sábado, 3 de maio de 2014

“A Jaula de Ouro” (“La Jaula de Oro”), 2013, México, conta a odisseia de Juan, Sara e Samuel, jovens recém-saídos da adolescência, que um dia resolvem abandonar sua vida miserável numa favela da Guatemala e emigrar, clandestinamente, para os Estados Unidos, atravessando o México. No meio da viagem, incorpora-se ao trio o jovem índio Chauk. Como meio de locomoção, eles sobem em vagões de trens de carga, onde se juntam a centenas de hondurenhos, nicaraguenses, mexicanos etc. Durante o percurso, muitas situações de perigo vão acontecer e nem todos chegarão ao destino. O diretor Daniel Quemada-Diez optou por um estilo quase documental, mostrando inúmeras vezes, em close, os rostos dessas pessoas tão sofridas e cheias de esperança. Todos os atores envolvidos no filme são amadores, o que, segundo o diretor, reforçou a autenticidade dos personagens. Os três principais, por exemplo, foram selecionados entre 6 mil jovens da Guatemala. Não há dúvida de que Daniel recebeu forte influência dos estilos de Ken Loach, Fernando Meirelles e Alejandro Gonzalez Iñarritu, diretores com os quais trabalhou em várias produções. "Jaula de Ouro" integrou a Mostra “Um Certain Regard” do Festival de Cannes 2013 e participou, com destaque, da 37ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme deixa bem claro, em seu desfecho, que, mesmo nos EUA, o sonho americano continuará bastante distante para essa gente.               
O filme justifica plenamente o título estranho: “Emanuel e a Verdade sobre Peixes” (“Emanuel and the True about Fishes”), EUA, 2013. Trata-se de um drama meio fantasioso tratado como suspense. A esquisitice já começa pelo personagem principal, Emanuel, normalmente um nome masculino e que, no filme, é o nome da jovem de 17 anos (Kaya Scudelario) que mora com o pai e a madrasta e vai trabalhar como babá na casa de uma nova moradora da rua, Linda (Jessica Biel). Para surpresa de Emanuel, o bebê não passa de uma boneca, fruto da obsessão de Linda depois da morte de seu bebê uns anos atrás. Passado o susto inicial, Emanuel acaba se afeiçoando ao “bebê” e criando um elo muito forte com Linda. Em meio a esse enredo, Emanuel sofre de alucinações em que se vê submersa no mar ou num lago, além de ver água invadindo os ambientes da casa. Com tanta água, é possível que o espectador termine o filme “boiando”, sem entender muito bem o que aconteceu. Essa produção independente estreou no Festival de Sundance 2013 e ainda traz no elenco Alfredo Molina e Francis O’Connor. É o segundo filme da diretora ítalo-americana Francesca Gregorini (“Os Segredos de Tanner Hall”, de 2009, foi o primeiro). Vale a pena conferir por curiosidade.           

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Não digo que seja o melhor, mas entre os 9 filmes indicados ao Oscar 2014 de Melhor Filme, “Nebraska”, direção de Alexandre Payne,  é, com certeza, o mais agradável de assistir, mesmo com a fotografia em P&B (ótima!) e as paisagens gélidas que servem de cenário para todo o filme. Conta a história do velho Woody Grant (Bruce Dern), que recebe um desses folders de propaganda onde está escrito que ele poderá ganhar US$ 1 milhão. Já meio “gagá”, Woody está convencido de que ganhou mesmo esse prêmio e que precisa ir buscá-lo em Lincoln, capital do Estado de Nebraska, bem longe de onde mora, em Billings (Montana). Só que ele resolve ir a pé e logo é detido pela polícia na estrada. Ele é levado de volta para casa, mas continua insistindo em fazer a viagem, sob os protestos da esposa Kate (June Squibb) e dos filhos Davie (Will Forte) e Ross (Bob Odenkirk). Finalmente, Davie resolve levar o pai de carro. No meio da viagem, passam pela cidadezinha Natal de Woody, onde ainda moram seus irmãos e antigos amigos. Kate e Ross vão encontrá-los para também participarem do almoço com toda a família. A notícia de que Woody virou milionário se espalha pela cidade e é motivo de muitas confusões. Depois, Woody e Davie seguem viagem para o destino final. Além de muito bem-humorado, com diálogos ácidos e sarcásticos, o filme é sensível na medida em que mostra o desprendimento de Davie em acompanhar o pai, mesmo sabendo que será tudo em vão. Apesar do ótimo desempenho de Bruce Dern como Woody, a atração do filme é mesmo a Kate de June Squibb. Rabugenta e desbocada, ela é responsável pelas passagens mais hilariantes do filme. Simplesmente imperdível! 

quinta-feira, 1 de maio de 2014

“Garotos de Abu Ghraib” (“Boys de Abu Ghraib”), EUA, 2013, não é um entrenimento dos mais agradáveis. Afinal, a história quase inteira é filmada dentro da prisão de Abu Ghraib, no Iraque, aquela mesma que ficou famosa no mundo inteiro por mostrar fotos de soldados norte-americanos humilhando e torturando seus prisioneiros, em sua maioria terroristas árabes. Aliás, tem tudo a ver com esse filme. Vamos a ele: o soldado Jack Farmer (Lucas Moran, que também escreveu o roteiro e dirigiu), de 22 anos, é enviado ao Iraque junto com um pelotão encarregado de fazer a manutenção dos veículos do Exército, cuja “oficina” fica no interior das instalações de Abu Ghraib. A missão estava prevista para durar seis meses, mas acabou se estendendo por um ano. Cansado da rotina de consertar motores e suspensões e de vez em quando fugir de morteiros, Jack pede ao seu comandante para ser escalado nos plantões dentro da ala onde estão presos os terroristas. Essa experiência vai levar Jack ao limite do estresse e modificar totalmente o seu comportamento e o seu modo de pensar a respeito dos terroristas. Quem não tiver o estômago forte, não veja. Mas quem tiver e assistir, verá um filme muito bom.      

quarta-feira, 30 de abril de 2014

“Parada em pleno curso” (“Halt auf freier Strecke”), 2011, é um drama alemão realista e muito comovente. Começa o filme com Frank Lange, de 42 anos, ao lado da esposa, Simone, ouvindo o diagnóstico do médico: tumor maligno na cabeça em local inoperável. Mesmo com radioterapia e quimioterapia, alguns meses de vida. A partir daí, o filme vai mostrar o dia-a-dia da família (o casal e dois filhos, um de 14 e outro de 8 anos) e como vão enfrentar a trágica situação até a morte de Frank. Vai mostrar, por exemplo, a inocência de uma criança de 8 anos ao ter que lidar com a situação. O garoto pergunta a Frank se ele vai morrer mesmo. Frank responde que sim. E o filho pergunta: “Você me dá o seu iPhone?”. O diretor Andreas Dresen faz com que o espectador tenha a sensação de participar de cada momento angustiante, de interagir emocionalmente com o doente e sua família. Estamos lá na hora em que o médico dá o diagnóstico fatal, estamos lá nas consultas com psicólogos, vivenciamos a visita que o casal faz à empresa de cremação para escolher o caixão e a trilha sonora (ele escolhe The Cure e Nirvana) e acompanhamos de perto todo o processo do avanço da doença. Sem dúvida, quem já passou por uma situação semelhante vai se emocionar ainda mais. Com exceção de Milan Peschel, que vive Frank, e Steffi Kühnert (Simone), o restante do elenco é formado por amadores. Aliás, os médicos, psicólogos e enfermeiros que aparecem no filme são os mesmos profissionais na vida real. Aí você vai compreender a frieza com que o médico dá o diagnóstico do câncer na cena inicial. Um ator não conseguiria ser tão frio. O filme estreou no Festival de Cannes em 2011 e ganhou o prêmio “Um Certain Regard”. Um filme capaz de nos fazer refletir e  emocionar.  

terça-feira, 29 de abril de 2014

“Passagem para a Vida” (“The Man on the Train”), Canadá, 2011, é um remake do fran cês “L’Homme du Train”, de 2002, este último dirigido por Patrice Leconte. Os dois são ótimos filmes. Se no original havia o grande ator Jean Rochefort fazendo o personagem do professor de literatura, neste último temos o ótimo Donald Sutherland. Se no francês o homem misterioso era Johnny Hallyday, no canadense é Larry Mullen Jr., fundador e baterista da banda U2. Como se vê, ambos ligados à música. Sutherland é professor aposentado de literatura que dá aulas particulares numa pequena cidade. O misterioso Mullen chega – de trem, daí o título – e, ao comprar comprimidos para dor de cabeça numa farmácia, conhece o professor. Como o hotel da cidade está fechado, o estranho é convidado pelo professor a ficar em sua casa, uma antiga mansão isolada. O professor acaba descobrindo que a visita do seu hóspede à cidade não tem, vamos dizer, um objetivo turístico. Na verdade, ele está envolvido com uma quadrilha que quer roubar o banco local. O filme tem um ritmo bastante lento e é dirigido por Mary McGuckian como se fosse uma peça teatral. Seus trunfos são os ótimos diálogos, nos quais se destacam a erudição e as citações literárias do professor, o desfecho surpreendente e inesperado, além do trabalho excepcional dos atores, principalmente Sutherland. Um filme acima da média feito para um público idem.  

segunda-feira, 28 de abril de 2014

“O último amor de Mr. Morgan” (“Mr. Morgan’s last Love”) é uma co-produção Bélgica/Alemanha/França/EUA de 2013. O grande Michael Caine faz um professor aposentado que mora em Paris e está deprimido pela recente morte da esposa. Ele conhece uma jovem professora de dança (a atriz francesa Clémence Poésy), também deprimida pela morte do pai. Pronto: juntou a fome com a vontade de comer, esta última do Mr. Morgan. É um filme simpático e que tem lá seus momentos de humor, principalmente quando Mr. Morgan vai à academia da moça e ensaia uns passos de dança.
“Vento do Oeste” (“Westwind”), 2011, Alemanha. O filme até que começa interessante. 1988, portanto um ano antes da queda do Muro de Berlim. Dooren (Friederick Becht) e Isabel (Luise Heyer) são irmãs gêmeas, moram na Alemanha Oriental e são duas grandes promessas do remo. Convocadas por seu treinador, elas viajam para um campo de férias na Hungria, onde deverão se submeter a um treinamento rigoroso com vistas a uma importante competição que será realizada em Berlim. Durante a viagem, porém, elas se atrasam no banheiro de um posto e perdem o ônibus. Ao pedir carona na beira da estrada, elas conhecem os jovens Arne e Nico, da Alemanha Ocidental, que estão em férias. A partir da chegada de Isabel e Dooren ao campo de treinamento, o filme vira uma sessão da tarde ao estilo daquelas produções água com açúcar da Disney, com direito a namoricos escondidos, alguém tocando violão para os jovens em volta da fogueira e chiliques de meninas mimadas. Surpresa verificar que o diretor, Robert Thalheim, é o mesmo do ótimo “À Espera de Turistas”.      

domingo, 27 de abril de 2014

“A Pele de Vênus” (“Venus in Fur”) foi o primeiro longa realizado por  Roman Polanski depois de ter ficado preso dois meses na Suiça no final de 2009. O filme tem apenas dois atores que atuam num teatro vazio. Vanda (Emmanuelle Seigner) chega atrasada ao teatro para participar de um teste para protagonista da peça “Venus in Fur”. O diretor Thomas (Mathieu Amalric) está quase saindo e, muito a contragosto, acaba concordando em conceder uma audição àquela estranha. A partir daí os diálogos entre Thomas e Vanda misturam-se aos da peça escrita em 1870 pelo dramaturgo austríaco Leopold Sacher-Masoch (o termo masoquismo vem do seu sobrenome). Para surpresa de Thomas, Vanda conhece o texto inteiro e ainda dá sugestões de iluminação, figurinos e cenário. Como na peça de Masoch, o filme explora o tema da dominação, o que explica a total submissão de Thomas diante de Vanda. Só para relembrar: na vida real, Emmanuelle Seigner é esposa de Polanski. Não estou insinuando nenhum tipo de proteção, pois ela sempre foi uma ótima atriz. Recomendo esse filme apenas para estudantes ou artistas de teatro. As demais categorias, como a minha (jornalista), vão achar chatérrimo.

 
“Refém da Paixão” (“Labor Day”), EUA, 2013, é um drama baseado no livro “Fim de Verão”, de Joyce Maynard, que situa a ação nos dias que antecedem o feriado do Dia do Trabalho (Labor Day) na cidade de Holton Mills (New Hampshire), em 1987. Adele (Kate Winslet) e seu filho Henry (Gattlin Griffith) estão num supermercado fazendo compras quando um homem, Frank (Josh Brolin), diz que está ferido (ele é um presidiário que acaba de fugir do hospital) e pede ajuda. Como ele está com as mãos no pescoço do menino, com um semblante ameaçador, Adele não tem como resistir. Leva-o para casa.  Frank vai provar que não é tão perigoso quando os noticiários da TV fazem crer, caindo nas graças de mãe e filho. Divorciada, solitária e infeliz, Adele vê a chegada de Henry como uma companhia adulta para conversar e até como um complemento à sua vida sentimental frustada. Henry sente a falta da presença do pai, que só vê aos finais de semana, mas é obrigado a dividir sua atenção com os meio-irmãos. Frank, porém, dedica toda a sua atenção ao garoto, ensinando-lhe alguns truques de beisebol, a consertar o carro e a fazer uma torta de pêssegos. O que se imaginava no início um sequestro, acaba virando uma cumplicidade familiar e uma paixão entre Adele e Frank. Como isso tudo vai terminar, só assistindo ao filme. A direção é de Jaison Reitman (de “Juno” e “Amor sem Escalas”). 
Confesso que fui adiando a decisão de assistir “12 Anos de Escravidão” (“12 Years a Slave”). Nem mesmo depois que ganhou o Oscar 2014 me deu vontade de vê-lo. Afinal, você sabe que vai estar diante de uma história triste, de muito sofrimento, maldades, torturas, humilhações, espancamentos etc. Resolvi respirar fundo e encarar finalmente a saga verídica de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um cidade americano livre, que é sequestrado em 1841 e vendido como escravo para trabalhar em plantações na região da Louisiana, onde vai servir a dois senhores, um deles o violento Edwin Epps (Michael Fassbinder). Solomon só será libertado 12 anos mais tarde por um advogado. Logo depois ele decide escrever suas memórias sobre essa triste e sofrida trajetória. O filme, dirigido por Steve McQueen, foi todo baseado nesse relato de Solomon. Sem dúvida, é um filme forte e impactante, muito bem feito, mas talvez tenha sido um exagero – um “mea culpa” dos americanos? - ter sido escolhido como Melhor Filme do Oscar, assim como o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para Lupita Nyong’o. A Academia exagerou no “politicamente correto”. 
“Rolou uma Química” (“Better Living through Chemistry”), EUA, 2013, é uma comédia dirigida pela dupla Geoff Moore e David Posamentier. Conta a história de Douglas Varney (Sam Rockwell), um farmacêutico em crise no casamento com Kara  (Michelle Monaghan), que só pensa em sua academia de ginástica e em participar de provas de ciclismo. Além disso, Varney enfrenta problemas com o comportamento nada normal do filho pré-adolescente, que se transformou no terror da escola. Em meio a essa fase turbulenta, Varney conhece Elizabeth Roberts (Olivia Wilde), uma bela e infeliz dona de casa viciada em álcool e remédios. Varney também começa a manipular fórmulas de drogas estimulantes e acaba viciado como Elizabeth. Logo, Varney e Elizabeth começam a ter um caso, que se torna ainda mais complicado e perigoso quando decidem planejar o assassinato do marido dela (Ray Liotta). A partir daí, Varney vai se meter em muitas confusões, o que melhora um pouco o humor do filme, até então motivador de um ou outro sorriso amarelo. Apesar do nome de Jane Fonda aparecer nos créditos principais, ela tem apenas uma aparição rápida no final. Se o filme já não é tão bom, pior mesmo é o título que inventaram em português.