sábado, 6 de março de 2021

 

“ROMEO. AKBAR. WALTER.”, 2019, Índia, 2h30h, disponível na Netflix, roteiro e direção de Robby Grewal. Trata-se de um thriller político e de espionagem baseado em fatos reais. Ambientado em meados de 1971, quando havia um clima de crescente tensão entre o Paquistão e a Índia envolvendo o Paquistão Oriental (hoje Bangladesh), na época apoiado pelo país de Indira Gandhi. Ali Aka Romeo (John Abraham), um simples caixa de banco, foi recrutado pelo serviço secreto indiano (APA) para trabalhar como espião – seu recrutamento ocorreu depois de um assalto encenado ao banco, quando ele enfrentou os bandidos. Sua difícil e perigosa missão era se infiltrar no governo paquistanês e descobrir informações sobre um possível ataque ao Paquistão Oriental e à própria Índia. Romeo adotou o nome Ambar Malik, intitulando-se cidadão paquistanês. Num lance de pura sorte, ele conseguiu fazer amizade com Isaq Afrid (Anil George), um poderoso traficante de armas com ligações estreitas com o governo do Paquistão. Aos poucos, Malik ganhou a confiança de Isaq e conseguiu ter acesso a importantes documentos secretos, um deles referente à data do ataque ao Paquistão Oriental. A verdadeira identidade de Malik correu o risco de ser descoberta quando alguns oficiais do exército, a mando de Nawab Afrid, filho de Isaq, o prenderam e o torturaram. Malik manteve-se firme e logo seria libertado, continuando com sua missão de passar informações para o serviço secreto indiano. Quase no final, o filme reserva uma reviravolta e tanto, quando Malik já teria outra identidade: Walter Khan. Com exceção da história em si, muito interessante, o filme naufraga em vários aspectos. Exagera naquelas cantorias irritantes típicas dos filmes de Bollywood, totalmente fora do contexto em se tratando de um filme de fundo político. Além disso, o elenco é muito fraco, difícil escolher o pior ator ou atriz, sem falar nas cenas de ação - poucas, aliás -, risíveis de tão mal feitas. O ator principal, o tal John Abraham, é um canastrão de primeira, não convence em momento nenhum. Repito: só vale pela história. Já assisti a muitos filmes bons do cinema indiano, mas este me surpreendeu de forma bastante negativa. Se não tiver interessado em saber alguns detalhes daquele conflito entre o Paquistão e Índia, fuja a galope desse desastre de Bollywood.                      

sexta-feira, 5 de março de 2021

 

 

“ÁRVORE DE SANGUE” (“EL ÁRBOL DE LA SANGRE”), 2018, Espanha, 2h10m, disponível na Netflix, roteiro e direção de Julio Medem. Puro drama ao estilo novelão, cuja trama lembra alguns romances de Gabriel García Márquez, “Cem Anos de Solidão”, por exemplo, incluindo elementos do realismo fantástico, como uma vaca caindo de uma árvore. O filme espanhol acompanha a história de duas famílias bascas desde a época da Guerra Civil Espanhola. Durante essa trajetória, ambas estarão ligadas por laços familiares e de amizade. Nos tempos atuais, os namorados Rebeca (Úrsula Corberó) e Marc (Álvaro Cervantes) se confinam na casa da fazenda da família dela para escrever a história das suas respectivas famílias. Até a metade do filme, o roteiro mistura uma série de personagens sem explicar exatamente quem são, o que dificulta o entendimento por parte do espectador. Como um quebra-cabeças, as peças vão se encaixando e finalmente a gente começa a entender o que está acontecendo e quem é quem. Repleto de flashbacks, o filme tenta explicar como as duas famílias começaram a se relacionar, em um enredo repleto de tragédias, traições, assassinatos, segredos perturbadores e romances proibidos. Não faltam inúmeras cenas de sexo – nenhuma explícita -, uma característica dos filmes do diretor Julio Medem, como já comprovaram “Lúcia e o Sexo”, de 2001, e “Um Quarto em Roma”, de 2010. A fotografia caprichada de Kiko de Larica e o elenco são dois pontos altos do filme. Além de Corberó e Cervantes, atuam outros nomes expressivos do cinema espanhol, como Najwa Nimri, Joaquín Furriel, Maria Molins, Daniel Grao, Ángela Molina, Josep Maria Pou e Patricia López Arnaiz. Enfim, “Árvore de Sangue” tem todos os ingredientes para agradar aos espectadores que curtem uma história de saga familiar.    

quarta-feira, 3 de março de 2021

 

“MULHERES OCULTAS” (“LITTLE BIG WOMEN”), 2020, Taiwan, 2h04m, disponível na Netflix, direção de Joseph Hsu, que também assina o roteiro com a colaboração de Maya Huang. Inspirado num curta-metragem de 2017, também produzido em Taiwan, “Mulheres Ocultas” é um belo e sensível drama familiar. A história é centrada em Lin Hsiu-Ying (Grace Chen), que no dia do seu aniversário de 70 anos recebe a notícia de que seu ex-marido acaba de falecer. Dessa forma, ao invés da festa, ela, as três filhas e a neta tomam providências para a cerimônia do funeral. Um detalhe: o marido a deixou há 10 anos para viver com outra mulher, abandonando Lin e as três meninas. Durante esse tempo, Lin trabalhou duro para sustentar sozinha a família. Mesmo a contragosto, ela concorda em promover o funeral do ex-marido mulherengo. O roteiro destaca o relacionamento da mãe com as filhas, que nas conversas relembram a infância e a situação atual de cada uma. Hsuan (Hsieh Ying), por exemplo, é uma bailarina profissional diagnosticada com câncer; Yu (Vivian Hsu) é a filha médica, mãe da única neta de Lin; e Jiajia (Su Ke-Fang), a mais jovem e que ajuda a mãe no restaurante. Durante o funeral, Lin terá a oportunidade de conhecer Tsai Meilin (Ning Ding), a mulher pela qual seu ex-marido se apaixonou. Além da rotina familiar em que mãe e filhas terão a oportunidade de se reconciliar, o filme destaca detalhes do tradicional cerimonial budista para homenagear o morto. São cenas comoventes e de muita sensibilidade, valorizadas pela excelente fotografia de Jon Keng. Por sua atuação, a veterana atriz Grace Chen ganhou o prêmio Golden Horse Awards (o Oscar de Taiwan) de Melhor Atriz. O filme estreou no Festival Internacional de Cinema de Busan (Coreia do Sul) e foi muito elogiado pela crítica especializada. Além disso, foi o filme de maior bilheteria de 2020 em Taiwan. Embora lento e contemplativo, “Mulheres Ocultas” é um drama da melhor qualidade. Não perca!                          

 

terça-feira, 2 de março de 2021

 

“CRAZY TRIPS – BUDAPESTE” (“BUDAPEST”), 2018, França, 1h42m, disponível na plataforma Netflix, direção de Xavier Gens, seguindo roteiro escrito por Simon Moutaïrou e Manu Payet. Trata-se de uma comédia com doses maciças de besteirol e politicamente incorreta. Vincent (Manu Payet, um dos roteiristas) e Arnaud (Jonathan Cohen) são amigos de longa data, moram em Paris com suas esposas e vivem num padrão de vida elevado graças aos seus salários de altos executivos em suas respectivas empresas. Cansados da rotina dos escritórios, e depois de ouvirem o relato de uma prostituta húngara de 69 anos numa espelunca, eles têm uma ideia se não maluca, pelo menos muito arriscada e inusitada. Ou seja, criar uma agência de turismo para promover festas de despedida de solteiros em Budapeste. Segundo a dica da prostituta, lá na Hungria a mão de obra é muito barata e há uma quantidade enorme de mulheres, muito maior do que a população masculina. Ainda segundo ela, a libertinagem corre solta em Budapeste, com lugares especialmente dedicados à diversão masculina. Antes de tomarem qualquer decisão, Vincent e Arnaud viajam para Budapeste e contratam um guia maluco para orientá-los e levá-los até as tais atrações. Depois dessa primeira experiência, os dois amigos voltam a Paris com a certeza de que o negócio tem tudo para dar certo. Para desespero de suas esposas, eles pedem demissão de seus empregos e iniciam o processo para a criação da empresa de turismo, cujo slogan é “Um Final de Semana de Solteiro em Budapeste”. A promoção inclui recepção e transporte com limusine e hospedagem em hotel três estrelas, além das atrações especiais: passeio em tanque de guerra, praticar tiro com armas de pesado calibre e bares de luxo com direito a lindas garotas de programa e, se quiserem, drogas à vontade. O primeiro grupo é um desastre, causando um prejuízo enorme aos dois novos empresários. Mas os pedidos aumentam cada vez mais e o negócio deslancha. Muitas confusões acontecem pelo caminho, lembrando as comédias besteirol do tipo “Se Beber Não Case”, ou seja, sem compromisso nenhum com o intelecto, o que proporciona um merecido descanso para os neurônios. Resumindo, mesmo que o humor seja tão escrachado, o filme diverte. Lembrete final: "Crazy Trips - Budapeste" foi inspirado numa agência de turismo de Paris que promove esse tipo de programa.                              

 

              

segunda-feira, 1 de março de 2021

 

“A CAMINHO DA FÉ” (“COME SUNDAY”), 2018, EUA, 1h46m, direção de Joshoa Marston, seguindo roteiro de Marcus Hinchey. Trata-se de um drama com fundo religioso, baseado em fatos reais, relembrando uma história que teve grande repercussão nos Estados Unidos no final da década de 80 e nos anos 90. Carlton Pearson (Chiwetel Ejiofor, de “12 Anos de Escravidão”), pastor da Igreja Pentecostal de Deus em Cristo, era na época um religioso famoso em todo território norte-americano – sua sede era em Tulsa, Oklahoma. Ele tinha um programa de televisão e seus cultos lotavam salões até com 6 mil pessoas. Ficou famoso por reunir brancos e negros para ouvir seus sermões e cantar hinos religiosos. Uma celebridade religiosa muito respeitada. Um dia, porém, ao assistir pela TV imagens de Ruanda (África) mostrando crianças morrendo de fome e o povo sendo dizimado numa violenta guerra civil, Pearson passou a contestar alguns dogmas da Bíblia, como a existência do Inferno e que tanto os cristãos como os não-cristãos serão salvos no dia do julgamento final. Referindo-se à questão de Ruanda, Pearson perguntou às pessoas em seu culto de domingo: “Será que Deus mandaria essas pessoas para o Inferno só porque elas não são cristãs? O Inferno realmente existe?”. Foi um escândalo para os seus seguidores, inclusive para seu chefe religioso, o bispo Oral Roberts (Martin Sheen). Pearson foi chamado de herege por questionar a doutrina cristã. Em meio a essa polêmica, que virou manchete nos meios de comunicação, Pearson aceita participar de um debate teológico com o conjunto de bispos pentecostais afro-americanos, resultando numa das sequências mais impactantes do filme. Ainda participam do elenco Condola Rashãd como Gina, a esposa do pastor, Jason Segel, Lakeith Stanfield e Danny Glover. Mas o dono do filme é mesmo o ator Chiwetel Ejiofor, num desempenho magistral. Embora não tenha caído nas graças da crítica, eu achei o filme bastante interessante, principalmente por nos fazer refletir sobre as opiniões de Pearson e a fé religiosa. Recomendo.                         

 

domingo, 28 de fevereiro de 2021

 

Nunca fui muito fã de documentários, mas ao longo da minha carreira de cinéfilo amador assisti a alguns muito bons. E não poderia deixar de assistir ao documentário “PELÉ”, recentemente integrado à plataforma Netflix – o lançamento mundial ocorreu dia 23 de fevereiro de 2021. Realizado em 2020, com roteiro e direção dos ingleses Ben Nicholas e David Tryhorn, produzido pelo cineasta Kevin MacDonald (vencedor do Oscar em 2000 por “Munique 1972: Um Dia de Setembro”), “PELÉ” tem 1h48m e faz parte das homenagens mundiais ao rei do futebol e seus 80 anos de idade. O documentário começa contando a história do rei do futebol quando trabalhava como engraxate e jogava peladas em Bauru. Depois, sua chegada ao Santos FC. A partir daí, a ênfase é dada à participação de Pelé nas quatro copas do mundo que disputou e, ao mesmo tempo, à situação política do Brasil, especialmente a partir de 1964, quando o País ingressou na fase da ditadura militar. O período enfocado pelo documentário vai de 1956 até 1970, destacando a conquista do tricampeonato mundial no México e a decretação do AI-5. Na entrevista concedida aos realizadores, Pelé esclarece que, embora pressionado por um lado e outro, jamais quis se envolver em política. “Meu negócio era jogar futebol”. No documentário, a posição de Pelé chegou a ser comparada com o ativismo do lutador norte-americano Muhammad Ali, que foi crítico da guerra do Vietnã, além de se recursar ao alistamento, sendo preso por isso. O melhor do documentário são algumas cenas inéditas e preciosas dos bastidores, principalmente aquela em que Pelé, de cadeira de rodas, recebe os companheiros do Santos FC durante um almoço em sua casa no Guarujá. O documentário também destaca inúmeros depoimentos de ex-companheiros como Rivelino, Zagalo, Brito e Jairzinho, além dos jornalistas Juca Kfouri e José Trajano. Também participam Fernando Henrique Cardoso, Benedita da Silva e Gilberto Gil. Numa época em que qualquer imbecil é considerado celebridade, como esse pessoal do BBB, do funk e os tais “influencers” digitais, o documentário chega para mostrar e esclarecer de vez quem é uma celebridade de verdade. Aliás, a maior que o Brasil já teve.