quinta-feira, 29 de dezembro de 2022

 

“SEGREDOS DO PASSADO” (“THE DRY”), 2021, em cartaz na Amazon Prime Video, coprodução Austrália/EUA/Inglaterra, 1h57m, direção de Robert Connolly, que também assina o roteiro com Harry Cripps. A história é baseada no livro “A Seca”, de Jane Harper, publicado no Brasil em 2019 pela editora Morro Branco. A trama é centrada no agente federal Aaron Falk (Eric Bana), que volta à sua cidade natal, depois de 20 anos, para participar do funeral de um antigo amigo, que suspostamente se suicidou depois de assassinar a esposa e um dos filhos. Aaron resolve ajudar a polícia local na busca da verdade pelo que realmente aconteceu. Ao mesmo tempo, Aaron revive suas lembranças sobre uma tragédia ocorrida há 20 anos, vitimando uma de suas jovens amigas. Entre idas e vindas ao passado, através de inúmeros e cansativos flashbacks, o filme relembra os fatos que antecederam à morte da amiga. Na época, o próprio Aaron foi considerado suspeito, o que resultou na sua saída da cidade. Dessa forma, ele resolve ficar na cidade também para desvendar o mistério de 20 anos atrás, além da auxiliar a polícia a resolver o caso do amigo acusado de matar a família. O filme é muito lento, à beira do entediante, talvez para combinar com o cenário desértico do lugar, onde não chove há exatos 324 dias. Essa lentidão incomoda tanto quanto o fraco desempenho do ator Eric Bana (“Munique”, “Troia”), que passa o filme inteiro com cara de paisagem, sem nenhuma expressão que mostre qualquer emoção. Também estão no elenco Genevieve O’Reilly, Keir O’Donnell, John Polson, Sam Corlett, Bebe Bettencourt, Júlia Blake e Bruce Spence. Por incrível que pareça, o filme foi sucesso de bilheteria nos cinemas da Austrália e até já teve anunciada sua continuação, mais uma vez inspirada em um livro de Harper (“Força da Natureza”). Difícil de acreditar, pois “Segredos do Passado” é fraco, entediante e com uma história pouco convincente.            

terça-feira, 27 de dezembro de 2022

 

“OS PEQUENOS VESTÍGIOS” (“THE LITTLE THINGS”), 2021, Estados Unidos, 2h08m, em cartaz na Amazon Prime Video, roteiro e direção de John Lee Hancock. Suspense policial que traz um trio de atores consagrados, todos já premiados com o Oscar: Denzel Washington, Rami Malek e Jared Leto. A história, ambientada nos anos 90, é centrada no policial Joe “Deke” Deacon (Washington), ex-detetive de Los Angeles e que agora é delegado adjunto do Condado de Kern. Ele é enviado a Los Angeles para uma simples coleta de provas, mas acaba se envolvendo na investigação da morte de seis mulheres. O modus operandi é o mesmo, o que indica que se trata de um serial killer. Com sua capacidade de captar pequenos vestígios, Deacon ajudará o delegado Jim Baxter (Malek) a resolver as mortes e chegar ao assassino. O ritmo do filme é um tanto lento, não há muita ação e a verborragia corre solta, em intermináveis diálogos de pouca consistência. Denzel Washington e Jared Leto não decepcionam e comprovam, mais uma vez, que são ótimos atores. Rami Malek, porém, chega a irritar fazendo biquinho, o que nos faz lembrar com seu personagem Freddie Mercury em “Bohemian Rhapsody”, aí sim sua melhor interpretação, pela qual ganhou o Oscar. Ainda estão no elenco Natalie Morales, Olivia Washington, Sofia Vassilieva, Jason James Bichter e Michael Hyatt. “Os Pequenos Vestígios”, apesar do ótimo trio de atores, não consegue deslanchar nem como policial e muito menos como suspense. O roteiro não ajuda, culminando com um desfecho bastante duvidoso. Enfim, vale apenas pelos três atores.              

 

domingo, 25 de dezembro de 2022

 

“TRÊS CRISTOS” (“THREE CHRISTS”), 2017, Estados Unidos, 1h49m, em cartaz na Netflix, direção de Jon Avnet, que também assina o roteiro com a colaboração de Eric Nazarian. Cinco anos depois de ser lançado nos EUA, chega por aqui, pela Netflix, este bom drama baseado em uma história real ocorrida no final da década de 50 no hospital estadual psiquiátrico Ypsilant, no Michigan. Os fatos que contribuíram para a elaboração do roteiro foram baseados no livro “The Three Christs of Ypsilant”, escrito em 1964 por Milton Rokeach. Vamos à história. Depois de abandonar a universidade, onde era professor, o psiquiatra Alan Stone (Richard Gere) é contratado pelo hospital Ypsilant. Ele é designado para tratar de três pacientes especiais esquizofrênicos que acreditavam ser a reencarnação de Jesus Cristo: Joseph (o ator anão Peter Dinklage), Leon (Walton Goggins) e Clyde (Bradley Whitford). Embora a situação sugira uma comédia, o filme em nenhum momento parte para o humor. Pelo contrário, é tudo levado muito a sério. O dr. Alan Stone resolve enfrentar a direção do hospital no que se refere aos tratamentos tradicionais da época, como choques elétricos, lobotomia, sedação e camisa de força. Stone é favorável à terapia falada, ou seja, prefere condicionar o tratamento à interação com os pacientes por intermédio do diálogo. O ator Richard Gere, embora mantenha o carisma e o charme habituais, aparece envelhecido e pouco convincente no papel do psiquiatra. Também estão no elenco nomes conhecidos como Julianna Margulies, Kevin Pollak, Jane Alexander, Charlotte Hope e Stephen Root. “Três Cristos” é um filme bastante interessante, pois destaca como era o tratamento um tanto desumano aplicado na época aos pacientes psiquiátricos. Filme pode ser indicado, principalmente, para estudantes de psicologia e psiquiatria, embora sirva também como um bom programa para os espectadores comuns.         

quinta-feira, 22 de dezembro de 2022

 

“BARDO, FALSA CRÔNICA DE ALGUMAS VERDADES” ("BARDO, FALSA CRÓNICA DE UNAS CUANTAS VERDADES”), 2022, México, 2h40m, em cartaz na Netflix, roteiro e direção do cineasta mexicano Alejandro González Iñárritu. Em 2000, quando dirigiu “Amores Perros”, o diretor mexicano chamou a atenção de Hollywood. Logo estava morando em Los Angeles, realizando filmes que foram devidamente reconhecidos com importantes premiações, como “Babel”, “Birdman”, “21 Gramas” e “O Regresso”, conquistando a simpatia da crítica especializada. Com “Bardo”, Iñárritu realiza uma viagem existencial de volta ao México, criando como personagem principal e seu alter ego o jornalista e documentarista Silverio Gacho (Daniel Giménez Cacho), que depois de 20 anos morando em Los Angeles, volta ao México para ser homenageado por um grande prêmio internacional que recebeu. Juntamente com a esposa e os dois filhos, Silverio terá a oportunidade de se reconciliar com o passado, revendo familiares, amigos e pessoas que o ajudaram na carreira de cineasta. Não espere uma narrativa linear. Muito pelo contrário, trata-se de uma viagem surreal dentro de um clima onírico, repleto de simbolismos e delírios estéticos. O visual é surpreendente e muito criativo, mas a ponto de deixar o espectador pouco à vontade com tantas cenas sem pé nem cabeça. Puro surrealismo, uma experiência metalinguística. Talvez uma demonstração de que o diretor mexicano se transformou em um cineasta egocêntrico e pretensioso. Apesar dos pesares, “Bardo” foi selecionado para representar o México na disputa do Oscar 2023 de Melhor Filme Internacional, com o aval, mais uma vez, da crítica especializada. Para mim, como simples cinéfilo amador, “Bardo” é apenas mais um filme interessante, mas difícil de digerir. Por aqui, foi visto durante a 46ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, em outubro de 2022.         

 

domingo, 18 de dezembro de 2022

 

“A QUEDA DO IMPÉRIO AMERICANO” (“LA CHUTE DE L’EMPIRE AMÉRICAIN”), 2018, Canadá, disponível na plataforma Netflix, direção e roteiro de Denys Arcand. Eu já conhecia a qualidade do cineasta franco-suíço depois de assistir “O Declínio do Império Americano”, de 1986, e o premiadíssimo “Invasões Bárbaras”, de 2003, entre outros. Arcand sempre fez cinema sério e de muita qualidade, discutindo os prós e contras do capitalismo. Ele repete a fórmula em “A Queda do Império Americano”, ao qual acrescenta temas como filosofia, modo de vida, romance e suspense policial, com pitadas de humor na dose certa. A história toda é centrada em Pierre (Alexandre Landry), um sujeito bonachão, tímido e ativista da causa dos moradores de rua, voluntário em um albergue. Para se sustentar, ele trabalha em uma empresa de entregas, embora seja PHD em Filosofia. Certo dia ele acaba presenciando um tiroteio e vê dois ladrões sendo mortos. Ao lado dos corpos, duas enormes sacolas cheias de dólares canadenses. Pierre resolve esconder as sacolas até a chegada da polícia, quando então se torna uma provável testemunha ou um possível suspeito. Ele consegue ludibriar os policiais e vai para casa com as sacolas. O que fazer com tanto dinheiro? Para contornar esse problema, Pierre contará com a ajuda de Camille (Maripier Morin), uma garota de programa pela qual se apaixona, e de Synvain Bigras (Remy Girald), um presidiário em condicional que cursa Administração de Empresas. Aí começa uma grande confusão, envolvendo até mesmo um grande investidor. A situação fica ainda pior quando se descobre que o dinheiro pertence a um poderoso mafioso de Montreal. O roteiro destaca diálogos primorosos. Como em seus filmes mais conhecidos, Denys Arcand faz questão de fazer uma crítica ao sistema capitalista e a importância que se dá ao dinheiro sem que haja uma preocupação com os menos favorecidos, no caso do filme, os moradores de rua de Montreal. Enfim, “A Queda do Império Americano” é um oásis diante da mediocridade geral, um filme inteligente e bem-humorado, indicado para os cinéfilos mais exigentes. Imperdível!       

 

                           

sexta-feira, 16 de dezembro de 2022

 

“MEU NOME É VINGANÇA” (“IL MIO NOME È VENDETTA”), 2022, Itália, produção original e distribuição Netflix, 1h30m, direção de Cosimo Gomez, que também assina o roteiro com a colaboração de Andrea Nobili e Sandrone Dazieri. Como milhares de cinéfilos mundo afora, eu já sabia que não haveria mais filmes sobre a Máfia tão bons quanto “O Poderoso Chefão” e “Os Bons Companheiros”. Nem mesmo o cinema italiano conseguiu chegar perto desses dois clássicos do cinema de Hollywood. Prova disso é este recente lançamento da Netflix. Santo Romeo (Alessandro Gassman, filho do grande e saudoso ator Vittorio Gassmam), trabalhou como capanga do poderoso chefão mafioso Don Angelo (Remo Girone). Era um matador impiedoso. Depois que casou e teve uma filha, Santo abandonou a “família” de Don Angelo e tentou recomeçar a vida escondendo-se em uma pequena cidade do interior da Itália. Localizado sem querer por causa de uma foto feita pela filha Sofia (Ginevra Francesconi) que viralizou na internet, Santo passou a ser alvo da sua ex-quadrilha. Depois de tanto tempo, por que Don Angelo queria se vingar de Santo? A falta dessa resposta é uma das falhas do roteiro. Pois a turma do poderoso mafioso chega na casa de Santo e mata sua esposa e o cunhado. Sofia consegue escapar e avisa o pai sobre o que aconteceu. Claro que Santo vai atrás dos assassinos, levando a filha a tiracolo. Sua vingança também tem como alvo o próprio Don Angelo. Embora tenha alguma ação, o filme não se desenvolve ponto de exigir uma atenção maior do espectador. Tudo é muito previsível e, ao mesmo tempo, inverossímil. Enfim, um filme que não faz jus aos bons filmes de Máfia, muito menos ao respeitado cinema italiano.  

terça-feira, 13 de dezembro de 2022

 

“O AMANTE DE LADY CHATTERLEY” (“LADY CHATTERLEY’S LOVER”), 2022, coprodução Inglaterra/Estados Unidos, 2h06m, em cartaz na Netfllix, direção da cineasta francesa Laure de Clermont, seguindo roteiro assinado por David Magee. Trata-se de mais uma adaptação para o cinema do clássico escrito por D.H. Lawrence (1885-1930), um grande sucesso da literatura mundial. Nesta recente adaptação, Lady Chatterley é interpretada por Emma Corrin (a princesa de Gales na série “The Crown”). No romance, seu nome de solteira é Constance Reid, que se casou com o aristocrata Clifford Chatterley (Matthew Duckett), quando então ganhou o título de Lady Chatterley. Resumindo, Clifford vai para o front da Primeira Guerra e retorna gravemente ferido, ficando inutilizado da cintura para baixo. Não demora muito e Lady Chatterley acaba arrumando um amante, justamente um empregado de Clifford, o guarda-caça Oliver Mellors (Jack O’Connell). Como no livro, que na época do lançamento – final dos anos 20 – chegou a ser proibido em vários países, inclusive na Inglaterra, o filme recorre ao erotismo quase explícito, mas longe da vulgaridade. O roteiro é bem delineado, os diálogos são bem escritos, a fotografia é primorosa e o elenco é ótimo, destacando-se a bela e competente Emma Corrin. Também estão no elenco Faye Marsay, Ella Hunt e Joely Richardson. Como curiosidade, Joely, filha de Vanessa Radgrave, interpretou Lady Chatterley em uma série da BBC em 1993. Trocando em miúdos, “O Amante de Lady Chatterley” é mais uma excelente adaptação cinematográfica de um grande clássico da literatura.  

 

segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

 



“AS LINHAS TORTAS DE DEUS” (“LOS RENGLONES TORCIDOS DE DIOS”), 2022, Espanha, produção original e distribuição Netflix, 2h34m, direção de Oriol Paulo, que também assina o roteiro com a colaboração de Guillem Clua e Lara Sendim. Trata-se de um suspense psicológico adaptado para o cinema do livro homônimo escrito por Torcuato Luca de Tena em 1979, o mesmo ano em que a história é ambientada. A detetive particular Alice Gould (Bárbara Lennie) é admitida em um hospital psiquiátrico para investigar a morte violenta e misteriosa de um paciente. Quem a contratou foi Federico Del Omo (Joan Crosas), pai da vítima. Para ingressar no manicômio como paciente, Alice inventa uma situação patológica, identificando-se como paranoica e mentirosa compulsiva. Uma junta de psiquiatras, comandada pelo diretor Samuel Alvar (Eduard Fernández), aprova a condição da moça, internando-a. O roteiro conduz o espectador a imaginar se Alice é mesmo uma detetive ou então uma doida varrida, dúvida que permanecerá até o desfecho. São tantas as possibilidades e reviravoltas que fica difícil imaginar o que realmente está acontecendo e o que acontecerá. O ritmo do filme é lento e pouco confortável, pois são mais de duas horas e meia de projeção. Se a história não é lá muito verossímil e o ambiente interno do manicômio desagradável e chocante, pelo menos podemos curtir o talento da atriz Bárbara Lennie, que carrega o filme nas costas. Isto só não basta para motivar uma recomendação entusiasmada. É ver para crer. Em todo caso, quando foi exibido durante o Festival Goya (o Oscar espanhol), o filme mereceu elogios e seis indicações ao prêmio máximo.        

 

 

                           

sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

 

“UM HOMEM DE AÇÃO” (“UM HOMBRE DE ACCIÓN”), 2022, Espanha, produção original e distribuição Netflix, 1h51m, direção de Javier Ruiz Caldera, seguindo roteiro assinado por Patxi Amezcua. Trata-se da versão biográfica para o cinema da vida do famoso anarquista espanhol Lucio Urtubia Jiménez (1931-2020), amigo de Albert Camus, André Breton e do mítico anarquista espanhol Quico Sabaté. Chegou, inclusive, a conversar com Che Guevara sobre um plano para desestabilizar a economia dos Estados Unidos. O filme acompanha a vida de Lucio de 1940 até 1980, deste a infância pobre até a marginalidade, começando com pequenos assaltos até chegar ao contrabando, assalto a bancos e falsificador de dinheiro, cheques e documentos. Em 1954, se refugiou na França. Depois de fugir da Espanha, Lucio começa a trabalhar como pedreiro e casa com a ativista Anne (Liah O’Prey), mas jamais abandona o causa anarquista, ingressando na Juventude Libertária "Fédération Anarchiste". Esperto, ele sempre escapa das garras do inspetor Costello (Alexandre Blazy), da polícia parisiense, até o dia em que começa a falsificar e trocar cheques de viagem do norte-americano e poderoso First National Citry Bank. Também estão no elenco Fred Tatien, Ana Polvorosa e Miki Esparbé. Além da incrível história propriamente dita, a primorosa reconstituição de época – cenários, figurinos, trilha sonora - é mais um dos trunfos desse ótimo drama biográfico espanhol, com um fundo político muito forte sobre os movimentos de esquerda na Europa. Sem dúvida, um dos melhores lançamentos da Netflix em 2022. Imperdível!                    

 

quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

 

“FRAÇÃO DE SEGUNDOS” (10 MINUTES GONE”), 2019, coprodução EUA/Canadá, 1h29m, em cartaz na Netflix, direção de Brian A. Miller, seguindo roteiro de Jeff Jingle e Kelvin Mao. Suspense policial que começa prometendo muito e acaba mesmo só na promessa. A história gira em torno de um assalto a um banco na região central da cidade de Cincinnati (Ohio). Tudo é muito confuso, começando pelo alvo do assalto: o que a gangue queria roubar? Enquanto o assalto acontece – e dá errado, pois um alarme dispara e logo chega a polícia -, alguns homens acompanham tudo pela janela de um edifício, um deles Rex (Bruce Willis), que parece ser o sujeito que contratou a gangue. Quando o assalto termina, o bando foge, deixando para trás dois de seus integrantes, um dos quais será assassinado. Sobra seu irmão, Frank (Michael Chiklis), que sai em busca de vingança, acreditando ter sido enganado pelo resto do grupo. Os diálogos são patéticos, de um nível subterrâneo, e as cenas são pra lá de constrangedoras. Afinal, quem é aquela loira que fala pelo telefone em Buenos Aires? Terrível. Mais um daqueles filmes para deletar da memória, lembrando mais uma vez o final da carreira lamentável do ator Bruce Willis, afastado recentemente dos estúdios por razões médicas. Nos últimos anos, Willis apareceu em dezenas de filmes medíocres quase sempre interpretando personagens secundários, mas o material de divulgação insistindo em colocá-lo em destaque, caracterizando evidente propaganda enganosa. “Fração de Segundos” é muito ruim.                               

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

 

“SAÍDA À FRANCESA” (“FRENCH EXIT”), 2021, Amazon Prime Video, coprodução Canadá/Irlanda/Inglaterra, 1h53m, direção de Azazel Jacobs, seguindo roteiro de Patrick DeWitt - autor do livro homônimo que deu origem ao filme. Trata-se de uma comédia dramática centrada no relacionamento complicado entre a viúva Francis Price (Michelle Pfeiffer) e seu filho único Malcolm (Lucas Hedges). Socialite conhecida em Nova York, antes de alto quilate, mas agora completamente falida, Francis resolve aceitar a sugestão da amiga Joan (Susan Coyne) para morar em seu apartamento vazio em Paris e fugir dos escândalos que fizeram de sua vida um inferno, como a acusação da morte do marido, a prisão e a falência. Juntando o dinheiro que restou, Francis parte para a capital francesa levando o filho e o gato Jack. É muito fácil resumir a personalidade da viúva como uma mulher possessiva, depressiva, arrogante e amarga. Seu pensamento: gastar todo o dinheiro que sobrou e morrer. Antes disso, porém, o apartamento parisiense se transforma numa verdadeira romaria de personagens. Primeiro uma vizinha intrometida, madame Reynard (a ótima Valerie Mahaffey), depois a jovem vidente Madeleine (Danielle MacDonald), e ainda Julius (Isaach de Bankolé), detetive particular contratado para localizar o gato da viúva. A confusão não termina por aqui. Ainda chegarão ao apartamento Susan (Imogen Poots), a antiga namorada de Malcolm, que chega dos Estados Unidos carregando o novo namorado a tiracolo, o bonitão Tom (Daniel Di Tomasso). E, para terminar, também chega Joan, a proprietária do apartamento. Não espere um ritmo acelerado e sim uma certa lentidão, mas com bons diálogos. Toda a história gira em torno da viúva Frances, personagem valorizada não apenas pelo roteiro, mas pelo ótimo desempenho da veterana atriz Michelle Pfeiffer, indicada ao Globo de Ouro por esse papel. Sem dúvida, Pfeiffer dá um show. Aos 64 anos, ela continua bonita e adoravelmente charmosa. Só ela vale o ingresso, mas também é preciso destacar como o filme consegue ser agradável sem exagerar no drama e muito menos na comédia. Um filme adulto que merece ser conferido e uma ótima oportunidade para curtir o imenso talento de Michelle Pfeiffer, ainda em grande forma.                                  

 

 

                           

sábado, 3 de dezembro de 2022

 

“A SUSPEITA”, 2021, Brasil, 1h56m, em cartaz na Amazon Prime Video, direção do estreante Pedro Peregrino, mais conhecido como diretor de séries e novelas, com roteiro assinado por Thiago Dottori e Newton Cannito. Trata-se de um suspense policial morno, sem muita ação, com ritmo lento, quase parando. Começa o filme e lá está a comissária Lúcia (Glória Pires). policial do setor de inteligência da Polícia Civil do Rio de Janeiro, recebendo do médico o triste diagnóstico: ela está com Alzheimer que começa a evoluir rapidamente. Ao mesmo tempo, Lúcia descobre um esquema criminoso envolvendo colegas da própria polícia e um poderoso traficante. Em meio a esta investigação ocorre o assassinato de um escritor e de um policial parceiro de Lúcia. O exame de balística chega à conclusão de que as balas partiram do revólver de Lúcia, que pretende provar sua inocência, nem que para isso seja obrigada a envolver seu próprio chefe de polícia (Charles Fricks) e um delegado (Gustavo Machado). O filme estreou no 49º Festival de Gramado, que premiou a atuação de Glória Pires com um troféu “Kikito”. Realmente, se há um bom motivo para assistir “A Suspeita”, é justamente a atuação de Glória. Aliás, o único motivo.                          

 

quarta-feira, 30 de novembro de 2022

 

“O PAI QUE MOVE MONTANHAS” (“TATA MUTA MUNTII” ou, como foi lançado nos países de língua inglesa, “THE FATHER WHO MOVES MOUNTAINS”), 2021, coprodução Romênia/Suécia, em cartaz na Netflix, roteiro e direção de Daniel Sandu. Quando soube que seu filho estava desaparecido nas montanhas Bucegi, região central da Romênia, Mircea (Adrian Titieni) fará tudo e mais um pouco para encontrá-lo, nem que para isso seja obrigado a vender todo o seu patrimônio. Seu filho e a namorada sumiram há vários dias e, diante do frio intenso de inverno, é quase certo que estejam mortos. Mircea não desiste, é um exemplo de obstinação, persistência e obsessão desmedida e persistência, alegando que, mesmo estando morto, ele quer encontrar o corpo do filho de qualquer maneira. Como oficial da reserva, Mircea recruta agentes da inteligência para ajudar nas buscas, utilizando para isso dos mais modernos equipamentos. Mircea é um homem acostumado a comandar e se mostra inúmeras vezes com uma arrogância irritante. Além desse trabalho todo, Mircea é obrigado a administrar os ataques histéricos da ex-mulher, mãe do garoto, e tentar conter os pedidos da atual esposa, que está grávida, para que abandone as buscas. Além do bom elenco, há que se destacar os cenários deslumbrantes em que a história se desenvolve. É mais um bom drama do cinema romeno, mas nada tão especial que mereça uma indicação entusiasmada.                         

 

terça-feira, 29 de novembro de 2022

 

“O PACIENTE PERDIDO” (“LE PATIENT”), 2022, França, produção original e distribuição Netflix, 1h32m, direção de Christophe Charrier, que também assina o roteiro com Elodie Namer, adaptado do livro homônimo escrito por Timothé Le Boucher. Trata-se de um suspense psicológico que começa com uma cena trágica: dentro de uma casa, três mortos a tiros, um sobrevivente esfaqueado e uma moça desaparecida. As vítimas fatais são da família Grimaud, Beth (Audrey Dana), seu marido Marc (Stéphane Rideu) e o sobrinho Dylan (Matthieu Lucci). O sobrevivente é o filho do casal, um jovem de 19 anos, Thomas (Txomin Vergez), e a moça desaparecida é sua irmã Laura (Rebecca Williams). A polícia não sabe o que exatamente aconteceu na casa e a única pessoa capaz de decifrar o mistério é justamente Thomas, só que ele está em coma há três anos. Quando acorda, ele começa a participar de sessões especiais com a psicóloga Anna Kieffer (Clotilde Hesme), que tentará avivar as memórias fragmentadas do rapaz, a princípio desconexas. A partir daí, o filme ingressa num labirinto mental complexo e angustiante, com as lembranças de Thomas em cenas de flashbacks. O desfecho revela uma surpreendente reviravolta, valorizando ainda mais o suspense. Aviso: é um filme altamente depressivo, à beira do desagradável, mas tem o seu valor como cinema.                       

 

sábado, 26 de novembro de 2022

 

“AS NADADORAS” ("THE SWIMMERS”), 2022, coprodução Inglaterra/Estados Unidos, 2h15m, em cartaz na Netflix, direção de Sally El Hosaini, que também assina o roteiro com Jack Thorne. Baseado em fatos reais, o filme acompanha a incrível aventura de duas irmãs que fogem da Síria em 2015, por causa da guerra civil, e iniciam uma viagem repleta de desafios por vários países até chegar à Alemanha. Yusra (Nathalie Issa) e Sara Mardini (Manal Issa) são nadadoras treinadas pelo pai, o ex-nadador olímpico Ezzat Mardini (Ali Suliman). Desde 2011 elas sonhavam em representar a Síria em competições internacionais, sonho não concretizado pelo conflito interno. Na Alemanha, elas ficam abrigadas em um alojamento destinado a refugiados, onde conhecem o treinador de natação Sven Spannerkrebs (Matthias Schwerghöfer). Elas começam a treinar com o objetivo de participar dos Jogos Olímpicos do Rio, em 2016. Sara, porém, se machuca e é eliminada antes das provas eliminatórias. Yusra consegue os resultados e vai para o Rio defender a equipe de Refugiados, conseguindo grandes performances. Como dá para perceber pelo sobrenome, Nathalie e Manal, atrizes libanesas nascidas e radicadas na França, são irmãs também na vida real. O roteiro de “As Nadadoras” foi adaptado do livro “Butterfly: From Refugge To Olympian – My Story of Rescue, Hope anda Triumph”, escrito pela própria Yusra Mardini. O filme estreou em setembro de 2022 no Festival Internacional de Cinema de Toronto, recebendo muitos elogios tanto do público como da crítica especializada. Realmente, é um belo filme, um drama incrível que merece ser conferido. Imperdível!                         

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

 

“ATHENA”, 2022, França, produção original e distribuição Netflix, 1h39m, direção de Romain Gavras, que também assina o roteiro com a colaboração de Ladj Ly e Elias Belkeddar. Mais um filme em que o cinema francês coloca o dedo na ferida de uma grave questão social: como conviver com os imigrantes, como tratá-los sem desigualdade e como promover sua inclusão na sociedade. De forma realista e impactante, “Athena” comprova que é uma situação muito difícil de resolver. Começa o filme e uma revolta explode em um conjunto habitacional na periferia de Paris, onde os moradores são, em sua maioria, imigrantes negros e árabes. O protesto é contra a polícia, acusada de ser a responsável pela morte de um menino árabe de 13 anos. Seus três irmãos maiores são os principais protagonistas da história: Karim (Sami Slimani), líder da revolta, Mokhtar (Ouassini Embarek), traficante do bairro, e o “ovelha negra” da família, Abdel (Dali Benssalah), policial das forças de elite. E dá-lhe muita confusão, conflitos violentos, tiros e explosões. Na verdade, juntando tudo, o que deve ser mais destacado no filme é sua estética, as cenas de ação filmadas de forma a colocar o espectador dentro do conflito. Méritos para o diretor Romain Gavras, que tem o DNA de um cineasta consagrado, seu pai, o grande Costa-Gavras – ainda vivo, aos 89 anos -, que ficou conhecido com seus filmes de denúncia política, como “Z” (Oscar de melhor filme estrangeiro em 1969), “A Confissão” e “Missing”, no qual expõe fatos tenebrosos da ditadura de Pinochet, no Chile. Costa-Gavras também tem uma filha cineasta, Julie Gavras. Resumo da ópera: “Athena” é um filme bastante impactante, de muita tensão, ideal para cinéfilos que curtem cinema de qualidade.                  

terça-feira, 22 de novembro de 2022

 

“MAJOR SANDEEP” (“MAJOR”), 2022, Índia, 2h30m, em cartaz na Netflix, direção de Sashi Kiran Tikka, seguindo roteiro assinado por Advi Sesh, Abburi Ravi e Akshat Ajay Sharma. Com este filme de ação, Bollywood presta uma homenagem a um herói nacional indiano, o major Sandeep Unnikrishnan, oficial da Guarda Nacional de Segurança (NSG), que morreu no dia 26 de novembro de 2008 depois de enfrentar um grupo de terroristas paquistaneses que invadiu o luxuoso Taj Hotel, em Mumbai. Naquele dia, Mumbai foi vítima de 10 atentados que resultaram na morte de 166 pessoas e outras centenas de feridos. No hotel, Sandeep comandou uma equipe de soldados da NSG e conseguiu resgatar dezenas de hóspedes, lutou com os terroristas e acabou morrendo em combate. O ator estreante Adivi Sesh, que também colaborou no roteiro, interpreta o major Sandeep. Completam o elenco Saiee Manjrekar, Sobhita Dhulipala, Prakash Raj e Murli Sharma. Além das cenas de ação, que ocupam praticamente toda a segunda metade da projeção, o filme destaca a vida particular do major, o relacionamento amoroso e respeitoso com os pais, o romance e o casamento com uma colega de universidade e sua carreira no exército indiano. Como é comum ao cinema indiano, o filme exagera na dramatização e ainda mais na exaltação ao major herói, mas as cenas de ação, tiros e explosões são muito bem feitas. Bem ao contrário do estilo de Bollywood, “Major Sandeep” não conta com aquelas cantorias e cenografias irritantes, o que torna este filme bastante assistível.                    

 

segunda-feira, 21 de novembro de 2022

 

“O MILAGRE” (“THE WONDER”), 2022, coprodução Irlanda/Inglaterra/EUA, 1h43m, em cartaz na Netflix, direção do cineasta chileno Sebastián Lelio (de “Uma Mujer Fantástica”, Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2018), que também assina o roteiro com Emma Donoghue e Alice Birche. Donoghue, aliás, é autora do livro homônimo cuja história mereceu essa adaptação para o cinema. Toda a trama é ambientada durante o século 19 em uma comunidade isolada na Irlanda. Visitada por peregrinos e turistas, em verdadeiras romarias, depois que se espalhou a notícia de que naquela vila havia uma menina de 11 anos de idade que não se alimentava há meses, e que, de uma hora para outra, acabou sendo tratada como uma “santa”. Os chefes da comunidade, entre os quais um padre e um médico, contrataram uma enfermeira e uma freira para observar a menina durante 24 horas e constatar - ou não - o tal milagre. Não vou entrar em detalhes sobre o desfecho, quando acontece uma surpreendente revelação. Embora a história seja bastante interessante, o ritmo é muito lento, exigindo uma boa dose de paciência por parte do espectador. Destaque para a excelente fotografia, assim como para o ótimo elenco, formado por Florence Pugh, Kila Lord Cassidy, Tom Burke, Ciarán Hindes, Elaine Cassidy, Toby Jones, Josie Walker e Niamh Algar. Como informação complementar, lembro que Emma Donoghue também foi responsável pela história e pelo roteiro do filme “O Quarto de Jack”, de 2015, muito elogiado e indicado a várias categorias do Oscar (a atriz Brie Larson ganhou o de Melhor Atriz). Resumo da ópera: “O Milagre” é um drama de muita qualidade.                       

 

sábado, 19 de novembro de 2022

 

“MEU POLICIAL” (“MY POLICEMAN”), 2022, coprodução Inglaterra/Estados Unidos, 1h54m, em cartaz na Amazon Prime Video, direção de Michael Grandage, com roteiro assinado por Ron Nyswaner. A história é baseada no livro homônimo escrito por Berthan Roberts e lançado em 2012. A autora teve a ideia de escrever o livro depois de estudar a biografia do escritor A.M. Forster (1870-1970), que em 1930 do século passado foi envolvido em um escândalo judicial, acusado de manter um caso homossexual com um policial, o que na época era considerado um delito grave. No filme, a história foi ambientada em dois momentos: o primeiro na segunda metade dos anos 50, quando começa uma grande amizade entre os jovens Tom Burgess (Harry Styles), o policial do título, Patrick Hazlewood (David Dawson), curador de museu, e a professora Marion Taylor (Emma Corrin). O segundo momento nos leva a quarenta anos depois, com os mesmos protagonistas já bem mais velhos. Tom, vivido por Llinus Roache, Patrick por Rubert Everett e Marion por Gina Mckee. De início, a história parece caminhar para um triângulo amoroso, ou seja, os dois jovens apaixonados pela mesma mulher. Ledo engano. Os amigos Tom e Patrick eram amantes. Só que Tom, por ser policial, tinha de manter as aparências, e casa com Marion. O filme começa com os três mais velhos. Marion, ainda casada com Tom, acolhe o debilitado Patrick, vítima de um derrame, contrariando o marido. Em inúmeros flashbacks, Marion recorda os fatos ocorridos no passado, resultando na revelação de um segredo que abalará o seu casamento de tantos anos. Há muitas cenas fortes de sexo entre os dois homens, o que pode incomodar alguns espectadores. Há que se destacar, além do excelente elenco, a primorosa recriação de época e os cenários deslumbrantes do litoral de Brighton (East Sussex). O ritmo é lento, mas não prejudica o resultado final. Trocando em miúdos, um drama que merece ser conferido.                  

quarta-feira, 16 de novembro de 2022

 

“HACKERS NO CONTROLE” (“THE TAKEOVER”), 2022, Holanda, 1h27m, produção original e distribuição Netflix, direção de Annemarie Van de Mond, seguindo roteiro assinado por Tijs Van Marle e Hans Erik Kraan. Misto de suspense e policial, com muita ação. A história é centrada na especialista em TI Mel Bandison (Holly Mae Brood), que durante o dia presta serviços a instituições e empresas, mas durante a noite transforma-se numa hacker ativista, invadindo os softwares de empresas que poluem o meio ambiente e outras envolvidas em algum delito. Mel é um tipo de justiceira, uma “Robin Hood” cibernética. Tudo caminha na normalidade até que Mel é contratada pela Rotramax, uma empresa de alta tecnologia, para fazer a verificação final no software de um projeto de um ônibus conduzido por piloto automático. Mel acaba descobrindo que o tal ônibus possui câmeras capazes de fazer a varredura facial dos passageiros. Pior: o tal software foi desenvolvido por uma empresa chinesa com a intenção de montar um banco de dados faciais para o governo chinês. Meio complicado entender tudo isso, mas o que vale mesmo é que a partir daí Mel vira alvo de uma poderosa organização criminosa. Além disso, também será perseguida pela polícia, que recebeu um vídeo onde ela aparece matando uma pessoa. Até provar que o vídeo é falso, Mel terá de passar por vários desafios, arriscando ser morta em cada esquina. Ao lado da moça também correrão perigo seus dois novos amigos: o hacker veterano Buddy Benschop (Frank Lammers) e seu pretendente a namorado Thomas Deen (Geza Weisz). O filme tem um ritmo alucinante e muita ação, com destaque para a corrida descontrolada do tal ônibus com piloto automático. Uma boa dica de entretenimento para assistir numa sessão da tarde comendo pipoca.                  

segunda-feira, 14 de novembro de 2022

 

“A IMPERATRIZ” (“DIE KAISERIN”), minissérie alemã em seis capítulos na sua 1ª temporada, produção original Netflix (início dia 29 de setembro de 2022), direção de Frorian Cossen e Katrin Bebbe, com roteiro de Katharina Eyssen, Bernd Lange, Janna Maria Nandzik e Lena Sthal. A Imperatriz do título é Elizabeth Von Wittelsbach (1837/1898), que ficou famosa como a Imperatriz Sissi nos três filmes com a atriz austríaca Romy Schneider – “Sissi” (1955), “Sissi, A Imperatriz” (1956) e “Sissi e Seu Desejo” (1957). Na minissérie, Sissi é interpretada pela atriz alemã Devrin Lingnau, tão bonita quanto Romy. Baseada em fatos históricos, a minissérie destaca o romance turbulento de Sissi com seu marido Franz Joseph, imperador da Áustria e Rei da Hungria, Croácia e Boêmia, de 1848 a 1916. Como pano de fundo, a minissérie percorre os bastidores da Corte Austríaca, luta pelo poder, vingança e traições, envolvendo principalmente a arquiduquesa Sophie (Melika Foroutan), mãe de Franz, e o duque Maximiliam (Johannes Nussbaum), irmão do imperador que, além do trono, também queria o amor de Sissi. As tensões políticas na Europa também ganham destaque com o prenúncio de uma guerra entre Áustria e Rússia, com o imperador Franz querendo aliar-se à França, Inglaterra e Império Otomano. Além desse aspecto histórico e do romance entre Sissi e o imperador, a minissérie conta como trunfos uma primorosa recriação de época, com cenários suntuosos, figurinos impecáveis e um elenco de primeira qualidade. A Netflix ainda não anunciou o início da segunda temporada, mas não deve demorar muito, pois a primeira tem alcançado uma grande audiência. Imperdível!                      


 

“O PESO DO TALENTO” OU “O INSUPORTÁVEL PESO DE UM GRANDE TALENTO” (“THE UNBEARABLE WEIGHT OF MASSIVE TALENT”), 2022, Estados Unidos, 1h48m, em cartaz na Amazon Prime Video, direção de Tom Gormican, que também assina o roteiro com Kevin Etten. O ator Nicolas Cage interpreta ele mesmo nessa comédia repleta de sátira, mas ao mesmo tempo metida a “filme cabeça”, misturando ficção e realidade. Em decadência na carreira, não muito diferente da vida real, pelo menos em termos de qualidade dos seus últimos filmes, Nicolas recebe uma negativa para um papel no novo filme do diretor Quentin Tarantino. Com muitas dívidas a pagar, ele aceita um cachê de US$ 1 milhão para passar um final de semana na mansão do espanhol Javi Gutierrez (Pedro Pascal), na Ilha de Maiorca, na Espanha, e marcar presença na festa de aniversário do milionário. O relacionamento entre os dois marcará o restante da história, assim como os problemas familiares de Cage, principalmente seu relacionamento com a filha adolescente Addy. Gutierrrez é fã de Cage e sua intenção também é escrever um roteiro para um futuro filme com o astro norte-americano. Em meio a tudo isso, Cage é cooptado por uma agente da CIA para vigiar os passos de Gutierrez, suspeito de pertencer a uma organização criminosa e talvez envolvido em um recente caso de sequestro. É a partir daqui que a trama se transforma num filme de ação, gênero que consagrou Cage. Também estão no elenco Tiffany Haddish, Alessandra Mastronardi, Sharon Horgan, Lily Mo Sheen e Lucas Gutierrez, além de uma participação especial da atriz Demy Moore. Embora tenha conquistado um Oscar de Melhor Ator por ”Despedida em Las Vegas”, em 1996, Nicolas Cage nunca foi considerado um ator de primeira linha, mas neste “O Peso do Talento” seu desempenho é excelente. Achei que este filme foi feito para homenagear sua carreira – Cage é um dos produtores. Recomendo, com ressalvas, somente para os fãs de carteirinha do ator.                          

 

 

                           

quarta-feira, 9 de novembro de 2022

 

“5 DIAS SEM NORA” (“5 DÍAS SIN NORA”), México, 1h32m, roteiro e direção de Mariana Chenillo. Quem procura, acha. Pois eu procurei e achei uma pequena pérola do sempre surpreendente cinema mexicano. O filme foi produzido em 2008 e só chegou aos cinemas brasileiros em 2011, passando praticamente – e injustamente – despercebido. Só recentemente chegou à Netflix, o que dá uma excelente oportunidade de descobri-lo. É uma comédia intimista sensível e divertida na medida certa, que tem como ponto de partida o suicídio de Nora (Silvia Mariscal), que vive sozinha em seu apartamento de alta classe média. Seu corpo é descoberto pelo ex-marido José Kurtz (Fernando Luján) que mora em um apartamento vizinho e que de vez em quando leva a correspondência de Nora. Como Nora e o filho Ruben (Ari Brickman) obedeciam aos preceitos da lei judaica, José foi obrigado a aceitar o fato de que os preparativos para a cerimônia do velório e enterro sejam organizados pelo rabino Kolatch (Martin La Salle) e seus auxiliares da sinagoga. Aceitar em termos, pois José se revolta quando fica sabendo que a ex-esposa teria que ser enterrada numa ala do cemitério judeu destinada a criminosos e suicidas. A confusão está formada. Começa no apartamento da falecida um incessante entre-e-sai de familiares, amigos, vizinhos e religiosos. José, o viúvo, apronta das suas para se livrar principalmente dos religiosos, pois é ateu convicto. A confusão fica maior ainda depois que José descobre uma foto comprometedora da falecida. “5 Dias sem Nora” foi premiado em vários festivais mundo afora, como em Havana, Mar Del Plata, Miami, Moscou e Biarritz. Realmente, um filmaço. Não perca!         

terça-feira, 8 de novembro de 2022

 

“OVERDOSE”, 2022, França, 1h59m, em cartaz na Amazon Prime Video – desde 4 de novembro de 2022 – direção de Olivier Marchal. Colaboraram no roteiro Christophe Gavat e Pierre Pouchairet, este último autor do livro que inspirou a história, “Mortels Trafics: Prix Du Quai Des Orfèvres”, de 2016. Mais um excelente policial com a assinatura do cineasta francês Olivier Marchal. Hollywood que me desculpe, mas o cinema francês está produzindo, atualmente, os melhores filmes do gênero. Marchal está à frente de vários deles, como “Pacto de Sangue”, “MR 73, A Última Missão”, “Bronx” e “Carbono”, só para citar alguns. Em “Overdose”, a trama segue o trabalho da polícia de Toulouse para desvendar os misteriosos assassinatos de dois jovens dentro de um hospital. A capitã Sara Bellaiche (Sofia Essaïdi), encarregada das investigações, descobre que os crimes têm ligação com um poderoso cartel de drogas espanhol comandado por Alfonso Castroviejo (Carlos Barden, irmão do Javier). E dá-lhe muita ação do começo ao fim, com destaque às perseguições pelas estradas da Espanha e da França. Tudo muito bem feito, cenas de suspense, violência na medida certa e personagens que têm tudo a ver com o submundo do crime, como o sanguinário Eduardo Gracia (Alberto Ammann), braço direito de Castroviejo. Completam o elenco Zoé Marchal (filha do diretor), Kenza Fortas, Bruno Lopes e Simon Abkarian. Nos créditos finais, Marchal dedica o filme ao seu amigo e ator Jean Paul Belmondo, falecido em setembro de 2021. Trocando em miúdos, “Overdose” é imperdível.       

 

domingo, 6 de novembro de 2022

 

“A HORA DO DESESPERO” (“THE DESPERATE HOUR”), 2021, Estados Unidos, em cartaz na Amazon Prime Video, 1h24m, direção do cineasta australiano Phillip Noyce, seguindo roteiro assinado por Chris Sparling. Trata-se de um suspense com praticamente um único personagem em cena do começo ao fim, Amy Carr (Naomi Watts), uma mulher que recentemente ficou viúva. Ela acorda os filhos, a pequena Emily (Sierra Maltby) e o adolescente Noah (Colton Gobbo), e sai para sua corrida matinal. Claro, com os fones de ouvido ligados no celular. E não para ouvir música, mas para fazer chamadas telefônicas e escrever mensagens de texto. Correndo, imaginem. De repente ela recebe a notícia de que uma das escolas da cidade está sendo alvo de um atirador. Aí começa de verdade o desespero da mulher, primeiro querendo saber se a escola é a mesma dos seus filhos. De tão atordoada, Amy perde o senso de direção e acaba literalmente perdida no meio de uma floresta. E dá-lhe mensagens e telefonemas até o desfecho. Lançado no Festival de Toronto 2021, o filme dividiu a opinião dos críticos. Só houve unanimidade nos elogios ao desempenho da veterana atriz Naomi Watts, que realmente carrega o filme nas costas. Resumo da ópera: fico em dúvida em afirmar se a “A Hora do Desespero” é só da mãe em questão ou então dos espectadores que ficaram em frente da tela aguentando suas irritantes conversas e chamadas pelo celular. Ao invés de entreter, o filme realmente irrita.     

sábado, 5 de novembro de 2022

 

“NADA DE NOVO NO FRONT” (“IM WESTEN NICHTS NEUES”), 2022, Alemanha, em coprodução com EUA e Inglaterra, 2h28m, em cartaz na Netflix, direção de Edward Berger, que também assina o roteiro com Leslie Patterson e Ian Stokell. Esta é a segunda adaptação feita para o cinema do clássico homônimo escrito por Erich Maria Remarque – a primeira é de 1930. No Brasil, o livro foi lançado com o título de “Sem Novidade no Front”. Selecionado para disputar o Oscar 2023 de Melhor Filme Internacional representando a Alemanha, “Nada de Novo no Front” conta a história de um grupo de jovens soldados alemães recrutados em uma escola do ensino fundamental. Era 1918, quase final da Primeira Guerra Mundial, e a Alemanha tentava queimar seus últimos cartuchos, apelando de forma irresponsável ao recrutar jovens sem nenhuma experiência de combate. Inocentes ao extremo, empolgados com a onda de fervor patriótico que ainda restava, eles marcham decididos para o território francês, pensando que teriam pela frente uma grande aventura. Quando chegam ao front, porém, a realidade brutal da guerra aparece nua e crua: muita violência, fome, frio, combates corpo a corpo e outras tragédias ocorridas naquele conflito que chegou a ser chamado de “Guerra das Trincheiras”. Desde a convocação no colégio, até o desenrolar dos combates no front, o filme acompanha o soldado Paul Bäumer (o ator austríaco Felix Kammerer) e sua luta pela sobrevivência. Ao mesmo tempo, destaca o trabalho do diplomata Matthias Erzberger (Daniel Brühl, o nome mais conhecido do elenco) nas negociações para a rendição alemã. “Nada de Novo no Front” é uma superprodução, com um grande elenco e milhares de figurantes. Sem dúvida, um dos melhores lançamentos do ano da Netflix.                     

segunda-feira, 31 de outubro de 2022

 

“O ENFERMEIRO DA NOITE” (“THE GOOD NURSE”), 2022, Estados Unidos, 2h1m, em cartaz na Netflix, direção do cineasta dinamarquês Tobias Lindholm (“Guerra”, “A Caça”), com roteiro de Krysty Wilson-Cairns. Um suspense de primeira, baseado em fatos reais, ou seja, na história do serial killer Charlie Cullen, enfermeiro que durante 16 anos (de 1988 a 2003) assassinou dezenas de pessoas em hospitais de Nova Jersey e Pensilvânia. O seu método criminoso: adulterava medicamentos com doses fatais de insulina e digoxina. Para escrever o roteiro, Krysty adaptou a história do livro “The Good Nurse: A True Story of Medicine, Madness and Murder”, escrito em 2013 pelo jornalista norte-americano Charles Graeber. O psicopata só foi preso graças às denúncias de sua colega de trabalho Amy Loughren, que atuava com ele no turno da noite em um hospital de Nova Jersey. Condenado por 30 crimes comprovados e confessados, Cullen, hoje com 62 anos, cumpre prisão perpétua. Acredita-se, porém, que ele foi responsável por pelo menos 400 mortes. Ele nunca declarou os motivos que o levaram a assassinar os pacientes, um mistério até hoje. Se o filme já é bom por si próprio, com destaque para o roteiro, direção e fotografia, ainda contou com dois trunfos muito especiais: o ator inglês Eddie Redmayne (Oscar de Melhor Ator por “Teoria de Tudo”, em 2015) e a atriz Jessica Chastain (Oscar de Melhor Atriz por "Os Olhos de Tammy Faye", em 2022), ambos dando show de interpretação, ele como o assassino e ela como a enfermeira corajosa que o denunciou. Ainda fazem parte do elenco Kim Dickens, Noah Emmerich e Nnandi Asomugha. Mais um excelente lançamento da Netflix em 2022. Filmaço!                  

 

“CLEMÊNCIA” (“CLEMENCY”), 2019, Estados Unidos, 1h52m, em cartaz na Netflix, roteiro e direção de Chinonye Chukwu, cineasta nigeriana radicada nos EUA. Um drama impactante, embora intimista, lento e de poucos diálogos muitas cenas silenciosas. A história é toda centrada em Bernardine Williams (Alfre Woodard), carcereira-chefe de uma unidade prisional com condenados aguardando a injeção letal (nos EUA, 29 estados aplicam a pena de morte). A cena inicial é chocante, mostrando os preparativos e a execução de Victor Gimenez (Alex Castillo). De embrulhar o estômago. Bernardine está lá presente, como em outras 12 ocasiões, comandando os trabalhos com pulso firme. Ela é aparentemente insensível às execuções, mas no fundo, como o filme deixa bem claro mais tarde, ela sofre as consequências psicológicas desse trabalho, o qual afeta o relacionamento com o marido Jonathan (Wendell Pierce), que tenta convencê-la o tempo todo a se aposentar. Anthony Woods (Aldis Hodje), acusado de assassinar um policial, será o próximo a ser executado, embora continue alegando inocência. É a partir do relacionamento com esse preso que Bernardine começa a desabar emocionalmente. O trabalho da atriz Alfre Woodard é sensacional. Vale o ingresso. Para escrever o roteiro, Chinonye Chukwu inspirou-se no caso de Troy Davis, um prisioneiro executado em 2011. Chukwu realizou um excelente trabalho, tanto que mereceu várias indicações no Sundance Film Festival, conseguindo o Grande Prêmio do Júri, a primeira mulher negra a conquistá-lo (o Sundance é um festival dedicado ao cinema independente). O filme é ótimo, com o mérito de apresentar, de forma realista e ao mesmo tempo sensível, o trabalho nos bastidores de um corredor da morte. Sem dúvida, um dos melhores lançamentos da Netflix em 2022.                     

sexta-feira, 28 de outubro de 2022

 

“O COBRADOR DE IMPOSTOS” (“THE TAX COLLECTOR”), 2020, Estados Unidos, em cartaz na Netflix, 1h35m, roteiro e direção de David Ayer (“Esquadrão Suicida” e “Corações de Ferro”). Um retrato realista do submundo violento de Los Angeles. David Cuevas (Bobby Soto) e seu capanga psicopata Creeper (Shia Labeouf) trabalham para um poderoso chefão do crime organizado. A missão da dupla é cobrar “impostos” de comerciantes e traficantes de drogas, aos quais prometem proteção. Até o dia em que chega à cidade o sanguinário Conejo (Jose Conejo), chefe de um poderoso cartel mexicano. Com a intenção de dominar o tráfico local, Conejo será uma pedra no sapato de David e Creeper. E dá-lhe violência explícita, muitos tiros, pancadarias e sangue jorrando. Ha que se reconhecer: as cenas de ação são ótimas. A história destaca os dois lados da personalidade de Cuevas. O primeiro, o de um pai e marido sempre presente na família. O segundo, de um sádico cobrador de impostos. O ator que o interpreta, Bobby Soto, é conhecido pela série “Narcos: México”. Shia Labeouf, o mais conhecido do elenco, deixou de ser aquele ator considerado uma grande promessa de Hollywood. Completam o elenco Cle Shaheed Sloan, Lana Parrilla e Cinthya Carmona. Sem dúvida, um bom filme de ação, violento na medida certa.