quinta-feira, 5 de março de 2020


“UMA MULHER ALTA” (“DYLDA”), 2019, Rússia, 2h19m, terceiro longa-metragem escrito e dirigido pelo jovem cineasta Kantemir Balagov, de apenas 28 anos. Inspirada no livro “A Guerra não tem Rosto de Mulher” (1983), escrito por Svetlana Aleksiévitch (Prêmio Nobel de Literatura em 2015), “Uma Mulher Alta” retrata os acontecimentos pós-Segunda Guerra Mundial em Leningrado, que se transformou num cenário de miséria, fome e destruição, onde os moradores sobreviventes andam como zumbis em meio aos destroços. Nesse contexto de colapso social, a trama é concentrada em duas amigas ex-combatentes: Íya (Viktoria Miroshnichenko) e Masha (Vasilisa Perelygina). Também chamada de “Varapau” pela sua altura, Íya voltou antes do front e assumiu a responsabilidade de cuidar do filho de Masha. Ambas voltariam a se encontrar trabalhando como enfermeiras num hospital militar repleto de soldados feridos. Juntas, Íya e Masha tentarão sobreviver aos traumas de guerra, à fome e à falta de perspectivas, além de um fato trágico envolvendo o filho de Masha. Uma se agarrará à outra para enfrentar as dificuldades. Interessante que as duas protagonistas principais são atrizes estreantes, mas nem por isso deixam de ter uma atuação magistral. O diretor Balagov utiliza tons saturados de vermelho e verde, o que lembra, em menor proporção, os filmes do diretor espanhol Pedro Almodovar. Selecionado para representar a Rússia na disputa do Oscar 2020 na categoria “Filme Internacional” (eu preferia como era, “Filme Estrangeiro”), “Uma Mulher Alta” não ficou entre os cinco finalistas, o que achei uma grande injustiça. Antes, o filme recebeu o prêmio de crítica internacional e de direção na mostra “Um Certo Olhar”, no Festival de Cannes. Por aqui, foi exibido durante a programação oficial do 21º Festival do Rio, em dezembro de 2019. Sem dúvida, um grande filme. Imperdível!

terça-feira, 3 de março de 2020


Desde que a vi em “A Insustentável Leveza do Ser”, em 1988, e depois, nos anos 90, na famosa trilogia do diretor polonês Krzysztof Kieslowski (“A Liberdade é Azul”, A Igualdade é Branca” e “A Fraternidade é Vermelha”, jamais deixei de assistir a um filme com a  francesa Juliette Binoche. E foram muitos, incluindo “O Paciente Inglês” etc. Um de seus filmes mais recentes é “QUEM VOCÊ PENSA QUE SOU” (“CELLE QUE VOUS CROYEZ”), 2019, França, 1h41m, roteiro e direção de Safy Nebbou. Binoche é Claire Millaud, uma professora universitária divorciada, com dois filhos, que procura fugir da solidão com namorados mais jovens. O último deles é Ludo (Guillaume Gouix), que de repente resolve terminar a relação humilhando Claire. Ela resolve se vingar entrando num site de relacionamentos com o nome de Clara, utilizando as fotos de uma sobrinha linda de 24 anos de idade. A isca foi lançada e Claire pesca justamente quem queria: Alex (François Civil), o melhor amigo de Ludo. A história vai se desenrolando paralelamente às sessões de Claire com a psicanalista Catherine Bormans (Nicole Garcia). O diretor Safy Nebbou insiste em manipular o enredo com algumas dúvidas para o espectador. Por exemplo, se o que está acontecendo é na vida real ou virtual. A complexidade da trama também está no fato de que Claire está escrevendo um livro cujo conteúdo sugere muitas semelhanças com o que está acontecendo no filme. Enfim, um “filme cabeça” não indicado para quem curte “Capitão América” e assemelhados. E com uma vantagem especial: a presença de Juliette Binochet em mais uma atuação impecável. “Quem Você Pensa que Sou” estreou no 69º Festival Internacional de Berlim em fevereiro de 2019 e foi exibido por aqui, antes de entrar no circuito comercial, durante a programação do Festival Varilux de Cinema Francês, em junho de 2019.

segunda-feira, 2 de março de 2020

JOJO RABBIT”, 2019, Estados Unidos, 1h48m, roteiro e direção do neozelandês Taika Waititi (que também atua no filme). Indicado para disputar o Oscar 2020 em seis categorias, inclusive de Melhor Filme, “Jojo Rabbit” ganhou apenas uma estatueta como Melhor Roteiro Adaptado – do romance “Caging Skies”, da escritora neozelandesa Christina Leunens, lançado em 2004. Realmente, o roteiro é primoroso, criativo, que soube criar situações de bom humor num contexto trágico – a Segunda Guerra Mundial. A história é toda centrada num garoto de 10 anos, Jojo Betzler (o estreante Roman Griffin Davis), admirador do nazismo e de Adolph Hitler. Seu sonho é ingressar na Juventude Hitlerista. A situação começa a mudar quando ele descobre que a mãe Rosie Betzler (Scarlett Johansson) esconde uma garota judia (Thomasin McKenzie) no armário, uma evidente referência a Anne Frank. Jojo fica sabendo ainda que a mãe é uma antinazista convicta e que, por isso, sofrerá uma trágica consequência. A simpatia de Jojo pelo nazismo é incentivada por seu amigo imaginário, o próprio Adolph Hitler (papel do diretor), em aparições hilariantes. O filme já começa de modo surpreendente, associando o histerismo dos alemães diante dos discursos de Hitler com o histerismo das fãs que iam aos concertos dos The Beatles. Uma sacada genial. Tudo funciona muito bem, mas o grande trunfo do filme é realmente a atuação do estreante ator britânico Roman Griffin Davis como Jojo. Ele domina o filme de cabo a rabo. Outro protagonista que dá um show é o gordinho York (Archie Yates), responsável pelas cenas mais engraçadas. O elenco conta ainda com Sam Rockweel, Rebel Wilson e Stephen Merchant. O filme estreou durante o 44º Festival de Cinema de Toronto, arrancando elogios entusiasmados dos críticos e do público. Eu também gostei, achei o filme genial, interessante e muito criativo. Imperdível!