sábado, 2 de setembro de 2023

 

“IMPÉRIO DA DOR” (“PAIN KILLER”), 2023, Estados Unidos, minissérie em 6 episódios da Netflix, direção de Peter Berg. O roteiro foi escrito por Micah Fitzerman-Blue e Noah Harpster, que se basearam nos livros “Pain Killer: An Empire of Deceit and The Origin of America’s Opioid Epidemic", de Barry Meier, e “The Family That Builty An Empire of Pain”, de Patrick Raden Keefe. A história traz o relato de uma tragédia que se abateu nos Estados Unidos na década de 90 e início dos anos 2000, ou seja, as milhares de mortes ocorridas pelo consumo do OxyContin, um analgésico viciante à base de morfina fabricado pela Pardue Pharmam, pertencente à família Sackler. O remédio chegou a ser apelidado de “heroína em comprimido”. A minissérie explora três vertentes. A primeira, a ganância do empresário Richard Sackler (Matthew Broderick), dono da farmacêutica, que montou um esquema de representantes bonitas e sensuais para convencer os médicos a receitar o remédio em troca de favores sexuais. A segunda vertente mostra os esforços de Edie Flowers (Uzo Aduba), investigadora da Procuradoria dos EUA em denunciar as mortes ocorridas por causa do remédio. A terceira vertente explora a tragédia que se abateu sobre milhares de famílias cujos entes queridos se viciaram e morreram por overdose. Como exemplo, o roteiro apresenta o caso do mecânico de automóveis Glen Kryger (Taylor Kitsch), que se vicia e acaba morrendo de overdose, depois de perder a oficina, a mulher e o filho pequeno. Casos como esse são relatados no início de cada capítulo em depoimentos de pessoas que tiveram um ente querido morto pelo remédio. Importante ressaltar que todos esses acontecimentos ficaram escondidos do público por mais de uma década, demonstrando o poder da indústria farmacêutica em corromper autoridades, mídia e a classe médica. Também estão no elenco Madelaine West Duchovny (filha dos atores David Duchovny e Lea Leoni), Dina Shihabi, Carolina Bartczak, Mercedes Blanche e Clark Grege. “Império da Dor” é forte, contundente e realista ao máximo e, sem dúvida, deverá sensibilizar a opinião pública sobre essa tragédia.  

quinta-feira, 31 de agosto de 2023

 

“A EXTORSÃO” (“LA EXTORSIÓN”), 2023, Argentina, 1h45m, em cartaz na HBO Max, direção de Martino Zaidelis, seguindo roteiro assinado por Emanuel Diez. Trata-se de um suspense bem movimentado, repleto de mistérios e algumas reviravoltas. É daqueles filmes que não deixam você piscar. Veterano piloto da aviação comercial prestes a se aposentar, Alejandro Petrussián (Guilhermo Francella) é obrigado a transportar uma maleta com conteúdo misterioso nos voos que saem de Buenos Aires com destino a Madrid. Na verdade, ele está sendo chantageado. Quem o obriga a fazer o serviço promete revelar à companhia de aviação, caso não obedeça, que não poderá mais voar devido a uma deficiência auditiva, aspecto que ele jamais revelou e que o proibiria de continuar trabalhando. A trama envolve não apenas seus colegas de trabalho e sua namorada, como também o serviço secreto da Argentina e a polícia aeroportuária de Buenos Aires. Como será que o piloto sairá dessa situação? Essa é a pergunta-chave cuja resposta motiva o espectador a ir até o desfecho da história. Completam o elenco Andrea Frigerio, Alberto Ajaka, Pablo Rago, Carlos Portaluppi e Mónica Villa. O veterano ator Guillermo Francella carrega o filme nas costas, comprovando, mais uma vez, que está no mesmo nível do grande Ricardo Darín. Não é para menos. Francella já atuou em vários filmes importantes do cinema argentino. Só para citar alguns, “O Segredo dos Seus Olhos”, “Granizo”, Minha Obra Prima” e “O Clã”. Sem dúvida, “A Extorsão” surge para valorizar ainda mais a carreira de Francella. Um ótimo suspense. Imperdível!  

 

“CRIME NA RODOVIA PARAÍSO” (“PARADISE HIGHWAY”), 2022, Estados Unidos, lançamento da Prime Vídeo, 1h55m, roteiro e direção de Anna Cutto, cineasta norueguesa radicada nos Estados Unidos – é o seu longa de estreia. A história é toda centrada na caminhoneira Sally (Juliette Binoche), que é obrigada a transportar cargas ilícitas para proteger a vida do irmão Dennis (Frank Grillo), que está na prisão e vive ameaçado por gangues da pesada. Sally vive na corda bamba, pois qualquer hora poderá ser presa em algum posto policial na estrada. Se a sua situação já é ruim, piora muito mais depois que é obrigada a dar “carona” a uma garota de 12 anos, Leila (Hala Finley), sequestrada por exploradores sexuais. Ao transportar a menina, Sally entra no radar do FBI, que escala seu agente especial Finley Sterling (Cameron Monaghan) para descobrir o paradeiro da caminhoneira. Para essa missão, Finley conta com a colaboração do ex-agente Gerick (Morgan Freeman), que agora trabalha como consultor do FBI. O filme vira um road movie pelas estradas do interior dos Estados Unidos, com algum suspense e reviravoltas. Completam o elenco Veronica Ferres, Christiane Seidel, Bill Luckett, Diva Tyler e Walker Babington. Embora conte com a presença de Juliette Binoche e Morgan Freeman, quem se destaca é a atriz adolescente Hala Finley, de 14 anos, numa interpretação talentosa que prenuncia o nascimento de uma nova estrela. Tomara que eu não esteja enganado. Estranho mesmo foi ver uma atriz consagrada, a francesa Juliette Binoche, escalada como motorista de caminhão, ainda mais em um filme tão fraco. Afinal, ela já participou de tantos clássicos do cinema europeu (“A Liberdade é Azul”, “Perdas e Danos”, “Cópia Fiel”, “Deixa a Luz do Sol Entrar” e “Acima das Nuvens”, só para citar alguns). Ela também ganhou um Oscar (“Paciente Inglês”), um César (“A Liberdade é Azul”) e um Leão de Ouro (“Cópia Fiel”). Estou pensando até agora como ela topou esse papel. Morgan Freeman, tudo bem, está à beira da aposentadoria, um dinheirinho a mais vai ajudar. Somando os prós e os contras, “Crime na Rodovia Paraíso” tem muito mais contras. Só se sustenta mesmo pela presença dessa dupla de astros e pelo talento da atriz adolescente.    

segunda-feira, 28 de agosto de 2023

 

“ELVIS”, 2022, coprodução Estados Unidos/Austrália, 2h39m, em cartaz na HBO Max, direção de Baz Luhrmann, que também assina o roteiro com a colaboração de Craig Pearce. Além de acompanhar a trajetória de sucesso do cantor Elvis Presley durante 20 anos, até sua morte em 1977, “Elvis” destaca também a presença de seu mentor e empresário, conhecido como “coronel” Tom Parker, um sujeito manipulador e viciado em jogos de cassino. O filme relembra ainda a grande influência musical que o blues tocado e cantado pelos negros do sul dos EUA teve sobre Elvis, que absorveu o estilo de cantar e dançar no palco, levando a mulherada ao delírio. Elvis é interpretado com maestria pelo ator Austin Butler, enquanto o papel de Tom Parker é assumido pelo astro Tom Hanks, quase irreconhecível pela maquiagem, quase uma caricatura. O elenco conta ainda com as presenças de Olivia DeJonge, Luke Bracey, Richard Roxburgh, Helen Thompson e Dacre Montgomery. “Elvis” teve sua estreia mundial no Festival de Cannes de 2022 e, meses depois, foi indicado em oito categorias para disputar o Oscar 2023 (Melhor Filme, Ator, Fotografia, Edição, Som, Design de Produção, Figurino e Maquiagem e Cabelo). Não levou nenhuma estatueta, o que achei uma injustiça, como também injusto não ter sido indicado pelo roteiro e pela trilha sonora com 36 músicas, todas que foram sucesso na voz de Elvis. Trocando em miúdos, “Elvis” é um filme delicioso de assistir e de ouvir. Filme obrigatório para os espectadores jovens que não conhecem o grande cantor e um néctar para os milhões de fãs que continuam achando que Elvis não morreu. IMPERDÍVEL!

domingo, 27 de agosto de 2023

 

“UM CRIME ARGENTINO” (“UN CRIMEN ARGENTINO”), 2022, Argentina, em cartaz na HBO Max, 1h53m, filme de estreia na direção de Lucas Combina, seguindo roteiro assinado por Jorge Bechara e Sebastian Pivotto. A história é baseada em fatos reais ocorridos no início da década de 80 e relatados no livro homônimo escrito pelo jornalista argentino Reynaldo Sietecase, lançado em 2017. Mais um filme de fundo político do cinema argentino, tema que “los hermanos” exploram com muita competência, como comprovam várias produções que se tornaram clássicos premiadíssimos. Só para citar três: “A História Oficial”, “O Segredo dos seus Olhos” e “Argentina, 1985”. Ambientada em 1980, em pleno regime militar, a história de “Um Crime Argentino” relata a investigação do sequestro de um importante empresário ligado a uma família tradicional da cidade de Rosário. Carlos Torres (Matías Mayer) e Antonio Rivas (Nicolás Francella), dois jovens promotores de um departamento de justiça são designados para investigar o caso. Ao mesmo tempo, a polícia ligada à ditadura também quer solucionar o caso, mas do seu jeito – na base da porrada e da tortura. Um suspeito é preso e somente depois de torturado confessa o sequestro, mas se nega a fornecer detalhes, mais tarde descobertos pela dupla de promotores, com a ajuda de uma médica legista. Completam o elenco Malena Sánchez, Alberto Ajaka, Luis Luque, Dario Grandinetti, Rita Córtese e César Bordón.  O suspense prende a atenção até o desfecho, impulsionado pelo primoroso roteiro adaptado. Outros destaques são o capricho na caracterização de época - cenários e figurinos -, além do ótimo desempenho dos atores. Um crime seria não assistir a mais este excelente filme argentino, não tão bom quanto os citados no início deste comentário, mas bem acima da média. Não perca!