sábado, 19 de junho de 2021

“A GRANDE MENTIRA” (“THE DEBT”) – no Brasil, também recebeu outro título, “No Limite da Mentira” -. coprodução Estados Unidos/Inglaterra, 1h53m, direção de John Madden e roteiro de Peter Straughan. Desencavei esse filme de 2010 escondidinho na plataforma Netflix. O que me atraiu não foi apenas a história, mas também o elenco: Helen Mirren, Sam Worthington, Jessica Chastain (ainda em ascensão como estrela de Hollywood), Tom Wilkinson, Jesper Christensen, Ciarán Hinds e Marton Csokas. Na verdade, trata-se da refilmagem da produção israelense “Ha-Hov”, de 2007. É uma história de espionagem que envolve o trabalho de três agentes do Mossad (serviço secreto de Israel) que, em meados da década de 60, receberam a missão de capturar um médico nazista responsável pelo assassinato de milhares de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A inspiração óbvia para a história do filme original israelense foi o médico Josef Mengele, além do sequestro do oficial nazista Adolf Eichmann na Argentina, no início da década de 60, por agentes do Mossad. Eichmann foi enviado para Israel, julgado e condenado à morte. No caso de “A Grande Mentira”, o médico nazista é Dieter Vogel, também conhecido como “O Carrasco de Birkenau”. David Peretz (Worthington), Rachel Singer (Chastain) e Stephen Gold (Csokas) são os jovens agentes do Mossad encarregados da missão de localizar e prender o médico. Depois da missão não muito bem sucedida, eles voltam para Israel como verdadeiros heróis, mas carregando um segredo (a grande mentira) que os três guardarão durante muitos anos, na verdade quase trinta anos depois, quando Rachel (Helen Mirren), Peretz (Wilkinson) e Stephan Golden (Ciarán Hinds) voltam a se reencontrar. Para resumir a história e não dar spoiler, Rachel tentará recuperar a verdade, nem que para isso arrisque a própria vida. O filme é muito bom ao carregar no suspense, apresentando como seu maior trunfo o roteiro bem estruturado que nem mesmo os flashbacks conseguem prejudicar a narrativa e o andamento da história. Quem gosta de filmes de espionagem, principalmente aqueles ligados à Segunda Grande Guerra, vai curtir muito.   


quinta-feira, 17 de junho de 2021

 

“STREET FLOW” (“BANLIEUSARDS”), 2019, França, 1h36m, produção original Netflix, direção de Leila Sy e Kery James. Este último também assina o roteiro. Ele é um rapper francês de grande sucesso, cujo nome verdadeiro é Alix Mathurin. Ele também atua no filme. A história tem como pano de fundo a situação dos imigrantes, principalmente árabes e africanos, que ocupam os subúrbios das grandes cidades francesas e são, de certa forma, segregados da sociedade francesa. O enredo é centrado em uma família de imigrantes senegaleses, a mãe (Kani Diarra), o filho adolescente Noumouké (Bakary Diombera) e o jovem Soulaymaan (o estreante Jammeh Diangana), estudante do primeiro ano de Direito. O filho mais velho, Demba (Kery James), é a ovelha negra da família. Foi preso traficando drogas, saiu da cadeia e continua na vida de crime. O jovem Noumouké começa a dar trabalho, começa a roubar e acaba expulso do colégio. A história explora a dúvida de Noumouké em seguir os passos do irmão mais velho delinquente ou então do irmão universitário que não se envolve em confusão. A coisa piora de vez quando Noumouké, ao lado de uma jovem delinquente, rouba o dinheiro de um traficante. Ao mesmo tempo em que se envolve nos problemas do irmão mais novo e do mais velho, além de um grave problema de saúde da mãe, Soulaymaan estuda para participar de um júri simulado na faculdade, cujo tema é justamente analisar a responsabilidade do Estado pela atual situação dos subúrbios e, consequentemente, dos imigrantes. Soulaymaan fica encarregado da defesa do Estado, enquanto sua colega e oponente Lisa (Chloé Jouannet) é responsável por acusar o Estado. Esse embate é um dos pontos altos do filme: o imigrante negro defendendo o Estado e a loira de olhos azuis contra. “Street Flow” estimula uma grande reflexão sobre o problema dos imigrantes na França e, claro, em outros países da Europa. Mérito para a diretora estreante Leila Sy e para o roteirista, também estreante, Kery James, que criaram um filme impactante, poderoso e muito esclarecedor. Imperdível!

quarta-feira, 16 de junho de 2021

 

“PERFEIÇÃO INSONDÁVEL” (“WHAT LIES BELOW”), 2021, Estados Unidos, 1h29m, roteiro e direção de Braden R. Duemmler. Para criar a história, Duemmler reuniu dois gêneros: suspense e ficção científica. Começa quando Michele Wells (Mena Suvari) e sua filha adolescente Liberty (Ema Horvath) estão a caminho da casa de campo da família. Quando chegam, encontram com o bonitão John Smith (Trey Tocker), namorado de Michele que, sem a filha saber, o deixou utilizar o porão da casa para suas experiências – ele se diz geneticista aquático. A gente logo percebe que a menina se sente atraída pelo namorado da mãe e é nesse contexto que você imagina que transcorrerá a história. Filha contra a mãe disputando o sujeito, mas é aqui que o enredo toma outro rumo. Aos poucos, Liberty começa a notar algo de estranho com o bonitão, começando quando ela o vê entrando no lago em meio a uma luz dourada. Outros comportamentos estranhos de John fazem com que Liberty alerte a mãe sobre o perigo que está correndo. Tarde demais, pois Michele está apaixonada pelo rapaz, e quando isso acontece a mulher costuma ficar cega e também surda. Pelo que os fatos dão a entender, John é um alienígena encarregado de perpetuar sua espécie aqui na Terra. Aí você imagina: quanta bobagem! Este foi o primeiro longa-metragem escrito e dirigido por Braden R. Duemmler, e espero que seja o último. Realmente, o filme é uma grande bobagem. É mesmo muito ruim, chegando a ser considerado, por críticos e assinantes da Netflix, como o pior filme da plataforma. Talvez o pior deste século. Um dos críticos chegou a escrever que, diante dessa verdadeira agressão à nossa inteligência, “Hitchcock e os irmãos Lumière devem estar se revirando em seus túmulos”. Fuja a galope!

segunda-feira, 14 de junho de 2021

 

“MOM”, 2017, Índia, disponível na Netflix, 2h26m, filme de estreia do diretor Ravi Udywar, seguindo roteiro de Girisa Kohli. Mais um bom suspense policial de Bollywood, abordando um tema que escancara uma ferida aberta na sociedade machista da Índia, ou seja, a cultura do estupro, onde a vítima acaba quase sempre sendo julgada culpada. É dentro desse contexto que transcorre a história de “Mom”. Depois que sua enteada adolescente Arya (Sajal Ali) é estuprada e fica entre a vida e a morte em um hospital, a professora de biologia Devki Sabarwal (Sridevi Kapoor) exige que os responsáveis sejam presos e punidos. Encarregado da investigação, o detetive Matheu Francis (Akshaye Khanna) consegue identificar e prender os quatro estupradores. Eles vão a julgamento e, mesmo com todas as evidências contrárias, inclusive depois do depoimento da própria vítima reconhecendo seus agressores, o juiz resolve soltar o quarteto alegando falhas nas provas. Lá, também a justiça é machista. Só faltou prender a jovem Arya. Já que é assim, pensou Devik, o negócio é fazer justiça com as próprias mãos. Com a ajuda de um detetive particular, ela vai atrás de cada um para executar o seu plano de vingança. Apesar da sua longa duração, o filme em nenhum momento deixa a peteca cair. Prende a atenção do começo ao fim, o que faz de “Mom” um ótimo entretenimento. Este foi o último filme estrelado pela atriz Sridevi Kapoor, uma das mais famosas de Bollywood. No início de 2018, meses depois do final das filmagens, ela morreu afogada na banheira de um hotel, notícia que chocou a Índia e seus milhares de fãs. Trocando em miúdos, “Mom” é ótimo, um filmaço!      

domingo, 13 de junho de 2021

 

“A MULHER ILEGAL” (“LA DONA IL-LEGAL”), 2021, Espanha, produção original Netflix, 1h59m, roteiro e direção de Ramon Térmens. Trata-se de um drama poderoso e comovente cuja temática é a situação dos refugiados que chegam à região da Catalunha buscando uma vida melhor do que aquela em que viviam em seus países de origem ou fugindo de guerras e perseguições políticas. A história, inspirada em vários fatos reais, é centrada no advogado ativista Fernando Vila (o ator argentino Daniel Faraldo), especialista em cuidar dos imigrantes ilegais, a maioria deles confinada em Centros de Internação de Estrangeiros (CIES) até que seus casos sejam julgados. Além disso, Vila também colabora com a ONG “Braços Abertos”, entidade criada para ajudar os refugiados. Em meio ao seu trabalho, o advogado recebe uma denúncia de que a morte da imigrante kosovar Zita Kransniqi (Klaudia Dudová), uma interna do CIE, não foi suicídio, como apareceu na versão oficial, e sim assassinato, pois ela teria testemunhado o espancamento e morte de um refugiado. Ao investigar o caso, Vila descobrirá uma rede de prostituição de imigrantes que atua na Catalunha, assim como o envolvimento de policiais e autoridades políticas. Uma das prostitutas é a nigeriana Juliet Okoro (Yolanda Sey), que ajudará o advogado a chegar aos responsáveis pelo esquema, incluindo o policial Oriol Cadenas (Isak Ferriz) e o diretor de um CIE (Boris Ruiz). Além desse desafio, que quase lhe custará a vida, Vila dedica grande parte de seu tempo à esposa Rosa (Montse Germán), que sofre de um câncer em fase terminal. “A Mulher Ilegal” é uma poderosa denúncia social, política e racista, além de um filme envolvente e muito tocante. Uma das razões é o seu estilo quase documental, quando explora as entrevistas feitas por Vila com os imigrantes em dificuldades. Aliás, nos créditos finais, aparecem depoimentos de vários imigrantes que viveram essa triste realidade. Enfim, um filmaço que não pode deixar de ser visto.