sábado, 19 de setembro de 2020

 

“O DIABO DE CADA DIA” (“THE DEVIL ALL THE TIME”), 2020, Estados Unidos, disponível no catálogo Netflix, 2h18m, roteiro e direção de Antonio Campos. Trata-se da adaptação para o cinema do romance “The Devil All The Time”, escrito por Donald Ray Pollock em 2011, aclamado pela crítica literária norte-americana como um dos melhores livros lançados naquele ano. É um drama bem pesado, cujos principais personagens colocam em prática uma maldade advinda do próprio Diabo, entre as quais um ex-soldado que se transforma num fanático religioso, um pastor que mata a mulher para tentar depois ressuscitá-la,  um casal perverso que mata jovens depois do ato sexual fotografado, um pastor que, “em nome do Senhor”, transa com jovens “ovelhas”, um xerife corrupto e assassino etc. Enfim, uma coletânea que representa o que de pior existe nos seres humanos. O filme até que poderia se chamar “O Mal está em todo lugar”. Do começo ao fim, um locutor em off narra a história sob o ponto-de-vista de cada personagem. A trama é ambientada entre o final da Segunda Guerra Mundial e a Guerra do Vietnã, envolvendo pessoas e famílias residentes nas regiões interioranas de Knockemstiff (Ohio) e Coalcreek (Virgínia). A história é toda centrada no jovem Arvin Russel (Tom Holland) e seus traumas de infância. Ele é o único personagem a se envolver em quase todas as situações. “O Diabo de Cada Dia” é um filme muito interessante e bem desenvolvido, mas apresenta inúmeras sequências que podem chocar o espectador mais sensível. Conta ainda com um elenco de primeira. Além de Tom Holland (o Homem-Aranha da Marvel), atuam Riley Keough, Robert Pattinson, Mia Wasikovska, Jason Clarke, Bill Skarsgard, Halley Bennett, Eliza Scanlen, Sebastião Stan e Harry Melling.  Este é o quarto longa-metragem escrito e dirigido por Antonio Campos, filho do jornalista brasileiro Lucas Mendes. Com “O Diabo de Cada Dia”, Antonio começa a ser reconhecido como um cineasta de muito talento, com estilo próprio e diferenciado. Imperdível!       

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

“OFERENDA À TEMPESTADE” (“Ofrenda a La tormenta”), 2020, Espanha, 2h14m, roteiro e direção de Fernando González Molina. Trata-se do terceiro e último filme da trilogia “Baztán”, baseada na obra da escritora espanhola Dolores Redondo. Como nos dois primeiros, a inspetora de polícia Amaia Salazar (Marta Etura) é deslocada para a região de Baztán, onde está localizada sua cidade-natal Elizondo, para investigar uma série de desaparecimentos de bebês recém-nascidos. A primeira cena do filme é chocante. Um homem aparece sufocando um bebê no berço com um urso de pelúcia. Haja estômago. À medida em que as investigações prosseguem, Amaia acabará se defrontando com muitos mistérios, quase todos envolvendo seitas secretas, rituais de ocultismo e lendas locais, além de membros de sua própria família, que desde o primeiro filme aparecem como suspeitos na história. “Oferenda à Tempestade” repete a estética visual de “O Guardião Invisível” e de “Legado nos Ossos”, os dois primeiros, utilizando uma fotografia em tons escuros, muitas cenas noturnas e chuva incessante. O elenco é praticamente o mesmo, com um ou outro personagem novo e uma das poucas novidades é a mudança de comportamento de Amaia, que se transforma de uma policial corajosa e mandona para uma mulher com sentimentos à flor da pele, aparecendo em muitas cenas aos prantos. Apesar da reviravolta surpreendente no final, “Oferenda à Tempestade” é mais do mesmo, consolidando a opinião de que a trilogia talvez ficasse melhor se fosse condensada em apenas um filme. Trocando em miúdos, o resultado final é uma decepção.

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quarta-feira, 16 de setembro de 2020

 

“LEGADO NOS OSSOS” (“LEGADO EM LOS HUESOS”), 2019, Espanha, 1h59m, segundo filme da Trilogia Baztá, baseada na obra da escritora de romances policiais Dolores Redondo – o primeiro foi “O Guardião Invisível”, já comentado neste blog, e o terceiro é “Oferenda à Tempestade”. Os três foram dirigidos por Fernando González Molina. Em “Legado nos Ossos”, o elenco é praticamente o mesmo do primeiro filme, com exceção da entrada, entre outros, do ator argentino Leonardo Sbaraglia e de um novo personagem, o filho recém-nascido da inspetora Amaia Salazar (Marta Etura). Desta vez, a história envolve a investigação sobre os ossos de crianças encontrados nos arredores de Elizondo, justamente a cidade natal de Amaia, cenário dos três filmes. De novo, o caso misterioso é cercado pelo sobrenatural, destacando lendas milenares, bruxarias e rituais macabros. Como no primeiro, este segundo também envolve na história, a família de Amaia, principalmente suas irmãs e a mãe, há anos internada num hospital psiquiátrico. Em “Legado nos Ossos”, o diretor Molina mantém o mesmo padrão estético do primeiro filme, como cores escuras, muitas cenas noturnas e uma chuva ininterrupta. Como suspense, funciona a contento. E só. Para terminar, aviso quer o próximo filme a ser comentado aqui será o último da trilogia, ou seja, “Oferenda à Tempestade”.         

terça-feira, 15 de setembro de 2020

 

“SANTANA” (“DIAS SANTANA”), 2015, Angola, 1h46m, roteiro e direção de Maradona Dias dos Santos e de Chris Roland, norte-americano radicado na África do Sul. Embora pouco conhecido por aqui, o cinema angolano é bastante prestigiado mundo afora, e este filme de ação acaba de chegar ao catálogo da Netflix, já alcançando o 4º lugar entre os 10 mais vistos. A história, baseada em fatos reais, começa com o assassinato de uma mãe grávida residente na periferia de Luanda, capital de Angola. Seu filho de 4 anos consegue fugir, mesmo ferido, e o bebê é salvo antes da mãe morrer. O filme dá um salto de 35 anos e os dois irmãos agora ocupam cargos importantes em Luanda. Bernado (Dalton Borralho) é general do exército e Dias (Paulo Americano) um agente da divisão de narcóticos da polícia. Depois de anos de investigações, eles descobrem a identidade do assassino da mãe, Ferreira (Rapulana Seiphemo), chefe de uma violenta gangue de traficantes. O roteiro se desenrola basicamente em torno do desejo de vingança dos irmãos. Chegar até Ferreira, porém, será uma façanha e tanto, pois o poderoso traficante anda cercado de um pequeno exército de seguranças. Muita violência, tiros, pancadaria e sangue jorrando, tudo o que pede um filme de ação, sem falar no time de atrizes mulatas do mais alto quilate. Totalmente falado em português de Portugal, “Santana” estreou no Festival de Cannes/2015, chegando agora à Netflix. Trata-se de uma boa oportunidade de conhecer um exemplar do cinema angolano. Vale a pena conferir só por curiosidade.  

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

 

“O GUARDIÃO INVISÍVEL” (“EL GUARDIÁN INVISIBLE”), 2017, Espanha, 2h09m, direção de Fernando González Molina e roteiro de Luiso Berdejo. Trata-se do primeiro filme da trilogia baseada na obra da escritora de romances policiais Dolores Redondo (as duas sequências são “Legado nos Ossos”, de 2019, e “Oferenda da Tempestade”, de 2020, que prometo assistir e comentar). “O Guardião Invisível” é centrado no trabalho da inspetora de polícia Amaia Salazar (Marta Etura) para desvendar os crimes praticados por um serial killer contra garotas na faixa dos 13 aos 16 anos. Para iniciar as investigações, Amaia é deslocada de sua delegacia em Pamplona para Elizondo, uma pequena cidade onde ela nasceu e ainda vivem suas irmãs Flora (Elvira Minguez) e Rosaura (Patrícia López Arnaiz). É nos arredores de Elizondo que são encontrados os corpos das adolescentes. Alguns amigos de infância e até membros de sua família aparecem na lista de suspeitos de Amaia, que, paralelamente às investigações, será obrigada a reviver traumas de sua infância ligados ao passado familiar. Até um ser mitológico que vive na floresta, segundo uma lenda local, pode estar envolvido nos assassinatos, embora os habitantes afirmem que ele é do bem – é nele que o título do filme se baseia. Muitas reviravoltas e um final surpreendente fazem deste suspense espanhol um ótimo programa. Os filmes dessa trilogia, todos disponíveis no catálogo Netflix, são dirigidos por Fernando Gonzáles Molina e têm como personagem principal a inspetora vivida pela excelente atriz Marta Etura.  

domingo, 13 de setembro de 2020

 

“THE ARBITRATION” (a Netflix manteve o título original, em inglês; na tradução para a nossa língua, “Arbitragem”), 2016, Nigéria, 1h52m. Antes de torcer o nariz pelo fato do filme ser nigeriano, saiba que a Nigéria é o segundo maior produtor de filmes do mundo, atrás da Índia e na frente dos Estados Unidos. Como existe Hollywood nos EUA, os críticos profissionais chamam a indústria do cinema na Índia de Bollywood e a da Nigéria de Nollywood. “The Arbitragion”, falado em inglês, conta a história do julgamento de um bem sucedido empresário do setor de Informática acusado de estuprar e demitir ilegalmente uma de suas funcionárias, por sinal, também sua amante. Pode ser considerado um filme de tribunal, embora não tenha juiz ou júri, apenas as partes envolvidas e seus respectivos advogados. Funciona como uma corte de conciliação. Dessa forma, com exceção de algumas cenas em flashbacks, o filme inteiro é ambientado num tipo de sala de reuniões. Frente à frente, lá estão Dara (Adesua Etomi), a acusadora, e sua advogada Owawmi (Somkele Idhalama) e, do outro lado da mesa, Gbenga (Oc Uveje), o acusado, e sua advogada, Funlaya Johnson (Ritiola Doyle), além do mediador Tomisin Bucknor (Sola Fosudo) e uma escrevente. As discussões não se referem apenas às acusações de estupro e demissão ilegal. Envolvem ainda uma questão societária, já que uma parte das ações da empresa do acusado é também alvo da luta judicial. No fim das contas, o que se espera da história é que no seu desfecho seja revelado quem está falando a verdade, ou seja, quem é a vítima e o vilão. A resposta fica por conta do espectador. O roteirista e diretor Niyi Akinmolayan é muito conhecido no país africano por ter dirigido “The Wedding Party 2”, o filme nigeriano de maior bilheteria de todos os tempos. Portanto, ao assistir “The Arbitration”, você terá a oportunidade de conhecer um pouco do cinema nigeriano.