sábado, 31 de maio de 2014

“O Grande Assalto 11.6” (“11,6”), França, 2013, conta a história verídica de Toni Musulin, o francês que em 2009 roubou 11.6 milhões de euros do Banque de France e virou celebridade nacional. Musulin é interpretado por François Cluzet (da comédia “Intocáveis”), um dos melhores atores franceses da atualidade. O filme rememora os fatos ocorridos a partir de um ano antes. Musulin trabalha como motorista de carros-forte numa empresa de segurança há dez anos. Orgulha-se de nunca ter faltado um dia sequer por doença ou qualquer outro motivo. Mesmo assim, a empresa tem o costume de reduzir o seu holerite por minutos atrasados. A gota d’água foi um pedido negado por seu chefe para folgar um dia porque precisa ir com a esposa a um funeral. Aí ele resolve se vingar e cometer o assalto, considerado pela mídia europeia como "O Assalto do Século". Dias depois, quando ouve a notícia pela TV de que as ações da empresa começaram a cair depois do que fez, Musulin não segura um sorriso de felicidade. Musulin se entrega, conta tudo como aconteceu e indica o local onde o dinheiro está escondido. Só que o dinheiro encontrado totalizou 9.1 milhões de euros. Ficaram faltando, portanto, 2.5 milhões, que ele nega saber onde estão. Como não houve violência ou vítimas no roubo, a lei francesa condenou Musulin a apenas três anos de prisão. O filme termina sem aquele letreiro que informa a situação atual do prisioneiro. Faltou dizer, por exemplo, que Musulin, em 2010, teve sua pena prorrogada para mais cinco anos. Ou seja, ele ainda vai esperar um tempo para gastar os 2.5 milhões. Além de Cluzet, outro destaque do filme é a ótima atriz Corine Masiero, que faz Marion, sua esposa, numa interpretação de tirar não apenas o chapéu, mas a roupa inteira.    

sexta-feira, 30 de maio de 2014


“Teia de Mentiras” (“The Trials of Cate Mccall”), EUA, 2013. Cate Maccall (Kate Beckinsale) é uma promotora de justiça com muitos problemas. Está afastada do trabalho fazendo tratamento contra o alcoolismo, perdeu a guarda da filha para o ex-marido e ainda convive com o trauma de ter condenado um homem que ficou preso durante 11 anos e depois comprovou sua inocência. Mesmo assim, dão a ela a chance de defender uma mulher, Lacey Stubs (Anna Anissimova), condenada por assassinato e presa há 5 anos. Cate pega o caso com unhas e dentes, o que vai lhe causar ainda mais problemas. Para suportar toda essa situação conturbada, Cate conta com a ajuda do amigo ex-advogado Bridges (Nick Nolte). Em meio ao julgamento de Lacey e a seus problemas particulares, Cate ainda é perseguida por policiais supostamente envolvidos no assassinato do qual Lacey é acusada. Algumas reviravoltas no enredo alimentam o suspense, reavivando a frase clichê “Nem tudo é o que parece ser”. Kate Beckinsale não é mais tão bonita como quando apareceu em “Pearl Harbour” (2001) e fez par romântico com Ben Affleck, mas continua muito charmosa e ótima atriz. O que mais impressiona no filme é o rosto disforme de Nick Nolte, carregado de um vermelho que pode ser resultado do excesso de álcool ou de alguma doença dermatológica. O elenco conta ainda com a presença sempre marcante e competente do ator James Cromwell como o Juiz Sumpter.   

quinta-feira, 29 de maio de 2014

“Uma Viagem” (“Izlet”) é um drama esloveno de 2011 que conta uma história bastante simples, ancorada em apenas três personagens, Zina (Nina Rakovec), Gregor (Jure Henigman) e Andrej (Luka Cimpric). Hoje na faixa dos 25 anos de idade, eles são amigos desde o colégio e todo ano, nas férias de verão, costumam viajar para o litoral. É um tipo de road movie. Até a meia-hora final, os três apresentam um comportamento bastante infantil, com piadas sem graça, brincadeiras idiotas e papos com a profundidade de um pires. Chega a ser irritante. Parecem três abobalhados que não tiveram infância. O filme fica mais tolerável quando adquire um tom mais sério, logo após um chilique histérico de Zina, que revela um segredo envolvendo um fato do passado que traumatizou Andrej. A partir daí, a convivência entre os amigos vai azedar e colocar um ponto final no passeio. A cena final no aeroporto, quando Zina e Andrej aparecem de surpresa para se despedir de Gregor, soldado do exército, que vai embarcar para uma missão no Afeganistão, é muito bonita e tocante, o que não redime o filme de seus defeitos. "Uma Viagem", o primeiro filme dirigido por Nejc Gazvoda, fez sua estreia no 17º Sarajevo Film Festival e já foi exibido em outros vinte festivais, sempre com muitos – e, na minha opinião, exagerados - elogios. Também foi o candidado da Eslovênia ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2012.      

terça-feira, 27 de maio de 2014

“Recomeço” (“All the wrong Reasons”), 2012, direção de Gia Milani, é um misto de comédia e drama envolvendo quatro personagens: Kate (Karine Vanasse), seu marido James Ascher (Cory Monteith), o bombeiro Simon (Kevin Zegers) e Nicole (Emily Hampshire). Todos eles trabalham numa grande loja de departamentos. Ascher é o gerente, Kate cuida da segurança pelo circuito interno, Nicole é balconista e Simon o segurança. A figura central é Kate, que sofre de estresse pós-traumático há anos, pois presenciou o suicídio da irmã. Ela não permite qualquer contato físico, inclusive do marido, além de conviver com uma depressão profunda. Depois de aguentar tanto tempo essa situação, James vai afogar suas mágoas com a maluquete Nicole. Simon faz bico de segurança na loja depois de se recuperar de um acidente que lhe arrancou parte do braço esquerdo. Ele quer voltar a ser bombeiro apesar do seu problema físico. Mesmo abalado psicologicamente pela situação de quase inválido, é Simon quem vai tentar ajudar na recuperação de Kate. O filme, dedicado ao ator Cory Monteith (o astro da Série Glee), que morreu alguns meses depois das filmagens, foi exibido no Festival de Toronto/2013 e ganhou muitos elogios. É um filme interessante. 
O brucutu Jason Statham bota para quebrar novamente em “Linha de Frente” (“Homefront”), EUA, 2013. Ele faz o agente Phil Broker, do Departamento de Combate a Narcóticos, que se infiltra numa gangue de motoqueiros traficantes de drogas. Na hora da prisão da quadrilha, o filho do chefão Danny T (Chuck Zito) é morto a tiros. Danny T é preso e jura vingança. Broker se afasta da polícia (não fica claro se entrou em algum programa de proteção do governo) e vai morar com a filha Maddy (Izabela Vidovic) na cidade natal da esposa, que morreu um ano antes. Tudo vai às mil maravilhas até que um incidente na escola envolvendo Maddy e um garoto vai colocar Cassie (Kate Bosworth), uma viciada em drogas, no caminho de Broker. Ela pede ao irmão traficante Gator (James Franco) para ajudá-la a se vingar de Broker. Gator descobre a identidade verdadeira do ex-agente e avisa Danny T, que da penitenciária onde está preso contrata um grupo de delinquentes para matar Broker. Será que o nosso herói vai escapar dessa? Pra quem gosta de filmes de ação, com muita pancadaria e tiros, “Linha de Frente” é um ótimo acompanhamento para um sacão de pipoca. E como é bom ver um sujeito honesto bater em tanto bandido.  A cena final, quando Broker visita Danny T na prisão, é hilariante. E gratificante.  

domingo, 25 de maio de 2014

Baseado no romance escrito por Denis Diderot no século XVIII, o drama “A Religiosa” (“Le Religieuse”) tem no elenco feminino o seu maior trunfo: Isabelle Huppert, Louise Bourgoin, Françoise Lebrun, a alemã Martina Gedek e a revelação belga Pauline Étienne, entre outras. Em 1760, a jovem Suzanne Simonin (Étienne) é enviada a um convento como um teste para sua possível vocação religiosa. No período em que fica enclausurada, mesmo com a atenção carinhosa da madre superiora (Lebrun), Suzanne percebe que não está preparada para assumir o compromisso. Ela então desiste, mas seus pais não. Eles a enviam para outro convento, desta vez comandado por uma madre superiora autoritária e insensível, Irmã Christine (Bourgoin), que vai fazer Suzanne passar maus bocados.  Mais tarde, Suzanne ainda será enviada a um terceiro convento, cuja madre superiora (Isabelle Huppert) lhe dedica uma atenção “muito especial”. Em meio a essa trajetória de idas e vindas, Suzanne ainda descobrirá um segredo familiar que, no desfecho, determinará o seu futuro. O filme é dirigido por Guilleume Nicloux, que também é o autor do roteiro. Um filme sério, muito interessante por revelar e discutir aspectos da religiosidade da época e abordar a questão da vocação. Cinema da mais alta qualidade. 
“O Médico” (“The Physician”), 2013, direção do alemão Philipp Stölzl, é uma super co-produção Alemanha/EUA baseada no livro de Noah Gordon. Numa gafe de tradução, o filme chegou aqui como “O Físico”, assim como o livro (em inglês, físico é “physicist”). Para evitar qualquer dúvida, escolhi para ilustrar o cartaz em alemão (“Der Medicus”). No início da Idade Média, Rob Cole (Tom Pyne), tem o sonho de ser médico. Esse desejo tem muito a ver com a morte de sua mãe, cuja doença ninguém conseguiu curar. Cole a viu morrer sem poder fazer nada. Quando ouve falar de um famoso centro de estudos na Pérsia (atual Irã), onde ensinava um professor/filósofo/cientista Ibn Sina (Ben Kingsley) que, segundo se dizia na época, curava qualquer doença, Cole inicia uma verdadeira jornada épica para concretizar seu sonho. Ele se aventura numa longa viagem repleta de perigos e privações, mas é quando conhece seu grande amor, a jovem Rebecca (Emma Rigby). Quando finalmente ingressa no instituto, Cole cai nas graças de Ibn Sina e logo se tornará um de seus mais destacados alunos, principalmente depois que descobre a fórmula para erradicar a peste negra que assola a cidade. Cole será bajulado até pelo Schahn Ala Ad-Daula, a autoridade maior do Irã. Assim como as históricas e violentas rusgas envolvendo cristãos, muçulmanos e judeus, o filme também aborda como a influência da religião prejudicava, na época, a evolução dos estudos científicos, incluindo, principalmente, a medicina. Duas horas e meia de puro entretenimento. Filmão!     
Embora os materiais de divulgação coloquem em maior destaque os atores Tim Roth e Cillian Murphy, é a menina Eloise Laurence, em sua estreia no cinema, quem vive o principal personagem no drama inglês “Broken”, 2011, dirigido por Rufus Norris. Ela é Skunk, uma garota de 11 anos que mora com o irmão um pouco mais velho e o pai Archie (Tim Roth), cuja esposa o abandonou por outro homem. Eles vivem num bairro classe média ao norte de Londres. O filme acompanha os acontecimentos da casa e os que envolvem os vizinhos. Um deles é um casal já mais velho que convive com os problemas mentais do filho Rick (Robert Emms). Na casa em frente, um pai, Oswald (Rory Kinnear), tenta controlar as três filhas adolescentes rebeldes e desajustadas. Skunk e o irmão têm uma governanta, Kasia (Jana Marjanovic), que namora o jovem professor Mike (Cillian Murphy). De uma ou de outra forma, essas famílias e todos esses personagens se envolverão em algum momento da narrativa, tendo Skunk como participante ou espectadora de todos os fatos. O ótimo desempenho de Eloise Laurence, em sua estreia no cinema, pode ser o prenúncio de que está nascendo uma atriz de grande futuro. A maneira diferente - e criativa - de filmar do diretor Rufus Norris, acrescida de diálogos inteligentes e um time de bons atores, faz de “Broken” um filme bastante interessante.  O júri do Festival de Zurique/2012 também gostou, tanto que o elegeu como o Melhor Filme.