quinta-feira, 3 de maio de 2018


“A FILHA” (“The Daughter”), 2015, Austrália, estreia do ator suíço Simon Stone como roteirista e diretor. Para escrever a história, ele se baseou na peça “O Pato Selvagem”, escrita pelo dramaturgo norueguês Henrik Ibsen em 1884. Não conheço a peça de Ibsen para poder analisar melhor sua adaptação para o cinema, mas não deve ter sido uma tarefa muito fácil, tendo em vista a forte carga emocional e dramática que envolve os personagens do começo ao final do filme. Talvez por isso mesmo, Stone escalou um excelente elenco: Paul Schneider, Geoffry Rush, Miranda Otto, Ewen Leslie, Anna Torv, Odessa Young e Sam Neil. Mas vamos à história: ao retornar à cidade natal para o casamento do pai (Rush) com uma ex-empregada da casa (Anna Torv), Cristian (Schneider) é surpreendido com o fora dado por telefone pela sua noiva. Ele entra em depressão e acaba se encrencando com o pai, um homem prepotente que não admite ser contrariado. A situação acaba piorando, e muito, depois que Cristian descobre um antigo segredo envolvendo o próprio pai e Charlotte (Miranda Otto), esposa do amigo Oliver. As verdades lançadas no ventilador atingirão todo mundo, principalmente a jovem Hedvig (Odessa), filha de Charlotte e Oliver. É drama que não acaba mais. Achei que a interpretação à beira da histeria acabou constrangendo alguns atores. Vejam e comprovem.         

quarta-feira, 2 de maio de 2018


O drama nacional “COMO NOSSOS PAIS” é o quarto longa-metragem escrito e dirigido pela diretora Laís Bodanksy. A história é centrada na personagem Rosa (a ótima Maria Ribeiro), uma mulher beirando os 40 anos e que vive uma fase infeliz. É casada com Dado (Paulo Vilhena), um marido pouco participativo na família. Rosa é obrigada a lidar sozinha com a rebeldia precoce das filhas pré-adolescentes, com os problemas da casa e, além disso, perde o emprego e, para coroar as “boas” notícias, ainda descobre que o marido está tendo um caso com uma colega de trabalho mais nova. Se você pensa que desgraça é pouca, Rosa ainda vai ter que digerir um segredo bombástico revelado pela mãe Clarice (Clarisse Abujamra) num almoço de família. A história acompanha o desgaste do casamento de Rosa, seu difícil relacionamento com a mãe, o carinho que tem pelo padrasto irresponsável Homero (Jorge Mautner) e uma “pulada de cerca” com um amigo (Felipe Rocha). O filme é muito bom, tanto que conquistou seis “kikitos” no 45º Festival de Gramado, incluindo Direção, Melhor Atriz (Maria Ribeiro), Atriz Coadjuvante (Clarisse Abujamra) e Ator Coadjuvante (Paulo Vilhena). No desfecho, ainda podemos curtir a música “Como Nossos Pais”, de Belchior e imortalizada por Elis Regina, só que instrumental, mas ainda assim linda e emocionante demais.          

segunda-feira, 30 de abril de 2018


O drama italiano “INDIVISÍVEIS” (“INDIVISIBILI”), 2017, quarto longa-metragem escrito e dirigido pelo diretor napolitano Edoardo De Angelis, conta a história de duas irmãs siamesas de 18 anos de idade que possuem um grande talento vocal. Por isso, desde cedo, se apresentam em festas de casamento e aniversário, além fazer shows pelas cidades próximas a Nápoles. Elas são exploradas pelo pai viciado em jogo e pela mãe alcoólatra e viciada em drogas. Ou seja, elas não vêem a cor do dinheiro. Até que chegam aos 18 anos e resolvem se rebelar, inclusive ameaçando se submeter a uma operação para separá-las, conforme sugestão de um médico durante um casamento. As moças que interpretam as siamesas Viola e Daisy (Marianna e Angela Fontana, estreando no cinema) são realmente gêmeas na vida real, mas não siamesas como no filme. O pai explorador é interpretado pelo ator Massimiliano Rossi e a mãe viciada Titti pela atriz Antonia Truppo. Todos com ótima atuação. As locações das filmagens, na periferia pobre de Nápoles, sugeriram a alguns críticos profissionais que o filme se aproximou muito do estilo neo-realista do cinema italiano das décadas de 40/50. Talvez, mas de qualquer forma trata-se de um filme bastante interessante e que vale a pena ser conferido.        

domingo, 29 de abril de 2018


“O OUTRO LADO DA ESPERANÇA” (“TOIVON TUOLLA PUOLEN”), Finlândia, 2017, é o 17º longa-metragem escrito e dirigido por Aki Kaurismäki, o mais importante diretor do cinema finlandês da atualidade. Lembro, especialmente, de outros ótimos filmes de Kaurismäki, como “O Homem sem Passado” e “O Porto”, este último rodado na França com elenco francês. Neste seu mais recente filme, o pano de fundo da história é a situação dos refugiados na Europa, representados na figura do sírio Khaled (Sherwan Haji), que foge da guerra civil de seu país, percorre vários países da Europa e acaba na Finlândia, escondido num navio cargueiro. Paralelamente à história de Khaled, Kaurismäki apresenta a trajetória de outro personagem, o vendedor ambulante Wisktröm (Sakari Kuosmanen), que larga não só o trabalho como também a esposa alcoólatra, decide comprar um restaurante decadente e assume os empregados mais esquisitos do mundo. Por uma dessas coincidências da vida, Khaled vai parar no restaurante de Wisktröm e ajudar a reerguê-lo. Embora trate de uma questão séria como a dos refugiados, Kaurismäki recheia a história com muito humor, um humor cínico e irônico. Mesmo nas situações mais hilariantes, os personagens mantêm suas fisionomias sérias, um recurso que funciona muito bem nesta ótima comédia finlandesa. O filme foi exibido pela primeira vez no 67º Festival de Cinema de Berlim, em fevereiro de 2017, e Kaurismäki recebeu o Urso de Prata como Melhor Diretor. Muito justo, pois o filme é simplesmente imperdível!        


Mais uma pérola do surpreendente cinema sul-coreano: “A REDE” (“GEUMUL”), 2016, roteiro e direção de Kim Ki-Duk, o mesmo do sensacional “Pieta”. Como faz diariamente, o pescador norte-coreano Nam Chul-Woo (Ryoo Seung-bum) sai para pescar próximo à fronteira com a Coréia do Sul. Quando recolhe a rede para voltar, esta se enrosca no motor, deixando o barco à deriva, ultrapassando as águas territoriais da Coréia do Sul. Ao chegar à margem, ele é imediatamente detido e levado pela polícia sul-coreana para interrogatório. As autoridades acreditam que ele é um espião a serviço da Coréia do Norte. E dá-lhe interrogatório, com direito a torturas físicas e psicológicas. Os sul-coreanos, além de forçarem Chul-Woo a confessar que é um espião, querem obrigá-lo a se exilar na Coréia do Sul, tentando fazer uma lavagem cerebral no coitado com o slogan “É impossível viver numa ditadura. Venha morar num país livre”. As autoridades, tentando cooptá-lo para o seu lado, levam-no a conhecer Seul, um paraíso capitalista e repleto de oportunidades, mas Chul-Woo continua insistindo que é inocente e que quer voltar para sua esposa na Coréia do Norte. O caso chega à imprensa internacional, o que faz com que o pescador seja libertado e devolvido para o seu país de origem. Chul-Woo chega à Coréia do Norte como herói, com direito a recepção com bandeirolas e banda de música. A comemoração, porém, esconde uma terrível intenção por parte das autoridades norte-coreanas. Junto com o pobre e inocente pescador, o espectador irá viver momentos bastante angustiantes. O filme foi exibido por aqui durante a 40ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Filmaço!

De vez em quando faz bem para o cérebro assistir a uma comédia boba, sem compromisso com os neurônios do espectador. Com esse objetivo, escolhi assistir à produção espanhola “ABRACADABRA”, 2017, escrita e dirigida por Pablo Berger, mesmo diretor do ótimo “Blancanieves” e “Torremolinos”. Também me motivou a presença da diva espanhola Maribel Verdú, uma bela e excelente atriz. A história é fantasiosa, abordando o sobrenatural, tudo levado no maior bom humor. Carmen (Verdú) é uma dona de casa dedicada à família e, principalmente, ao marido Carlos (Antonio de La Torre). Um dia, porém, ela percebe que Carlos começa a ter atitudes estranhas. Depois de muito observar o comportamento de Carlos, Carmen chega a uma terrível conclusão: seu marido foi possuído por algum espírito maligno. Ao lado do cunhado maluco e de um charlatão, Carmen vai tentar descobrir a identidade do tal espírito e, assim, fazer o marido voltar ao normal. Esse contexto dá margem a situações bastante engraçadas. Mas no quarto final a comédia perde o ritmo e se transforma num dramalhão mexicano, aliás, espanhol. Mesmo com alguns defeitos, o filme foi indicado em várias categorias no Prêmio Goya (o Oscar espanhol). Resumo da ópera: uma grande bobagem, mas muito divertida.        


Embora tenha assistido a alguns bons filmes no gênero, nunca fui chegado a histórias com temática gay, principalmente por causa das cenas de sexo entre dois homens, por exemplo, mesmo que sejam realizadas com alguma sensibilidade, como é o caso do drama romântico “ME CHAME PELO SEU NOME” (“CALL ME BY YOUR NAME”), coprodução EUA/Itália/França/Brasil (isso mesmo, tem um brasileiro, Rodrigo Teixeira, no time de produção). A direção é do italiano Luca Guadagnino (“100 Escovadas Antes de Dormir”), com roteiro do consagrado James Ivory (diretor de “Vestígios do Dia”). A história é baseada no romance homônimo do escritor egípcio André Aciman e ambientada em 1983. A família do professor Perlman, especialista em cultura grego-romana, está passando as férias de verão numa casa de campo no interior da Itália. Logo chega o acadêmico Oliver (Armie Hammer) para ajudar o professor numa pesquisa arqueológica. Os diálogos, tanto em inglês, italiano e francês, contêm uma grande dose de erudição, principalmente quando o assunto é arte. Até o surgimento de Oliver, o jovem Elio (Timothée Chalamet), 17 anos, filho do professor, saía com uma turma de jovens e uma delas era sua namorada. Elio e Oliver acabam ficando amigos inseparáveis e, depois, muito mais do que amigos. O filme é de grande beleza estética, incluindo a excelente fotografia, locações e cenários deslumbrantes. Estreou no Sundance Festival e também foi exibido durante o 42º Festival de Toronto, em setembro de 2017. Embora a ala conservadora de Hollywood tenha criticado sua temática, o filme ganhou o Oscar 2018 na categoria “Roteiro Adaptado”. Não é para qualquer público, principalmente aquele cuja cultura está no nível do carpete.