“UMA
QUESTÃO PESSOAL” (“UNA QUESTIONE PRIVATA”), 2017, Itália, 1h25m,
roteiro e direção de Paolo Taviani. Trata-se de uma adaptação livre para o
cinema do romance de Beppe Fenoglio, publicado em 1963. A história é ambientada
na região de Piemonte durante a Segunda Guerra Mundial, quando os fascistas de
Mussolini, em apoio aos nazistas de Hitler, perseguiam, prendiam e matavam os partisans
membros da Resistência italiana. Uns anos antes, Milton (Luca Marinelli),
Giorgio (Lorenzo Richelmy) e Fulvia (Valentina Bellè) eram amigos inseparáveis.
Amavam passear, tomar um bom vinho, dançar e ouvir jazz. Fulvia não tirava da
vitrola (muita gente talvez não saiba, mas vitrola era o toca-discos da época) o
disco de Judy Garland cantando “Over the Rainbow” (trilha sonora do "O Mágico de Oz". Fulvia sabia a letra de cor
e salteado. Resumindo: Milton e Giorgio se apaixonaram por Fulvia, mas aí veio
a Segunda Guerra Mundial e separou o trio. Fulvia foi enviada para um lugar
longe do conflito, Milton e Giorgio entraram para a Resistência, cada qual em um
batalhão diferente. Quando Milton retornou à casa de Fulvia, encontrou a velha
governanta. Conversa vai, ela deixa a entender que Giorgio teve um caso com Fulvia.
Milton fica transtornado, louco de ciúmes, e sai à procura de Giorgio para
esclarecer a verdade. Descobre, porém, que Giorgio foi aprisionado pelos
fascistas, mas mesmo assim fará de tudo para chegar até ele. Apesar do contexto
de guerra, o filme explora a paixão doentia de Milton por um amor antigo que
dificilmente se concretizará novamente diante da situação de guerra. Para ele,
a verdade sobre o relacionamento de Fulvia com Giorgio vira uma obsessão paranoica,
“Uma Questão Pessoal”. Com o irmão Vittorio doente – faleceu em 2018 -, Paolo
Taviani trabalhou praticamente sozinho no roteiro e na direção. Beirando os
noventa, Paolo, ainda mais sem o irmão, talvez não tenha folego para continuar
filmando. Se isso realmente acontecer, será uma pena para o cinema. Lembro que os Taviani foram responsáveis por grandes clássicos do cinema italiano, como "Pai Patrão" e "La Notte Di San Lorenzo", entre tantos outros.
sexta-feira, 12 de julho de 2019
terça-feira, 9 de julho de 2019
“SUPREMA” (“ON THE BASIS OF SEX”), 2018,
EUA, 2h1m, direção de Mimi Leder, com roteiro assinado por Daniel Stiepleman.
Trata-se da cinebiografia da juíza Ruth Bader Ginsburg, segunda mulher a
integrar a Suprema Corte dos Estados Unidos – ela foi nomeada em 1993 pelo
presidente Bill Clinton. O filme começa lá pela segunda metade dos anos 50, quando
Ruth ingressa na prestigiosa Universidade de Harvard, mesmo casada e mãe. Quando
o marido foi transferido para Nova Iorque, Ruth conseguiu vaga na também prestigiosa
Columbia para prosseguir seus estudos. Em ambas as faculdades, Ruth sempre foi
a primeira da classe. Formada, saiu à procura de emprego em vários escritórios
de advocacia. Foi recusada em quase todos, pois na época os homens eram os
privilegiados com as vagas - além dela ser judia, é claro. Num dos escritórios, ouviu do entrevistador que as
mulheres não eram bem-vindas por causa dos ciúmes que talvez provocassem nas
esposas dos seus advogados. Na verdade, na sociedade norte-americana machista e
conservadora da época, as mulheres não tinham muita chance – ela conseguiu vaga
como professora universitária de Direito. A partir dessa desigualdade é que Ruth encontrou o
filão para se destacar no Direito. Desafiou as leis que discriminavam as mulheres, defendeu a igualdade de gênero, enfrentou os tribunais com sua oratória envolvente, conhecimento e inteligência,
culminando com a sua indicação à Suprema Corte. Uma história de coragem e perseverança.
Para se ter uma ideia da sua importância, Ruth foi eleita, em 2015, pela
Revista Time, uma das 100 pessoas mais influentes do mundo. No filme, Ruth é
interpretada por Felicity Jones (“A Teoria de Tudo”), atriz inglesa muito
competente, simpática e charmosa, mesmo baixinha e dentucinha. Na verdade, o
papel seria de Natalie Portman, que desistiu na última hora. Completam o elenco
Armie Hammer como Martin Ginsburg, marido de Ruth, Sam Waterston, Justin
Theroux e a sempre eficiente Kathy Bates. Tudo bem que tem muito blá-blá-blá,
mas blá-blá-blá do mais alto nível envolvendo leis, constituição e, acima de
tudo, questões de justiça. Filmão!
segunda-feira, 8 de julho de 2019
“A MULA” (“The Mule”), 2018,
EUA, 1h55m, é o mais novo filme dirigido por Clint Eastwood. Ele também interpreta
o personagem principal, Earl Stone, um idoso de 90 anos preso depois de transportar,
durante dois anos, mais de 1 tonelada de drogas a serviço do cartel mexicano Sinaloa.
Utilizando sua velha pick-up e depois uma mais moderna, Stone levava drogas do México
para Michigan. Stone foi escolhido porque tinha o perfil perfeito para passar sem
desconfianças pela fronteira e pelas barreiras policiais. Além do fato de ser
um idoso de aspecto ilibado, embora um péssimo pai e marido, era respeitado
como cidadão que lutou durante a Segunda Guerra Mundial contra os nazistas na
Itália e também como paisagista, decorador e floricultor. Porém, nem ele nem os
traficantes contavam com a astúcia da equipe comandada pelo agente Colin Bates
(Bradley Cooper), do Departamento de Narcóticos dos EUA. Ainda fazem parte do elenco de "A Mula" Dianne West, Taissa Farmiga (irmã de Vera), Andy Garcia, Laurence Fishburn, Michael Peña e Alison Eastwood (filha mais velha de Clint). Embora difícil de
acreditar, a história é totalmente baseada em fatos reais. Ou seja, na vida do
norte-americano Leo Earl Sharp (1924-2016), preso em 2011 e condenado a cumprir uma
pena de três anos. Também conhecido como “El Tata”, Sharp trabalhou para o
cartel de drogas comandado pelo poderoso chefão mexicano Laton, no filme interpretado
por Andy García. Para escrever o roteiro, Nick Schenck (“Gran Torino”, também dirigido
e interpretado por Eastwood) se inspirou na reportagem “A Mula de Drogas
de 90 Anos do Cartel Sinaloa”, escrita por Sam Dolnick e publicada pelo Jornal
New York Times em 2014. Para quem viu tantos filmes ótimos com a assinatura de
Eastwood, "A Mula" certamente será motivo de decepção. Sem dúvida, um dos mais fracos do grande astro norte-americano. Em todo caso, Eastwood é
Eastwood, e só por isso vale colocar o filme para rodar.
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