam Chief Minister”, nem que seja para ficar por dentro da podridão da política indiana. O diretor Subhash Kapoor tem muito autoridade sobre o assunto, já que por muitos anos trabalhou como jornalista político.      

quarta-feira, 21 de abril de 2021

 

“INVISÍVEL” (“INVISIBLE”), 2017, Argentina, 1h27m, roteiro e direção de Pablo Giorgelli (do aclamado “Las Acacias”). O filme acompanha a rotina diária da jovem Ely (Mora Arenillas), de 17 anos. Ela mora com a mãe Susana (Mara Bestilli) em um conjunto habitacional do Bairro Boca, em Buenos Aires, cursa o último ano do ensino médio e é funcionária de um pet shop. Além de cuidar da mãe, que se encontra em depressão e não sai de casa, Ely tem como única diversão transar de vez em quando com Raúl (Diego Cremonesi), o filho do dono do pet shop, no banco traseiro do carro dele. Um dia, porém, ela descobre que está grávida e fica sem saber o que fazer. O certo é que não quer ter o filho. Porém, fica indecisa entre tomar algum remédio ou fazer um aborto. Uma colega do colégio aconselha o remédio, enquanto Raúl, o pai, insiste em que ela faça um aborto e até conseguiu uma clínica. A indecisão de Ely alimenta a história até o desfecho. Aviso desde já: “Invisível” não é um filme fácil de digerir. É depressivo e baixo astral ao extremo, tem um ritmo por demais vagaroso e até cansativo em alguns momentos. Há poucos diálogos, o silêncio tomando conta da maioria das sequências. É flagrante também o seu baixo orçamento, evidenciado pela produção simples, quase amadora, além de um elenco bastante reduzido. “Invisível” é apenas o quarto filme da jovem atriz Mora Arenillas (o mais recente é “La Chica Nueva”), que mostra muito talento em sua interpretação da jovem desiludida com a vida, triste e amargurada. O filme foi visto por aqui durante o 19º Festival Internacional de Cinema do Rio. Quem pretende assistir a um entretenimento leve e agradável deve passar longe deste drama argentino, disponível na plataforma Netflix.   

terça-feira, 20 de abril de 2021

 

“VERÓNICA”, 2017, México, 1h21m, disponível na plataforma Netflix, roteiro e direção de Carlos Algara e Alejandro Martinez-Beltran. Filmado em preto-e-branco, trata-se de um suspense psicológico cuja personagem principal é justamente uma psicóloga (Arcélia Ramirez). Depois de sofrer um esgotamento físico e mental, ela abandona a profissão e se enclausura numa casa de campo. Certo dia, porém, ela recebe um telefonema de uma moça que se tratava com seu antigo professor. A princípio, a psicóloga recusa o trabalho, mas acaba aceitando depois da promessa de receber um valor dez vezes maior do que costumava cobrar por uma consulta. A condição é que a nova paciente se hospede na casa para um período de terapia intensiva. Dessa forma, entra na história Verónica de La Serna (Olga Segura), uma jovem problemática e que, aos poucos, acaba revelando muitos traumas de infância, principalmente relativos à sua mãe. Durante as sessões, o que se vê é um embate psicológico entre as duas, praticamente as únicas protagonistas de toda a história. Apesar da falta de entendimento, começa entre as duas um jogo de conquista e sedução, o que acaba gerando algumas sequências eróticas.  Embora o cenário seja inteiramente ambientado dentro de uma casa e o elenco esteja resumido às duas atrizes, o filme não chega a entediar. A dupla de diretores acerta no ritmo do suspense, criando a expectativa para o desfecho, o que realmente acontece com uma surpreendente reviravolta. Um prato cheio para estudantes e profissionais da psicologia.             

segunda-feira, 19 de abril de 2021

 

“O BOM SAM” (“GOOD SAM”), 2019, coprodução EUA/Canadá, distribuição Netflix, 1h30m, segundo longa-metragem dirigido por Kate Melville (o primeiro foi “Picture Day”, de 2012), seguindo roteiro de Teena Booth. Trata-se de uma adaptação do romance homônimo escrito por Dete Meserve. Sabe aquele filme bobinho próprio para uma sessão da tarde com pipoca? Pois é, “O Bom Sam” é isso, um misto de filme com mensagem de solidariedade humana e comédia romântica. Kate Bradley (Tiya Silcar) é repórter de uma rede de TV especializada em cobrir desastres, incêndios e outras tragédias. Por isso, é chamada de “repórter abutre”. Um dia, porém, seu chefe David (Mark Camacho) a encarrega de uma pauta bastante amena. Cobrir o caso de um benfeitor que colocou um saco de dinheiro na porta de uma mulher. Muito a contragosto, Kate vai atrás da matéria e fica indignada ao saber que o tal doador permaneceu anônimo. As doações, cada uma de 150 mil dólares, prosseguiram mais outras vezes e o caso virou um mistério que chamou a atenção do país inteiro. O que se sabia era que as pessoas “premiadas” passavam por dificuldades financeiras ou prestavam serviços para alguma entidade beneficente. Dessa forma, as reportagens de Kate fizeram a audiência de sua emissora subir às alturas. Ela virou uma celebridade televisiva, ainda mais depois de revelar a identidade do doador. Perto do desfecho, porém, acontece uma reviravolta surpreendente. Mais não dá para contar. De qualquer forma, “O Bom Sam” é um entretenimento leve, agradável de assistir e não ofende a nossa inteligência, mas não apresenta nada de especial que mereça uma indicação entusiasmada.          

domingo, 18 de abril de 2021

 

“UN PADRE NO TAN PADRE” (padre em espanhol quer dizer pai), 2016, México, 1h34m, disponível na Netflix, direção de Raúl Martinez Resendez e roteiro de Alberto Bremer. Em outros tempos, esta comédia mexicana seria chamada de uma grande bobagem, plenamente descartável. Mas nessa atual fase de pandemia e tristeza, pode ser encarado com um entretenimento agradável de assistir. Na verdade, é um filme que pode ser dividido em duas partes. Na primeira, que vai até pouco mais da metade da projeção, é uma comédia que realmente faz rir. Na segunda parte, o enredo desanda de vez, transformando-se num dramalhão entediante. Mas a parte da comédia, a primeira, funciona muito bem e garante boas risadas. Vamos à história. Don Servando Villegas (Héctor Bonilla), beirando os 90 anos, é um velho rabugento, brigão, arrogante, homofóbico e racista. É o demônio em pessoa. Ele é o horror da casa de repouso em que vive há anos. Ninguém gosta dele, nem os internos e muito menos os enfermeiros. Ele é prepotente ao extremo, dá ordens como se fosse um general e bengaladas em quem não se comportar como ele exige. Chega o dia em que a direção do asilo resolve expulsá-lo, depois que ele agrediu dois funcionários, um deles filho do próprio diretor. Sobrou para o filho Francisco, o “Fran” (Benny Ibarra), que nunca se deu com o pai. Fran vive numa comunidade na base do estilo hippie, todos vegetarianos e amantes de um bom baseado – um deles, inclusive, planta a maconha no jardim da casa. A chegada do velho Servando tumultua a vida da “família” hippie, gerando ótimas sequências de humor. Só que tudo vira um drama entediante depois da segunda metade da projeção, o que acaba prejudicando o resultado final. Para quem era viciado na série “Chaves” talvez lembre do ator  Héctor Bonilha, que apareceu em alguns capítulos como o galã que chega à vila e faz o coração da mulherada bater mais forte. Trocando em miúdos, “Un Padre no Tan Padre” é uma divertida comédia e um drama entediante. Só a primeira parte vale a pena.