“A
GRANDE MENTIRA” (“THE DEBT”) – no Brasil, também recebeu outro título, “No
Limite da Mentira” -. coprodução Estados Unidos/Inglaterra, 1h53m, direção de
John Madden e roteiro de Peter Straughan. Desencavei esse filme de 2010 escondidinho
na plataforma Netflix. O que me atraiu não foi apenas a história, mas também o
elenco: Helen Mirren, Sam Worthington, Jessica Chastain (ainda em ascensão como
estrela de Hollywood), Tom Wilkinson, Jesper Christensen, Ciarán Hinds e Marton
Csokas. Na verdade, trata-se da refilmagem da produção israelense “Ha-Hov”, de
2007. É uma história de espionagem que envolve o trabalho de três agentes do
Mossad (serviço secreto de Israel) que, em meados da década de 60, receberam a
missão de capturar um médico nazista responsável pelo assassinato de milhares
de judeus durante a Segunda Guerra Mundial. A inspiração óbvia para a história do
filme original israelense foi o médico Josef Mengele, além do sequestro do
oficial nazista Adolf Eichmann na Argentina, no início da década de 60, por
agentes do Mossad. Eichmann foi enviado para Israel, julgado e condenado à
morte. No caso de “A Grande Mentira”, o médico nazista é Dieter Vogel, também
conhecido como “O Carrasco de Birkenau”. David Peretz (Worthington), Rachel
Singer (Chastain) e Stephen Gold (Csokas) são os jovens agentes do Mossad
encarregados da missão de localizar e prender o médico. Depois da missão não
muito bem sucedida, eles voltam para Israel como verdadeiros heróis, mas carregando
um segredo (a grande mentira) que os três guardarão durante muitos anos, na
verdade quase trinta anos depois, quando Rachel (Helen Mirren), Peretz (Wilkinson)
e Stephan Golden (Ciarán Hinds) voltam a se reencontrar. Para resumir a
história e não dar spoiler, Rachel tentará recuperar a verdade, nem que
para isso arrisque a própria vida. O filme é muito bom ao carregar no suspense,
apresentando como seu maior trunfo o roteiro bem estruturado que nem mesmo os flashbacks
conseguem prejudicar a narrativa e o andamento da história. Quem gosta de
filmes de espionagem, principalmente aqueles ligados à Segunda Grande Guerra, vai
curtir muito.
sábado, 19 de junho de 2021
quinta-feira, 17 de junho de 2021
“STREET
FLOW” (“BANLIEUSARDS”), 2019, França, 1h36m, produção original Netflix,
direção de Leila Sy e Kery James. Este último também assina o roteiro. Ele é um rapper
francês de grande sucesso, cujo nome verdadeiro é Alix Mathurin. Ele também atua no filme. A história tem como pano de fundo a situação dos imigrantes,
principalmente árabes e africanos, que ocupam os subúrbios das grandes cidades
francesas e são, de certa forma, segregados da sociedade francesa. O enredo é centrado em uma família de imigrantes senegaleses, a mãe
(Kani Diarra), o filho adolescente Noumouké (Bakary Diombera) e o jovem
Soulaymaan (o estreante Jammeh Diangana), estudante do primeiro ano de Direito. O filho
mais velho, Demba (Kery James), é a ovelha negra da família. Foi preso
traficando drogas, saiu da cadeia e continua na vida de crime. O jovem
Noumouké começa a dar trabalho, começa a roubar e acaba expulso do colégio. A
história explora a dúvida de Noumouké em seguir os passos do irmão mais velho
delinquente ou então do irmão universitário que não se envolve em confusão. A
coisa piora de vez quando Noumouké, ao lado de uma jovem delinquente, rouba o
dinheiro de um traficante. Ao mesmo tempo em que se envolve nos problemas do irmão mais
novo e do mais velho, além de um grave problema de saúde da mãe, Soulaymaan
estuda para participar de um júri simulado na faculdade, cujo tema é justamente analisar a responsabilidade do Estado pela atual situação dos subúrbios e,
consequentemente, dos imigrantes. Soulaymaan fica encarregado da defesa do
Estado, enquanto sua colega e oponente Lisa (Chloé Jouannet) é responsável
por acusar o Estado. Esse embate é um dos pontos altos do filme: o imigrante
negro defendendo o Estado e a loira de olhos azuis contra. “Street Flow” estimula
uma grande reflexão sobre o problema dos imigrantes na França e, claro, em
outros países da Europa. Mérito para a diretora estreante Leila Sy e para o
roteirista, também estreante, Kery James, que criaram um filme impactante, poderoso
e muito esclarecedor. Imperdível!
quarta-feira, 16 de junho de 2021
“PERFEIÇÃO
INSONDÁVEL” (“WHAT LIES BELOW”), 2021, Estados Unidos, 1h29m, roteiro e direção
de Braden R. Duemmler. Para criar a história, Duemmler reuniu dois gêneros:
suspense e ficção científica. Começa quando Michele Wells (Mena Suvari) e sua
filha adolescente Liberty (Ema Horvath) estão a caminho da casa de campo da
família. Quando chegam, encontram com o bonitão John Smith (Trey Tocker),
namorado de Michele que, sem a filha saber, o deixou utilizar o porão da casa
para suas experiências – ele se diz geneticista aquático. A gente logo percebe
que a menina se sente atraída pelo namorado da mãe e é nesse contexto que você
imagina que transcorrerá a história. Filha contra a mãe disputando o sujeito,
mas é aqui que o enredo toma outro rumo. Aos poucos, Liberty começa a notar
algo de estranho com o bonitão, começando quando ela o vê entrando no lago em
meio a uma luz dourada. Outros comportamentos estranhos de John fazem com que
Liberty alerte a mãe sobre o perigo que está correndo. Tarde demais, pois
Michele está apaixonada pelo rapaz, e quando isso acontece a mulher costuma
ficar cega e também surda. Pelo que os fatos dão a entender, John é um
alienígena encarregado de perpetuar sua espécie aqui na Terra. Aí você imagina:
quanta bobagem! Este foi o primeiro longa-metragem escrito e dirigido por
Braden R. Duemmler, e espero que seja o último. Realmente, o filme é uma
grande bobagem. É mesmo muito ruim, chegando a ser considerado, por críticos e
assinantes da Netflix, como o pior filme da plataforma. Talvez o pior deste
século. Um dos críticos chegou a escrever que, diante dessa verdadeira agressão
à nossa inteligência, “Hitchcock e os irmãos Lumière devem estar se revirando
em seus túmulos”. Fuja a galope!
segunda-feira, 14 de junho de 2021
“MOM”, 2017, Índia,
disponível na Netflix, 2h26m, filme de estreia do diretor Ravi Udywar, seguindo
roteiro de Girisa Kohli. Mais um bom suspense policial de Bollywood, abordando
um tema que escancara uma ferida aberta na sociedade machista da Índia, ou
seja, a cultura do estupro, onde a vítima acaba quase sempre sendo julgada
culpada. É dentro desse contexto que transcorre a história de “Mom”. Depois que
sua enteada adolescente Arya (Sajal Ali) é estuprada e fica entre a vida e a
morte em um hospital, a professora de biologia Devki Sabarwal (Sridevi Kapoor) exige
que os responsáveis sejam presos e punidos. Encarregado da investigação, o detetive
Matheu Francis (Akshaye Khanna) consegue identificar e prender os quatro
estupradores. Eles vão a julgamento e, mesmo com todas as evidências
contrárias, inclusive depois do depoimento da própria vítima reconhecendo seus
agressores, o juiz resolve soltar o quarteto alegando falhas nas provas. Lá,
também a justiça é machista. Só faltou prender a jovem Arya. Já que é assim,
pensou Devik, o negócio é fazer justiça com as próprias mãos. Com a ajuda
de um detetive particular, ela vai atrás de cada um para executar o seu plano de
vingança. Apesar da sua longa duração, o filme em nenhum momento deixa a peteca
cair. Prende a atenção do começo ao fim, o que faz de “Mom” um ótimo
entretenimento. Este foi o último filme estrelado pela atriz Sridevi Kapoor,
uma das mais famosas de Bollywood. No início de 2018, meses depois do final das
filmagens, ela morreu afogada na banheira de um hotel, notícia que chocou a
Índia e seus milhares de fãs. Trocando em miúdos, “Mom” é ótimo, um filmaço!
domingo, 13 de junho de 2021
“A
MULHER ILEGAL” (“LA DONA IL-LEGAL”), 2021, Espanha, produção original Netflix,
1h59m, roteiro e direção de Ramon Térmens. Trata-se de um drama poderoso e
comovente cuja temática é a situação dos refugiados que chegam à região da
Catalunha buscando uma vida melhor do que aquela em que viviam em seus países
de origem ou fugindo de guerras e perseguições políticas. A história, inspirada em vários fatos reais, é centrada
no advogado ativista Fernando Vila (o ator argentino Daniel Faraldo),
especialista em cuidar dos imigrantes ilegais, a maioria deles confinada em Centros
de Internação de Estrangeiros (CIES) até que seus casos sejam julgados. Além
disso, Vila também colabora com a ONG “Braços Abertos”, entidade criada para ajudar
os refugiados. Em meio ao seu trabalho, o advogado recebe uma denúncia de que a
morte da imigrante kosovar Zita Kransniqi (Klaudia Dudová), uma interna do CIE,
não foi suicídio, como apareceu na versão oficial, e sim assassinato, pois ela teria testemunhado o espancamento e morte de um refugiado. Ao
investigar o caso, Vila descobrirá uma rede de prostituição de imigrantes que
atua na Catalunha, assim como o envolvimento de policiais e autoridades
políticas. Uma das prostitutas é a nigeriana Juliet Okoro (Yolanda Sey), que
ajudará o advogado a chegar aos responsáveis pelo esquema, incluindo o policial
Oriol Cadenas (Isak Ferriz) e o diretor de um CIE (Boris Ruiz). Além desse
desafio, que quase lhe custará a vida, Vila dedica grande parte de seu tempo à
esposa Rosa (Montse Germán), que sofre de um câncer em fase terminal. “A Mulher
Ilegal” é uma poderosa denúncia social, política e racista, além de um filme
envolvente e muito tocante. Uma das razões é o seu estilo quase documental, quando
explora as entrevistas feitas por Vila com os imigrantes em dificuldades. Aliás,
nos créditos finais, aparecem depoimentos de vários imigrantes que viveram essa
triste realidade. Enfim, um filmaço que não pode deixar de ser visto.