sexta-feira, 24 de dezembro de 2021

 

“APRESENTANDO OS RICARDOS” (“BEING THE RICARDOS”), 2021, Estados Unidos, distribuição Amazon Prime Video, 2h5m, roteiro e direção de Aaron Sorkin (“Os 7 de Chicago”, “A Grande Jogada”). Quem não se lembra de “I Love Lucy”, pelo menos os que já passaram dos 60 anos? Foi uma série de humor de grande sucesso da CBS nos Estados Unidos de 1951 a 1957 – no Brasil, foi exibida entre 1958 e 1979 pela Rede Tupi, também com enorme audiência. “Being The Ricardos” escancara os bastidores do programa durante uma semana em 1953, às vésperas de mais um episódio – era exibido pela CBS às sextas-feiras. Aliás, uma semana bastante tumultuada, primeiro pela manchete de um jornal sensacionalista afirmando que Lucille Ball (Nicole Kidman) era comunista. Para piorar, a atriz pegou indícios de que seu marido e par romântico no programa, Desi Arnaz (Javier Bardem), estava tendo um caso, iniciando uma crise conjugal. E terceiro, os atores, produtores e redatores não se acertavam sobre o roteiro do novo episódio. Toda essa confusão está detalhada no filme, que desde já se apresenta como um dos favoritos a algumas indicações ao Oscar 2022, como já antecipou a seleção anunciada pelo Globo de Ouro, com Nicole Kidman concorrendo a Melhor Atriz, Javier Bardem a Melhor Ator e o filme a Melhor Roteiro. Se eu tivesse que apostar, jogaria todas as minhas fichas em Nicole Kidman, que está sensacional como Lucille Ball. Como é a especialidade de Aaron Sorkin, o filme é um tanto verborrágico, com extensos debates verbais e diálogos afiadíssimos, mas tudo elaborado com muita competência. É preciso destacar ainda o primoroso roteiro e a recriação de época, especialmente os figurinos. A caracterização de Nicole como Lucille é impressionante. O filme também apresenta uma faceta pouco conhecida do ator Desi Arnaz, na verdade Desiderio Alberto Arnaz de Acha III. Nascido em Cuba, ele cantava em boates com sua orquestra mesmo depois de casado com Lucille. Em “I Love Lucy”, seu personagem era Rick Ricardo – daí o título. Também estão no elenco J.K. Simmons, Nina Arianda, Alia Shawkat, Jacke Lacy e Clark Grege. Por tudo o que já foi dito acima, afirmo que “Being The Ricardos” é um filme delicioso de assistir, sem dúvida um dos melhores lançamentos deste ano da Amazon Prime Video. Imperdível!                                                 

quinta-feira, 23 de dezembro de 2021

 

“O PREÇO DA VERDADE” (“DARK WATERS”), 2020, Estados Unidos, distribuição Amazon Prime Video, 2h6m, direção de Todd Haynes (“Longe do Paraíso”, “Carol”), seguindo roteiro de Matthew Michael Carnahan e Nathael Rich. O filme relembra um caso judicial verídico de grande repercussão no Tio Sam. A figura central da história é Robert Bilott, um advogado de defesa corporativo que se destacou trabalhando em casos de grandes empresas de químicos. No início dos anos 90, porém, ele mudaria de lado, defendendo uma causa ambiental contra a gigante DuPont. Tudo começou quando Bilott foi procurado por um fazendeiro da região da Virgínia Ocidental que queria processar a empresa pela morte de grande parte de seu gado. Segundo ele, 150 de suas vacas morreram depois de beber a água de um riacho contaminado pelo lixo jogado por uma unidade da DuPont. Robert entrou com uma ação contra a empresa, iniciando um processo que duraria cerca de 20 anos e que custaria à DuPont mais de 600 milhões de dólares em indenizações às suas vítimas, fora as multas aplicadas por danos ambientais. O filme mostra os bastidores de todo o processo, focando no esforço de Robert em provar suas alegações, as reuniões entre os advogados do seu escritório, muitos deles contrários à ação, e as sessões do julgamento nos tribunais. Ao mesmo tempo, destaca a crise familiar vivida por Robert pelo fato de se dedicar tanto ao processo e deixar de lado a esposa e os filhos, o que também causaria danos à sua saúde. O ator Mark Ruffalo lidera o elenco. Engajado em defender causas ambientais há vários anos, Ruffalo também é um dos produtores do filme, inspirado por uma série de reportagens sob o título “O Advogado Que Se Tornou o Maior Pesadelo da DuPont”, publicadas no jornal The New York Times em 2016. Completam o excelente elenco Anne Hathaway, Tim Hobbins, Bill Camp, Victor Garber, Bill Pullman, Louisa Krause, Mare Winningham, Bruce Cromerk, Hohn Newberg, Amy Morse e Greg Violand. Como curiosidade das filmagens, o verdadeiro Robert Bilott e a esposa Sarah aparecem em uma “ponta” num coquetel. História, roteiro e elenco fazem de “O Preço da Verdade” um grande filme que merece ser conferido.                                              

terça-feira, 21 de dezembro de 2021

 

“A GAROTA DE OSLO” (“BORTFØRT”), 2021, minissérie em 10 capítulos, coprodução Noruega/Israel, disponível na plataforma Netflix, direção de Stian Kristiansen e Uri Barbash, com roteiro assinado por Kyrre Holm Johannessen, Roni Weiss Berkowitz, Stephen Uhlander e Tall Miller. Não sou muito adepto de séries, mas esta me atraiu pela história. Uma jovem norueguesa e seus dois amigos israelenses são sequestrados por terroristas do ISIS (braço afegão do Estado Islâmico) quando faziam turismo pelo Sinai (Egito). O alvo principal dos sequestradores é Pia (Andrea Bernstzen), filha da diplomata norueguesa Alex (Anneke Von Der Lippe) e do advogado Karl (Anders T. Andersen). Com o sequestro, o pessoal do ISIS pretende negociar a libertação de 12 terroristas, o principal deles preso em Oslo. Toda essa pressão também envolve o governo de Israel, pressionado por Alex e Karl para fazer alguma coisa em torno da libertação de Pia. Alex vai para Israel pedir ao seu amigo Arik (Amos Tamam), ministro de governo, que mobilize a inteligência israelense para promover uma operação de resgate. Alex também apela à sua amiga diplomata palestina Layla (Rayda Adon), cujo filho Yusuf (Shadi Mar’i) faz parte do ISIS. Até o pessoal do Hamas, outro inimigo mortal de Israel, acaba se envolvendo para tumultuar ainda mais o cenário complexo. A trama é tensa e envolvente, num ritmo que não deixa a gente piscar os olhos, garantindo muito suspense até o desfecho. Diferentemente de algumas séries que já assisti, esta não tem muita enrolação, e os capítulos são curtos, em torno dos 30 minutos. Não só o roteiro bem elaborado, mas também o elenco afinado, faz com que essa minissérie seja um excelente entretenimento.                                            

segunda-feira, 20 de dezembro de 2021

 

“IMPERDOÁVEL” (“THE UNFORGIVABLE”), 2021, Estados Unidos, 1h52m, direção de Nora Fingscheidt, com roteiro assinado por Peter Craig e Sally Wainwright. Recentemente integrado à plataforma Netflix, “Imperdoável” conta uma história que já havia sido explorada por uma minissérie homônima, de 2009, e que agora foi condensada em filme. A personagem central é Ruth Slater (Sandra Bullock), que acaba de ser libertada em condicional, depois de cumprir pena por homicídio – ela matou um policial. Seu primeiro objetivo é tentar se reintegrar à sociedade. Dessa forma, consegue emprego como marceneira e também como operária numa empresa de pescados, mantendo escondido seu passado como criminosa. Seu objetivo maior, agora, é reencontrar sua irmã caçula, Katherine (Aisling Franciosi), que não vê desde que foi presa. Katherine havia sido adotada pelo casal Michael (Richard Thomas) e Rachel Malcolm (Linda Emond), que criou a menina como se fosse sua filha. Só que há um grande obstáculo para Ruth. Segundo as regras de sua condicional, ela não pode chegar perto da irmã. Um advogado (Vincent D’Onofrio) fica com pena de Ruth e tenta ajudá-la, mesmo que desagrade sua esposa (Viola Davis). Um dia, porém, sua história acaba sendo revelada, e Ruth é obrigada a enfrentar a rejeição dos seus colegas de trabalho. Mas o pior de tudo é que os dois filhos do policial assassinado estão atrás dela para se vingar. Enfim, muita tensão vai rolar até o desfecho, quando então uma surpreendente revelação muda o rumo da história. O filme, sem dúvida, é todo de Sandra Bullock, com uma interpretação realmente primorosa, que talvez seja reconhecida por uma indicação ao Oscar 2022. O elenco de apoio também é excelente, valorizando ainda esse ótimo drama. Recomendo.                                                    

domingo, 19 de dezembro de 2021

 

“SILK ROAD – MERCADO CLANDESTINO” (“SILK ROAD”), 2021, EUA, disponível na plataforma Amazon Prime, 1h52m. Este é o segundo longa-metragem escrito e dirigido por Tiller Russel – o primeiro foi “Último Ritual de Ransom Pride”, de 2010), mais conhecido como diretor de documentários e séries. Em “Silk Road”, Tiller adaptou para o cinema a história, verídica, do jovem Ross William Ulbricht, o hacker que criou um site para vender drogas sem ser rastreado. Chamado Silk Road e utilizando bitcoins para as transações, o site movimentou, de 2011 a 2013, cerca de 1 bilhão de dólares, ficando famoso como um mercado de vendedores anônimos para compradores anônimos. Claro que o Silk Road acabou chamando a atenção das autoridades norte-americanas. Dessa forma, o governo mobilizou o pessoal do DEA (Drug Enforcement Administration), órgão encarregado da repressão e controle de narcóticos, e do Departamento de Combate aos Crimes Cibernéticos para rastrear o responsável pelo Silk Road. Por incrível que pareça, foi um policial veterano sem muito conhecimento de informática que chegou ao jovem hacker. Tudo isso está contado no filme, cujo roteiro foi elaborado a partir de um artigo publicado em 2014 na Revista Rolling Stone, sob o título “Dead End On Silk Road”, escrito pelo jornalista David Kuschner. Nos papeis principais estão Nick Robinson (Ulbricht) e Jason Clarke (o policial Rick Bowden), além de Alexandra Shipp, Lexi Rabe, Katie Aselton e Paul Walter Hauser. Embora grande parte da linguagem técnica utilizada no filme seja de difícil entendimento – pelo menos para os espectadores não especialistas em informática, como eu -, “Silk Road” conta a história de maneira muito competente. Recomendo.

 

“ATAQUE DOS CÃES” (“THE POWER OF THE DOG”), 2021, Estados Unidos/Nova Zelândia, disponível na plataforma Netflix, 2h5m, roteiro e direção de Jane Campion. Depois de 12 anos longe das telas – seu último filme foi “O Brilho de Uma Paixão” -, a cineasta neozelandesa volta ao trabalho com esse excelente drama, baseado no romance “The Power of the Dog”, escrito em 1967 por Thomas Savage (1915-2003). Só para lembrar, Campion ficou conhecida mundialmente depois de dirigir “O Piano”, em 1993, filme vencedor de inúmeros prêmios, entre os quais a Palma de Ouro no Festival de Cannes e o Oscar de Melhor Roteiro Original. Neste “Ataque de Cães”, a história, ambientada em 1920, é centrada nos irmãos Phil (Benedict Cumberbatch) e George Burbank (Jesse Plenons), proprietários da maior fazenda de Montana (EUA). Enquanto Phil é um vaqueiro ao estilo machão, cowboy-raiz, grosseiro ao extremo e inimigo de um banho, George é um sujeito tímido, sensível e educado. Quando George casa com Rose Gordon (Kirsten Dunst) e a leva para morar na fazenda, juntamente com o jovem filho dela, Peter (Kodi Smit-McPhee), o cotidiano dos Burbank e de seus empregados não será mais o mesmo. De início rejeitado por demonstrar seu acentuado lado feminino, Peter conquistará a amizade de Phil, uma relação que permeará a história até o final. Além de bonito esteticamente, com uma fotografia exuberante e belos enquadramentos, o filme é feito de sutilezas, simbologias e de gestos cujos significados nem sempre são possíveis de captar em um primeiro momento. Com seu olhar sensível, Campion exige do espectador uma atenção especial aos detalhes. Um verdadeiro desafio. Também estão no elenco Keith Carradine, Elisabeth Moss, Paul Dano, Frances Conroy, Thomasin McKenzie, Adam Beach e George Mason. Desde já, “Ataque dos Cães” é um dos favoritos ao Oscar 2022, como comprovam as 7 indicações ao Globo de Ouro: Melhor Filme de Drama, Melhor Ator de Drama (Cumberbatch), Atriz Coadjuvante (Kirsten Dunst), Ator Coadjuvante (Kodi Smit-McPhee), Melhor Diretor, Melhor Roteiro e Melhor Trilha Sonora Original. Realmente, o filme é muito bom, mas, na minha opinião, exageradamente superestimado. O ritmo é lento e arrastado, o que pode incomodar uma parte do público menos sensível. Assista e tire suas conclusões.