“A
FILHA” (“The Daughter”),
2015, Austrália, estreia do ator suíço Simon Stone como roteirista e diretor.
Para escrever a história, ele se baseou na peça “O Pato Selvagem”, escrita pelo
dramaturgo norueguês Henrik Ibsen em 1884. Não conheço a peça de Ibsen para
poder analisar melhor sua adaptação para o cinema, mas não deve ter sido uma
tarefa muito fácil, tendo em vista a forte carga emocional e dramática que
envolve os personagens do começo ao final do filme. Talvez por isso mesmo,
Stone escalou um excelente elenco: Paul Schneider, Geoffry Rush, Miranda Otto,
Ewen Leslie, Anna Torv, Odessa Young e Sam Neil. Mas vamos à história: ao
retornar à cidade natal para o casamento do pai (Rush) com uma ex-empregada da
casa (Anna Torv), Cristian (Schneider) é surpreendido com o fora dado por
telefone pela sua noiva. Ele entra em depressão e acaba se encrencando com o pai,
um homem prepotente que não admite ser contrariado. A situação acaba piorando,
e muito, depois que Cristian descobre um antigo segredo envolvendo o próprio
pai e Charlotte (Miranda Otto), esposa do amigo Oliver. As verdades lançadas no
ventilador atingirão todo mundo, principalmente a jovem Hedvig (Odessa), filha
de Charlotte e Oliver. É drama que não acaba mais. Achei que a interpretação à
beira da histeria acabou constrangendo alguns atores. Vejam e comprovem.
quinta-feira, 3 de maio de 2018
quarta-feira, 2 de maio de 2018
O drama nacional “COMO NOSSOS PAIS” é o quarto longa-metragem escrito e dirigido
pela diretora Laís Bodanksy. A história é centrada na personagem Rosa (a ótima
Maria Ribeiro), uma mulher beirando os 40 anos e que vive uma fase infeliz. É
casada com Dado (Paulo Vilhena), um marido pouco participativo na família. Rosa
é obrigada a lidar sozinha com a rebeldia precoce das filhas pré-adolescentes, com os problemas da casa e, além disso, perde o emprego e, para coroar as “boas” notícias, ainda
descobre que o marido está tendo um caso com uma colega de trabalho mais nova.
Se você pensa que desgraça é pouca, Rosa ainda vai ter que digerir um segredo
bombástico revelado pela mãe Clarice (Clarisse Abujamra) num almoço de família.
A história acompanha o desgaste do casamento de Rosa, seu difícil
relacionamento com a mãe, o carinho que tem pelo padrasto irresponsável Homero (Jorge Mautner)
e uma “pulada de cerca” com um amigo (Felipe Rocha). O filme é muito bom, tanto
que conquistou seis “kikitos” no 45º Festival de Gramado, incluindo Direção, Melhor
Atriz (Maria Ribeiro), Atriz Coadjuvante (Clarisse Abujamra) e Ator Coadjuvante
(Paulo Vilhena). No desfecho, ainda podemos curtir a música “Como Nossos Pais”,
de Belchior e imortalizada por Elis Regina, só que instrumental, mas ainda
assim linda e emocionante demais.
segunda-feira, 30 de abril de 2018
O drama italiano “INDIVISÍVEIS” (“INDIVISIBILI”), 2017, quarto longa-metragem escrito e dirigido pelo diretor napolitano Edoardo De Angelis, conta a história de duas irmãs siamesas
de 18 anos de idade que possuem um grande talento vocal. Por isso, desde cedo,
se apresentam em festas de casamento e aniversário, além fazer shows pelas
cidades próximas a Nápoles. Elas são exploradas pelo pai viciado em jogo e pela
mãe alcoólatra e viciada em drogas. Ou seja, elas não vêem a cor do dinheiro.
Até que chegam aos 18 anos e resolvem se rebelar, inclusive ameaçando se submeter
a uma operação para separá-las, conforme sugestão de um médico durante um
casamento. As moças que interpretam as siamesas Viola e Daisy (Marianna e
Angela Fontana, estreando no cinema) são realmente gêmeas na vida real, mas não
siamesas como no filme. O pai explorador é interpretado pelo ator Massimiliano
Rossi e a mãe viciada Titti pela atriz Antonia Truppo. Todos com ótima atuação.
As locações das filmagens, na periferia pobre de Nápoles, sugeriram a alguns críticos
profissionais que o filme se aproximou muito do estilo neo-realista do cinema
italiano das décadas de 40/50. Talvez, mas de qualquer forma trata-se de um filme
bastante interessante e que vale a pena ser conferido.
domingo, 29 de abril de 2018
“O
OUTRO LADO DA ESPERANÇA” (“TOIVON TUOLLA PUOLEN”), Finlândia, 2017, é o 17º longa-metragem
escrito e dirigido por Aki Kaurismäki, o mais importante diretor do cinema
finlandês da atualidade. Lembro, especialmente, de outros ótimos filmes de
Kaurismäki, como “O Homem sem Passado” e “O Porto”, este último rodado na França
com elenco francês. Neste seu mais recente filme, o pano de fundo da história é
a situação dos refugiados na Europa, representados na figura do sírio Khaled (Sherwan Haji), que
foge da guerra civil de seu país, percorre vários países da Europa e acaba na
Finlândia, escondido num navio cargueiro. Paralelamente à história de Khaled, Kaurismäki
apresenta a trajetória de outro personagem, o vendedor ambulante Wisktröm
(Sakari Kuosmanen), que larga não só o trabalho como também a esposa alcoólatra,
decide comprar um restaurante decadente e assume os empregados mais esquisitos do
mundo. Por uma dessas coincidências da vida, Khaled vai parar no restaurante de
Wisktröm e ajudar a reerguê-lo. Embora trate de uma questão séria como a dos
refugiados, Kaurismäki recheia a história com muito humor, um humor cínico e
irônico. Mesmo nas situações mais hilariantes, os personagens mantêm suas fisionomias
sérias, um recurso que funciona muito bem nesta ótima comédia finlandesa. O filme foi exibido pela primeira vez no 67º Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2017, e Kaurismäki recebeu o Urso de Prata como Melhor Diretor. Muito justo, pois o filme é simplesmente imperdível!
Mais uma pérola do
surpreendente cinema sul-coreano: “A
REDE” (“GEUMUL”), 2016, roteiro e direção de Kim Ki-Duk, o mesmo do sensacional
“Pieta”. Como faz diariamente, o pescador norte-coreano Nam Chul-Woo (Ryoo Seung-bum)
sai para pescar próximo à fronteira com a Coréia do Sul. Quando recolhe a rede
para voltar, esta se enrosca no motor, deixando o barco à deriva, ultrapassando as águas territoriais da Coréia do Sul. Ao chegar à
margem, ele é imediatamente detido e levado pela polícia sul-coreana para
interrogatório. As autoridades acreditam que ele é um espião a serviço da
Coréia do Norte. E dá-lhe interrogatório, com direito a torturas físicas e
psicológicas. Os sul-coreanos, além de forçarem Chul-Woo a confessar que é um
espião, querem obrigá-lo a se exilar na Coréia do Sul, tentando fazer uma
lavagem cerebral no coitado com o slogan “É impossível viver numa ditadura. Venha morar num país livre”. As
autoridades, tentando cooptá-lo para o seu lado, levam-no a conhecer Seul, um
paraíso capitalista e repleto de oportunidades, mas Chul-Woo
continua insistindo que é inocente e que quer voltar para sua esposa na Coréia
do Norte. O caso chega à imprensa internacional, o que faz com que o pescador
seja libertado e devolvido para o seu país de origem. Chul-Woo chega à Coréia
do Norte como herói, com direito a recepção com bandeirolas e banda de música. A
comemoração, porém, esconde uma terrível intenção por parte das autoridades
norte-coreanas. Junto com o pobre e inocente pescador, o espectador irá viver
momentos bastante angustiantes. O filme foi
exibido por aqui durante a 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Filmaço!
De vez em quando faz bem para o cérebro
assistir a uma comédia boba, sem compromisso com os neurônios do espectador. Com
esse objetivo, escolhi assistir à produção espanhola “ABRACADABRA”, 2017, escrita e dirigida por Pablo Berger, mesmo
diretor do ótimo “Blancanieves” e “Torremolinos”. Também me motivou a presença
da diva espanhola Maribel Verdú, uma bela e excelente atriz. A história é
fantasiosa, abordando o sobrenatural, tudo levado no maior bom humor. Carmen (Verdú)
é uma dona de casa dedicada à família e, principalmente, ao marido Carlos
(Antonio de La Torre). Um dia, porém, ela percebe que Carlos começa a ter
atitudes estranhas. Depois de muito observar o comportamento de Carlos, Carmen
chega a uma terrível conclusão: seu marido foi possuído por algum espírito
maligno. Ao lado do cunhado maluco e de um charlatão, Carmen vai tentar
descobrir a identidade do tal espírito e, assim, fazer o marido voltar ao normal. Esse
contexto dá margem a situações bastante engraçadas. Mas no quarto final a
comédia perde o ritmo e se transforma num dramalhão mexicano, aliás, espanhol.
Mesmo com alguns defeitos, o filme foi indicado em várias categorias no Prêmio
Goya (o Oscar espanhol). Resumo da ópera: uma grande bobagem, mas muito
divertida.
Embora tenha assistido a alguns bons
filmes no gênero, nunca fui chegado a histórias com temática gay,
principalmente por causa das cenas de sexo entre dois homens, por exemplo, mesmo
que sejam realizadas com alguma sensibilidade, como é o caso do drama romântico
“ME CHAME PELO SEU NOME” (“CALL ME BY
YOUR NAME”), coprodução EUA/Itália/França/Brasil (isso mesmo, tem um brasileiro,
Rodrigo Teixeira, no time de produção). A direção é do italiano Luca Guadagnino
(“100 Escovadas Antes de Dormir”), com roteiro do consagrado James Ivory
(diretor de “Vestígios do Dia”). A história é baseada no romance homônimo do
escritor egípcio André Aciman e ambientada em 1983. A família do professor
Perlman, especialista em cultura grego-romana, está passando as férias de verão
numa casa de campo no interior da Itália. Logo chega o acadêmico Oliver (Armie
Hammer) para ajudar o professor numa pesquisa arqueológica. Os diálogos, tanto
em inglês, italiano e francês, contêm uma grande dose de erudição,
principalmente quando o assunto é arte. Até o surgimento de Oliver, o jovem Elio
(Timothée Chalamet), 17 anos, filho do professor, saía com uma turma de jovens
e uma delas era sua namorada. Elio e Oliver acabam ficando amigos inseparáveis e, depois, muito mais do que amigos. O filme é de grande beleza estética, incluindo a excelente
fotografia, locações e cenários deslumbrantes. Estreou no Sundance Festival e
também foi exibido durante o 42º Festival de Toronto, em setembro de 2017.
Embora a ala conservadora de Hollywood tenha criticado sua temática, o filme
ganhou o Oscar 2018 na categoria “Roteiro Adaptado”. Não é para qualquer
público, principalmente aquele cuja cultura está no nível do carpete.
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