sexta-feira, 27 de agosto de 2021

 

“ESTADOS UNIDOS VS. BILLIE HOLIDAY” (“THE UNITED STATES VS. BILLIE HOLIDAY”), 2020, Estados Unidos, distribuição Amazon Prime Video, 2h10m, direção de Lee Daniels (“O Mordomo da Casa Branca”, “Preciosa: Uma História de Esperança”). O roteiro foi escrito por Suzan-Lori Parks com base no livro “Chasing The Scream”, do jornalista inglês Johann Hari. O filme acompanha a trajetória tumultuada dos últimos dez anos da cantora e compositora negra de jazz/blues Billie Holiday, morta em 1959 aos 44 anos. A história começa no final dos anos 40, quando Billie já era uma cantora consagrada, vendendo milhares de discos e arrastando multidões para suas apresentações ao vivo. Numa delas, ela cantou pela primeira vez a música “Strange Fruit”, que denunciava a prática de linchamentos contra os negros. Quando as autoridades governamentais ouviram a música, imediatamente proibiram Billie de cantá-la. Como não conseguiram, mobilizaram o Departamento Federal de Narcóticos para prendê-la por uso e porte de drogas – Billie era viciada em heroína -, um pretexto para deixá-la longe dos palcos. Numa das cenas, um policial diz a outro: “Drogas e negros são o problema desta nação”. Billie teve uma vida muito sofrida. Abandonada pelo pai logo que nasceu, foi criada pela mãe que trabalhava como prostituta. Aos 10 anos, foi estuprada pelo vizinho. Além disso, foi obrigada a conviver com o racismo enraizado na sociedade norte-americana da época. Nos hotéis em que se hospedava durante suas turnês, por exemplo, mesmo sendo uma grande estrela da música, Billie só podia utilizar os elevadores de serviço. O lado sentimental também foi um desastre. Ela foi amante de empresários e casou três vezes, todas com homens que também consumiam drogas e a espancavam. Claro que toda essa conjuntura acabou levando Billie para o álcool e as drogas. No filme, o papel de Billie ficou com a cantora Andra Day, que fez sua estreia no cinema. E arrasou, não só pela sua poderosa atuação como atriz, mas também como cantora – é ela que canta todas as músicas. Aliás, um dos maiores trunfos do filme é justamente a trilha sonora, recheada com os maiores sucessos de Billie Holiday. Não foi à toa que Andra Day conquistou o Globo de Ouro como “Melhor Atriz”, além de ter sido indicada ao Oscar 2021. Também estão no elenco Trevante Rhodes, Garrett Hedlund, Rob Morgan, Natasha Lyonne e Leslie Jordan. Em tempos de tanta mediocridade musical, “Estados Unidos vs. Billie Holiday” é simplesmente imperdível e obrigatório, ainda mais para quem não sabe quem foi Billie Holiday. Para os fãs, então, como eu sempre fui, o filme é um daqueles presentes para guardar do lado esquerdo do peito.            

quinta-feira, 26 de agosto de 2021





“AS ESPIÃS DE CHURCHILL (“A CALL TO SPY”), 2019, Estados Unidos, distribuição Netflix, 2h4m, roteiro e direção de Lydia Dean Pilcherl. Este é, na verdade, o seu segundo longa – o primeiro foi “Radium Girls”, de 2018. Mais conhecida como produtora, Lydia fez um excelente trabalho nesse drama de guerra, adaptando uma história baseada em fatos reais ocorridos durante a Segunda Grande Guerra. Logo após a França ser invadida pelo exército alemão, o serviço de inteligência da Inglaterra começou a trabalhar com a possibilidade de os alemães invadirem também o seu país. Dessa forma, o primeiro-ministro Winston Churchill ordenou que fosse formada uma equipe de espiões para se infiltrar em solo francês e tentar descobrir os planos dos nazistas. O grupo ficou sob o comando do oficial Maurice Buckmaster (Linus Roache), que encarregou a também oficial Vera Atkins (Stana Katic) para realizar o recrutamento. Atkins conseguiu convencer Maurice de que seria mais fácil treinar mulheres, já que elas despertariam menos suspeitas por parte dos alemães. A primeira recrutada foi Virginia Hall (a ótima Sarah Megan Thomas), apesar de sua grave deficiência física – ela usava uma perna mecânica. Era chamada de “a espiã manca”.  A segunda, treinada como espiã e também como telegrafista, foi a indiana Noor Inayat Khan (Radhika Apte). O filme acompanha o treinamento das duas novas espiãs, o trabalho de ambas em solo francês e os perigos que enfrentaram em seu difícil trabalho. Virginia Hall se destacou tanto que logo assumiria o comando das unidades da resistência à ocupação nazista. Seu trabalho, assim como o de Noor, resultou em valiosas informações para os ingleses. Quem gosta de histórias de guerra vai curtir muito “As Espiãs de Churchill”, um filme cuidadosamente realizado, principalmente em termos de recriação de época. O clima de tensão se mantém até o final e a gente nem sente passar as 2 horas de duração. Imperdível!       

terça-feira, 24 de agosto de 2021

 

“JOLT: FÚRIA FATAL” (“JOLT”), 2021, Estados Unidos, distribuição Amazon Prime Vídeo, 1h31m, direção de Tanya Wexler, seguindo roteiro assinado por Scott Wascha. Existe um ótimo motivo para você assistir a este ótimo filme de ação: a atriz Kate Beckinsale. Ainda em grande forma e cada vez mais bonita aos 48 anos, ela arrasa como Lindy, uma mulher que desde criança é afetada por um distúrbio neurológico raro que a faz ter impulsos de raiva e violência descontrolada. Resumindo, ela não gosta de ser contrariada, não suporta desaforo e parte para a briga com quem estiver fazendo barulho ao mastigar ou até mesmo se for mal atendida por uma garçonete. Também não tolera injustiças. Nesse contexto, e ainda por se vestir somente de preto, fica parecendo uma heroína de história em quadrinhos, o que não é o caso. Tentaram conter sua fúria internando-a em vários hospitais psiquiátricos e até a submeteram a um treinamento forçado no exército, mas ninguém conseguiu controlar seus acessos de fúria. Até que apareceu o Dr. Munchin (Stanley Tucci), um renomado psiquiatra. Ele inventou um dispositivo constituído de eletrodos – grudados no corpo de Lindy – e ligados a um comando manual que, quando acionado, provoca choques elétricos. Dessa forma, quando começa a se descontrolar, Lindy aciona um botão e a raiva passa num instante. Tudo caminha aparentemente sob controle até ela conhecer Justin (Jai Courtney) por intermédio de um site de namoro. Depois de uma ou duas noites de amor, eles acabam se apaixonando, mas a alegria vai durar pouco. Justin é encontrado morto e a polícia não tem pistas. O detetive Vicars (Bobby Carnevale) e sua assistente, a detetive Nevin (Laverne Cox), são encarregados da investigação. Lindy resolve investigar o caso por conta própria, atitude que tumultua todo o trabalho da polícia. Depois de muita pancadaria – as brigas são muito bem coreografadas -, tiros, perseguições e explosões, tudo num ritmo alucinante, uma surpreendente reviravolta acontece no desfecho, quando Lindy finalmente ficará frente a frente com o assassino. Ainda no desfecho, outra surpresa é a presença, numa rápida aparição, da veterana atriz Susan Sarandon, cuja conversa com Lindy sugere uma continuação da história em outro filme. Não desligue antes dos créditos finais, pois ainda haverá outra surpresa. Gostei muito de “Jolt”, uma ótima diversão, principalmente porque é levado com muito bom humor, além da ação frenética. Sem esquecer, é claro, da maravilhosa Kate Beckinsale, craque em filmes do gênero, como o ótimo “Anjos da Noite”.        

 

“UM CLÁSSICO FILME DE TERROR” (“A CLASSIC HORROR STORY”), 2021, Itália, 1h35m, produção e distribuição Netflix, direção de Roberto De Feo e Paolo Strippoli, que também assinam o roteiro com a colaboração de Lucio Besana. Apesar do título original em inglês, o filme é inteiramente italiano. Trata-se de um filme de terror que pode ser encarado de duas formas: uma homenagem ao gênero terror ou uma sátira. É recheado de clichês e referências a alguns clássicos (leia no final do comentário), mas o resultado final decepciona. Pode ser considerado também um terror trash, em seu sentido mais negativo. A história começa esquisita e termina mais esquisita ainda. De início, temos uma perua tipo de lotação alugada para uma viagem turística à região da Calábria. Fazem parte do grupo um casal jovem de estrangeiros, uma moça misteriosa, um médico mais velho e o motorista do veículo. Um acidente no meio da estrada acaba resultando no primeiro mistério. A perua bate numa árvore à beira da estrada e depois, quando os seus ocupantes acordam, o veículo está no meio de uma floresta. Aí começam a acontecer fatos que, logo eles descobrirão, estão ligados a uma seita macabra que costuma torturar, esquartejar e matar suas vítimas. Até o desfecho, muito sangue vai rolar na telinha, culminando com uma grande e surpreendente reviravolta. Como comentei no início, o filme faz referências a inúmeros clássicos do gênero terror, como “Midsommar – O Mal não Espera a Noite”, “Uma Noite Alucinante de Terror”, “Jogos Mortais”, “O Segredo da Cabana”, “Holocausto Canibal e “O Homem de Palha”, entre tantos outros. É uma boa ideia, mas concretizada sem muita competência, talvez porque os diretores sejam jovens e iniciantes na carreira. No elenco estão Matilda Lutz, Yuliia Sobol, Will Merrick, Francesco Russo, Peppino Mazzotta e Alida Baldari. “Um Clássico Filme de Terror” deixa claro que terror não é muito a praia do cinema italiano. Em todo caso, deve agradar bastante a quem curte o gênero.     

domingo, 22 de agosto de 2021

 

“HERÓIS DE UMA GUERRA” (“ZASPANKA ZA VOJNIKE”), 2018, Sérvia, 120 minutos, distribuição Amazon Prime, direção de Predrag Antonijevic, seguindo roteiro assinado por Natasa Drakulic. Excelente drama de guerra do pouco conhecido cinema da República da Sérvia. Inspirado em fatos reais, este é mais um filme fruto da inesgotável fonte de histórias oriundas da Primeira e Segunda Guerra mundiais. Aqui, o foco é um dos feitos mais importantes do exército sérvio, desta vez durante a Primeira Guerra (1914-1918). Como fica evidente, o filme exalta o heroísmo dos soldados sérvios, mas nem essa patriotada tira os méritos do filme. A história é toda centrada em um pelotão encarregado da bateria de canhões que segue para a frente de batalha contra os austríacos, que, sem motivo aparente, declararam guerra à Sérvia. O personagem principal é Stevan Jakovljevic (Marko Vasiljevic), professor de biologia que se alista no exército sérvio sem qualquer experiência no campo de batalha. Mesmo assim, por causa do título universitário, ele é logo promovido a sargento, mesmo que a maioria dos seus subordinados tenha já combatido anteriormente, principalmente contra os turcos e búlgaros. O filme acompanha a caminhada de Jakovljevic e dos soldados do seu batalhão até a zona de combate. Na solidão da noite ou nas trincheiras, os combatentes sérvios revelam suas vidas pessoais em diálogos que demonstram sua grande tristeza por ficar longe de suas famílias sem saber se irão vê-las novamente. São cenas e diálogos realmente muito angustiantes e melancólicos. Os atores principais são muito bons, especialmente Ljubomir Bandovic, o autoritário comandante do batalhão. Mais uma história gloriosa, certamente desconhecida pelo grande público, que tem sua adaptação muito bem realizada para o cinema. “Heróis de Uma Guerra”, portanto, é um bom programa para quem curte histórias de guerra, como eu. Por isso, assino embaixo.