“A Jaula de Ouro”
(“La Jaula de Oro”), 2013, México, conta a odisseia de Juan, Sara e Samuel, jovens
recém-saídos da adolescência, que um dia resolvem abandonar sua vida miserável
numa favela da Guatemala e emigrar, clandestinamente, para os Estados Unidos,
atravessando o México. No meio da viagem, incorpora-se ao trio o jovem índio
Chauk. Como meio de locomoção, eles sobem em vagões de trens de carga, onde se
juntam a centenas de hondurenhos, nicaraguenses, mexicanos etc. Durante o
percurso, muitas situações de perigo vão acontecer e nem todos chegarão ao
destino. O diretor Daniel Quemada-Diez optou por um estilo quase documental,
mostrando inúmeras vezes, em close, os rostos dessas pessoas tão sofridas e cheias
de esperança. Todos os atores envolvidos no filme são amadores, o que, segundo
o diretor, reforçou a autenticidade dos personagens. Os três principais, por
exemplo, foram selecionados entre 6 mil jovens da Guatemala. Não há dúvida de que Daniel recebeu forte influência dos estilos de Ken Loach, Fernando Meirelles e Alejandro Gonzalez Iñarritu, diretores com os quais trabalhou em várias produções. "Jaula de Ouro" integrou a
Mostra “Um Certain Regard” do Festival de Cannes 2013 e participou, com
destaque, da 37ª edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O filme
deixa bem claro, em seu desfecho, que, mesmo nos EUA, o sonho americano continuará bastante distante para essa gente.
sábado, 3 de maio de 2014
O
filme justifica plenamente o título estranho: “Emanuel
e a Verdade sobre Peixes” (“Emanuel and
the True about Fishes”), EUA, 2013. Trata-se de um drama meio fantasioso tratado
como suspense. A esquisitice já começa pelo personagem principal, Emanuel, normalmente
um nome masculino e que, no filme, é o nome da jovem de 17 anos (Kaya
Scudelario) que mora com o pai e a madrasta e vai trabalhar como babá na casa
de uma nova moradora da rua, Linda (Jessica Biel). Para surpresa de Emanuel, o
bebê não passa de uma boneca, fruto da obsessão de Linda depois da morte de seu
bebê uns anos atrás. Passado o susto inicial, Emanuel acaba se afeiçoando ao “bebê” e criando
um elo muito forte com Linda. Em meio a esse enredo, Emanuel sofre de alucinações
em que se vê submersa no mar ou num lago, além de ver água invadindo os
ambientes da casa. Com tanta água, é possível que o espectador termine o filme “boiando”,
sem entender muito bem o que aconteceu. Essa produção independente estreou no
Festival de Sundance 2013 e ainda traz no elenco Alfredo Molina e Francis O’Connor.
É o segundo filme da diretora ítalo-americana Francesca Gregorini (“Os Segredos
de Tanner Hall”, de 2009, foi o primeiro). Vale a pena conferir por curiosidade.
sexta-feira, 2 de maio de 2014
Não
digo que seja o melhor, mas entre os 9 filmes indicados ao Oscar 2014 de Melhor
Filme, “Nebraska”, direção de Alexandre Payne, é,
com certeza, o mais agradável de assistir, mesmo com a fotografia em P&B (ótima!)
e as paisagens gélidas que servem de cenário para todo o filme. Conta a
história do velho Woody Grant (Bruce Dern), que recebe um desses folders de
propaganda onde está escrito que ele poderá ganhar US$ 1 milhão. Já meio “gagá”,
Woody está convencido de que ganhou mesmo esse prêmio e que precisa ir buscá-lo
em Lincoln, capital do Estado de Nebraska, bem longe de onde mora, em Billings
(Montana). Só que ele resolve ir a pé e logo é detido pela polícia na estrada. Ele
é levado de volta para casa, mas continua insistindo em fazer a viagem, sob os
protestos da esposa Kate (June Squibb) e dos filhos Davie (Will Forte) e Ross
(Bob Odenkirk). Finalmente, Davie resolve levar o pai de carro. No meio da
viagem, passam pela cidadezinha Natal de Woody, onde ainda moram seus irmãos e
antigos amigos. Kate e Ross vão encontrá-los para também participarem do almoço
com toda a família. A notícia de que Woody virou milionário se espalha pela
cidade e é motivo de muitas confusões. Depois, Woody e Davie seguem viagem para
o destino final. Além de muito bem-humorado, com diálogos ácidos e sarcásticos,
o filme é sensível na medida em que mostra o desprendimento de Davie em acompanhar
o pai, mesmo sabendo que será tudo em vão. Apesar do ótimo desempenho de Bruce
Dern como Woody, a atração do filme é mesmo a Kate de June Squibb. Rabugenta e
desbocada, ela é responsável pelas passagens mais hilariantes do filme. Simplesmente
imperdível!
quinta-feira, 1 de maio de 2014
“Garotos de Abu Ghraib” (“Boys de Abu Ghraib”), EUA, 2013, não é um entrenimento dos mais
agradáveis. Afinal, a história quase inteira é filmada dentro da prisão de Abu
Ghraib, no Iraque, aquela mesma que ficou famosa no mundo inteiro por mostrar
fotos de soldados norte-americanos humilhando e torturando seus prisioneiros,
em sua maioria terroristas árabes. Aliás, tem tudo a ver com esse filme. Vamos a ele: o
soldado Jack Farmer (Lucas Moran, que também escreveu o roteiro e dirigiu), de
22 anos, é enviado ao Iraque junto com um pelotão encarregado de fazer a
manutenção dos veículos do Exército, cuja “oficina” fica no interior das
instalações de Abu Ghraib. A missão estava prevista para durar seis meses, mas
acabou se estendendo por um ano. Cansado da rotina de consertar motores e
suspensões e de vez em quando fugir de morteiros, Jack pede ao seu comandante
para ser escalado nos plantões dentro da ala onde estão presos os terroristas.
Essa experiência vai levar Jack ao limite do estresse e modificar totalmente o
seu comportamento e o seu modo de pensar a respeito dos terroristas. Quem não
tiver o estômago forte, não veja. Mas quem tiver e assistir, verá um filme muito
bom.
quarta-feira, 30 de abril de 2014
“Parada em pleno curso” (“Halt
auf freier Strecke”), 2011, é um drama alemão realista e muito comovente. Começa
o filme com Frank Lange, de 42 anos, ao lado da esposa, Simone, ouvindo o diagnóstico
do médico: tumor maligno na cabeça em local inoperável. Mesmo com radioterapia
e quimioterapia, alguns meses de vida. A partir daí, o filme vai mostrar o dia-a-dia
da família (o casal e dois filhos, um de 14 e outro de 8 anos) e como vão
enfrentar a trágica situação até a morte de Frank. Vai mostrar, por exemplo, a
inocência de uma criança de 8 anos ao ter que lidar com a situação. O garoto
pergunta a Frank se ele vai morrer mesmo. Frank responde que sim. E o filho
pergunta: “Você me dá o seu iPhone?”. O diretor Andreas Dresen faz com que o
espectador tenha a sensação de participar de cada momento angustiante, de
interagir emocionalmente com o doente e sua família. Estamos lá na hora em que
o médico dá o diagnóstico fatal, estamos lá nas consultas com psicólogos, vivenciamos
a visita que o casal faz à empresa de cremação para escolher o caixão e a
trilha sonora (ele escolhe The Cure e Nirvana) e acompanhamos de perto todo o
processo do avanço da doença. Sem dúvida, quem já passou por uma situação
semelhante vai se emocionar ainda mais. Com exceção de Milan Peschel, que vive
Frank, e Steffi Kühnert (Simone), o restante do elenco é formado por amadores. Aliás,
os médicos, psicólogos e enfermeiros que aparecem no filme são os mesmos
profissionais na vida real. Aí você vai compreender a frieza com que o médico
dá o diagnóstico do câncer na cena inicial. Um ator não conseguiria ser tão
frio. O filme estreou no Festival de Cannes em 2011 e ganhou o prêmio “Um Certain
Regard”. Um filme capaz de nos fazer refletir e emocionar.
terça-feira, 29 de abril de 2014
“Passagem para a Vida” (“The Man on the Train”), Canadá, 2011, é um remake do fran cês
“L’Homme du Train”, de 2002, este último dirigido por Patrice Leconte. Os dois
são ótimos filmes. Se no original havia o grande ator Jean Rochefort fazendo o
personagem do professor de literatura, neste último temos o ótimo Donald
Sutherland. Se no francês o homem misterioso era Johnny Hallyday, no canadense
é Larry Mullen Jr., fundador e baterista da banda U2. Como se vê, ambos ligados
à música. Sutherland é professor aposentado de literatura que dá aulas
particulares numa pequena cidade. O misterioso Mullen chega – de trem, daí o
título – e, ao comprar comprimidos para dor de cabeça numa farmácia, conhece o
professor. Como o hotel da cidade está fechado, o estranho é convidado pelo
professor a ficar em sua casa, uma antiga mansão isolada. O professor acaba
descobrindo que a visita do seu hóspede à cidade não tem, vamos dizer, um objetivo
turístico. Na verdade, ele está envolvido com uma quadrilha que quer roubar o
banco local. O filme tem um ritmo bastante lento e é dirigido por Mary
McGuckian como se fosse uma peça teatral. Seus trunfos são os ótimos diálogos, nos
quais se destacam a erudição e as citações literárias do professor, o desfecho
surpreendente e inesperado, além do trabalho excepcional dos atores, principalmente Sutherland. Um
filme acima da média feito para um público idem.
segunda-feira, 28 de abril de 2014
“O último amor de Mr.
Morgan” (“Mr. Morgan’s last Love”) é uma co-produção Bélgica/Alemanha/França/EUA de 2013. O grande Michael Caine faz um professor
aposentado que mora em Paris e está deprimido pela recente morte da esposa. Ele
conhece uma jovem professora de dança (a atriz francesa Clémence Poésy), também
deprimida pela morte do pai. Pronto: juntou a fome com a vontade de comer, esta
última do Mr. Morgan. É um filme simpático e que tem lá seus momentos de humor,
principalmente quando Mr. Morgan vai à academia da moça e ensaia uns passos de
dança.
“Vento do Oeste” (“Westwind”),
2011, Alemanha. O filme até que começa interessante. 1988, portanto um ano
antes da queda do Muro de Berlim. Dooren (Friederick Becht) e Isabel (Luise
Heyer) são irmãs gêmeas, moram na Alemanha Oriental e são duas grandes
promessas do remo. Convocadas por seu treinador, elas viajam para um campo de férias
na Hungria, onde deverão se submeter a um treinamento rigoroso com vistas a uma
importante competição que será realizada em Berlim. Durante a viagem, porém,
elas se atrasam no banheiro de um posto e perdem o ônibus. Ao pedir carona na
beira da estrada, elas conhecem os jovens Arne e Nico, da Alemanha Ocidental,
que estão em férias. A partir da chegada de Isabel e Dooren ao campo de
treinamento, o filme vira uma sessão da tarde ao estilo daquelas produções água
com açúcar da Disney, com direito a namoricos escondidos, alguém tocando violão
para os jovens em volta da fogueira e chiliques de meninas mimadas. Surpresa
verificar que o diretor, Robert Thalheim, é o mesmo do ótimo “À Espera de
Turistas”.
domingo, 27 de abril de 2014
“A Pele de Vênus” (“Venus in Fur”) foi o primeiro longa realizado por Roman Polanski depois de ter ficado preso dois
meses na Suiça no final de 2009. O filme tem apenas dois atores que atuam num
teatro vazio. Vanda (Emmanuelle Seigner) chega atrasada ao teatro para
participar de um teste para protagonista da peça “Venus in Fur”. O diretor
Thomas (Mathieu Amalric) está quase saindo e, muito a contragosto, acaba
concordando em conceder uma audição àquela estranha. A partir daí os diálogos entre
Thomas e Vanda misturam-se aos da peça escrita em 1870 pelo dramaturgo
austríaco Leopold Sacher-Masoch (o termo masoquismo vem do seu sobrenome). Para
surpresa de Thomas, Vanda conhece o texto inteiro e ainda dá sugestões de
iluminação, figurinos e cenário. Como na peça de Masoch, o filme explora o tema da dominação,
o que explica a total submissão de Thomas diante de Vanda. Só para relembrar: na
vida real, Emmanuelle Seigner é esposa de Polanski. Não estou insinuando nenhum
tipo de proteção, pois ela sempre foi uma ótima atriz. Recomendo esse filme apenas
para estudantes ou artistas de teatro. As demais categorias, como a minha
(jornalista), vão achar chatérrimo.
“Refém da Paixão” (“Labor
Day”), EUA, 2013, é um drama baseado no livro “Fim de Verão”, de Joyce Maynard,
que situa a ação nos dias que antecedem o feriado do Dia do Trabalho (Labor
Day) na cidade de Holton Mills (New Hampshire), em 1987. Adele (Kate Winslet) e
seu filho Henry (Gattlin Griffith) estão num supermercado fazendo compras quando
um homem, Frank (Josh Brolin), diz que está ferido (ele é um presidiário que
acaba de fugir do hospital) e pede ajuda. Como ele está com as mãos no pescoço
do menino, com um semblante ameaçador, Adele não tem como resistir. Leva-o para
casa. Frank vai provar que não é tão perigoso
quando os noticiários da TV fazem crer, caindo nas graças de mãe e filho. Divorciada,
solitária e infeliz, Adele vê a chegada de Henry como uma companhia adulta para
conversar e até como um complemento à sua vida sentimental frustada. Henry
sente a falta da presença do pai, que só vê aos finais de semana, mas é obrigado
a dividir sua atenção com os meio-irmãos. Frank, porém, dedica toda a sua
atenção ao garoto, ensinando-lhe alguns truques de beisebol, a consertar o
carro e a fazer uma torta de pêssegos. O que se imaginava no início um
sequestro, acaba virando uma cumplicidade familiar e uma paixão entre Adele e
Frank. Como isso tudo vai terminar, só assistindo ao filme. A direção é de Jaison
Reitman (de “Juno” e “Amor sem Escalas”).
Confesso
que fui adiando a decisão de assistir “12 Anos de Escravidão” (“12 Years a Slave”). Nem mesmo depois que
ganhou o Oscar 2014 me deu vontade de vê-lo. Afinal, você sabe que vai estar
diante de uma história triste, de muito sofrimento, maldades, torturas,
humilhações, espancamentos etc. Resolvi respirar fundo e encarar finalmente a
saga verídica de Solomon Northup (Chiwetel Ejiofor), um cidade americano livre, que é sequestrado em 1841 e
vendido como escravo para trabalhar em plantações na região da Louisiana, onde
vai servir a dois senhores, um deles o violento Edwin Epps (Michael Fassbinder).
Solomon só será libertado 12 anos mais tarde por um advogado. Logo depois ele
decide escrever suas memórias sobre essa triste e sofrida trajetória. O filme,
dirigido por Steve McQueen, foi todo baseado nesse relato de Solomon. Sem
dúvida, é um filme forte e impactante, muito bem feito, mas talvez tenha sido
um exagero – um “mea culpa” dos americanos? - ter sido escolhido como
Melhor Filme do Oscar, assim como o prêmio de Melhor Atriz Coadjuvante para
Lupita Nyong’o. A Academia exagerou no “politicamente correto”.
“Rolou uma Química” (“Better
Living through Chemistry”), EUA, 2013, é uma comédia dirigida pela dupla Geoff
Moore e David Posamentier. Conta a história de Douglas Varney (Sam Rockwell),
um farmacêutico em crise no casamento com Kara (Michelle Monaghan), que só pensa em sua
academia de ginástica e em participar de provas de ciclismo. Além disso, Varney
enfrenta problemas com o comportamento nada normal do filho pré-adolescente,
que se transformou no terror da escola. Em meio a essa fase turbulenta, Varney
conhece Elizabeth Roberts (Olivia Wilde), uma bela e infeliz dona de casa
viciada em álcool e remédios. Varney também começa a manipular fórmulas de drogas
estimulantes e acaba viciado como Elizabeth. Logo, Varney e Elizabeth começam a
ter um caso, que se torna ainda mais complicado e perigoso quando decidem planejar o
assassinato do marido dela (Ray Liotta). A partir daí, Varney vai se meter em
muitas confusões, o que melhora um pouco o humor do filme, até então motivador de um ou outro sorriso amarelo. Apesar do nome
de Jane Fonda aparecer nos créditos principais, ela tem apenas uma aparição
rápida no final. Se o filme já não é tão bom, pior mesmo é o título que
inventaram em português.
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