sábado, 29 de dezembro de 2018


“EM BUSCA DE FELLINI” (“In Search of Fellini”), coprodução EUA/Itália, 2017, longa-metragem de estreia do diretor sul-africano de curtas Taron Lexton, seguindo o roteiro escrito por Nancy Cartwright e Peter Kjenaas. Trata-se de uma bela homenagem ao grande diretor italiano Federico Fellini (1920-1993). Ambientada no início dos anos 90, pouco antes da morte de Fellini, a história - baseada em fatos reais - é centrada em Lucy (Ksenia Solo), uma garota de 20 anos residente numa cidade de Ohio (EUA). Ela é muito tímida e superprotegida pela mãe Claire (Maria Bello), tem dificuldade de encarar a realidade da vida e, por isso, passa os dias assistindo a filmes antigos e vivendo num verdadeiro mundo de sonhos. Numa mostra dedicada ao cineasta italiano, Lucy fica encantada com o estilo onírico de Fellini, passando a alugar todos os seus filmes. Uma paixão fulminante, a tal ponto de ir para a Itália tentar um encontro com o diretor. Enquanto aguarda uma resposta, Lucy visita alguns cenários dos filmes mais famosos de Fellini e, em algumas cenas fantasiosas, contracena com alguns dos principais personagens – estilizados, é claro - de “A Doce Vida”, “A Estrada da Vida”, “Satyricon” e “8 ½”. Senti falta de menções a “Amarcord”, meu filme preferido de Fellini. “Em Busca de Fellini” ganhou os prêmios de Melhor Filme, Melhor Diretor e Melhor Atriz (Ksenia) no Festival de Ferrara (Itália). Resumo da ópera: o filme é muito bom, principalmente para ser curtido pelos fãs do grande diretor italiano, como eu, e uma grande oportunidade para que as novas gerações conheçam um pouco da arte desse gênio do cinema.  

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018


“ALI & NINO”, lançado no Festival de Sundance (EUA) em janeiro de 2016, é uma coprodução Inglaterra/Azerbaijão, com direção de Asif Kapadia e roteiro de Christopher Hampton, que se inspirou no livro do mesmo nome escrito por Kurban Said em 1937. O pano de fundo da história é a guerra da independência do Azerbaijão, ao fim da Primeira Guerra Mundial, e que voltaria a ser dominado pelos russos a partir de 1920 (o Azerbaijão era rico em petróleo – não sei se ainda é). Na verdade, o tema central é o romance entre a princesa cristã ortodoxa Nino (Maria Valverde) e o príncipe muçulmano Ali (Adam Bakri). Romance que não teve o apoio das famílias, que eram contra a união por questões religiosas. O filme acompanha a tumultuada relação entre Ali e Nino, que um dia resolvem enfrentar os desafios das diferenças e se casar. Ao mesmo tempo, a história destaca a brava e corajosa defesa do povo do Azarbaijão contra os poderosos russos, que dominariam o pequeno país até 1991, quando enfim conquistam a sua independência. A equipe técnica e o elenco do filme formam uma verdadeira ONU: o diretor Asif é indiano naturalizado britânico; Maria Valverde é espanhola; Adam Bakri é palestino; Connie Nielsen (a duquesa Kipiani) é dinamarquesa, e por aí afora, além de ser falado em inglês, azerbaijano e russo. O filme é bastante interessante pela questão histórica, envolvendo um país pouco conhecido por nós. Há que se destacar também a caprichada produção, envolvendo um verdadeiro exército de figurantes. Os cenários são magníficos, com locações no próprio Azerbaijão, Turquia, Geórgia e Rússia. Só para fechar o leque de informações: o diretor Asif Kapadia é o mesmo dos documentários “Senna”, sobre o nosso grande piloto, e “Maradona”, o polêmico jogador argentino.  

terça-feira, 25 de dezembro de 2018


“UM DIA A MAIS PARA VIVER” (“Bereave”), 1h40m, EUA, roteiro e direção dos irmãos Evangelos e George Giovanis. O filme foi produzido em 2015 e lançado somente em 2018, mas não chegou por aqui. A história: o casal Garvey (Malcolm McDowell) e Evelyn (Jane Seymour) está entrando na terceira idade em plena crise conjugal. Casados há mais de 40 anos, eles vivem uma crise conjugal principalmente por conta dos sintomas de depressão e demência senil que afetam a sanidade de Garvey, que passa a tratar mal a companheira. Em meio às complicações do casamento, e para complicar ainda mais a situação e tumultuar o ambiente, aparece o irmão dele, Victor (Keith Carradine) e a filha Penelope (Vinessa Shaw), ambos tentando amenizar o conflito entre Garvey e Evelyn. Engana-se quem pensa que, por esta pequena sinopse, trata-se de um drama. Pelo contrário, é uma comédia das mais saborosas, valorizada pela atuação dos dois veteranos Malcolm McDoweel e Jane Seymour, ambos em grande forma. Mas quem se destaca mesmo é Seymour, ainda ótima atriz, linda e charmosa, mesmo aos 67 anos. Méritos aos irmãos Giovanis, que souberam conciliar drama e comédia com grande competência, tornando esse filme bastante agradável de assistir.  

domingo, 23 de dezembro de 2018


Sempre que você encontrar o ator francês Vincent Lindon nos créditos, pode crer: o filme é bom. Já assisti a quase todos em que ele atua e nunca me decepcionei (veja a lista que recomendo no fim do comentário). Não poderia ser diferente no recente drama “A APARIÇÃO” (L’APPARITION”), 2018, França, 2h24m, roteiro e direção de Xavier Giannoli (“Marguerite”). Lindon interpreta o jornalista Jacques Mayano, conhecido por fazer coberturas de guerras para uma famosa revista francesa. Graças à sua fama de jornalista também investigativo, Mayano é convidado pelo Vaticano a fazer parte de uma comissão canônica encarregada de investigar a veracidade da afirmação da jovem Anna (Galatea Bellugi), no interior da França, que diz ter presenciado a aparição da Virgem Maria. Além de Mayano, integram a comissão três padres – um deles exorcista – e uma médica psiquiatra. O vilarejo onde ocorreu o fenômeno logo se transformou num local de peregrinação de milhares de crentes ávidos por conhecer e tocar a menina e, quem sabe, presenciar um milagre. É claro que o padre local (Patrick D’Assunção) não gostou da chegada da tal comissão do Vaticano, já que o resultado da investigação poderá desmentir a aparição e espantar os peregrinos do vilarejo (claro, comércio acima de tudo). Do começo ao fim, o filme trata do mistério da fé e por que é tão difícil apurar a veracidade de uma aparição. Nesse contexto, o filme despeja inúmeras dúvidas para o espectador e o convida a participar do veredito, como se ele mesmo fizesse parte da comissão canônica. O filme é excelente e Vincent Lindon mais uma vez mostra sua competência como ator. Como prometi no início, aí vai uma lista com os melhores filmes de Lindon: “Uma Primavera com Minha Mãe”, ”Os Cavaleiros Brancos”, “Tudo por Ela”, “O Diário de uma Camareira” e “Mea Culpa”.